Ela sorriu, considerando-o inacreditável. Ele falou com tanta displicência, como se não fosse exatamente o que queria falar ou soubesse que a resposta seria a mesma, mas não ligasse. Então, o que fazia ali?
— Você sabe que não vou voltar atrás, então, o que realmente quer? — Quero que faça a propaganda da Nixor. Na verdade, gostaria que fosse a diretora do departamento de propaganda e marketing. O que me diz? — Que não…simples assim. — Não entendo, é vingança por eu te rejeitar no passado? — Não seja arrogante, Thomas. Eu queria muito trabalhar com a Nixor no passado, pois tinha o foco voltado à Empresa Peixoto, mas mudei o foco. Hoje me interesso pelas oportunidades geradas pela internet. Não só a propaganda e a comunicação, mas principalmente a comunicação global que ela proporciona. — Perfeito, é exatamente com o que trabalho. O meu foco principal, que deu início aos meus negócios, é a ‘internet’, seja com todo o tipo de aparelhagem eletro eletrônica, seja nas comunicações. Com o crescimento, absorvi outras empresas e diversifiquei o negócio. Por isso acho que você é perfeita para o cargo que lhe ofereci. Renata sorriu, pensando que o cargo que ele ofereceu era limitado e burocrático e ela gostava de criar, ele não fazia ideia de que, na verdade, ela seria sua concorrente ou talvez fosse por isso que ele queria tirá-la do seu próprio negócio. — Você está redondamente enganado. Por mais que eu tenha administrado a Empresa Peixoto por mais de três anos, não é o que eu gosto de fazer. — E se você ficasse só com a parte das propagandas, que é onde a sua empresa tem mais sucesso? — Não, não e não. Por que é tão difícil para você aceitar? É por orgulho? Então, ele deu o seu sorriso mais charmoso e disse a coisa mais inesperada para ela: — Confesso que, agora, sou eu quem estou misturando trabalho com vida pessoal. Quer jantar comigo? Renata ficou sem fala, o homem foi tão direto, emanando masculinidade e sensualidade. O interfone tocou e era Rosa, lembrando-a do compromisso. — Sinto muito, Sr. Prentiss, mas tenho um compromisso e preciso sair. Eu o atendi no intervalo e não posso continuar lhe dando atenção. Ele voltou à sua pose fria e séria e levantando-se, continuou com sua proposta. — Voltarei a entrar em contato para nos reunirmos em um jantar. Também tenho um compromisso, obrigada por me receber. Apertaram as mãos e ele demorou um pouco mais do que o normal, apreciando a maciez e delicadeza das mãos brancas e femininas. Renata não era adepta de unhas postiças longas e pontudas com esmaltes extravagantes, como muitas mulheres gostam de usar para atrair os homens e ele gostou. Ela esperou ele sair primeiro e seguiu depois, no elevador, direto para o estacionamento no subsolo, onde seu carro estava estacionado. Dirigiu para o Restaurante Trattoria, especial para empresários realizarem suas reuniões e acordos de negócios. Ao chegar, ela permaneceu dentro do carro, pois identificou o carro do empresário estacionando e logo em seguida o motorista abriu a porta e Thomas desceu, entrando no restaurante. — Quero ver se seu interesse continuará, depois dessa reunião, Sr. Prentiss. Ela desceu do carro e entrou no restaurante, dando seu nome na recepção e sendo direcionada por um garçom até a sala privada onde era esperada. Todos já estavam presentes quando ela entrou e sorriram para ela, exceto Thomas. — Boa tarde, senhores. — Boa tarde, Srta Soares. — responderam todos, menos Thomas. — Podíamos ter vindo juntos se eu soubesse que viria para cá. — comentou ele. — Creio que não sabíamos um do outro. — Na verdade ela sabia, só não ia entregar o ouro ao bandido. Um dos empresários puxou a cadeira para ela sentar na cabeceira e Thomas estava do lado contrário. Logo