Eu senti um impulso, foi como um susto. Ergui o corpo para frente me fazendo acordar imediatamente. Era aquele famoso susto que nos dizem que estamos crescendo, mas de uma forma mais intensa, eram como espasmos. Ergui meu corpo passando as mãos sobre meus cabelos soltos. Demorei um pouco pra raciocinar, pra entender onde estava. Aos poucos flashes e memórias começaram surgir, e foi devastador lembrar o que tinha acontecido. Minha primeira reação foi levantar da cama com um pulo, mesmo ficando tonta e caindo logo em seguida. Não conseguia e não podia acreditar no que tinha acontecido, não conseguia aceitar que fui testemunha ocular da morte da minha patroa, eu não posso negar, estou com medo.
Uma enfermeira abriu a porta e quando percebeu meu estado ela veio correndo em minha direção logo que me viu sentada tentando erguer meu corpo que parecia pesado e fraco. — O que aconteceu? A senhorita está bem?— Ela questionou segurando-me passando meus braços por seu pescoço. Meu estômago doeu, minha barriga estava tão vazia que eu sentia a pele praticamente grudada nos ossos. Forcei a mente e os sentidos a tentar saber qual horário do dia e qual dia era. Vi um calendário próximo a cama do hospital. Tentei entender como eu havia parado lá, eu não tinha memórias após ocorrido já que acabei apagando totalmente após sentir Lúcio me pressionar contra a parede. Meu corpo estremeceu ao recordar daquele detalhe. — Vou chamar o médico rapidamente para que ele faça um checkup seu e diga quanto tempo vai precisar ficar em observação. Já posso adiantar que segundo o que ele falou você está com a saúde muito fraca, precisa de nutrição e também está anêmica. Agradeci quando ela saiu minutos depois, após comentar sobre minha saúde que tava uma droga. Aproveitei a oportunidade para devorar a fruta que estava na bandeja próximo a cama. Comi a maçã com tanta força e determinação que não foi um minuto para ela ter sido engolida. Vi uns biscoitos logo ao lado, os engoli de uma vez. Meu estômago doía a cada pedaço que descia, mas forcei meu corpo a aceitar pelo menos isso nesse momento. já que não tinha ideia de quanto tempo estava sem me alimentar. Depois de ter me recuperado um pouco e me sentir um pouco melhor, segui direção a porta não esquecendo de olhar aos arredores e constatar que não via ninguém. Afinal, de quem eu fugia? Nem isso eu saberia responder. Meus pensamentos me guiaram ao Caleb. Respirei pesado ao lembrar-me do meu filho. Meu Deus! Meu filho, quanto tempo ele estava sozinho com a vó? Meu Deus! Passei a correr pelo corredor sem nem saber para onde ir, enquanto virava o corpo seguindo o corredor para o lado esquerdo meu corpo chocou com algo rígido, o que me fez cair ao chão. — Hum!— Soltei um grunhido, enquanto rastejava tentando me fortalecer para voltar a estar de pé novamente. Ergui as mãos sentindo um líquido quente por meus dedos. Pra melhorar a situação tinha cortado a testa de alguma forma. Estava com a visão um pouco turva, mas consegui aos poucos focar nos meus dedos, vendo sangue sobre eles. — Droga!— Resmunguei cambaleando. — O que acha que está fazendo?— Uma voz grave me tirou do meu momento constrangedor rastejante pelo chão. — Onde pensa que está indo?