CAPÍTULO 3.1

Giovanna

- Você está bem? – Penélope perguntou quando entramos em casa. Eu não disse uma palavra durante todo trajeto. Estava exausta. Minhas pernas doíam, assim como as minhas costas e cabeça.

- Sim, apenas com dores por passar tanto tempo sentada.

- Eu me refiro a Matteo? Você está bem depois daquilo?

- Eu não quero falar sobre isso.

- Giovanna, em algum momento nós vamos ter que falar sobre isso. Quinze dias se passaram desde aquela tarde dos horrores e eu tenho tentado ser uma boa amiga e esperar o seu tempo. Mas eu preciso falar...

- O que você quer dizer Penny.

- Eu quero dizer que Matteo é um imbecil...

- Isso eu já sei de primeira mão. Por favor, seja mais original.

- Não me interrompa quando estou falando. – Ela bradou com aquela autoridade típica de mãe e o meu cansaço me obrigou a obedecer como uma filha – Eu dizia que ele é um imbecil, mas ele é louco por você. Eu não acho que ele esteja certo, mas eu também acho que você não está.

- Ai que ótimo, agora a culpa é minha – Agora sendo a filha malcriada.

- Você mentiu pra ele...

- Penélope eu...

- Você mentiu, porra! Pra ele, pra mim, pra todo mundo. Mas... eu entendo que você tenha escondido de mim, embora eu ainda me sinta um pouco magoada sobre isso se você quer saber, mas com Matteo foi pior... – na medida em que as palavras de Penélope iam penetrando em minha mente eu ia sentido o peso de cada uma delas nas minhas costas – Você não só escondeu a sua identidade, minha amiga... você manteve a farsa mesmo depois de descobrir quem ele era. E você usou isso a seu favor, então... eu não estou te recriminando, mas eu posso compreender como ele se sentiu enganado. Ainda mais depois do que aconteceu com a ex-esposa dele. Tudo que você tem a fazer é se colocar no lugar dele por um segundo e você vai entender como ele se sente. E você sabe tanto disso que você mesmo confessou pra mim que temia a descoberta. Você sabia que estava fazendo algo errado, Gi e sabia que era apenas uma questão de tempo.

- Droga. Olha, eu posso até ter feito tudo isso que você falou, mas você estava lá, você viu as coisas que ele disse... ele insinuou que o nosso filho... – eu nem terminei a frase. Não podia.

- Eu sei e ele merecia um soco por isso também. Eu mesma tratei de dar-lhe um dois dias atrás. Ele foi infantil e um idiota. Mas o meu palpite é que ele estava ferido e queria te ferir também de alguma forma. Ele feriu o irmão dele na mesma sentença e ele teria ferido qualquer pessoa que cruzasse o seu caminho naquele dia. Matteo estava transtornado. Não justifica, ouça-me bem, não tem justificativa, mas é compreensível se você analisa o contexto.

Eu tentei digerir tudo que ela me disse. – Você se ressente por eu não ter te contado sobre quem eu era?

- Honestamente? – eu assenti com um gesto de cabeça – Eu me senti enganada e, pior, eu senti como se você não confiasse em mim o bastante para me contar algo tão grande. Tão importante pra você.

- Eu confio em você.

- Olha, eu ainda seria a sua amiga, mesmo que você não quisesse. Mas, por mais que eu entenda suas razões, eu não posse dizer que não fiquei triste sobre isso.

- Eu sinto muito.

- Tudo bem. Você sabe que é só me deixar te dizer alguns desaforos e quem sabe te dar umas t***s que fica tudo bem entre a gente. Mas o que eu quero é que você seja feliz.

- Obrigada. – virei-me em direção ao meu quarto – Eu só preciso dormir um pouco, Penny. Foi um dia intenso e amanhã tem mais. Vamos deixar essa conversa para outra hora.

