Ele pegou o celular e ligou para Charles, não estava com paciência para se comunicar naquele aparelho.
— Alô, Thom. É como eu te disse, o contrato acabou junto com o casamento. — Eles já comunicaram aos associados? — Ainda não, creio que o CEO está tentando negociar com a ex-esposa. — Certo, vamos esperar, mas se houver algum movimento na bolsa de valores sobre a venda das ações dela, compre todas. — Sim, manteremos os planos. Boa noite e até amanhã. — Até… Desligaram e Thomas estava esperançoso, apesar de querer a ONE, também queria a Peixoto por seus produtos de excelente qualidade. Seu investimento em design de modas deu muito certo e prosperaria com a parceria. Agora, poderia dormir em paz. Dois dias depois A entrada de Renata no prédio da Empresa Peixoto, causou um frisson nos funcionários que já sabiam da ruptura das empresas e do casal. Nunca a tinham visto tão imponente e bela. Trajava um conjunto de pantalonas com blazer, brancos e uma blusa azul bebe por baixo. Seus cabelos, longos, caíam sobre suas costas, deixando-a mais feminina. O toque-toque do seu salto era inconfundível. Geralmente, usava scarpins, que eram mais confortáveis para o trabalho, mas hoje, queria estar mais alta e imponente para o que ia fazer. Todos admiraram sua postura elegante e a cumprimentaram, sem impedir a sua passagem. Esperava pelo elevador, quando Marcela chegou para acompanhá-la. — Bom dia, Sra. Peixoto. — Agora é Srta. Soares, já lhe falei. Conheço o caminho, Marcela, você não precisava ter o trabalho de vir me receber. — Desculpe, Srta. Soares. É uma honra e um prazer recebê-la. Renata manteve a postura, mas por dentro, gargalhava, pois era a primeira vez que Marcela a tratava com tanta cerimônia. Será que eles perceberam que estão quase indo à falência? Pensou. Ela sempre foi pontual, mas hoje, resolveu atrasar 3 minutos para encontrar todos na expectativa, ao entrar na sala. O primeiro a encará-la foi Donald e logo em seguida, viu os rostos sérios dos acionistas e em seguida os quatro últimos associados dela na Oni, sorridentes. Por fim, viu quem ela menos esperava, o grande empresário Thomas Prentiss. Aproximou-se da cadeira na ponta oposta de Donald e ao sentar-se ouviu a voz dele cheia de irritação: — Está atrasada! — Estou dentro do permitido para um atraso, tem alguma outra acusação para tentar me diminuir ou podemos começar? — Não me provoque, Renata! — Ou o quê? Fechando os punhos sobre a mesa e rangendo os dentes, Donald achou melhor desistir daquele embate e iniciar logo a reunião. Seu intento não era discutir com ela, mas sim, a cooperação dela nos novos contratos que assinou. Não daria o braço a torcer por ter errado ao não levá-la para assinar os contratos e muito menos, por ter levado sua secretária no lugar dela. — Vamos começar, aqui estão presentes os acionistas e diretores da empresa, assim como os novos associados, para que você nos explique as suas decisões. Renata contemplou a todos e por fim olhou para os quatro associados com quem ela tinha assinado contrato uns dias antes e passou-lhes a oportunidade: — Creio que seja melhor que vocês quatro comecem, assim poderão sair primeiro. Os quatro concordaram e o primeiro falou: — Estamos aqui para cancelar o nosso contrato de parceria. — o primeiro a falar foi bem direto. — Cancelar, mas por quê? Vocês não têm receio da multa que terão que pagar? — perguntou Donald, cheio de razão. O segundo tomou a palavra: — Estamos cancelando o contrato porque quando o assinamos, o senhor havia incluído a Empresa One como participante, porém, soubemos que não existe mais contrato entre as duas empresas e como a senhora Renata Soares não assinou os contratos, constitui um estelionato. O terceiro