o chá da tarde foi servido, com uma fartura de quitutes que ela apreciou muito. — Vejo que você não tem problema em se conter com a quantidade de calorias. — Não me privo de coisas deliciosas. Mas podemos iniciar a reunião. — Bem, eu estou encampando as empresas dos quatro. — disse ele. — Acho que essa não é a definição certa, Sr. Prentiss. O senhor pressionou os nossos fornecedores, que deixaram de nos fornecer matéria prima para nossos produtos. — Levando-nos a uma situação de impossibilidade de produção. — Então, não nos resta outra opção, a não ser ceder, já que o senhor comprou as nossas dívidas. — Embora saibamos que este é um procedimento normal entre os grandes empresários, note que somos menores, achamos inadmissível o controle do mercado desta forma. Eles falaram como na reunião dos acionistas, um após o outro, como se completassem um fala do outro. — Eu compreendo esse tipo de negociação, também acho desnecessário, pois há espaço para todos. O negócio de vocês é um negócio de vocês, o que tenho eu com isso, senhores. — disse Renata, seguindo o roteiro para desbancar o homem. — Eu digo. Sei que assinou um contrato com eles para fornecer seus serviços e pretendo utilizar esses serviços estendendo para minhas outras empresas. — explicou Thomas, sorrindo, convencido de sua vitória. Renata tirou o seu notebook da bolsa e ligou, encaixando o pen drive. As imagens apareceram e ela virou o notebook para que todos pudessem ver. — Aqui está o que elaborei para cada uma das empresas, vocês podem verificar todo o projeto. Ela passou quase uma hora, explanando um por um dos projetos de propaganda que elaborou para cada uma das empresas. Thomas estava eufórico, apreciou muito o trabalho dela e aquelas empresas que estava comprando, prosperariam muito com aquele trabalho. — Como podem ver, o trabalho foi concluído. — Ficou magnífico, Sta. Soares. — disse um dos empresários. — É uma pena que não desfrutaremos dos resultados. — falou o outro, na sequência. — Espero que o Sr. Prentiss, esteja pagando uma boa remuneração. — disse Renata, após fechar o notebook. — Na verdade, são apenas resíduos, já que assumiu todas as dívidas e salários de funcionários. — Ainda bem que têm a indenização dos Peixoto. — Ele deduziu das despesas. Renata olhou para o grande empresário, com um olhar gelado, sem acreditar na maneira escusa dele fazer negócio. Conquistar pequenas empresas tirando delas qualquer direito, era vergonhoso para quem tinha tanto dinheiro. — Não me olhe assim, Sta. Soares, são só negócios. — disse ele. — Que feio, Sr. Prentiss… Já fecharam o negócio? — Estamos para fechar, agora. Só não contava que você fosse estar aqui, mas foi bem melhor, vendo todo este trabalho e como as empresas podem prosperar, fico feliz com a aquisição. — Sinto muito, Sr. Prentiss, mas não vou continuar com esse trabalho, como o senhor disse: negócios são negócios. Ela guardou o pen drive e o notebook e já se preparava para levantar e sair, quando ele a interrompeu. — Que eu saiba, a senhorita tem um contrato assinado com cada um desses senhores e se for desfeito, terá que pagar uma grande indenização. Creio que a senhorita conhece esse tipo de acordo. — Exatamente e por isso sou prevenida.Retirou de dentro da pasta os envelopes com os respectivos contratos de cada empresa, declarando que caso mudassem de donos, o contrato seria automaticamente anulado. — O que é isso?— Eu também sei ser prevenida, senhor Prentiss. O senhor teve um grande trabalho para conseguir me prender, mas sugiro que desfaça tudo, não foi justo o que o senhor fez com esses cavaleiros a troco de nada. Com licença e dê-se por satisfeito por eu não lhe cobrar indenização.Ele ficou olhando para ela, estarrecido, completamente paralisado, nunca imaginou que a mulher fosse tão inteligente e criasse esse artifício. Ele, realmente, foi muito previsível.Ela estava sentada do outro lado da mesa e ele ficava próximo à porta e para sair, ela precisou passar por ele. No instante que passou, ele a segurou forte pelo pulso e puxou-a, fazendo-a cair em seu colo. Ela soltou um gritinho e tentou se levantar.— Me solta, o que você pensa que está fazendo?— Você pensa que isso é um jogo, que pode me fazer de palh