Eu tomei um banho rápido, vesti um pijama de duas peças azul e me deitei na cama, apoiando a parte superior do meu corpo sobre os travesseiros. Eu olhei para baixo e vi a discreta protuberância no meu ventre. Eu tinha um bebê aqui comigo e isso essa melhor do que qualquer coisa. Não importa o quanto eu tenha ficado preocupada inicialmente ou o quanto eu não me sinta boa o suficiente para ocupar o cargo de mãe, o fato é que eu já amo essa pequena vida dentro de mim e já não consigo me ver sem ela. 

Por mais magoada que eu estivesse com Matteo, eu não podia odiá-lo. Sempre que a mágoa vinha à tona, eu tocava meu ventre e me lembrava da maravilha que ele me deu. Concluí que não importa o quanto Matteo possa me magoar, eu sempre serei grata a ele por esse presente. Mas quanto a perdoá-lo... bem, isso não está em pauta. Eu cometi um erro em relação a ele e não tem nada a ver com ocultar o meu trabalho. Eu assumi, de pronto, a tarefa de fazer Matteo seguir em frente com a sua vida. Eu o vi na miséria e quis resgatá-lo, mas eu me perdi no processo. Não adianta quanto apoio eu jogue no mar de tristeza no qual ele está atolado, é apenas dele a decisão de se agarrar à boia, à corda, ao apoio. 

Sim, ele me levou pra sua casa, quis casar-se comigo, fez planos, parou de chorar por sua falecida esposa... mas na minha primeira pisada na bola ele me igualou, mediu-me com a mesma régua que ela. Eu não me iludo sobre o fato de Matteo apenas odiar o que eu fiz por que ele já experimentou a dor de perder Anabela, assim como a dor de ser enganado por ela. Mas eu não sou ela e eu não iria apenas aguentar isso. 

*****

Matteo

- O que você quer aqui? – Penélope sussurrou fechando a porta atrás de si – Será que eu vou ter que te dar outro soco para fazer com que você desapareça de uma vez.

- Eu mereço todos os socos do mundo – eu disse, mas não a surpreendi, uma vez que não era a primeira vez que eu lhe dizia isso – mas eu preciso falar com Giovanna. Eu... eu fui um idiota e eu preciso que ela me perdoe.

- Ela não quer te perdoar. Será que você não entende? Você fez a maior merda do caralho de todos os tempos. O que você espera? Que ela apenas esteja sorrindo quando você subir lá?

Esta era uma mulher complicada. Eu só tenho pena do imbecil que cair de amores por ela, por que ela não dá um folga pra ninguém. Mas ao mesmo tempo eu estou aliviado que Giovanna tenha alguém em sua vida que se preocupe tanto com ela como Penélope faz. Por mais que eu queira odiá-la em momentos como este, onde ela tenta me impedir de chegar até Giovanna e ao meu filho, eu tenho que ser compreensivo, pois eu sou a ameaça aqui, de acordo com o meu comportamento idiota – Olha, você tem toda razão por estar chateada.

- Eu não estou chateada.

- Por estar preocupada.

- Eu não estou preocupada. Eu estou te odiando e determinada a te matar se essa for a única maneira que eu possua para te impedir de magoar a minha melhor amiga.

- Eu não estou aqui para magoá-la. Eu só quero consertar as coisas entre a gente.

- Você tentou isso ontem e apenas conseguiu aborrecê-la. Além disso, ela carrega o meu sobrinho. Sou uma tia. Ainda não sei muito bem o que isso quer dizer, mas eu não vou deixar você encher o saco do bebê, pois segundo algumas pesquisas que eu fiz, a criança sente quando a mãe não está bem. Então você só vai magoar duas das pessoas que eu amo.

- Penny – apelei – eu aprecio o cuidado que você está tendo com eles, mas você acha que ela está bem? Seja honesta. – isso parece tê-la feito pensar um pouco – ela não está bem sem mim. Eu sei que eu fodi tudo, ok? Mas eu a amo e eu quero cuidar dela e do bebê. Eu não quero que ela enfrente essa barra sozinha. É meu dever como pai. Além disso, eu a amo muito e eu quero acertar as coisas com ela.

