Donald franziu as sobrancelhas e olhou de um para o outro, sem saber o que dizer e foi o próprio Thomas quem respondeu:
— Estamos decidindo coisas importantes, senhora, não é coisa para mulheres. Se pudesse arregalar mais os olhos e a boca, ela teria arregalado, tal o espanto que teve com a fala machista do homem. Adicionou mais dois termos aos xingamentos que sempre fazia a ele em sua mente: machista e porco chauvinista. — Charles, chame os seguranças e tire esse homem daqui. — ordenou ela. — Nem pensar, Renata, sou eu quem estou fazendo negócio com ele, não se meta, ele está certo. Ela ficou paralisada com a atitude de Donald e olhou seriamente para ele, se perguntando se ele lembrou que todos os contratos feitos na empresa tinham que ter a assinatura dela. — Agora, senhora, retire-se para que os homens de negócio possam trabalhar. — ordenou Thomas. — Nem pensar… Muito subitamente, ela foi agarrada pelo homem, que a levou até a porta e a jogou do lado de fora, fechando a porta atrás de si. Jogada mais uma vez no chão por aquele homem, Renata se indignou e resolveu não fazer nada, por enquanto. Eles levariam um susto quando vissem que não poderiam fazer acordo nenhum depois de discutirem tantas cláusulas e se entenderem sobre o assunto. Charles, que estava chocado, ajudou-a a levantar-se e desculpou-se: — Desculpe, senhora, a culpa foi minha por não falar a ele sobre o memorando. — Só quero que você preste bem atenção no que eles estão planejando para ver se terão algum acordo por fora. Já que não pode haver contrato na empresa sem a minha assinatura, estão discutindo à toa. — Sim, senhora. Dois anos depois Renata estava casada com seu amigo de infância há três anos e além de cuidar de sua firma UNO, de propaganda e marketing, fazia questão de cozinhar e cuidar pessoalmente da aparência do marido. Pela manhã, era ela quem escolheria o terno dele e o ajudava com a gravata. Depois do primeiro ano de casados, tiveram sua primeira briga de casal de empresários, tudo por conta de Thomas Prentiss. Porém, quando ela contou a ele o que tinha se passado nos encontros que tiveram antes daquela reunião, ele compreendeu que não podia deixar passar as agressões contra sua esposa e assim, aceitou desfazer o contrato, mesmo porque, ela não assinaria. Ficaram bem e a Empresa cresceu, porém, nos últimos dois meses, ela notou uma diferença no comportamento do marido. Primeiro, ele não a procurava mais na cama como antes. Segundo, não se despedia dela com um beijo como fazia sempre ao sair, mesmo quando saíam juntos, na garagem, ele sempre se aproximava e beijava-a. Agora, ela estava no escritório da ONE e ele ligou para ela: — Alô, querido, está tudo bem? — Sim, estou ligando para avisar que chegarei mais tarde hoje, pois tenho um jantar de negócios. Não me espere. — Não quer que eu lhe acompanhe? Geralmente, nos jantares de negócios, os empresários solicitam a presença dela como a gerente de marketing. Estranhou ele não tê-la convidado para ir e apenas avisado. — Não será necessário, darei conta de tudo. Você pode aproveitar para descansar, tenho te achado bem abatida ultimamente. Mais uma vez ela estranhou, pois estava muito bem. Havia começado a levantar mais cedo e frequentar a academia do condomínio. Ele é quem ficava dormindo e não a via ir e voltar. — Está bem. Despediu-se e imediatamente, ligou para sua amiga advogada, pediu a ela o contato de um bom investigador e logo em seguida o contratou. Naquele dia mesmo, o detetive, especialista em flagrantes de adultério, entrou em ação. Não foi surpresa para Renata, descobrir que quem acompanhou seu marido foi sua mais nova e linda secretária. Charles havia sido transferido e não podia contar com ele. Pelas fotos que o detetive lhe entregou, notava-se o esmero com que ela estava vestida, inclusive o colar de safiras azul, combinando com o par de brincos. Pediu ao detetive que investigasse a procedência daquelas joias, pois tinha certeza que tinham sido presentes de seu marido. Forneceu até o nome da loja onde ele costumava comprar joias para ela e há um ano não lhe deu mais nada e até esqueceu seu aniversário. Ela foi juntando as provas e um mês depois, quando ele disse que viajaria e ficaria uma semana fora, foi a cereja do bolo e o investigador foi junto. Enquanto Renata cuidava dos trâmites legais da empresa, sua amiga advogada fez o contrato de divórcio e sua sócia especialista em direito empresarial, cuidou do cancelamento dos contratos entre as empresas. Ela teve paciência em esperar que o contrato que tinha com a empresa têxtil, estivesse terminado. Sempre foi muito prudente com seus negócios, conhecia muitas mulheres que perderam tudo por não se precaver durante o casamento e tornaram-se mulheres sozinhas, amargas e endividadas. Por isso, fez o contrato com restrição de tempo e foi a melhor decisão que tomou. Seu marido