- Então, vocês querem saber o sexo? – Matteo me olhou questionando. Eu sabia o quanto ele estava curioso sobre isso. Segundo ele, não era uma questão de preferência. Era apenas curiosidade. Ele queria pensar em tudo, planejar tudo. E saber o sexo ajudaria. Eu também queria saber, mas não tanto quanto ele. Eu havia pensado sobre manter o suspense até o dia do nascimento. Mas, por outro lado, era bom planejar.
- Sim – Eu disse e vi o alívio claro em seu semblante.
- Bem então vamos lá. – O gel frio fora espalhado na minha barriga saliente e o aparelhinho começou a deslizar de um lado para o outro. À princípio, o médico apertou alguns botões do teclado, como se estivesse capturando imagens – Só mais um instante... você vê? – ele apontou para uma imagem um pouco disforme – tcham... tcham... tcham... tchammm – Eu queria rir com a empolgação do médico e ao mesmo tempo com todo o clima de suspense que ele criava deixando Matteo ainda mais louco. Eu podia ver que ele adorava o que fazia. Mas ele ainda não disse – Se fosse uma menina já tem um nome?
- É uma menina? – Matteo perguntou.
- Só estou especulando. Tem um nome?
- Na verdade, nós ainda não discutimos sobre isso. Queríamos saber o sexo em primeiro lugar – Matteo respondeu um pouco impaciente, mas o médico não se abalou.
- Um sei... Bem, estão preparados?
- Doutor, por favor. Diga de uma vez se você já sabe – Matteo rosnou e eu ri com o quanto ele estava agoniado. Eu estava de volta à mansão por quase duas semanas e amanhã seria o grande dia. Eu até cogitei a possibilidade de adiar a consulta para a próxima semana, mas Matteo foi taxativo. Nesse tempo todo, Matteo não falava em outra coisa que não fosse o nosso casamento e o sexo do bebê. Era um dia importante para ele, mas eu sabia também que podia ser menino ou menina, ele amaria do mesmo jeito. Estava apenas curioso a respeito.
- Sim, claro, fique tranquilo. – O Doutor acalmou e mexeu o aparelho mais um pouco, então, quando uma imagem se formou mais clara na tela, ele deu um zoom. – Bem, temos um garotão aqui – O sorriso de Matteo era impagável.- Tem certeza?
- Sim. Olhe bem aqui. Esse é o pequeno órgão genital do seu bebê.
- Não use “pequeno” para definir o pênis do meu bebê – ele disse no misto de alegria e irritação.
- Claro. Sinto muito. Corrigindo: Esse é o grande órgão genital do seu filho.
Eu tive uma crise de riso. Metade de mim contagiada pela alegria de Matteo e metade pela situação cômica.
- O senhor está gravando isso? – Matteo perguntou.
- Sim. Mas se preferir também posso imprimir.
- Eu gostaria dela impressa, mas também uma imagem digital que eu possa ampliar.
O médico riu como se estivesse habituado a esse tipo de comportamento por parte dos pais – Sim, Senhor Mazza. Vou providenciar.
- Eu não acredito nisso, Matteo. Você não vai mostrar a ninguém o pênis do nosso filho, não é? – Ele apenas encolheu os ombros fugindo da minha pergunta. Em seguida, curvou-se e beijou a minha testa.
- Eu te amo – ele disse e eu respondi com a mesma frase.
Nós caminhamos pela rua após deixarmos o consultório do médico. Nosso destino era o café no qual estivemos na primeira vez que viemos a uma consulta com este médico. Eu adorava a torta de chocolate que eles serviam, embora eu não ache que devia comê-la. Eu estava ganhando peso. Meus seios estavam pesados e minha barriga havia aumentado consideravelmente. Ainda não era tão grande, mas meus quadris estavam largos o suficiente para que eu não pudesse usar boa parte das minhas calças jeans e para que o meu vestido de noiva tivesse que ser remodelado, embora a barriga não aparecesse sob ele. Ou seja, eu não era nenhum violão. Depois de sermos servidos no pequeno café, ele ainda exibia um sorriso idiota.
- Você manteve esse sorriso bobo desde que saímos do consultório. Isso tem algo a ver com o fato de ser um menino?
- Eu ainda amaria se fosse uma menina – ele disse apenas, não respondendo totalmente a minha pergunta.
- Sim, mas você está feito um bobo com um menino, não é?
- Sim. Apenas por que eu quero um segundo filho e eu vou adorar ter um menino mais velho e depois uma pequena. O time vai estar maior para protege-la, não é mesmo?
- Vocês homens são tão engraçados. Por que vocês acham que ela precisa ser protegida?