— Senti meu corpo ser levantado com uma facilidade impressionante. Quando meus olhos focaram a frente eu reconheci quem era. Lúcio! Droga! As coisas se tornariam bem pior com certeza. Meus braços começaram doer, pois Lúcio permanecia com suas mãos segurando-os. Aparentemente ele não tinha noção da força que usava com aquilo. — Você é doida? Sua cabeça está desmanchando em sangue. — Eu queria dizer... "Meu braço tá doendo" ou "Afrouxa a mão um pouco, vai quebrar meus braços". Mas estranhamente Lúcio era muito predominante, eu não conseguia nem falar perto dele. Era uma sensação assustadora. Ele passava a sensação de poder e força que amedrontaria qualquer um. Suspirei sentindo a cabeça latejar novamente. Eu estava preocupada com meu filho, era o pensamento principal na cabeça. — Pode me soltar? Está me machucando. — Falei. É eu falei! Tive um esforço para a frase sair, e principalmente depois quando vi seus olhos fixos sobre mim como se visse algo sobrenatural à frente. Aparentemente até ele assustou-se ao ouvir minha voz. Lúcio me soltou, e por um segundo eu pensei que seria melhor ele ter segurado, minhas pernas não tinham tanta força o que me fez tombar sobre o chão. Ele tentou impedir mas foi tarde de mais, já estava no chão. Me esforcei até ficar de pé. Vi ele me encarar de olhos estreitos aparentemente perguntando algo, mas eu mesma não queria nem saber. Dei as costas para ele seguindo meu caminho até ser puxada pelo meu casaco. Vi ele interceptar a minha frente. — Você não vai a lugar algum, você não sabe o que aconteceu? Minha mãe está morta. — Lúcio passou a falar de dentes serrados e visivelmente com ódio. Eu entendia a parte dele. Parei a tentativa de sair ao lembrar de dona Cecília. Suspirei sentindo o meu coração se apertar imediatamente. — Olha Senhor Lúcio eu...— Pausei controlando a respiração que começara acelerar.— Eu sinto muito, a Cecília foi uma das mulheres mais importantes da minha vida eu ainda não consigo entender eu...— Limpei o rosto.— Eu não consigo acreditar. Lúcio pareceu tremer um pouco, ele virava o rosto direção contrário tentando não deixar que eu visse o que ele estava sentindo. Era notório, ele tinha uma fachada de inabalável. Talvez fosse daqueles homens que nunca seriam capazes de chorar na frente de uma mulher. Mas seus olhos fixos e intensamente pretos me encararam novamente e ele passou a aproximar de mim. Senti-me um vira-lata na rua com medo de tudo e todos. Eu não sei talvez eu estivesse esperando um tapa de alguém. A dona Cecília estava morta, eu acho que ele me culparia por algo, eu sentia. E seu olhar entregava isso, ele parecia com raiva, ódio. Ele parecia controlar-se, seu corpo estava em posição de ataque, mas ao mesmo tempo de controle. Ele assustaria qualquer um com aquela forma rígida de tomar a minha frente. Eu não poderia ser a única a achar isso. Recuei para trás aos poucos sentindo ele me acompanhar a cada passo dado para trás. Parei bruscamente quando senti uma parede por detrás me fazendo voltar com um impulso. — Espera!— Usei as mãos com as palmas abertas o impedindo de prosseguir. — Não é o que vo... — Parei bruscamente engolindo ar seco ao perceber que o chamaria de você. — Não é o que o senhor está pensando, não é nada disso. Acredite nem eu mesma que estava lá não sei como aquilo veio a acontecer. Lúcio cruzou os braços de forma determinada sem parar em nenhum momento de me encarar. Eu já estava me sentindo incomodada. Eu só queria voltar pra casa, eu queria vê meu filho queria vê minha vó. — Eu sei que pode parecer estranho, mas eu não fiz nada que machucasse a senhora Cecília, ela era como uma mãe pra mim, nunca senti raiva dela em nenhum momento desses quase seis anos em que estive com ela. Lúcio me observou com muita atenção mesmo parecendo controlar seu corpo, ele estava prestes a dizer algo mais, e isso me assustava, o que ele tinha a dizer? Continua…— Olha garota!— Ele voltou puxar meu braço direito. Seu telefone tocou. Vi ele fazer uma careta e resmungar soltando meu braço pra encarar o visor do chamador. — O que é?— Sua voz saiu grave e séria. Lúcio parecia totalmente sem humor algum. — Eu já disse que não Gabriela. Siga a sua vida e me deixe com os meus problemas, não era isso que você queria? Enquanto ele falava o que parecia ser com sua esposa ou ex-esposa , Eu não entendia ao pé da letra o estado atual dele e a mãe da Marie. Percebi o curto período em que ele deu atenção fixa ao que ouvia no telefone. Aproveitei a oportunidade para finalmente fugir daquela situação, mas Lúcio ao contrário do que eu pensei me puxou novamente pelo pulso me virando contra a parede novamente enquanto praticamente pedia em pensamento que a ligação finalizasse logo. Minhas costas doeram no exato momento em que senti ser presa contra a parede. — Hum!— Resmunguei. Usei a mão esquerda que estava livre para puxar os cabelos que estavam sobre meu r
