Embora Marie estivesse todos os dias na casa da avó na parte da tarde, ele pouco vinha busca-la, a não ser seu motorista, Teodoro. Talvez fosse azar de Cecília. Ela tinha outro filho, o Carlos. Esse que não era visto, mesmo. Ele era afamosa "ovelha negra" da casa dos ricos e renomados Martins. Carlos vivia aos luxos, em viagens exuberantes e lugares luxuosos. Pobre Cecília. Já a vi ter discussões sérias com Carlos pelo telefone. Carlos superara Lúcio, com toda certeza.
Após deixar a mesa pronta para o café da manhã, esperei que dona Cecília viesse tomar café, mas não a encontrei. Alguns minutos mais tarde, ouvi à voz de Cecília vindo do lado da lavanderia. Ela estava conversando com Jorge sobre uma lista de compras a serem feitas no Supermercado do Messias. Ele tinha um supermercado no condomínio o qual dona Cecília morava. Senti-me um pouco tonta. Estava faminta, mas eu tinha que me acostumar àquilo. Voltei à cozinha para beber uma xícara de café. Encontrando Cecília, fiz isso o mais rápido possível. Ela sempre me oferecia alimentos, mas nunca gostei de parecer aproveitadora. Eu já aceitava o almoço porque passava quase o dia todo lá, eu não queria passar a impressão errada. Tive muito o que pôr em ordem antes do almoço. Dona Cecília passou por mim, mastigando algo. Sorri pra ela ao vê-la sair da cozinha. Voltei o olhar à macarronada já pronta e ouvi um copo cair, emitindo um alto barulho de cacos de vidro se espalhando pelo chão. Virei meu rosto em direção à mesa. Dona Cecília estava no chão. Corri até ela e vi seus olhos revirarem, na medida que seu corpo se contorcia. Eu não sabia o que fazer, estava assustada e confusa com a rapidez do ocorrido. O medo me invadiu. Cecília estava roxa. Meu corpo começou tremer, dos meus olhos caiam lágrimas de desespero. — Dona Cecília, consegue me ouvir?! — Comecei a perguntar. Sangue escorria de sua boca. Meu coração gelou. — Dona Cecília! — Comecei passar a mão pelo seu rosto. — JORGE, POR FAVOR, VENHA AQUI! — Minha voz saía trêmula entre lágrimas. Não obtive resposta. — MARIA, A DONA CECÍLIA ESTÁ SE CONTORCENDO,CHAMA UMA AMBULÂNCIA! — Sem obter resposta de nenhum dos dois, corri ao balcão e peguei o telefone. Foram os momentos mais estranhos e assustadores que vivenciei em toda minha vida, eu não sabia o que fazer. A atendente pedia vários documentos, eu não conseguia raciocinar e nem me levantar do chão. Eu sentia que não conseguiria salvá-la. Dona Cecília não tinha mais cor e, aos poucos, seus olhos estavam parados, olhando para pra mim. Aquilo dilacerou meucoração. Não sei quando a ligação parou e nem se a mulher tinha entendido oque eu disse. Aproximei-me de Cecília, a segurei e coloquei sua cabeça sobre o meu colo. Eu nunca soube o que era perder alguém para a morte, daquela forma, na minha frente. Eu estava fora de mim, meu corpo estava paralisado. A vida começou a ter muito mais significado para mim a partir daquele momento. Eu não estava enxergando nada, minha visão estava embaçada. Senti ser empurrada para longe. Ouvi vozes, mas não conseguia identificar. Meu corpo tremia por completo, eu estava com medo, era como se eu estivesse sofrendo um ataque de ansiedade. Quando consegui abrir os olhos, senti uma pontada na cabeça. Vi uma equipe médica levar Cecília numa maca. Lúcio estava no chão, devastado e eu não fazia ideia de quando ele chegou ali. Seus olhos escuros me encaravam intensamente. Embora tivesse visto Lúcio apenas duas vezes, no máximo, seu rosto era inesquecível. E as fotos espalhadas pela casa me relembrava esse detalhe. — O que você fez? — Ele ergueu-se do chão, me puxando para cima com um único gesto. Prendendo meu corpo contra a parede próxima à mesa. Seu olhar frio e coberto de ódio. Minha voz estava presa. Eu estava tomada por uma sensação de medo absurda. Eu não conseguia me mexer, era como se eu estivesse anestesiada de tudo. Não consegui me manter acordada, eu apaguei antes mesmo de responder qualquer coisa.Continua…