- Por que nós homens somos idiotas. E sempre tem algum idiota ao cubo para foder com tudo. Então eu e o irmão dela vamos estar lá para ensinar aos idiotas que não se mexe com uma pequena Mazza.
- Deus! Como você é machista. Ao invés de se preocupar em proteger a nossa filha, não que isso seja ruim, você deveria se preocupar a ensinar ao seu filho a respeitar as filhas dos outros.
- Mas eu vou. Quem te disse que eu não iria? Ele vai ser um Mazza. Ele vai respeitar as mulheres e cuidar delas. Protegê-las. E eu vou ensinar-lhe a não aborrecer as garotas como eu te aborreci no passado.
- Ahã – eu disse, abocanhando a minha torta e deixando a conversa de lado. Então, uma moça se aproximou, ela parecia tão empolgada e ao mesmo tempo tímida.
- Oi – ela cumprimentou como se já me conhecesse.
- Olá – respondi. Matteo me estudava atentamente.
- Você é a Gi? Giovanna Greco? A escritora?
- Oh! – olhei para Matteo apreensiva. Isso já tinha acontecido duas vezes na última semana quando saímos e eu não queria que ele ficasse chateado sobre isso – Sim. Sou eu.
- Eu me chamo Marcella – ela me ofereceu a mão e eu a segurei, cumprimentando-a – Eu li todos os seus livros. Desculpe, não quero incomodar.
- Não incomoda – eu disse, sinceramente – É um prazer, na verdade.
- Eu não quero ser inconveniente nem nada, mas você está grávida? Eu não acho que você está gorda, nem nada, pelo amor de Deus, não pense isso. É só que você sempre leva a mão à barriga de forma protetora em alguns momentos e eu sou mãe então... deduzi.
- Oh! Sim. Eu estou grávida. Acabei de saber que vamos ter um menino. Ah! À propósito, este é Matteo Mazza, meu noivo e o pai orgulhoso.
- Ah! Sim, claro. Eu sabia que o conhecia de algum lugar – ela ofereceu a mão e Matteo apertou – Sinto muito se estou atrapalhando. – então ela se voltou pra mim – Parabéns! Você já está trabalhando em um novo romance? Sabe... o “Pain” deve ter uma continuação. É muito triste para acabar daquele jeito. Não se parece como você terminaria uma história.
Eu olhei pra Teo e ele sorriu e arqueou a sobrancelha como se dissesse “eu te disse”. – Eu ainda não pensei bem sobre isso. Estou esperando que essa continuação apenas surja... ou não. Não pensei à respeito.
- Estou na torcida para que você seja inspirada a continuar, mas não quero pressionar. Eu só queria dizer que eu li todos os seus livros e amei. Infelizmente não consegui um convite para estar no lançamento do livro novo, mas o comprei e o tenho agora comigo. Você se incomodaria de autografar?
- Na verdade seria um prazer fazer isso. Eu não tenho uma caneta comigo, no entanto.
- Sinto muito. Eu também não tenho – ela disse parecendo triste.
- Espere um pouco – fui até o balcão e pedi a atendente uma caneta emprestada – Aqui está. Marcela, não é?
- Sim – eu escrevi uma pequena dedicatória e entreguei a ela. Que agradeceu – Obrigada por isso.
- Na verdade, eu é que agradeço pelo carinho. Isso significa muito pra mim. – A mulher tirou o celular e pediu para Matteo fazer um registro do momento e depois voltou ao seu lugar, onde um rapaz a aguardava. Parecia seu marido ou namorado, já que ele a beijou quando ela parecia emocionada. Eu mesma fiquei. Era sempre assim. Apesar de receber tantas mensagens pelas redes sociais nesse tempo todo. Eu ainda não estava acostumada a receber tanto carinho pessoalmente. Era algo novo e eu estava amando toda essa energia boa.
- Então você agora é uma espécie de celebridade? – Matteo provocou.
- Não. Você e a sua família são celebridades. Eu sou apenas uma pessoa que contou algumas histórias legais.
- Tenho orgulho de você – ele disse, segurando a minha mão. Deixando-me saber o quanto ele sentia.
- Obrigada – eu disse.
- Ei! – ele chamou a minha atenção – falo sério. Tenho orgulho de você. Eu banalizei tudo que você pensava por que eu estava em um mar de dor e descrença. Eu não conseguia compreender como alguém poderia ser tão positiva quando apenas coisas ruins aconteciam na minha vida. A morte faz coisas ruins com a gente e nos leva a questionar tudo. Perder alguém... isso é duro. Mas eu consigo enxergar sob a sua ótica. Eu consigo ver as coisas boas que a vida pode nos trazer. Mesmo na dor é possível ser feliz. Hoje eu aprecio as pequenas coisas. Elas são grandiosas para mim. O seu sorriso, acordar ao seu lado, saber o sexo do bebê, assistir você enquanto dorme... tudo isso tem uma relevância hoje que eu não posso definir. Você me ensinou a apreciar as coisas boas e simples da vida e eu fico feliz que você consiga levar isso para outras pessoas.