Os dias estavam passando de pressa, já se passara uma semana desde em que fui detida. Eu não tinha notícias de meu filho, muito menos de minha vó, também não tive condições de pagar se quer um advogado. Quanto mais o tempo passava pior se tornava a situação ao meu respeito. Por mais que insistisse que não sou culpada, que falasse por detalhes tudo que aconteceu naquele dia, parecia asneira aos ouvidos dos investigadores e promotores. Eu não imaginava que a situação ficaria tão desesperadora. Minha vó estaria angustiada com tudo aquilo, eu tinha certeza. Eu precisava pensar no que fazer no que falar. Mas era praticamente "ridículo" como o próprio investigador ácido me falara á uns dias atrás. — Isso está ridículo Samira, o tempo tá passando e quanto mais você insiste em negar menos tempo e chance você tem, veja bem... — Ele puxou a cadeira sentando a minha frente. — Você se safaria muito melhor se aceitasse as acusações, seria ré primária, ficha criminal linda e limpa, você conseguir
— Você está enganada, antes de acusar eu preciso de provas e antes de defender provas também. O que te faz achar que apenas palavras bastam quando os acontecimentos levam a outra direção? Se quiser ajuda você mesma precisa se ajudar. Comece raciocinando, o que de diferente aconteceu aquele dia, antes do trágico final. Isso já pode ser de ajuda.— O cara era bom de verdade, ele conseguiu me persuadir. De forma calma branda e inexpressiva ele conseguiu me vencer na batalha e raciocinar, que foi algo que eu não fiz durante essa semana inteira. Eu estava tão desesperada em dizer que era inocente que não tive nem ideia de raciocinar e tentar desvendar o que aconteceu, porque se Cecília foi envenenada, isso porque alguém fez isso, porque eu não tinha feito aquilo. Eu tinha que me concentrar no mistério, no diferente, no inesperado e não no óbvio que era a minha inocência. Embora as provas estivessem me incriminando eu precisava achar o elo frágil dessa investigação, ele me traria brecha qu
Dois dias depois eu fui chamada sendo informada que tinha uma visita. Eu estava tão eufórica! Por um momento imaginei que fosse a minha vó. Mas quando adentrei a sala vi que se tratava do Carlos. Meu semblante passou de alegria e euforia para desconforto e medo. Sinceramente Carlos não me fazia bem, sentia-me assustada, desde a última vez fiquei apreensiva, nosso encontro não foi dos melhores. Minha cabeça ainda doía daquela batida na mesa, mas resolvi ouvi-lo, quem sabe ele peça desculpas. Percebi que não tinha nada a ver com o que eu pensei, quando vi ele dispensando o policial que era obrigado a fazer vigia no lado de fora da porta. Também percebi que ele aproximou-se mais do que o necessário daquele homem, o que aparentou que estava pagando para o policial nos deixar sozinhos. Eu permaneci com minha expressão a mesma, não mostraria que estava com medo daquilo. Eu sempre soube que Carlos deu trabalho a Cecília, e era óbvio pra mim, visto que sempre ouvia as discussões de ambos ao
