O som do salto batendo no chão, ecoava pelo corredor largo, comprido, luxuoso e vazio. Do elevador até a secretária do escritório do CEO, eram cerca de 30 metros e Renata achou bem longo. Marcou aquela entrevista meses atrás e estava ansiosa.
O CEO da marca Nixor, era muito ocupado e difícil de encontrar, além de possuir uma agenda lotada. Se ela conseguisse sua atenção e até uma promessa, valeria a pena ter esperado tanto. Aproximou-se da recepcionista e apresentou-se: — Boa tarde, sou Renata Soares da One Propaganda e Marketing, tenho… — Sim, Senhora Soares, ele está com a agenda cheia, seja breve por favor e pode entrar. — disse a secretária, olhando para ela com indiferença, antes de Renata terminar de falar. Renata acenou e prosseguiu para a porta ampla, de vidro, que dava acesso ao escritório e de onde um homem de terno, aborrecido, saía. Entrou sem bater, não faria o empresário tão ocupado, perder tempo. Parou em frente a mesa, maior do que o normal e se apresentou. — Boa tarde, sou Renata Soares e lhe trouxe um catálogo de nossos serviços com uma proposta de parceria. Pode dar uma olhada? Ele ainda não tinha levantado sua cabeça dos documentos que examinava. Só depois de assinar, olhou para ela, pronto para responder, até que a viu e pareceu intrigado com o que via. Encostou na poltrona e brincou com a caneta. Renata tinha estatura mediana, magra e disfarçava sua beleza com roupas sóbrias, neste caso, um terninho cinza com blusa de seda branca. Seus cabelos longos, lizos e negros, estavam presos em um coque clássico e seus olhos verdes, protegidos por óculos com armação grossa e lentes degrades. O Sr. Prentiss contemplou a figura e não conseguiu interpretar, mas também não conseguiu decifrar aquela indumentária e por isso a desconsiderou, sem sequer olhar seu portfólio. — Srta. Soares, já temos uma firma de propaganda e estamos satisfeitos com ela, então, não nos interessa. — Trabalhamos especialmente com Inteligência Artificial, vou deixar o material, caso o senhor tenha um tempo. Obrigada. Ela não esperou, virou-se e saiu, pois estava oferecendo um bom serviço e não se deixaria humilhar por um homem preconceituoso. Ela percebeu, pelo olhar dele a esquadrinhando, que ele a julgou pela aparência. Thomas permaneceu olhando para as costas da mulher se retirando e conforme ela andava, percebeu as curvas de seu corpo bem feito e seu traseiro redondo e firme. Sorriu, ao perceber que as costas, diferiam da frente. — Aquele rosto não é nada feminino, mas a atitude foi bem provocativa. — Pegou a pasta que ela deixou sobre a mesa e o conteúdo oferecido parecia bem promissor, realmente. Mas já estava bem com a firma de Mark, não era hora de mudar. Nos dias que se seguiram, a impressão que Thomas tinha era de que estava sendo seguido, pois se encontrava com a mulher o tempo todo. Primeiro foi no lugar mais improvável, no enterro do Sr. Peixoto. Estavam levando o féretro quando ele notou a mulher andando à sua frente, ele jamais esqueceria aquele traseiro e por se distrair com seus pensamentos libidinosos, quando a mulher elegante tropeçou na sua frente, ele esbarrou nela, derrubando-a ao chão. Ao ajudá-la a se erguer, ela retaliou. — Por quê está me tocando, idiota, não basta ter me derrubado. — disse ela, assim que ficou de pé e chutou sua canela, para só depois verificar quem era. — Ái, sua mulher teimosa, eu só estava te ajudando. — disse ele, antes de olhar seu rosto. Seu olhar arregalado de espanto, refletiu o dela, mais espantado ainda, por ver que ela era tão linda. — Você me enganou! — reclamou ele. Ela não respondeu, pois sua amiga Cláudia a puxou pelo braço para seguirem após o féretro. — Não