O som do salto batendo no chão, ecoava pelo corredor largo, comprido, luxuoso e vazio. Do elevador até a secretária do escritório do CEO, eram cerca de 30 metros e Renata achou bem longo. Marcou aquela entrevista meses atrás e estava ansiosa. O CEO da marca Nixor, era muito ocupado e difícil de encontrar, além de possuir uma agenda lotada. Se ela conseguisse sua atenção e até uma promessa, valeria a pena ter esperado tanto. Aproximou-se da recepcionista e apresentou-se:— Boa tarde, sou Renata Soares da One Propaganda e Marketing, tenho…— Sim, Senhora Soares, ele está com a agenda cheia, seja breve por favor e pode entrar. — disse a secretária, olhando para ela com indiferença, antes de Renata terminar de falar.Renata acenou e prosseguiu para a porta ampla, de vidro, que dava acesso ao escritório e de onde um homem de terno, aborrecido, saía. Entrou sem bater, não faria o empresário tão ocupado, perder tempo. Parou em frente a mesa, maior do que o normal e se apresentou.— Boa tard
Donald franziu as sobrancelhas e olhou de um para o outro, sem saber o que dizer e foi o próprio Thomas quem respondeu: — Estamos decidindo coisas importantes, senhora, não é coisa para mulheres.Se pudesse arregalar mais os olhos e a boca, ela teria arregalado, tal o espanto que teve com a fala machista do homem. Adicionou mais dois termos aos xingamentos que sempre fazia a ele em sua mente: machista e porco chauvinista.— Charles, chame os seguranças e tire esse homem daqui. — ordenou ela.— Nem pensar, Renata, sou eu quem estou fazendo negócio com ele, não se meta, ele está certo. Ela ficou paralisada com a atitude de Donald e olhou seriamente para ele, se perguntando se ele lembrou que todos os contratos feitos na empresa tinham que ter a assinatura dela. — Agora, senhora, retire-se para que os homens de negócio possam trabalhar. — ordenou Thomas.— Nem pensar… Muito subitamente, ela foi agarrada pelo homem, que a levou até a porta e a jogou do lado de fora, fechando a porta a
Marcela ficou chocada ao saber disso, não imaginou que Donald fosse tão irresponsável a ponto de não perceber que o contrato com a firma da esposa estava terminando e deixou que ela soubesse do caso deles e pedisse o divórcio, separando as firmas. — O prejuízo será tremendo e se ela souber desses contratos, pode procurar as empresas parceiras e fornecer parceria independente dos Peixotos. — concluiu o advogado.O telefone tocou e era Donald chamando o advogado. Marcela acompanhou o Dr. Pedreira, que era um senhor de meia idade muito experiente e conhecido no meio empresarial. Entraram no escritório e o advogado pessoal já tinha saído.— Bom dia, Donald. — o advogado era bem antigo na empresa, da época do pai de Donald e por isso tinha intimidade para tratá-lo pelo primeiro nome. — Na verdade, não está sendo um bom dia. Renata pediu o divórcio e eu dei. Quero saber como ficam os nossos negócios. — Não ficam. O contrato com a empresa dela expirou ontem e ela já manifestou o desejo de