Ergui a perna para trás o acertando quase em cheio no meio das pernas. Ele me jogou contra a mesa e aquela ação parecia ter quebrado todos os meus ossos. Não consegui levantar, minha respiração estava fraca, parecia ter batido as costas contra a mesa. Carlos parecia urrar de dor no meio das pernas, eu sorri fraco só pra mim. Eu estava acabada literalmente, mas eu consegui sorrir mesmo assim. Enquanto tentava acalmar eu tentei me erguer forçando meu corpo mesmo doendo. Consegui sentar, mas Carlos me cobriu com seu corpo passando a apertar minha garganta com mais força do que da outra vez. Estava sem ar, eu não estava conseguindo raciocinar direito pra entender o que ele pretendia fazer. Ele não iria me matar, ele não ganharia nada com isso. A minha respiração estava cada vez mais fraca. Mas alguém avançou sobre o Carlos o tirando de cima de mim. Eu não consegui vê com clareza, mas era alguém com poder sobre o Carlos pois ele não revidou. Na verdade Carlos foi acertado na face. Passe
Lawrence adentrou o quarto com seus cabelos lisos e saudáveis preso em um penteado onde a parte superior dos cabelos estavam presa deixando mechas na parte de baixo soltas. Ele usava uma camisa gola alta preta que o deixara muito atraente. Ele me olhou de olhos estreitos mas já era natural dele pois seus olhos eram muito asiático. Ele simplesmente soltou aquela frase sem nem mesmo preparar meu coração antes. — Encontrei o seu advogado.— Ele falou sentando na poltrona jogando mechas de seu cabelo para trás. — Maria afirmou que não esteve no local do ocorrido aquele dia. Precisamos trabalhar mais do que nunca para provar isso. Eu fiquei paralisada de tanta emoção. Eu não sabia se chorava, sorria. Mas meus olhos foram mais rápidos, algumas lágrimas surgiram. Lawrence afagou meu rosto limpando as lágrimas que surgiam imediatamente. Eu tinha um advogado de verdade agora? — Ah furos nesse caso, não conseguimos localizar Jorge. E Maria negou de forma muito rápida como se já soubesse que a
— Você vai ter uma pequena cicatriz aqui.— Ele me olhou como se esperasse uma resposta. — AN...— Comecei perdida.— Tá legal é... não tem problema.— Conclui, engolindo ar seco pela garganta. Porque estava nervosa? — Não é grande, não precisa se preocupar.— Ele sorriu? Lawrence sorriu bem na minha frente, e pra mim. Bom, era estranho, ou só diferente? Sim! Ele balançou a cabeça afirmando mas sua expressão mudou rapidamente. Parecia que ele tinha lembrado de algo. — Não precisa se preocupar com o Carlos.— Ele comentou pensativo.— Ele teve sorte de ter sido o Lúcio a segui-lo, pois não seria você que estaria aqui, mas sim ele.— Lawrence falou de forma tão fria e ameaçadora que eu não pude deixar de sentir medo por Carlos. Não sabia que Lawrence incomodara-se tanto com o fato de que fui machucada por Carlos.— Antes que pergunte eu odeio qualquer tipo de violência contra a mulher. Não há mau que ela cause que mereça um tapa de um homem, sejamos sinceros, essa nossa mão não se compara em
Vê o céu, as arvores, sentir a brisa, o vento me rodeando. É incrível como sempre só passamos dá valor as coisas simples da vida, quando as perdemos. Pareciam anos o que passei naquela delegacia. Era como perder a esperança, perder a vida, perder o prazer. Todos os dias eu pensava em tudo que estava perdendo aqui fora. Estava perdendo a minha vida, os meus objetivos, as minhas idealizações. Tudo tinha caído por minha cabeça. Agora eu tentaria me reerguer, eu tentaria esquecer aquele pesadelo horrível ao qual fui submetida. Eu não tinha ideia de como faria isso, já que estou desempregada após a morte de minha patroa. Tudo que eu ainda poderia era recuperar o bico como garçonete a noite na boate de Elias. Não sei se minha vaga ainda estaria ali disponível, teríamos que por enquanto usar a pouca grana que tinha guardada na poupança, e lutar pra sobreviver com o mínimo possível até conseguir outro emprego que pagasse o que dona Cecília pagava. Seria um pesadelo para nós, afinal, mesmo co