continuou, como se tivessem combinado o que cada um iria dizer. — Nós queríamos muito ter a One como nossa parceira, mas ela sempre esteve atrelada a Empresa Peixoto, por isso assinamos o contrato. Agora que vocês não têm mais vínculo, não precisamos mais da Empresa Peixoto e vamos processá-lo. O quarto empresário concluiu: — É por isso que já acionamos o nosso advogado e estamos exigindo que vocês paguem a multa contratual, caso isso não aconteça, o caso será denunciado à polícia. Cada um entregou a sua pasta para Marcela, que as levou para Donald. O primeiro empresário a falar, novamente se dirigiu a todos: — Dito isto, pedimos licença para nos retirarmos. Daqui em diante, serão nossos advogados a se comunicarem com vocês, com licença. Os quatro se retiraram e um por vez, foi cumprimentar Renata e apertou-lhe a mão. Renata sorriu para os quatro e viu-os partir, só então encarou Donald que estava vermelho de fúria e com certeza, deveria estar pensando no quanto teria que pagar de multa. — O que foi, Donald? Está passando mal? Marcela, sirva água para ele. — mandou Renata, como se fosse a verdadeira CEO. — Pode parar, Renata. Vamos continuar, os associados querem uma explicação de você. — grunhiu Donald. — Pois não, o que querem saber? — Por quê a senhora desfez o contrato da One com a nossa empresa sem comunicação prévia? Pensou Renata: Então é por este caminho que eles querem seguir? Querem botar a culpa em mim por quebra de contrato, mas estão redondamente enganados, se pensam que sou uma irresponsável como o CEO desta empresa. — Em primeiro lugar, o contrato tinha prazo de validade e se não viram, foi negligência da parte de vocês, mesmo assim, eu enviei um e-mail para a firma de advogados, comunicando que o contrato estava encerrando e eu não tinha intenção de renovar. Ela pediu a Marcela para que ligasse a smart TV e com o celular, postou a cópia do e-mail que enviou e a resposta da empresa confirmando o recebimento. Thomas ficou inquieto, pois também esperava usar esse argumento para mantê-la vinculada a empresa Peixoto, mas pelo jeito, o idiota foi o CEO, que não prestou atenção e não deu o devido valor a sua esposa. Não podia culpá-lo, pois também a subestimou. — Senhora Peixoto… — começou Thomas a falar. — Senhorita Soares, por favor. — corrigiu ela. — Senhorita Soares, não existe a possibilidade de uma nova parceria com a empresa Peixoto? Renata não entendeu o porquê dele querer saber. Será que ele também assinou um contrato? — Qual o seu interesse, Sr. Prentiss? — Acho que a Srta. está misturando a vida pessoal com os negócios. Afinal, era vantajoso o contrato entre as duas empresas, a One cresceu em parceria com a Peixoto. — A postura do empresário era firme e fria, mostrando que tinha total convicção do que falava. — Não sei o que o senhor faz aqui e nem qual o seu direito de me questionar, mas vou lhe responder: sempre foi o contrário, sempre foi a One que alavancou a Peixoto e não o inverso. Thomas sentiu que ela não cederia e olhou para Donald, esperando uma atitude da parte dele. — O Sr. Prentiss tem interesse em nossa Empresa, mas quer as duas, não uma só. Você não estaria disposta a renegociar o contrato? — perguntou Donald.Todos estavam na espectativa pela resposta dela.— Ao contrário do que afirmou o senhor Prentiss, eu não estou confundindo a minha vida pessoal com os negócios. Já há tempos eu havia planejado me retirar e ampliar a minha empresa. Atrelada a empresa Peixoto, ficava limitada aos contratos assinados com seus parceiros. Separados, posso atender a qualquer um que me procurar com uma proposta válida.— Então, você fez tudo de caso pensado? Usou o meu deslize para ter vantagem na sua saída?— Não distorça as coisas, Donald. Eu não preciso que você me dê motivos para querer separar as empresas. Negócios são negócios. Quando assinei o contrato, já previa que minha empresa faria sucesso, ao contrário de você que sempre foi um desleixado com os negócios.Os diretores associados sabiam bem do que Renata estava falando. Se não fosse ela ao lado de Donald, aquela empresa já teria afundado há muito tempo. Balançaram a cabeça afirmativamente, concordando com ela e Donald não sabia mais como argumen