Ela pareceu pensar sobre isso – Dez minutos. Eu estava de saída, mas uma vez que você está por aqui, eu não vou deixa-la sozinha muito tempo com você. Vou até a padaria da esquina comprar um bolo que ela adora e estarei de volta para me certificar que ela está bem. Se você a aborrecer, vou atirar na sua cara. 

Aquela informação me deixou perplexo e preocupado. Primeiro por que eu sabia que ela era capaz de atirar em alguém. Segundo por que ela morava com a minha Giovanna e eu não queria uma arma perto dela ou do meu filho – Você tem uma arma?

- Ainda não. Mas se você a magoar de novo. Eu vou sair daqui direto para comprar uma e ter umas aulas de como acertar a porra da sua cara e o meu alvo vai ser o seu focinho.

- Combinado – eu disse, já me dirigindo para a porta sem perder tempo. Eu não queria que ela mudasse de ideia e nem estava disposto a aguentar mais desta merda. Eu apenas sabia o quanto ela se preocupava com a minha Giovanna e isso era motivo suficiente para suportá-la, mas eu também não era um santo. Dio mio!

Penélope desceu e eu fiquei ali encarando a porta. Depois de passar cerca de dois minutos paralisado diante da porta do apartamento de Giovanna, eu, finalmente, tomei coragem para apertar a campainha. Sim, eu não quero simplesmente abrir e entrar. Percebi quando se aproximou da porta e também quando percebeu de quem se tratava. Um longo silêncio se fez até que ela reunisse coragem para dizer alguma coisa e apenas isso me fez tremer nas bases. Ela me odiava. Ela não me queria ali. Mas eu a amava e não ia aceitar um não como resposta. Ela permaneceu em silêncio, me olhando pelo olho mágico. Eu não sabia se ela queria apenas me ver... bem, eu achava que ela esperava que eu me cansasse e fosse embora.

- Giovanna – eu comecei. Decidido a não recuar – Eu não vou embora. Então, a menos que você queira que eu coloque abaixo essa porta, você deve abri-la e ouvir o que eu tenho a dizer.

Mais um longo silêncio se seguiu e eu achei que talvez ela não fosse recuar de jeito nenhum. Eu não queria assustá-la levando a porta abaixo. Mas eu faria, se essa fosse a única maneira de fazê-la me ouvir, de olhar pra ela. Então, ela falou:

- O que você quer aqui, Matteo.

- Preciso falar com você.

- Nós não temos nada para falar um com o outro. Vá embora.

- Eu não vou. E, se você não quer um escândalo, você vai abrir. A única maneira de me tirar daqui é preso. Mas eu, sinceramente, espero que você não vá fazer isso com o pai do seu filho. Embora eu mereça.

 - Tony está aí? – ela perguntou e eu não entendi. Até olhei em volta – Não. Sou apenas eu.

- Pensei que o pai do meu filho estivesse aí – então entendi a ironia.

- Giovanna, eu sei que eu agi como um idiota. Eu nem mesmo mereço um segundo do seu tempo. Mas eu te amo. E não importa o quão imbecil eu seja, eu ainda vou te amar.

- E você esperou cerca de quinze dias para me dizer isso?

- Não. Eu esperei quinze dias por que eu estava morrendo de medo que você me rejeitasse. Eu ainda estou. Eu posso lidar com tudo, mas não posso lidar com o seu desprezo por mim.

Mais um silêncio se fez. – Mas eu fui a única que tive que lidar com o seu desprezo por mim, não é? – eu não tinha uma explicação para isso. Eu não tinha o que dizer. Ela estava certa. Até a encrenqueira da sua amiga estava certa. Eu fodi tudo  - Eu não posso fazer isso, Matteo.

- Por favor, só me deixe entrar e falar com você sem que eu seja um show de corredor.

Mais uma longa pausa. Então, a porta se abriu. 

