MatteoO SUV parou no pátio em frente à mansão e eu olhei para Giovanna antes de descer do carro. Esse momento tinha muito significado. Não era por ser essa a primeira vez que o nosso filho entrava em casa agora fora da barriga da sua mãe e também não era por que Giovanna estava voltando para casa depois de alguns dias na maternidade. Não. A verdade é que esse momento é para nós como uma reafirmação da vida. A última vez em que eu e Giovanna estivemos juntos nesta propriedade foi no dia em que embarquei para os Estados Unidos e depois disso... Santo Deus! Dói só de lembrar cada instante do pesadelo que nós vivemos. Posso dizer que nós renascemos no dia em que o nosso filho veio ao mundo. Olhando para Giovanna vi que ela tinha lágrimas não derramadas que brincavam em seus olhos – Parece um sonho que eu esteja de volta. – falou em meio a um suspiro – Em alguns momentos cheguei a pensar que eu não voltaria aqui, nem o veria de novo e, quer saber? De tudo, o que mais me preocupava era vo
A mansão estava iluminada. Durante todo o dia, carros e mais carros de entrega e equipes de serviço entraram e saíram da propriedade. Os vizinhos dos Mazzas haviam visto tantos brinquedos infláveis ao redor da propriedade. Tudo era muito colorido e alegre, em contraste com a sobriedade dos prédios históricos. A mulher havia passado o dia inteiro sentada sobre a grama no Parco Sempione, de onde poderia acompanhar toda a movimentação na propriedade da família Mazza, e o seu estoque de água e sanduíche já havia chegado ao fim. Mas a fome e a sede que sentia não podia ser saciada com comida ou com toda a água do mundo. Suas entranhas clamavam por vingança. Os desgraçados haviam acabado com a sua vida e agora ela os faria pagar. Fora uma amadora no passado, mas alguns longos meses podiam mudar a vida de uma pessoa e, consequentemente, a maneira com ela via as coisas. Tudo havia sido tirado dela: sua irmã, seus pais, seu emprego e sua possibilidade de seguir por uma vida honesta. Não é com
- Que porra foi essa? – eu ouvia Tony gritar atrás de mim, enquanto eu descia as escadas enfurecido. Eu estava com tanta raiva. Como ela pode fazer isso comigo? Era a única pergunta que latejava na minha cabeça. Tony se apressou e atravessou na minha frente. Empurrando o meu peito com as duas mãos – Pare aí, Porra! Eu o empurrei de volta – Saia do meu caminho. Saia agora. – Eu saí da casa e entrei na caminhonete que estava parada ao lado da casa, enquanto Tony batia no vidro e gritava comigo, mas eu não estava mais registrando nada. Eu só queria sair dali. Dei partida no motor o mais rápido que eu consegui e dirigi para fora da fazenda. Havia chovido logo cedo e o caminho de terra que eu precisava passar até chegar à estrada principal estava escorregadio. Mesmo assim, eu não reduzi a velocidade e alcancei em tempo recorde a rodovia. Quando cheguei à cidade, parei na praça principal e me debrucei sobre o volante. Meu peito estava dolorido, eu estava suando e minha cabeça latejava. E
CHOQUE DE REALIDADEA casa estava silenciosa quando retornamos. Não havia sinal de Giovana, nem dos seus pais. Meus pais e Antonella esperavam sentados na varanda. Eu sabia o que estava por vir e era tudo que eu não queria enfrentar agora. Honestamente eu já estava muito consciente da merda que eu havia feito e a última coisa que eu precisava agora era de alguém para esfrega-la na minha cara.- Sem sermão. – cuspi acidamente para a minha família.- O que devemos esperar agora, Matteo? Uma nova fase de rebeldia? – surpreendentemente, a voz era da minha mãe. Sim. Aquela doce mulher que é incapaz de aumentar o seu tom de voz ou de proferir palavras duras para qualquer pessoa, sobretudo para seus amados filhos. Ela, que é sempre tão compreensiva, não está comigo dessa vez.- Mãe, eu não quero discutir com você.- Nem eu. O problema é que você é de extremos. Ou oito ou oitenta. Não há um meio termo com você. Nós não temos que brigar. Nós podemos conversar, Matteo. Giovanna é uma menina doc