Ela sorriu, considerando-o inacreditável. Ele falou com tanta displicência, como se não fosse exatamente o que queria falar ou soubesse que a resposta seria a mesma, mas não ligasse. Então, o que fazia ali?— Você sabe que não vou voltar atrás, então, o que realmente quer?— Quero que faça a propaganda da Nixor. Na verdade, gostaria que fosse a diretora do departamento de propaganda e marketing. O que me diz? — Que não…simples assim.— Não entendo, é vingança por eu te rejeitar no passado?— Não seja arrogante, Thomas. Eu queria muito trabalhar com a Nixor no passado, pois tinha o foco voltado à Empresa Peixoto, mas mudei o foco. Hoje me interesso pelas oportunidades geradas pela internet. Não só a propaganda e a comunicação, mas principalmente a comunicação global que ela proporciona.— Perfeito, é exatamente com o que trabalho. O meu foco principal, que deu início aos meus negócios, é a ‘internet’, seja com todo o tipo de aparelhagem eletro eletrônica, seja nas comunicações. Com o
Retirou de dentro da pasta os envelopes com os respectivos contratos de cada empresa, declarando que caso mudassem de donos, o contrato seria automaticamente anulado. — O que é isso?— Eu também sei ser prevenida, senhor Prentiss. O senhor teve um grande trabalho para conseguir me prender, mas sugiro que desfaça tudo, não foi justo o que o senhor fez com esses cavaleiros a troco de nada. Com licença e dê-se por satisfeito por eu não lhe cobrar indenização.Ele ficou olhando para ela, estarrecido, completamente paralisado, nunca imaginou que a mulher fosse tão inteligente e criasse esse artifício. Ele, realmente, foi muito previsível.Ela estava sentada do outro lado da mesa e ele ficava próximo à porta e para sair, ela precisou passar por ele. No instante que passou, ele a segurou forte pelo pulso e puxou-a, fazendo-a cair em seu colo. Ela soltou um gritinho e tentou se levantar.— Me solta, o que você pensa que está fazendo?— Você pensa que isso é um jogo, que pode me fazer de palh
O som do salto batendo no chão, ecoava pelo corredor largo, comprido, luxuoso e vazio. Do elevador até a secretária do escritório do CEO, eram cerca de 30 metros e Renata achou bem longo. Marcou aquela entrevista meses atrás e estava ansiosa. O CEO da marca Nixor, era muito ocupado e difícil de encontrar, além de possuir uma agenda lotada. Se ela conseguisse sua atenção e até uma promessa, valeria a pena ter esperado tanto. Aproximou-se da recepcionista e apresentou-se:— Boa tarde, sou Renata Soares da One Propaganda e Marketing, tenho…— Sim, Senhora Soares, ele está com a agenda cheia, seja breve por favor e pode entrar. — disse a secretária, olhando para ela com indiferença, antes de Renata terminar de falar.Renata acenou e prosseguiu para a porta ampla, de vidro, que dava acesso ao escritório e de onde um homem de terno, aborrecido, saía. Entrou sem bater, não faria o empresário tão ocupado, perder tempo. Parou em frente a mesa, maior do que o normal e se apresentou.— Boa tard