se distraia, amiga, seu marido precisa de você. Thomas não conseguiu ouvir o que a amiga dizia e seguiu atrás da mulher, mas não teve oportunidade de falar com ela. Depois disso, encontraram-se em uma reunião de negócios no restaurante para empresários. Estavam todos juntos na mesma sala e uma mesa redonda os separava. Ele só conseguia prestar atenção nela e em determinado momento, ergueu-se para cobrar: — Por quê a Sra. Soares está presente a esta reunião? Ela tem uma firma concorrente. Os outros empresários não entenderam o porquê da exaltação do Empresário, já que aquela era a Senhora Peixoto, vice-presidente da Empresa Têxtil Peixoto. Não tiveram tempo de explicar, pois o homem chamou seus seguranças e ele mesmo agarrou o braço feminino e tirou-a da cadeira, entregando-a a eles e ordenando que a jogassem na rua. — Hei, seu troglodita, o que pensa que está fazendo? — perguntou, sendo arrastada e jogada do lado de fora do restaurante. Renata estava presente representando seu marido, que estava muito abatido por conta da morte de seu pai e findou adoecendo. Ela jamais esperaria ser tratada daquele jeito e, caída no chão onde foi atirada, com as duas mãos apoiadas no solo quente, decidiu: — Você não me merece, idiota arrogante, um dia você vai implorar para ter meus serviços e terei o prazer de te dizer não. Seu motorista viu a ação, correu para ela e ajudou-a a se levantar. — O que houve, senhora? Quer ir ao hospital? — Um ignorante me confundiu com outra pessoa, mas não tem problema, estou bem, vamos para a empresa. Ele abriu a porta para ela entrar no carro e depois tomou a direção do veículo, partindo para a empresa. Ao entrar no escritório, sua secretária a acompanhou e ela foi dando as ordens: — Emita um memorando para todos os departamentos, comunicando que Thomas Prentiss está na lista negra da empresa. Não faremos mais nenhum negócio com ele. — Sim, senhora Peixoto. Depois que ela foi expulsa, Thomas foi esclarecido de quem era a mulher, realmente e ficou agitado. Sabia que ela não voltaria e negócios com aquela empresa seriam muito difíceis no futuro. Ele estava começando uma empresa de designer de moda e a fábrica têxtil Peixoto era a que produzia os melhores produtos. De forma que, ele tentou outra forma de aproximação, marcando uma reunião diretamente com o CEO da empresa, Donald, o marido dela.Quando chegou, ela não estava presente e Donald, desligado como sempre, não tinha lido o memorando e ficou muito feliz em fazer parceria com a empresa Nixor. — É um grande prazer o receber, Sr. Prentiss. — Eu agradeço a acolhida, é muito importante que haja uma parceria entre nós. — Continuou ele, explanando seus planos para o futuro de uma parceria entre os dois. Neste ponto, terminando de fazer o que foi fazer em outro departamento, Renata entrou no escritório e se deparou com os dois conversando animadamente. O assistente de Donald entrou trazendo documentos e ela pegou da mão dele e leu o contrato. — Mas o que é isso? Nem pensar em se associar com essa empresa. Você não leu o memorando, Donald?Donald franziu as sobrancelhas e olhou de um para o outro, sem saber o que dizer e foi o próprio Thomas quem respondeu: — Estamos decidindo coisas importantes, senhora, não é coisa para mulheres.Se pudesse arregalar mais os olhos e a boca, ela teria arregalado, tal o espanto que teve com a fala machista do homem. Adicionou mais dois termos aos xingamentos que sempre fazia a ele em sua mente: machista e porco chauvinista.— Charles, chame os seguranças e tire esse homem daqui. — ordenou ela.— Nem pensar, Renata, sou eu quem estou fazendo negócio com ele, não se meta, ele está certo. Ela ficou paralisada com a atitude de Donald e olhou seriamente para ele, se perguntando se ele lembrou que todos os contratos feitos na empresa tinham que ter a assinatura dela. — Agora, senhora, retire-se para que os homens de negócio possam trabalhar. — ordenou Thomas.— Nem pensar… Muito subitamente, ela foi agarrada pelo homem, que a levou até a porta e a jogou do lado de fora, fechando a porta a
