CAPÍTULO 2

CHOQUE DE REALIDADE

A casa estava silenciosa quando retornamos. Não havia sinal de Giovana, nem dos seus pais. Meus pais e Antonella esperavam sentados na varanda. Eu sabia o que estava por vir e era tudo que eu não queria enfrentar agora. Honestamente eu já estava muito consciente da merda que eu havia feito e a última coisa que eu precisava agora era de alguém para esfrega-la na minha cara.

- Sem sermão. – cuspi acidamente para a minha família.

- O que devemos esperar agora, Matteo? Uma nova fase de rebeldia? – surpreendentemente, a voz era da minha mãe. Sim. Aquela doce mulher que é incapaz de aumentar o seu tom de voz ou de proferir palavras duras para qualquer pessoa, sobretudo para seus amados filhos. Ela, que é sempre tão compreensiva, não está comigo dessa vez.

- Mãe, eu não quero discutir com você.

- Nem eu. O problema é que você é de extremos. Ou oito ou oitenta. Não há um meio termo com você. Nós não temos que brigar. Nós podemos conversar, Matteo. Giovanna é uma menina doce...

- Uma doce menina que mentiu e me manipulou. – Soltei. Minha voz carregada tanto pelas inúmeras doses que eu tomei no bar, como pela raiva que sentia cada vez que eu pensava sobre o que ela fez. Por mais que eu quisesse, era difícil esquecer esse detalhe. Sim, ela era doce, mas era fato que ela havia mentido pra mim.

- Eu não entendi muito bem o que aconteceu de fato, mas seja o que for não é nada que vá mudar quem ela é. As pessoas erram meu filho. Você não é perfeito. Como pode exigir perfeição dela? Quantas coisas você não tolerou da sua ex-esposa e agora vem querer ser rígido com quem não merece a sua ira. Eu devo ter errado e muito na sua criação por que você é um adulto que quando contrariado se comporta como uma criança. Adultos conversam, Matteo. Eles sentam a sua bunda na cadeira e falam a respeito daquilo que os incomoda e tentam arrumar uma solução. Sem ataques, sem birras, sem agressões verbais ou de qualquer tipo. Conserte isso, Teo. Eu não quero o meu neto sendo criado sem pai, se você não é bom o suficiente pra ele, arrume uns culhões e se transforme num homem para o seu filho e para a mãe dele – Ela terminou seu discurso de forma acalorada. Sua voz foi aumentando a cada palavra dita e ela tinha as bochechas rosadas.

Uau! Agora sim tudo estava fora de lugar, por que a minha mãe não usa esse linguajar. Teria sido divertido se sua ira não tivesse direcionada para mim. Chocado, eu me recusei a dizer-lhe qualquer coisa e caminhei para dentro da casa, refugiando-me em meu quarto, onde o cheiro de Giovanna ainda era latente e onde malas estavam organizadas junto à porta. Eu notei um movimento perto e me virei para encontrar minha irmã e Tony junto à porta – Teo, ela pediu que eu levasse as suas coisas... – Minha irmã falou. O receio óbvio em casa fonema.

Eu queria dizer não. Queria dizer para deixar tudo ali e em seguida sair para ir busca-la, mas, incapaz de agir, eu apenas assenti. Tony e Ella entraram e levaram tudo, me deixando finalmente sozinho.

*****

- Preciso desconvidar as pessoas para o casamento – foi o cumprimento da minha mãe ao telefone, apenas dois dias após a minha vida ter se transformado em um inferno. Nem mesmo um oi ou um alô, como você está... nada. Nós não nos falamos depois do sermão que ela me passou na varanda da casa. Eles se foram sem que eu os visse.

- Ainda não – as palavras apenas saíram da minha boca, sem qualquer filtro. Eu estava magoado com Giovanna ainda, mas eu também estava disposto a perdoá-la. O grande problema é que ela precisava me perdoar primeiro. Mas alguma coisa na maneira como ela olhou pra mim naquele dia, em meu quarto, me disse que não tinha mais volta. A verdade é que eu era um maldito covarde. Eu estava adiando meu reencontro com ela como se o passar do tempo fosse apenas apagar o que aconteceu.

