CAPÍTULO 4.1

- Como eu estou? – Foi a primeira coisa que Penélope me perguntou quando entrou no quarto que foi designado para que eu me arrumasse na mansão. Ela vestia um modelo lilás de deixar qualquer um de boca aberta. Por que eu não tive tempo de escolher os modelos das madrinhas e deixei tudo ao encargo dela. Claro que ela queria um vermelho ou algo assim, mas teve que se contentar com o lilás, que a organizadora de casamentos designou para não fugir a paleta de cores e também havia as outras madrinhas: Antonella e Juliana, a minha amiga de infância, que veio à Itália especialmente para a cerimônia.

- Você está magnífica – eu disse.

- Bem, eu aceito o elogio, mas eu sei que não estou como você. Você sim está uma princesa. Eu nem acredito que você vai se casar. Ainda tem aquela sua amiga de infância que eu tive que aguentar.

- Owww! Eu adoraria me ver, mas tenho que seguir a tradição de não me olhar no espelho. Juro que eu até pensei em fazê-lo, mas em seguida retirar alguma peça da minha vestimenta, como manda o figurino para desfazer a má sorte. Mas eu não quero dar sorte ao azar.

- Não se preocupe em se ver. Você sabe como eu sou e eu estou te dizendo que você é a noiva mais linda que eu já vi.

- Eu te amo. Mas sobre Juliana, não implique com ela. Você é minha amiga também e eu te amo.

- Mesmo? Por que você sempre fala nela.

- Ela é a minha amiga, mas você também é. Você esteve comigo nos momentos mais difíceis e eu sei que você é alguém que eu posso contar.

- Mesmo assim. Tenho ciúmes dela por que ela te conheceu antes. Tipo aqueles ditados que as pessoas dizem nos quartéis das forças armadas que antiguidade é o que vale e tal.

- Não é o que vale. Não é por causa do tempo que eu gosto da Juliana. É pelo que passamos juntas por toda a infância até a universidade. Eu te conheci depois, mas você é tão importante quanto ela. E hoje, eu não poderia caminhar até o altar sem a sua presença.

- Devo ficar verdadeiramente emocionada ou você está apenas tentando me dar um prêmio de consolação?

- Opção 1.

- Ok. Você está tão linda. Embora eu jamais fosse cometer essa loucura que você está prestes a fazer.

- Ahã. Vamos falar sobre isso quando você encontrar alguém que faça você se sentir como Matteo me faz.

- Matteo é um idiota. 

- Puxa! Obrigada. Não sei como eu poderia caminhar até o altar sem isso.

- Disponha! Mas, como eu dizia, Matteo é um idiota. Mas é um idiota que te ama e eu realmente acredito, e você sabe como é difícil pra mim acreditar em alguém, que ele vai te fazer feliz.

- Isso é encorajador.

- Disponha! De novo... – Então ela ficou mesmo sentimental e me abraçou – Eu te amo.

- Eu também te amo.

- Eu quero que você seja feliz. Você é a pessoa mais do bem que eu já conheci.

- Eu também quero que você seja feliz.

- Eu sou. Bem, como sua amiga e madrinha e tia do seu bebê, eu quero te dar um dos cinco itens que você deve carregar hoje. A coisa emprestada – Ela retirou de dentro do decote um bracelete prateado com arabescos discretos.

- É lindo.

- Eu adoro isso. Alguém me deu... 

- Alguém?

- Sim, mas eu não quero falar sobre isso agora. Só quero que você saiba que é especial pra mim, diante do contexto que eu recebi essa joia e do que a pessoa que me deu representava pra mim naquela ocasião. Mesmo agora, para ser sincera.

- Obrigada.

Uma batida na porta deu fim ao clima melodramático – Vamos embora para essa igreja antes que o seu noivo venha lhe buscar ele mesmo – minha mãe disse entrando no quarto. Matteo havia passado a noite no apartamento de Tony com ele e foi de lá direto para a Catedral, pelo menos era o combinado. Segundo a tradição, nós não podemos nem nos ver, tampouco nos falarmos neste período. Os pais de Matteo já tinham ido embora, assim como o meu irmão e Antonella. Minha mãe, meu pai, Antony e Penélope ficaram para trás. Tony ficou por que ele é o acompanhante de Penny, minha mãe ficou para me ajudar a me arrumar, apesar da equipe contratada para isso e meu pai ficou por que entrará comigo. 

Tinha sido um longo dia com a casa cheia de gente e todos animados para o grande momento. – Antes, porém, eu tenho uma coisa velha pra te dar, foi da sua avó, eu me casei com ele – um pequeno grampo de cabelo prateado com três diamantes enfeitando a ponta. Ela arrumou na parte lateral do meu cabelo e eu agradeci com um abraço – Seu noivo queria te dar o presente e também a coisa nova, você sabe. Nós tentamos escolher esses itens para que todos se harmonizassem. Bem, - ela me mostrou a caixinha de veludo. Um par de brincos com diamantes e uma gargantilha combinando descansavam no fundo da caixa. Era muito belo e parecia muito caro. Eu fiquei um bom tempo admirando a peça antes de tocá-la. Minha mãe tomou a frente e me ajudou a coloca-las. Eu me olhei no espelho.

- É lindo.

- Sim. Esse idiota até que é generoso e tem bom gosto, não é – Penélope provocou, mas no fundo ela parecia emocionada – A coisa azul? Você a tem?

- Sim – eu disse apenas.

- Uma vez que ela não está visível, devo supor que eu não quero saber?

- Oh! Penny. Estou chocada. Desde quando você se tornou essa pessoa puritana.

- Desde que você se tornou uma mulher grávida. As mulheres grávidas são como santas.