Marcela ficou chocada ao saber disso, não imaginou que Donald fosse tão irresponsável a ponto de não perceber que o contrato com a firma da esposa estava terminando e deixou que ela soubesse do caso deles e pedisse o divórcio, separando as firmas. — O prejuízo será tremendo e se ela souber desses contratos, pode procurar as empresas parceiras e fornecer parceria independente dos Peixotos. — concluiu o advogado.O telefone tocou e era Donald chamando o advogado. Marcela acompanhou o Dr. Pedreira, que era um senhor de meia idade muito experiente e conhecido no meio empresarial. Entraram no escritório e o advogado pessoal já tinha saído.— Bom dia, Donald. — o advogado era bem antigo na empresa, da época do pai de Donald e por isso tinha intimidade para tratá-lo pelo primeiro nome. — Na verdade, não está sendo um bom dia. Renata pediu o divórcio e eu dei. Quero saber como ficam os nossos negócios. — Não ficam. O contrato com a empresa dela expirou ontem e ela já manifestou o desejo de
O celular de Renata tocou e ela viu que era do escritório de Donald. Atendeu, imaginando sobre o que ele queria falar. — Alô.— Senhora Peixoto, aqui é Marcela. O senhor Peixoto deseja conversar com a senhora, pode vir ao escritório?— Eu tenho uma agenda cheia, Marcela. Se Donald quiser falar comigo, que venha ao meu escritório e sou Senhorita Soares, agora.— Mas, senhora, é assunto de trabalho, contratos vantajosos para a senhora.— Claro. Estou terminando de almoçar, então, só transmita o meu recado. Adeus, Marcela.Renata desligou, deixando Marcela surpresa.— O que ela disse, Marcela? — perguntou Donald, que não teve coragem de ligar para a esposa.— Ela disse que está ocupada e mandou você ir até ela.Ele socou a mesa com o punho fechado e xingou a mulher.— Quem ela pensa que é, aquela bruxa. Eu fiz um favor ao me casar com ela, aquela vaca feia e deselegante. O que seria daquela 'firminha' dela, se não fossemos nós?Marcela observava o CEO descontrolado e não o reconheceu. N
Ele não aguentou mais e antes que cometesse uma loucura, resolveu se retirar. Levantou-se, mas antes de sair, ainda ameaçou:— Nosso casamento acabou, mas você ainda terá que cumprir os contratos em vigor que contém sua participação e não se esqueça que é acionista e vice-presidente da Empresa.Ela sorriu, não adiantava ele ameaçar, ela se preveniu por todos os lados. Ele errou feio ao não incluir sua assinatura nos contratos.— Se tiver a minha assinatura…Ele finalmente saiu e Cláudia pode ceder a vontade de rir e dar sua opinião sobre o assunto.— Para, Cláudia! Vai te dar dor na barriga. — repreendeu-a Renata.Aos poucos, Claudia foi se acalmando e falou:— Desculpe, mas me contive tanto que, agora que liberei, não consegui parar.— Tão divertido, assim?— Sim, vê-lo tão furioso e você tão calma, foi hilário. Se pensarmos que, nos últimos três anos você foi a perfeita esposa, dócil e meiga, foi uma mudança muito drástica.— Talvez eu não devesse me esforçar para ser o que não era