- Matteo, isso não é qualquer tipo de brincadeira. Nós já fizemos a deselegância de convidar todos em cima da hora por que você decidiu que queria se casar de qualquer maneira em pouco tempo. Agora, pelo menos, temos que ter a decência de avisar as pessoas o quanto antes. Ainda tem os convidados de Giovanna que há uma grande chance dos pais dela terem desconvidado. Eu só queria entender o que você está esperando, meu filho.

- Um milagre – eu disse. E era exatamente disso que eu precisava. Uma longa pausa se seguiu e por um instante achei que ela tivesse desligado.

- Fé, oração e ação, meu filho. – foram as únicas três palavras que ela disse antes de desligar. Eu tinha minha resposta. Eu sabia que precisava fazer alguma coisa.

Havia dois dias que eu não pisava no escritório, nem recebia ninguém para resolver qualquer coisa de trabalho. Vinho e cama vinham sendo as minha companhia, além do olhar de misericórdia de Guilhermina. 

Decidido a fazer alguma coisa que me fizesse sentir como um homem de novo, fui ao banheiro, tomei um banho, fiz a barba e vesti um terno. No andar de baixo, Guile me aguardava com uma mesa bem posta de café da manhã – Eu aprecio isso, Guile, mas não tenho fome.

- Senhor, você devia comer.

- Talvez mais tarde. Estou a caminho do escritório – escapei pela varanda antes que ela pudesse argumentar. Eu precisava tomar as rédeas da minha vida novamente e isso tinha que começar pelo trabalho, uma vez que eu não estava pronto para correr atrás de Giovanna, ainda. Eu precisava digerir tudo antes de fazer qualquer movimento.

A expressão de Andrei, ao me ver entrar no prédio da administração da vinícola, era de puro choque. Ele não esperava que eu estivesse de volta tão cedo. Ele foi o único a me levar para a cama nas duas últimas noites. Após me encontrar completamente bêbado na varanda. Eu apreciava a dedicação dele para comigo. Era um bom homem e confiável. Eu ficava mais tranquilo em não estar presente no trabalho quando sabia que ele estava por aqui e cuidaria de tudo. Eu não podia efetivamente contar com Alícia. Ela era uma dor de cabeça. Sua competência andava amplamente limitada pelas suas crises de humor desde que eu conheci Giovanna e eu era a porra de uma bomba relógio desde que essa merda toda aconteceu. Não havia maneira, no mundo, de eu aguentar as suas birras e crises nervosas.  – Bom dia, Senhor – Ele cumprimentou.

- Bom dia, Andrei. Vamos ao meu escritório. – ele me seguiu pelo corredor até a minha sala. Mas antes de conseguirmos entrar, tivemos que passar pela sala de Alícia. Ela tinha um olhar petulante quando me viu, mas minha cara deve ter feito o trabalho de alertá-la sobre a minha ausência de paciência, pois ela se limitou a murmurar um “bom dia”. Ao qual eu devolvi com um seco “bom dia” e segui direto para minha sala fechando a porta atrás de mim.

- Andrei... – Comecei. Sentando-me e indicando uma cadeira para que ele se acomodasse – Eu quero atualizações sobre a vinícola, mas antes eu tenho algo importante para dizer. Há dois dias eu e Tony tivemos o desprazer de encontrar aquele sobrinho do casal Pienezza na cidade.

- Jeremias?

- Ele mesmo.

- Já fazia um bom tempo que não tínhamos notícias dele.

- É exatamente por isso que eu estou preocupado. Ele veio com a mesma história de sempre, mesmo depois de tanto tempo e, embora eu não tivesse muito centrado aquele dia, eu tenho quase certeza de que vamos ter problemas com ele. Preciso que você investigue o que ele quer por aqui e eu quero um reforço na segurança da propriedade. Articule com Martinelli e arrume alguém para manter um olho nele. Nós tivemos problemas com ele no passado e eu agora me arrependo de não ter prestado uma queixa sobre os seus crimes contra mim. Eu fiz isso em consideração aos seus tios, mas eu não vou ser tão tolerante desta vez.