viajou, passou uma semana fora, mas antes de voltar, o detetive lhe trouxe as provas da infidelidade e ela usou, imediatamente, para requerer o divórcio perante a justiça. Quando Donald voltou, seu advogado já o esperava com o pedido de divórcio e as fotos do seu adultério. — Como isso aconteceu? Ela pode solicitar o divórcio sem a minha assinatura? — Sim, é um direito dela não querer mais estar casada com um adúltero. Sugiro que assine, ou ela irá requerer o divórcio litigioso e isso pode levar muito tempo, o que será prejudicial para você e a empresa. — Mas era só um casinho, eu não queria me separar dela. Ela sempre foi uma excelente esposa e é ótima nos negócios. Como ficará a empresa se nos divorciarmos? A secretária que entrou naquele instante, ficou indignada e pensou: “ Como ele pensou que ela era só um casinho? Está me tratando como um mero objeto de prazer? Ah, isso não vai ficar assim. “ Pensando assim, retirou-se da sala e deixou que o advogado se entendesse com o CEO, foi até o escritório do advogado da empresa e pediu esclarecimentos sobre o contrato com a One propaganda e marketing. — Bom dia, senhorita Marcela. Infelizmente o contrato expirou ontem e a One já enviou um e-mail dizendo que não irá renová-lo, enviei tudo para o CEO. — Eita, que o negócio é sério, Dr. Pedreira. Chegaram a falar com ela? — Sim, mas ela foi irredutível. Disse que quer expandir sua firma e precisa de todo o seu tempo e dedicação para isso. — Pura desculpa. Como ficarão os últimos contratos que assinamos? Estão todos vinculados com a One. — Infelizmente, o CEO Donald não me ouviu quando o avisei, e a Da. Renata não assinou os últimos contratos que ele fechou. Não existe o comprometimento da One, só inclui no contrato a parceria que, infelizmente, terminou.Marcela ficou chocada ao saber disso, não imaginou que Donald fosse tão irresponsável a ponto de não perceber que o contrato com a firma da esposa estava terminando e deixou que ela soubesse do caso deles e pedisse o divórcio, separando as firmas. — O prejuízo será tremendo e se ela souber desses contratos, pode procurar as empresas parceiras e fornecer parceria independente dos Peixotos. — concluiu o advogado.O telefone tocou e era Donald chamando o advogado. Marcela acompanhou o Dr. Pedreira, que era um senhor de meia idade muito experiente e conhecido no meio empresarial. Entraram no escritório e o advogado pessoal já tinha saído.— Bom dia, Donald. — o advogado era bem antigo na empresa, da época do pai de Donald e por isso tinha intimidade para tratá-lo pelo primeiro nome. — Na verdade, não está sendo um bom dia. Renata pediu o divórcio e eu dei. Quero saber como ficam os nossos negócios. — Não ficam. O contrato com a empresa dela expirou ontem e ela já manifestou o desejo de
O celular de Renata tocou e ela viu que era do escritório de Donald. Atendeu, imaginando sobre o que ele queria falar. — Alô.— Senhora Peixoto, aqui é Marcela. O senhor Peixoto deseja conversar com a senhora, pode vir ao escritório?— Eu tenho uma agenda cheia, Marcela. Se Donald quiser falar comigo, que venha ao meu escritório e sou Senhorita Soares, agora.— Mas, senhora, é assunto de trabalho, contratos vantajosos para a senhora.— Claro. Estou terminando de almoçar, então, só transmita o meu recado. Adeus, Marcela.Renata desligou, deixando Marcela surpresa.— O que ela disse, Marcela? — perguntou Donald, que não teve coragem de ligar para a esposa.— Ela disse que está ocupada e mandou você ir até ela.Ele socou a mesa com o punho fechado e xingou a mulher.— Quem ela pensa que é, aquela bruxa. Eu fiz um favor ao me casar com ela, aquela vaca feia e deselegante. O que seria daquela 'firminha' dela, se não fossemos nós?Marcela observava o CEO descontrolado e não o reconheceu. N
Ele não aguentou mais e antes que cometesse uma loucura, resolveu se retirar. Levantou-se, mas antes de sair, ainda ameaçou:— Nosso casamento acabou, mas você ainda terá que cumprir os contratos em vigor que contém sua participação e não se esqueça que é acionista e vice-presidente da Empresa.Ela sorriu, não adiantava ele ameaçar, ela se preveniu por todos os lados. Ele errou feio ao não incluir sua assinatura nos contratos.— Se tiver a minha assinatura…Ele finalmente saiu e Cláudia pode ceder a vontade de rir e dar sua opinião sobre o assunto.— Para, Cláudia! Vai te dar dor na barriga. — repreendeu-a Renata.Aos poucos, Claudia foi se acalmando e falou:— Desculpe, mas me contive tanto que, agora que liberei, não consegui parar.— Tão divertido, assim?— Sim, vê-lo tão furioso e você tão calma, foi hilário. Se pensarmos que, nos últimos três anos você foi a perfeita esposa, dócil e meiga, foi uma mudança muito drástica.— Talvez eu não devesse me esforçar para ser o que não era