Ela estava simplesmente linda. Com o rosto ainda sonolento, os cabelos um pouco revoltos e um vestido de algodão azul turquesa com alças e solto abaixo dos seios. Eu passei uma fração de segundo olhando pra ela, mas o cansaço que eu notei em torno dos seus olhos e na forma que os seus ombros se curvavam me tirou do transe e me fez apressar para dentro. Não precisava ser nenhum gênio para saber que eu tinha minha parcela significativa de contribuição para o seu estado físico e mental e eu queria reparar isso.

Eu caminhei um pouco apressado demais para o meio da sala, como se temesse que ela apenas me pusesse dali pra fora. Ouvi quando a porta do apartamento se fechou e também ouvi os sons dos seus passos se aproximando pelo piso amadeirado. Mas ainda não me virei para encará-la. Ela soltou um longo suspiro e perguntou com a voz um pouco trêmula – O que você quer aqui, Matteo.

Então eu me virei para olhá-la e aqueles olhos assustadoramente azuis me fitaram impacientes – Nós precisamos conversar.

- Eu queria. Há quinze dias na vinícola. Eu queria conversar com você.

- Eu sei. Eu ...

- Você surtou. Como você sempre faz. 

- Sim. Eu surtei. Você tirou o chão sob os meus pés com aquela revelação.

- Não justifica...

- Não. Não justifica. Mas com certeza você pode entender como eu me senti. Deus! Depois de enfrentar todas as mentiras de Anabela e da minha família sobre ela, você era a única certeza que eu tinha.

- Era?

- Não. Você ainda é a única certeza que eu tenho.

- Mas seu filho não?

- Por favor, Giovanna, não faça isso. Você tem todo o direito de ser cruel, mas ainda assim eu peço que não seja. Eu tenho me martirizado pela merda que eu falei sobre a sua gravidez, mas eu estava magoado... ferido. Eu queria te magoar também e as palavras apenas saíram. Eu sei que esse filho é meu e eu o quero desesperadamente. Eu provavelmente vou me estigmatizar pelo resto da minha vida pelo que eu disse. Quero esse bebê. Eu já o amo.

- Até quando?

- Como assim?

- Você sabe. Eu quero saber até quando você está disposto a querer esse filho. Até quando eu te decepcionar da próxima vez? Por que não se trata aqui de mim ou de você. Não mais, pelo menos. É minha obrigação como mãe proteger essa criança, Matteo. Deus sabe o quanto eu te amo, mas esse bebê depende de mim e ele é a minha prioridade. E eu não quero que ele tenha que ouvir você insinuar que ele não é seu quando você simplesmente se aborrecer ou se decepcionar comigo. Vou protegê-lo de você. E se isso significa que ele vai crescer sem pai, porra, que seja. Ele vai crescer sem saber que tem um pai. Isso é melhor do que ter que ouvir que ele é filho de uma puta que traiu o pai dele.

 - Eu nunca disse isso de você. Eu jamais...

- Sim, você diria. Ou melhor, você disse. Você insinuou que esse filho era do seu irmão, por que a sua ex-mulher apenas havia tentado te trair come ele. Isso depois de foder metade da vizinhança. Eu não sei se você ofendeu mais ao seu irmão ou a mim e eu não aguento mais viver à sombra de Anabela. Não suporto mais ser medida pela mesma régua que ela, que Deus a tenha.

- Sinto muito. Você tem toda razão. Eu fui um idiota. Eu estava magoado e queria te atingir de alguma forma... – Assisti toda a mágoa no seu rosto enquanto colocava cada palavra. Doía que eu fosse capaz de causar-lhe tanta dor – Eu não posso dizer o quanto eu lamento. Mas eu te amo, cara mia. Nada do que eu disser pode justificar a maneira como eu me comportei, mas foi como se uma bomba fosse jogada sobre mim. Deus! – eu esfreguei a mão pelos cabelos – Depois do que eu tive que enfrentar, você era a única certeza que eu tinha. Eu sabia que qualquer pessoa no mundo poderia mentir pra mim, mas não você. Você jamais mentiria... não você. 

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