- Obrigada. Isso, vindo de você, significa muito.
- Eu te amo.
- Eu sei. Eu também amo você.
- Eu sei que você sabe. Mas eu não me canso de dizer. Amanhã... é amanhã. – ele se referia ao nosso casamento. Apenas mais um dia e eu seria sua... oficialmente.
- Como eu estou? – Foi a primeira coisa que Penélope me perguntou quando entrou no quarto que foi designado para que eu me arrumasse na mansão. Ela vestia um modelo lilás de deixar qualquer um de boca aberta. Por que eu não tive tempo de escolher os modelos das madrinhas e deixei tudo ao encargo dela. Claro que ela queria um vermelho ou algo assim, mas teve que se contentar com o lilás, que a organizadora de casamentos designou para não fugir a paleta de cores e também havia as outras madrinhas: Antonella e Juliana, a minha amiga de infância, que veio à Itália especialmente para a cerimônia.- Você está magnífica – eu disse.- Bem, eu aceito o elogio, mas eu sei que não estou como você. Você sim está uma princesa. Eu nem acredito que você vai se casar. Ainda tem aquela sua amiga de infância que eu tive que aguentar.- Owww! Eu adoraria me ver, mas tenho que seguir a tradição de não me olhar no espelho. Juro que eu até pensei em fazê-lo, mas em seguida retirar alguma peça da minha vest
- Oh! Meu Deus, querida – Matteo me tocava em todos os lugares. – Você está bem? - Eu balancei a cabeça afirmativamente para que ele soubesse que fisicamente eu estava bem, mas as palavras apenas não saíam. – Que porra foi isso, Martinelli? – ele começou dizendo, mas então eu vi o seu rosto se transformar. Eu segui a direção do seu olhar e meu coração disparou com o que eu vi. Havia sangue, muito sangue, no braço de Martinelli – Porra! Martinelli. Oddio! Aguente firme. Vou chamar ajuda pra você.- Eu estou bem, senhor. Foi de raspão. Eu vou ficar bem. Eu não tenho ideia de onde isso veio. Eu apenas agi quando ouvi o primeiro disparo e a cobri com o meu corpo. Não tenho dúvidas de que foi direcionado à ela.- Porra! – Matteo pegou o telefone e ligou para a emergência. Tony chegou e nos guiou todos para uma sala reservada à direita da entrada para que os nossos convidados não ficassem mais assustados e onde poderíamos ter mais assistência e privacidade.- Matteo! Fique calmo. Eu estou c
Não sei se era a visão de Matteo ao final do longo corredor, cercado de pilares de mármore branco-rosa da Candoglia, hoje escurecido pelo tempo, que me tirou a capacidade de olhar para a catedral como eu fiz toda a minha vida. eu ficava encantada com a magnitude do templo e, como fiel admiradora de obras de arte, eu repassava uma e outra vez a história da Catedral, os vitrais valiosos, as estátuas que ornamentam a fachadas e os telhados do prédio... Bem, hoje nada disso me chamou atenção, nem mesmo os inúmeros convidados ao longo do caminho. Apenas aquele homem, o meu homem, me esperando ao final, me importava hoje. Apartir de hoje eu seria dele e ele seria meu. Meu pai não pode evitar ficar emocionado, nem a minha mãe pelo que eu podia ver. Com os pais de Matteo não foi diferente e a cerimônia, depois de toda a aventura que passamos hoje, foi linda e curta o suficiente apesar de bem tradicional. Nós cumprimos a maioria das formalidades, como o cumprimento de cada um dos convidados
MatteoFiz um aceno para Ettore quando deixamos a pista de dança. Ele estava atento durante toda a recepção e percebeu meu gesto imediatamente. - Estaremos prontos para partir em instantes. – informei – Vamos apenas nos despedir dos nossos familiares e Giovanna vai jogar o bouquet conforme o programado.- Vou alertar a equipe. O seu irmão providenciou um carro blindado com divisória. Eu e outro colega iremos na parte da frente. Ele vai dirigir para que eu possa estar mais atento e o Senhor e a Sra. Mazza poderão ter mais privacidade e segurança até o local – Já temos dois dos nossos checando o nosso destino.- Obrigado. – eu disse e guiei Giovanna para a nossa mesa, para que ela pudesse beber alguma coisa e em seguida nos despediríamos.- Você realmente acha que tudo isso é necessário? – ela disse quando nos sentamos.Encolhi os ombros. Não queria deixa-la ainda mais preocupada - Não custa prevenir.- Eu fico assustada só de imaginar que as suspeitas podem ser verdadeiras. Eu já pen