O RECOMEÇOGiovanna- Oh meu Deus! Eu não acredito que você é a porra da Gi. Minha nossa! – Penélope repetia isso há quinze dias sem parar e, como sempre, eu não dizia nada sobre isso. Eu passei por todos os estágios que eu poderia passar dentro de um curto período de duas semanas que pareciam uma eternidade. Mas, como eu dizia na última frase do meu livro: Aquilo que não nos mata, nos fortalece.Bem, eu estava quebrada, mas iria juntar cada pequeno pedaço e ficaria forte para o meu filho – O carro está aí – ela anunciou. E pegou a minha bolsa que estava sobre a penteadeira e me entregou. Eu dei uma última olhada no meu reflexo no espelho e não me reconheci. Aquele rosto perfeitamente maquiado contrastava com a minha alma. Eu não escolhi nada, nem o vestido azul, solto abaixo do seios, nem os sapatos prateados, nem o modo como meu cabelo estava arrumado em um penteado meio preso meio solto, nem a cor do lápis que delineava os meus olhos. Nada. Penélope, Lucy e Antonella juntas, que
Matteo Enquanto eu saia do evento, uma mão me alcançou e, mesmo antes de ver quem era, eu sabia que era Tony. Ele tinha uma expressão simpática. Ele sabia o quanto eu estava destruído depois de falar com ela.- Eu não deveria ter vindo – eu disse. Desviando meu olhar para a saída onde alguns leitores que não conseguiram o convite e alguns repórteres que não foram selecionados para a coletiva esperavam.- Sim, você deveria.- Ela me odeia, Tony. Ela me disse para ficar longe por que eu fazia mal pra ela e para o bebê. Entende isso? Eu não quero machuca-lo, porra! Nem a ela.- Ela está magoada, Teo, o que é compreensível. Você sabia que essa porra não seria fácil. O que ela te disse não é nenhuma novidade. Você sabia que seria assim.- Mas talvez ela tenha razão. Talvez fosse melhor para a criança se ela não tiver que conviver com um pai tão fodido como eu estou. Meu irmão segurou meus ombros, uma mão de cada lado para chamar a minha atenção. – Nem mesmo você acredita nesta merda. É o
Giovanna- Você está bem? – Penélope perguntou quando entramos em casa. Eu não disse uma palavra durante todo trajeto. Estava exausta. Minhas pernas doíam, assim como as minhas costas e cabeça.- Sim, apenas com dores por passar tanto tempo sentada.- Eu me refiro a Matteo? Você está bem depois daquilo?- Eu não quero falar sobre isso.- Giovanna, em algum momento nós vamos ter que falar sobre isso. Quinze dias se passaram desde aquela tarde dos horrores e eu tenho tentado ser uma boa amiga e esperar o seu tempo. Mas eu preciso falar...- O que você quer dizer Penny.- Eu quero dizer que Matteo é um imbecil...- Isso eu já sei de primeira mão. Por favor, seja mais original.- Não me interrompa quando estou falando. – Ela bradou com aquela autoridade típica de mãe e o meu cansaço me obrigou a obedecer como uma filha – Eu dizia que ele é um imbecil, mas ele é louco por você. Eu não acho que ele esteja certo, mas eu também acho que você não está.- Ai que ótimo, agora a culpa é minha – A
Giovanna As palavras de Penélope martelavam na minha cabeça. Eu sei que a magoei com as minhas mentiras... quer dizer. Eu não menti, uma vez que eu dizia uma das coisas que eu fazia que era escrever para alguns jornais, sites e blogs. Mas eu omiti um detalhe importante da minha vida e eu não podia ignorar que havia magoado a minha melhor amiga e os meus pais. Sim, todos estavam orgulhosos sobre o meu trabalho, mas eu não perdi nenhum olhar de repreensão. Mesmo minha mãe me perguntou se eu não confiava nela o suficiente para compartilhar essa informação. O desabafo de Penny também não me passou despercebido na noite passada. Eu menti sim e eu magoei as pessoas. Mas com Matteo foi ainda pior por que eu usei a relação que eu criei com ele na rede social para manipulá-lo e convencê-lo a investir em nosso relacionamento e se abrir comigo. Matteo pisou na bola, mas eu também não estava orgulhosa de mim. Eu ainda não havia pedido desculpas por isso, embora não tenha mesmo tido oportunidade