Ele pegou o celular e ligou para Charles, não estava com paciência para se comunicar naquele aparelho.— Alô, Thom. É como eu te disse, o contrato acabou junto com o casamento.— Eles já comunicaram aos associados?— Ainda não, creio que o CEO está tentando negociar com a ex-esposa.— Certo, vamos esperar, mas se houver algum movimento na bolsa de valores sobre a venda das ações dela, compre todas.— Sim, manteremos os planos. Boa noite e até amanhã.— Até…Desligaram e Thomas estava esperançoso, apesar de querer a ONE, também queria a Peixoto por seus produtos de excelente qualidade. Seu investimento em design de modas deu muito certo e prosperaria com a parceria. Agora, poderia dormir em paz. Dois dias depois A entrada de Renata no prédio da Empresa Peixoto, causou um frisson nos funcionários que já sabiam da ruptura das empresas e do casal. Nunca a tinham visto tão imponente e bela. Trajava um conjunto de pantalonas com blazer, brancos e uma blusa azul bebe por baixo. Seus cabel
Todos estavam na espectativa pela resposta dela.— Ao contrário do que afirmou o senhor Prentiss, eu não estou confundindo a minha vida pessoal com os negócios. Já há tempos eu havia planejado me retirar e ampliar a minha empresa. Atrelada a empresa Peixoto, ficava limitada aos contratos assinados com seus parceiros. Separados, posso atender a qualquer um que me procurar com uma proposta válida.— Então, você fez tudo de caso pensado? Usou o meu deslize para ter vantagem na sua saída?— Não distorça as coisas, Donald. Eu não preciso que você me dê motivos para querer separar as empresas. Negócios são negócios. Quando assinei o contrato, já previa que minha empresa faria sucesso, ao contrário de você que sempre foi um desleixado com os negócios.Os diretores associados sabiam bem do que Renata estava falando. Se não fosse ela ao lado de Donald, aquela empresa já teria afundado há muito tempo. Balançaram a cabeça afirmativamente, concordando com ela e Donald não sabia mais como argumen
Ela sorriu, considerando-o inacreditável. Ele falou com tanta displicência, como se não fosse exatamente o que queria falar ou soubesse que a resposta seria a mesma, mas não ligasse. Então, o que fazia ali?— Você sabe que não vou voltar atrás, então, o que realmente quer?— Quero que faça a propaganda da Nixor. Na verdade, gostaria que fosse a diretora do departamento de propaganda e marketing. O que me diz? — Que não…simples assim.— Não entendo, é vingança por eu te rejeitar no passado?— Não seja arrogante, Thomas. Eu queria muito trabalhar com a Nixor no passado, pois tinha o foco voltado à Empresa Peixoto, mas mudei o foco. Hoje me interesso pelas oportunidades geradas pela internet. Não só a propaganda e a comunicação, mas principalmente a comunicação global que ela proporciona.— Perfeito, é exatamente com o que trabalho. O meu foco principal, que deu início aos meus negócios, é a ‘internet’, seja com todo o tipo de aparelhagem eletro eletrônica, seja nas comunicações. Com o
Retirou de dentro da pasta os envelopes com os respectivos contratos de cada empresa, declarando que caso mudassem de donos, o contrato seria automaticamente anulado. — O que é isso?— Eu também sei ser prevenida, senhor Prentiss. O senhor teve um grande trabalho para conseguir me prender, mas sugiro que desfaça tudo, não foi justo o que o senhor fez com esses cavaleiros a troco de nada. Com licença e dê-se por satisfeito por eu não lhe cobrar indenização.Ele ficou olhando para ela, estarrecido, completamente paralisado, nunca imaginou que a mulher fosse tão inteligente e criasse esse artifício. Ele, realmente, foi muito previsível.Ela estava sentada do outro lado da mesa e ele ficava próximo à porta e para sair, ela precisou passar por ele. No instante que passou, ele a segurou forte pelo pulso e puxou-a, fazendo-a cair em seu colo. Ela soltou um gritinho e tentou se levantar.— Me solta, o que você pensa que está fazendo?— Você pensa que isso é um jogo, que pode me fazer de palh
O som do salto batendo no chão, ecoava pelo corredor largo, comprido, luxuoso e vazio. Do elevador até a secretária do escritório do CEO, eram cerca de 30 metros e Renata achou bem longo. Marcou aquela entrevista meses atrás e estava ansiosa. O CEO da marca Nixor, era muito ocupado e difícil de encontrar, além de possuir uma agenda lotada. Se ela conseguisse sua atenção e até uma promessa, valeria a pena ter esperado tanto. Aproximou-se da recepcionista e apresentou-se:— Boa tarde, sou Renata Soares da One Propaganda e Marketing, tenho…— Sim, Senhora Soares, ele está com a agenda cheia, seja breve por favor e pode entrar. — disse a secretária, olhando para ela com indiferença, antes de Renata terminar de falar.Renata acenou e prosseguiu para a porta ampla, de vidro, que dava acesso ao escritório e de onde um homem de terno, aborrecido, saía. Entrou sem bater, não faria o empresário tão ocupado, perder tempo. Parou em frente a mesa, maior do que o normal e se apresentou.— Boa tard