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Capítulo 2 - Lugar certo, hora errada

Embora Marie estivesse todos os dias na casa da avó na parte da tarde, ele pouco vinha busca-la, a não ser seu motorista, Teodoro. Talvez fosse azar de Cecília. Ela tinha outro filho, o Carlos. Esse que não era visto, mesmo. Ele era afamosa "ovelha negra" da casa dos ricos e renomados Martins. Carlos vivia aos luxos, em viagens exuberantes e lugares luxuosos. Pobre Cecília. Já a vi ter discussões sérias com Carlos pelo telefone. Carlos superara Lúcio, com toda certeza.

 Após deixar a mesa pronta para o café da manhã, esperei que dona Cecília viesse tomar café, mas não a encontrei. Alguns minutos mais tarde, ouvi à voz de Cecília vindo do lado da lavanderia. Ela estava conversando com Jorge sobre uma lista de compras a serem feitas no Supermercado do Messias. Ele tinha um supermercado no condomínio o qual dona Cecília morava.

 Senti-me um pouco tonta. Estava faminta, mas eu tinha que me acostumar àquilo.

 Voltei à cozinha para beber uma xícara de café. Encontrando Cecília, fiz isso o mais rápido possível. Ela sempre me oferecia alimentos, mas nunca gostei de parecer aproveitadora. Eu já aceitava o almoço porque passava quase o dia todo lá, eu não queria passar a impressão errada.

 Tive muito o que pôr em ordem antes do almoço. Dona Cecília passou por mim, mastigando algo. Sorri pra ela ao vê-la sair da cozinha.

 Voltei o olhar à macarronada já pronta e ouvi um copo cair, emitindo um alto barulho de cacos de vidro se espalhando pelo chão. Virei meu rosto em direção à mesa. Dona Cecília estava no chão.

 Corri até ela e vi seus olhos revirarem, na medida que seu corpo se contorcia. Eu não sabia o que fazer, estava assustada e confusa com a rapidez do ocorrido. O medo me invadiu. Cecília estava roxa. Meu corpo começou tremer, dos meus olhos caiam lágrimas de desespero.

 — Dona Cecília, consegue me ouvir?! — Comecei a perguntar. Sangue escorria de sua boca. Meu coração gelou. — Dona Cecília! — Comecei passar a mão pelo seu rosto.

 — JORGE, POR FAVOR, VENHA AQUI! — Minha voz saía trêmula entre lágrimas. Não obtive resposta. — MARIA, A DONA CECÍLIA ESTÁ SE CONTORCENDO,CHAMA UMA AMBULÂNCIA! — Sem obter resposta de nenhum dos dois, corri ao balcão e peguei o telefone.

 Foram os momentos mais estranhos e assustadores que vivenciei em toda minha vida, eu não sabia o que fazer. A atendente pedia vários documentos, eu não conseguia raciocinar e nem me levantar do chão. Eu sentia que não conseguiria salvá-la. Dona Cecília não tinha mais cor e, aos poucos, seus olhos estavam parados, olhando para pra mim. Aquilo dilacerou meucoração.

 Não sei quando a ligação parou e nem se a mulher tinha entendido oque eu disse. Aproximei-me de Cecília, a segurei e coloquei sua cabeça sobre o meu colo. Eu nunca soube o que era perder alguém para a morte, daquela forma, na minha frente. Eu estava fora de mim, meu corpo estava paralisado. A vida começou a ter muito mais significado para mim a partir daquele momento.

 Eu não estava enxergando nada, minha visão estava embaçada. Senti ser empurrada para longe. Ouvi vozes, mas não conseguia identificar. Meu corpo tremia por completo, eu estava com medo, era como se eu estivesse sofrendo um ataque de ansiedade.

 Quando consegui abrir os olhos, senti uma pontada na cabeça. Vi uma equipe médica levar Cecília numa maca. Lúcio estava no chão, devastado e eu não fazia ideia de quando ele chegou ali. Seus olhos escuros me encaravam intensamente. Embora tivesse visto Lúcio apenas duas vezes, no máximo, seu rosto era inesquecível. E as fotos espalhadas pela casa me relembrava esse detalhe.

 — O que você fez? — Ele ergueu-se do chão, me puxando para cima com um único gesto. Prendendo meu corpo contra a parede próxima à mesa. Seu olhar frio e coberto de ódio. Minha voz estava presa. Eu estava tomada por uma sensação de medo absurda. Eu não conseguia me mexer, era como se eu estivesse anestesiada de tudo.

 Não consegui me manter acordada, eu apaguei antes mesmo de responder qualquer coisa.

 Continua…

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