Eu senti um impulso, foi como um susto. Ergui o corpo para frente me fazendo acordar imediatamente. Era aquele famoso susto que nos dizem que estamos crescendo, mas de uma forma mais intensa, eram como espasmos. Ergui meu corpo passando as mãos sobre meus cabelos soltos. Demorei um pouco pra raciocinar, pra entender onde estava. Aos poucos flashes e memórias começaram surgir, e foi devastador lembrar o que tinha acontecido. Minha primeira reação foi levantar da cama com um pulo, mesmo ficando tonta e caindo logo em seguida. Não conseguia e não podia acreditar no que tinha acontecido, não conseguia aceitar que fui testemunha ocular da morte da minha patroa, eu não posso negar, estou com medo. Uma enfermeira abriu a porta e quando percebeu meu estado ela veio correndo em minha direção logo que me viu sentada tentando erguer meu corpo que parecia pesado e fraco. — O que aconteceu? A senhorita está bem?— Ela questionou segurando-me passando meus braços por seu pescoço. Meu estômago do
— Olha garota!— Ele voltou puxar meu braço direito. Seu telefone tocou. Vi ele fazer uma careta e resmungar soltando meu braço pra encarar o visor do chamador. — O que é?— Sua voz saiu grave e séria. Lúcio parecia totalmente sem humor algum. — Eu já disse que não Gabriela. Siga a sua vida e me deixe com os meus problemas, não era isso que você queria? Enquanto ele falava o que parecia ser com sua esposa ou ex-esposa , Eu não entendia ao pé da letra o estado atual dele e a mãe da Marie. Percebi o curto período em que ele deu atenção fixa ao que ouvia no telefone. Aproveitei a oportunidade para finalmente fugir daquela situação, mas Lúcio ao contrário do que eu pensei me puxou novamente pelo pulso me virando contra a parede novamente enquanto praticamente pedia em pensamento que a ligação finalizasse logo. Minhas costas doeram no exato momento em que senti ser presa contra a parede. — Hum!— Resmunguei. Usei a mão esquerda que estava livre para puxar os cabelos que estavam sobre meu r
Os dias estavam passando de pressa, já se passara uma semana desde em que fui detida. Eu não tinha notícias de meu filho, muito menos de minha vó, também não tive condições de pagar se quer um advogado. Quanto mais o tempo passava pior se tornava a situação ao meu respeito. Por mais que insistisse que não sou culpada, que falasse por detalhes tudo que aconteceu naquele dia, parecia asneira aos ouvidos dos investigadores e promotores. Eu não imaginava que a situação ficaria tão desesperadora. Minha vó estaria angustiada com tudo aquilo, eu tinha certeza. Eu precisava pensar no que fazer no que falar. Mas era praticamente "ridículo" como o próprio investigador ácido me falara á uns dias atrás. — Isso está ridículo Samira, o tempo tá passando e quanto mais você insiste em negar menos tempo e chance você tem, veja bem... — Ele puxou a cadeira sentando a minha frente. — Você se safaria muito melhor se aceitasse as acusações, seria ré primária, ficha criminal linda e limpa, você conseguir
— Você está enganada, antes de acusar eu preciso de provas e antes de defender provas também. O que te faz achar que apenas palavras bastam quando os acontecimentos levam a outra direção? Se quiser ajuda você mesma precisa se ajudar. Comece raciocinando, o que de diferente aconteceu aquele dia, antes do trágico final. Isso já pode ser de ajuda.— O cara era bom de verdade, ele conseguiu me persuadir. De forma calma branda e inexpressiva ele conseguiu me vencer na batalha e raciocinar, que foi algo que eu não fiz durante essa semana inteira. Eu estava tão desesperada em dizer que era inocente que não tive nem ideia de raciocinar e tentar desvendar o que aconteceu, porque se Cecília foi envenenada, isso porque alguém fez isso, porque eu não tinha feito aquilo. Eu tinha que me concentrar no mistério, no diferente, no inesperado e não no óbvio que era a minha inocência. Embora as provas estivessem me incriminando eu precisava achar o elo frágil dessa investigação, ele me traria brecha qu