Donald franziu as sobrancelhas e olhou de um para o outro, sem saber o que dizer e foi o próprio Thomas quem respondeu: — Estamos decidindo coisas importantes, senhora, não é coisa para mulheres.Se pudesse arregalar mais os olhos e a boca, ela teria arregalado, tal o espanto que teve com a fala machista do homem. Adicionou mais dois termos aos xingamentos que sempre fazia a ele em sua mente: machista e porco chauvinista.— Charles, chame os seguranças e tire esse homem daqui. — ordenou ela.— Nem pensar, Renata, sou eu quem estou fazendo negócio com ele, não se meta, ele está certo. Ela ficou paralisada com a atitude de Donald e olhou seriamente para ele, se perguntando se ele lembrou que todos os contratos feitos na empresa tinham que ter a assinatura dela. — Agora, senhora, retire-se para que os homens de negócio possam trabalhar. — ordenou Thomas.— Nem pensar… Muito subitamente, ela foi agarrada pelo homem, que a levou até a porta e a jogou do lado de fora, fechando a porta a
Marcela ficou chocada ao saber disso, não imaginou que Donald fosse tão irresponsável a ponto de não perceber que o contrato com a firma da esposa estava terminando e deixou que ela soubesse do caso deles e pedisse o divórcio, separando as firmas. — O prejuízo será tremendo e se ela souber desses contratos, pode procurar as empresas parceiras e fornecer parceria independente dos Peixotos. — concluiu o advogado.O telefone tocou e era Donald chamando o advogado. Marcela acompanhou o Dr. Pedreira, que era um senhor de meia idade muito experiente e conhecido no meio empresarial. Entraram no escritório e o advogado pessoal já tinha saído.— Bom dia, Donald. — o advogado era bem antigo na empresa, da época do pai de Donald e por isso tinha intimidade para tratá-lo pelo primeiro nome. — Na verdade, não está sendo um bom dia. Renata pediu o divórcio e eu dei. Quero saber como ficam os nossos negócios. — Não ficam. O contrato com a empresa dela expirou ontem e ela já manifestou o desejo de
O celular de Renata tocou e ela viu que era do escritório de Donald. Atendeu, imaginando sobre o que ele queria falar. — Alô.— Senhora Peixoto, aqui é Marcela. O senhor Peixoto deseja conversar com a senhora, pode vir ao escritório?— Eu tenho uma agenda cheia, Marcela. Se Donald quiser falar comigo, que venha ao meu escritório e sou Senhorita Soares, agora.— Mas, senhora, é assunto de trabalho, contratos vantajosos para a senhora.— Claro. Estou terminando de almoçar, então, só transmita o meu recado. Adeus, Marcela.Renata desligou, deixando Marcela surpresa.— O que ela disse, Marcela? — perguntou Donald, que não teve coragem de ligar para a esposa.— Ela disse que está ocupada e mandou você ir até ela.Ele socou a mesa com o punho fechado e xingou a mulher.— Quem ela pensa que é, aquela bruxa. Eu fiz um favor ao me casar com ela, aquela vaca feia e deselegante. O que seria daquela 'firminha' dela, se não fossemos nós?Marcela observava o CEO descontrolado e não o reconheceu. N
Ele não aguentou mais e antes que cometesse uma loucura, resolveu se retirar. Levantou-se, mas antes de sair, ainda ameaçou:— Nosso casamento acabou, mas você ainda terá que cumprir os contratos em vigor que contém sua participação e não se esqueça que é acionista e vice-presidente da Empresa.Ela sorriu, não adiantava ele ameaçar, ela se preveniu por todos os lados. Ele errou feio ao não incluir sua assinatura nos contratos.— Se tiver a minha assinatura…Ele finalmente saiu e Cláudia pode ceder a vontade de rir e dar sua opinião sobre o assunto.— Para, Cláudia! Vai te dar dor na barriga. — repreendeu-a Renata.Aos poucos, Claudia foi se acalmando e falou:— Desculpe, mas me contive tanto que, agora que liberei, não consegui parar.— Tão divertido, assim?— Sim, vê-lo tão furioso e você tão calma, foi hilário. Se pensarmos que, nos últimos três anos você foi a perfeita esposa, dócil e meiga, foi uma mudança muito drástica.— Talvez eu não devesse me esforçar para ser o que não era