O celular de Renata tocou e ela viu que era do escritório de Donald. Atendeu, imaginando sobre o que ele queria falar. — Alô.— Senhora Peixoto, aqui é Marcela. O senhor Peixoto deseja conversar com a senhora, pode vir ao escritório?— Eu tenho uma agenda cheia, Marcela. Se Donald quiser falar comigo, que venha ao meu escritório e sou Senhorita Soares, agora.— Mas, senhora, é assunto de trabalho, contratos vantajosos para a senhora.— Claro. Estou terminando de almoçar, então, só transmita o meu recado. Adeus, Marcela.Renata desligou, deixando Marcela surpresa.— O que ela disse, Marcela? — perguntou Donald, que não teve coragem de ligar para a esposa.— Ela disse que está ocupada e mandou você ir até ela.Ele socou a mesa com o punho fechado e xingou a mulher.— Quem ela pensa que é, aquela bruxa. Eu fiz um favor ao me casar com ela, aquela vaca feia e deselegante. O que seria daquela 'firminha' dela, se não fossemos nós?Marcela observava o CEO descontrolado e não o reconheceu. N
Ele não aguentou mais e antes que cometesse uma loucura, resolveu se retirar. Levantou-se, mas antes de sair, ainda ameaçou:— Nosso casamento acabou, mas você ainda terá que cumprir os contratos em vigor que contém sua participação e não se esqueça que é acionista e vice-presidente da Empresa.Ela sorriu, não adiantava ele ameaçar, ela se preveniu por todos os lados. Ele errou feio ao não incluir sua assinatura nos contratos.— Se tiver a minha assinatura…Ele finalmente saiu e Cláudia pode ceder a vontade de rir e dar sua opinião sobre o assunto.— Para, Cláudia! Vai te dar dor na barriga. — repreendeu-a Renata.Aos poucos, Claudia foi se acalmando e falou:— Desculpe, mas me contive tanto que, agora que liberei, não consegui parar.— Tão divertido, assim?— Sim, vê-lo tão furioso e você tão calma, foi hilário. Se pensarmos que, nos últimos três anos você foi a perfeita esposa, dócil e meiga, foi uma mudança muito drástica.— Talvez eu não devesse me esforçar para ser o que não era
Ele pegou o celular e ligou para Charles, não estava com paciência para se comunicar naquele aparelho.— Alô, Thom. É como eu te disse, o contrato acabou junto com o casamento.— Eles já comunicaram aos associados?— Ainda não, creio que o CEO está tentando negociar com a ex-esposa.— Certo, vamos esperar, mas se houver algum movimento na bolsa de valores sobre a venda das ações dela, compre todas.— Sim, manteremos os planos. Boa noite e até amanhã.— Até…Desligaram e Thomas estava esperançoso, apesar de querer a ONE, também queria a Peixoto por seus produtos de excelente qualidade. Seu investimento em design de modas deu muito certo e prosperaria com a parceria. Agora, poderia dormir em paz. Dois dias depois A entrada de Renata no prédio da Empresa Peixoto, causou um frisson nos funcionários que já sabiam da ruptura das empresas e do casal. Nunca a tinham visto tão imponente e bela. Trajava um conjunto de pantalonas com blazer, brancos e uma blusa azul bebe por baixo. Seus cabel
Todos estavam na espectativa pela resposta dela.— Ao contrário do que afirmou o senhor Prentiss, eu não estou confundindo a minha vida pessoal com os negócios. Já há tempos eu havia planejado me retirar e ampliar a minha empresa. Atrelada a empresa Peixoto, ficava limitada aos contratos assinados com seus parceiros. Separados, posso atender a qualquer um que me procurar com uma proposta válida.— Então, você fez tudo de caso pensado? Usou o meu deslize para ter vantagem na sua saída?— Não distorça as coisas, Donald. Eu não preciso que você me dê motivos para querer separar as empresas. Negócios são negócios. Quando assinei o contrato, já previa que minha empresa faria sucesso, ao contrário de você que sempre foi um desleixado com os negócios.Os diretores associados sabiam bem do que Renata estava falando. Se não fosse ela ao lado de Donald, aquela empresa já teria afundado há muito tempo. Balançaram a cabeça afirmativamente, concordando com ela e Donald não sabia mais como argumen