Ele pegou o celular e ligou para Charles, não estava com paciência para se comunicar naquele aparelho.— Alô, Thom. É como eu te disse, o contrato acabou junto com o casamento.— Eles já comunicaram aos associados?— Ainda não, creio que o CEO está tentando negociar com a ex-esposa.— Certo, vamos esperar, mas se houver algum movimento na bolsa de valores sobre a venda das ações dela, compre todas.— Sim, manteremos os planos. Boa noite e até amanhã.— Até…Desligaram e Thomas estava esperançoso, apesar de querer a ONE, também queria a Peixoto por seus produtos de excelente qualidade. Seu investimento em design de modas deu muito certo e prosperaria com a parceria. Agora, poderia dormir em paz. Dois dias depois A entrada de Renata no prédio da Empresa Peixoto, causou um frisson nos funcionários que já sabiam da ruptura das empresas e do casal. Nunca a tinham visto tão imponente e bela. Trajava um conjunto de pantalonas com blazer, brancos e uma blusa azul bebe por baixo. Seus cabel
Todos estavam na espectativa pela resposta dela.— Ao contrário do que afirmou o senhor Prentiss, eu não estou confundindo a minha vida pessoal com os negócios. Já há tempos eu havia planejado me retirar e ampliar a minha empresa. Atrelada a empresa Peixoto, ficava limitada aos contratos assinados com seus parceiros. Separados, posso atender a qualquer um que me procurar com uma proposta válida.— Então, você fez tudo de caso pensado? Usou o meu deslize para ter vantagem na sua saída?— Não distorça as coisas, Donald. Eu não preciso que você me dê motivos para querer separar as empresas. Negócios são negócios. Quando assinei o contrato, já previa que minha empresa faria sucesso, ao contrário de você que sempre foi um desleixado com os negócios.Os diretores associados sabiam bem do que Renata estava falando. Se não fosse ela ao lado de Donald, aquela empresa já teria afundado há muito tempo. Balançaram a cabeça afirmativamente, concordando com ela e Donald não sabia mais como argumen
Ela sorriu, considerando-o inacreditável. Ele falou com tanta displicência, como se não fosse exatamente o que queria falar ou soubesse que a resposta seria a mesma, mas não ligasse. Então, o que fazia ali?— Você sabe que não vou voltar atrás, então, o que realmente quer?— Quero que faça a propaganda da Nixor. Na verdade, gostaria que fosse a diretora do departamento de propaganda e marketing. O que me diz? — Que não…simples assim.— Não entendo, é vingança por eu te rejeitar no passado?— Não seja arrogante, Thomas. Eu queria muito trabalhar com a Nixor no passado, pois tinha o foco voltado à Empresa Peixoto, mas mudei o foco. Hoje me interesso pelas oportunidades geradas pela internet. Não só a propaganda e a comunicação, mas principalmente a comunicação global que ela proporciona.— Perfeito, é exatamente com o que trabalho. O meu foco principal, que deu início aos meus negócios, é a ‘internet’, seja com todo o tipo de aparelhagem eletro eletrônica, seja nas comunicações. Com o
Retirou de dentro da pasta os envelopes com os respectivos contratos de cada empresa, declarando que caso mudassem de donos, o contrato seria automaticamente anulado. — O que é isso?— Eu também sei ser prevenida, senhor Prentiss. O senhor teve um grande trabalho para conseguir me prender, mas sugiro que desfaça tudo, não foi justo o que o senhor fez com esses cavaleiros a troco de nada. Com licença e dê-se por satisfeito por eu não lhe cobrar indenização.Ele ficou olhando para ela, estarrecido, completamente paralisado, nunca imaginou que a mulher fosse tão inteligente e criasse esse artifício. Ele, realmente, foi muito previsível.Ela estava sentada do outro lado da mesa e ele ficava próximo à porta e para sair, ela precisou passar por ele. No instante que passou, ele a segurou forte pelo pulso e puxou-a, fazendo-a cair em seu colo. Ela soltou um gritinho e tentou se levantar.— Me solta, o que você pensa que está fazendo?— Você pensa que isso é um jogo, que pode me fazer de palh