- Sim, Senhor. Eu vou cuidar disso imediatamente.

- Eu também preciso de alguém para manter um olho na Senhorita Greco. Mas eu quero discrição. Veja mais uma vez com Martinelli como isso pode ser feito. Você cuida da segurança da propriedade e de Jeremias, enquanto que Martinelli monitora a segurança da Senhorita Greco. Ela está grávida e em breve vai participar de um evento importante que deve mudar a vida dela. Eu ainda não posso dizer do que se trata, mas ela tem que ser protegida. Ela não pode ter ideia de que está sendo monitorada, exceto se a segurança dela estiver ameaçada de qualquer maneira. Neste caso, a equipe se identifica e age.

- Sim, Senhor.  – Passamos a próxima meia hora falando sobre os últimos dois dias da minha ausência e eu agora tinha uma série de coisas a resolver. Assim que Andrei se foi, Alícia invadiu a minha sala sem bater.

- Bata na porta antes de entrar – eu disse em um tom firme que eu raramente utilizava com ela, mas que com certeza eu deveria usar mais vezes.

- Nossa! Como você está sensível – eu ignorei seu comentário e continuei digitando no meu notebook – Você está horrível.

- Obrigado. Foi apenas para falar a sua opinião sobre a minha aparência que você resolver aparecer? Será que está faltando serviço nesta empresa?

- Eu vim trazer a sua agenda – ela disse, petulante.

- Pra isso inventaram a internet – eu disse rispidamente.

- Minha nossa! Qual é a porra do seu problema. Aquela vagabunda te dá um pé na bunda e você vem descontar sua raiva em mim?

Eu fiquei de pé abruptamente e praticamente rosnei as palavras – Eu já a proibi de falar assim dela. Não volte a fazê-lo. Seu emprego aqui está por um fio.

Seu semblante estava tomado de raiva, mas rapidamente ela fez um esforço para suavizar. Parecia falso, mas tudo bem – Peço desculpas por isso. Mas eu apenas me preocupo que você se magoe. Eu sei que eu pisei na bola com você, mas eu não sou a sua inimiga, Teo. Você sabe. Precisa parar de me tratar tão mal.

Um pouco da velha Alícia parecia estar de volta e eu abrandei – Eu sei. Não estou em um bom momento. Mas falo sério. Eu vou demitir você se continuar tratando a minha noiva desta maneira.

- Eu não quero ser grosseira, mas até onde eu soube, ela não é mais a sua noiva.

- Isso é apenas um detalhe. Nós vamos nos entender. Mas uma vez que a minha vida pessoal não está em discussão, eu quero uma profissional aqui. Se você acha que não pode fazer o trabalho eu posso arrumar alguém que possa fazer. Você sabe que não ficará desempregada.

- Eu posso fazer o trabalho, Sr. Mazza. – Ela falou. Em seguida, deixou a minha agenda sobre a mesa e saiu.

Respirei aliviado por ficar sozinho e voltei a me dedicar ao trabalho novamente. Eu tinha uma série de documentos para assinar, rever orçamentos, analisar relatórios e inspecionar a produção. Eu ainda tinha uma reunião no final da tarde, segundo a agenda que Alícia montou. Concentrar-me foi um exercício de perseverança e paciência, pois tudo que ocupava os meus pensamentos era Giovanna. O que ela estava fazendo? Será que ela estava me odiando, agora? Sim, eu supunha. Ela tinha que me odiar. Eu mesmo me odeio neste instante. 

No momento em que eu soube quem ela era, eu me senti usado. Agora, porém, embora eu ainda me ressinta sobre a sua mentira, a falta que ela me faz supera tudo isso. Eu a quero de volta. É tudo no que eu consigo pensar.

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