MatteoEu acordei cedo, apesar da hora que fomos dormir. Era uma característica minha dormir pouco. Giovanna descansava em meus braços tão inocentemente que era impossível alegar que essa doce menina tinha se transformando na mulher cheia de desejo que me despiu na noite passada e me montou até que nenhum de nós tivesse forças suficientes para mais. Eu li que era algo sobre a gravidez que a deixava com os hormônios em fúria. Isso a havia deixado cansada. Eu olhei para baixo, para a sua barriga. Ela não era mais plana como antes e era incrível apenas constatar que o meu filho estava ali dentro. Como ele seria? Será que se pareceria mais comigo ou com ela. Eu gostaria que se parecesse com ela, com esses olhos azuis que eu amo, mas eu também gostaria que parecesse um pouco comigo, para ouvir as pessoas me dizerem como ele era a minha cara.Eu não queria acordá-la, mas não resisti estender a minha mão e tocar seu ventre arredondado. Ontem, com aquele vestido, não parecia que ela estava gr
Matteo - Como assim levaram tudo?- Eu sinto muito incomodá-lo em sua lua-de-mel, mas eu acho que esse é o tipo de coisa que o Senhor deve saber.- Porra! Sim. Andrei. Você agiu corretamente.- Felizmente temos seguro, mas isso não resolve o inconveniente dos atrasos e limita a nossa produção. Eu acredito que tenha sido um caso isolado.Isso nunca havia me acontecido antes. Mas eu não podia imaginar que isso seria um caso isolado. Não depois do que aconteceu com Giovanna. Tentaram matar a minha mulher na porta da igreja, no dia do nosso casamento. Agora roubaram o caminhão que ia em direção ao porto para dali seguir para um dos nossos maiores clientes. Isso não pode ser só coincidência. E apenas um nome vem à minha mente quando eu penso nisso. Quem mais o faria? Mas se for Jeremias Pienezza, ele esta ficando muito corajoso. – Eu não aho que tenha sido um caso isolado – Falei baixo, lembrando que Giovanna estava a apenas uma porta de distância dormindo – Eu quero a cabeça de quem fez
- Você já pensou sobre como gostaria de chamá-lo? – Perguntei a ela durante o nosso jantar na segunda noite em Paris. Ela estava exausta depois de passar o dia turistando pela cidade. Nós visitamos a Torre Eiffel e até almoçamos no restaurante da Torre. Depois, eu a levei para conhecer a Catedral de Notre Dame. Apesar de eu ter insistido para que ela tirasse um cochilo, ela não abriu mão das nossas reservas para jantar no charmoso terraço com uma vista estonteante da Torre Eiffel. Mesmo preocupado com o seu bem-estar, acabei cedendo. Ela parecia não ter nenhum senso de preservação. Eu fiz uma nota mental de rever os nossos planos para os próximos dois dias e fazer algumas alterações para garantir que ela não ficasse tão exausta. Boa parte das atividades exige que ela se movimente muito, são longas caminhadas pelos pontos históricos da cidade e visitas a diversos museus. A empolgação acaba falando mais alto e ela não reclama. Mas eu tenho que cuidar dos dois.- Pensei em alguns nomes,
Giovanna- Matteo, eu posso caminhar.- Eu sei que pode, querida, mas eu quero carregar você além da porta. É a tradição.- A tradição não contava que eu estaria grávida e pesando mais do que você pode suportar.- Você está perfeita. Não diga isso.Ele entrou na casa e Guilhermina estava acordada a nossa espera – Bem vindos, Senhor e Senhora Mazza.Matteo me colocou no sofá da sala. Eu fiquei imediatamente de pé e dei um abraço em Guilhermina – Por mais que eu ame o som disso, pra você eu sou apenas Giovanna – ela apenas riu em resposta. – Mas você não deveria estar dormindo?- Eu imaginei que vocês poderiam precisar de alguma coisa, já que fizeram uma longa viagem até aqui. Está com fome? Eu poderia preparar alguma coisa para você.- Obrigada, mas eu só posso pensar em dormir agora e você também. Vá descansar.Ettore passou por nós com as malas para o andar de cima – Tome pelo menos um copo de leite. Vai ajudar a dormir melhor – ela disse.- Você não terminou o seu jantar, querida. A