- Ahã, sei. Diga-me isso quando você estiver grávida. Não temos nada de santas.

- Ok! Basta. Eu não tenho que ouvir isso. – minha mãe protestou e eu e Penny demos boas gargalhadas.

Minha mãe me entregou o bouquet repleto de lindas flores na cor lilás que, como manda a tradição, foi escolhido por Matteo e entregue a mim esta manhã pela minha futura sogra. É o último presente de “namorado” e simboliza a provação da sua mãe pela sua escolha. Ela fez isso junto com um discurso belíssimo, deixando saber o quanto eu era bem vinda.

*****

Quando o carro parou diante do Duomo de Milão, meu coração estava descompassado. Toda moça católica que more em Milão, sonha em se casar ali. O Duomo é a sede da arquidiocese de Milão e está localizado na praça central da cidade. Ela é apenas a quarta maior igreja da Europa com uma superfície interna de “só” 11.700 metros quadrados.

A igreja, dedicada a Santa Maria Nascente, começou a ser construída em 1386 e só foi finalizada no final do século XIX, ou seja, levou mais de 500 anos para ser concluída. Era um sonho casar ali.

Eu não tenho a mínima ideia de como a família Mazza conseguiu encaixar o nosso casamento no Duomo, ainda mais em tão pouco tempo e nem quero saber. Eu apenas me sentia privilegiada por estar ali. Minha mãe e meu pai estavam se sentindo no céu e, se a minha satisfação pessoal não fosse suficiente, a deles bastaria. Bem, eu estava sentada dentro de um carro que parecia de cinema que providenciaram para mim, esperando o grande momento para caminhar para fora do veículo e dentro da catedral para os braços do meu amor. 

Meu pai ao meu lado parecia mais nervoso do que eu. Ainda mais com a infinidade de repórteres que esperavam do lado de fora da corrente de segurança que foi montada. Uma pequena batidinha no vidro da limusine nos alertou que era a hora da minha mãe sair. Ela acompanharia o pai de Teo até o altar. Enquanto meu pai ficaria para trás para me levar até onde Teo me aguardava.

- Vejo você lá, querida. Você está tão linda – então as lágrimas estavam lá pela enésima vez. 

- Mãe, por favor, não chore. É um dia feliz, não é?

- Sim, querida. São lágrimas de felicidade. Você vai entender isso melhor quando este pequeno aqui nascer. – ela se foi me deixando sozinha com o meu pai.

- Ela é louca por você. Você sabe disso não é? Nós dois somos muito orgulhosos da mulher que você se tornou.

- Obrigada, pai. Isso significa muito.

- Você sabe que somos um pouco viciados nos nossos trabalhos, mas tudo que eu sempre sonhei para você é que você fosse feliz, minha filha. Nós dois, na verdade. Então, não importa o trabalho que você tenha, nem quanto dinheiro o seu marido possua, nada disso tem importância se você não estiver feliz. Tudo o que eu quero que você me diga agora é se você está feliz ou não. Eu não me importo com nada. Nem com quanto dinheiro foi gasto, nem com quantas pessoas terão que voltar pras suas casas. Nem com as manchetes dos jornais de amanhã. Eu estou pouco me importando com isso. Você é a minha prioridade. Então tudo que você tem a dizer é: “vamos embora pra casa” e eu vou te levar pra casa.

- Obrigada, pai. Eu te amo.

- Eu te amo também. Mas então, o que vai ser. Casa ou altar.

- Altar – eu disse sem titubear e com um sorriso de doer a face.

- Você realmente gosta desse rapaz, não é? Eu fiquei com muita raiva dele naquele dia na vinícola por que ele fez você sofrer. Mas eu gosto dele quando ele não está sendo um idiota.

- Eu também gosto dele. Em geral ele não é um idiota.

- Tudo bem. Mas se ele for. Não me importo se você está casada ou não. Chame-me eu vou te buscar.

- Obrigada, pai. Você é o melhor pai do mundo.

- E você vai ser sempre a minha princesa. Está pronta.

- Sim.

- Então, vamos lá.

Ele abriu a porta e voltou para me oferecer ajudar para sair do carro. Uma equipe de filmagem e fotografia estava a postos para registrar os momentos mais especiais e pediu um minuto ao meu pai enquanto fotografava passo a passo a minha saída do carro. Pelo que pude perceber, isso incluía a mão do meu pai sob a minha, meu pé direito sob o chão fora do veículo, o sorriso de felicidade, o carinho no rosto de meu pai, mais tarde tudo isso faria sentido num álbum de fotografias. Naquele momento, porém, era só um atraso para que eu visse meu noivo me esperando no altar.

Quando eu consegui, finalmente, sair do veículo, a moça me pediu para fazer algumas poses fora do veículo, antes de caminhar para dentro da catedral. Lembro-me de estar abraçada com o meu pai e sorrindo para a câmera. Lembro-me de sentir o bebê mexer forte demais e me curvar com a dor ao mesmo tempo que um barulho seco cortou o ar, seguido pelo som de vidros estilhaçando bem atrás de mim. Em choque e confusa demorei a entender o que estava acontecendo. Mas Martinelli estava me cobrindo com o seu corpo e me arrastando para dentro da catedral antes que eu pudesse compreender e à medida que outro disparo se ouviu, seguido de um gemido abafado. Eu temi pelo meu pai, mas o vi correndo ao meu lado e intacto. 

Enquanto eu entrava correndo para dentro da catedral, Matteo corria na minha direção, mas para mim era como se ele estivesse em câmera lenta. As pessoas me tocavam. Meu pai parecia desesperado e eu queria dizer a ele que estava tudo bem, mas nada saía.

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