Dois dias depois eu fui chamada sendo informada que tinha uma visita. Eu estava tão eufórica! Por um momento imaginei que fosse a minha vó. Mas quando adentrei a sala vi que se tratava do Carlos. Meu semblante passou de alegria e euforia para desconforto e medo. Sinceramente Carlos não me fazia bem, sentia-me assustada, desde a última vez fiquei apreensiva, nosso encontro não foi dos melhores. Minha cabeça ainda doía daquela batida na mesa, mas resolvi ouvi-lo, quem sabe ele peça desculpas. Percebi que não tinha nada a ver com o que eu pensei, quando vi ele dispensando o policial que era obrigado a fazer vigia no lado de fora da porta. Também percebi que ele aproximou-se mais do que o necessário daquele homem, o que aparentou que estava pagando para o policial nos deixar sozinhos. Eu permaneci com minha expressão a mesma, não mostraria que estava com medo daquilo. Eu sempre soube que Carlos deu trabalho a Cecília, e era óbvio pra mim, visto que sempre ouvia as discussões de ambos ao
Ergui a perna para trás o acertando quase em cheio no meio das pernas. Ele me jogou contra a mesa e aquela ação parecia ter quebrado todos os meus ossos. Não consegui levantar, minha respiração estava fraca, parecia ter batido as costas contra a mesa. Carlos parecia urrar de dor no meio das pernas, eu sorri fraco só pra mim. Eu estava acabada literalmente, mas eu consegui sorrir mesmo assim. Enquanto tentava acalmar eu tentei me erguer forçando meu corpo mesmo doendo. Consegui sentar, mas Carlos me cobriu com seu corpo passando a apertar minha garganta com mais força do que da outra vez. Estava sem ar, eu não estava conseguindo raciocinar direito pra entender o que ele pretendia fazer. Ele não iria me matar, ele não ganharia nada com isso. A minha respiração estava cada vez mais fraca. Mas alguém avançou sobre o Carlos o tirando de cima de mim. Eu não consegui vê com clareza, mas era alguém com poder sobre o Carlos pois ele não revidou. Na verdade Carlos foi acertado na face. Passe
Lawrence adentrou o quarto com seus cabelos lisos e saudáveis preso em um penteado onde a parte superior dos cabelos estavam presa deixando mechas na parte de baixo soltas. Ele usava uma camisa gola alta preta que o deixara muito atraente. Ele me olhou de olhos estreitos mas já era natural dele pois seus olhos eram muito asiático. Ele simplesmente soltou aquela frase sem nem mesmo preparar meu coração antes. — Encontrei o seu advogado.— Ele falou sentando na poltrona jogando mechas de seu cabelo para trás. — Maria afirmou que não esteve no local do ocorrido aquele dia. Precisamos trabalhar mais do que nunca para provar isso. Eu fiquei paralisada de tanta emoção. Eu não sabia se chorava, sorria. Mas meus olhos foram mais rápidos, algumas lágrimas surgiram. Lawrence afagou meu rosto limpando as lágrimas que surgiam imediatamente. Eu tinha um advogado de verdade agora? — Ah furos nesse caso, não conseguimos localizar Jorge. E Maria negou de forma muito rápida como se já soubesse que a
— Você vai ter uma pequena cicatriz aqui.— Ele me olhou como se esperasse uma resposta. — AN...— Comecei perdida.— Tá legal é... não tem problema.— Conclui, engolindo ar seco pela garganta. Porque estava nervosa? — Não é grande, não precisa se preocupar.— Ele sorriu? Lawrence sorriu bem na minha frente, e pra mim. Bom, era estranho, ou só diferente? Sim! Ele balançou a cabeça afirmando mas sua expressão mudou rapidamente. Parecia que ele tinha lembrado de algo. — Não precisa se preocupar com o Carlos.— Ele comentou pensativo.— Ele teve sorte de ter sido o Lúcio a segui-lo, pois não seria você que estaria aqui, mas sim ele.— Lawrence falou de forma tão fria e ameaçadora que eu não pude deixar de sentir medo por Carlos. Não sabia que Lawrence incomodara-se tanto com o fato de que fui machucada por Carlos.— Antes que pergunte eu odeio qualquer tipo de violência contra a mulher. Não há mau que ela cause que mereça um tapa de um homem, sejamos sinceros, essa nossa mão não se compara em