— Você está enganada, antes de acusar eu preciso de provas e antes de defender provas também. O que te faz achar que apenas palavras bastam quando os acontecimentos levam a outra direção? Se quiser ajuda você mesma precisa se ajudar. Comece raciocinando, o que de diferente aconteceu aquele dia, antes do trágico final. Isso já pode ser de ajuda.— O cara era bom de verdade, ele conseguiu me persuadir. De forma calma branda e inexpressiva ele conseguiu me vencer na batalha e raciocinar, que foi algo que eu não fiz durante essa semana inteira.
Eu estava tão desesperada em dizer que era inocente que não tive nem ideia de raciocinar e tentar desvendar o que aconteceu, porque se Cecília foi envenenada, isso porque alguém fez isso, porque eu não tinha feito aquilo. Eu tinha que me concentrar no mistério, no diferente, no inesperado e não no óbvio que era a minha inocência. Embora as provas estivessem me incriminando eu precisava achar o elo frágil dessa investigação, ele me traria brecha que eu poderia usar contra aquelas afirmativas.
Ao passo que voltava às memórias como uma fita cassete eu finalmente conseguir observar algo diferente.
— Maria!— Soltei como um sussurro. — Maria. — Repeti de forma mais clara.
— Sim?— O homem ao lado falou, como se eu fosse uma idiota que não merecia ser ouvida. Dava pra vê que ele era um tipo narcisista. O fato de ele passar a mão sobre seu cabelo, de girar o relógio no pulso a cada dois minutos como se a sua aparência e visão fosse mais importante do que tudo e todos. Rígido e ao mesmo tempo despreocupado, pois sua preocupação estava ligado ao externo de si próprio. Pessoas assim dificilmente enxergam um palmo a frente do seu nariz, mas conseguem enganar as pessoas por comprá-las fazendo verem apenas o que ele quer que elas vejam.
— Maria a lavadeira estava em plena segunda feira quando na verdade ela só trabalha das quintas aos sábados até as 12. — Falei direcionando as palavras ao homem de traços asiático. — Pode me dizer o seu nome? Estou prestes a direcionar a você como o homem de traços asiáticos.
— Lawrence. — Ele disse diretamente como se importância fosse o meu comentário anterior. — Preciso de mais informações, pois até o que se sabe no momento você era a única na casa.
— Isso não é verdade, tanto a Maria como o Jorge estiveram lá. — Falei gesticulando com as mãos mostrando que tinha convicção daquilo. Ele precisava me lê e vê que eu estava falando a verdade.
— Mas onde estavam na hora do ocorrido?— Ele perguntou olhando os papéis que ele tinha na mesa.
— Eu não sei, eu os chamei no momento, mas nenhum me respondeu, tive que correr ao balcão para pegar o celular e ligar para a emergência.—Ele permaneceu pensativo como se ligasse os pontos. Com a ponta de uma caneta muito sofisticada ele a guiou direção à testa enquanto analisava. Ele passou a escrever detalhes no papel que estava a sua frente.
— Olha Samira, vou fazer ajustes imediatamente nessa questão e tentar encontrar os dois, eles precisam depor precisamos investigar mais a fundo esse caso, pois se realmente estiveram lá você não é a única suspeita.— Confirmei de cabeça sentindo uma pontada de esperança pela primeira vez.
— Mas preciso lembra-la que se eles negarem seria a sua palavra contra a deles. — Ele uniu as mãos dessa vez pondo os cotovelos sobre a mesa. Ele esperava que eu falasse algo.
— Não acredito que eles fariam isso comigo. — Comentei passando as mãos que estavam algemadas sobre o queixo.
— Isso é um caso de assassinato, quem iria se entregar tendo você como álibi? Ou ainda não entendeu a gravidade da situação?
— É claro que entendo a gravidade do problema o que estou querendo dizer é que seria muita maldade deles mentirem na minha cara. — Comentei pensativa, eu mesma não conseguiria acreditar que um dos dois teve coragem para aquilo.
— Você não parece demonstrar, mas é muito ingênua, isso foi um assassinato, mentir não seria o pior do que matar uma senhora como a Cecília. — Concordei de cabeça percebendo o meu blefe.
— Então o que me sugere fazer?— Questionei arqueando o queixo.
— Voltamos ao ponto inicial da questão... Provas. — Ele afastou o corpo desleixadamente encostando-se ao encosto na parte de trás da cadeira demonstrando com aquela ação que ele tinha controle nela.
— Isso é ridículo!— O outro homem ao lado comentou mostrando que não acreditava nem um pouco no que eu falava. E era de se esperar de alguém que estava focado de mais em deixar todos os fios dos seus cabelos de forma unida e organizada. Ele não tinha toque, ele não demonstrava pelo olhar que fazia por necessidade, pois seus olhos transbordavam egoísmo.
— Se não está aqui para ajudar você pode sair, não precisamos de um enfeite na sala. Pode aproveitar e usar o espelho do banheiro para organizar seus cabelos e retirar essa poeira no seu ombro que está dando nos nervos, detesto sujeira!— Falei, umedecendo os lábios logo em seguida. Sentia meus lábios grossos e ressecados, eu tinha certeza que estava horrível.
Ele levantou-se seguindo a minha direção do outro lado da mesa sentando por cima dela. Naquele momento eu percebi que ele não pertencia aquele ambiente, era um rico esnobe ridículo que pouco se importava com os demais. Era ele Carlos, filho de dona Cecília. Ele estava tão diferente que era quase impossível reconhecê-lo.
— Você não sabe com quem está falando sua estúpida?— Ele pressionou minhas bochechas machucando a parte de dentro ao serem apertadas sobre os dentes.— Uma assassina pobretona louca por dinheiro querendo desafiar e ser esnobe com os de cima? Não confunda sua ralé com a classe alta garota. Não esqueça que tem família lá fora que está praticamente sendo linchada pela população e mídia. Se eu quiser, você não sai daquela cela imunda nunca. — Ele pressionou minha cabeça contra a mesa causando uma dor insuportável e um barulho ensurdecedor no ouvido.
Meu pescoço doeu pela posição desajeitada em que fui puxada e detida contra a mesa. Senti ele soltar meu corpo rapidamente quando Lawrence o afastou, dizendo algo que era impossível de ouvir devido a piadeira no meu ouvido.
Droga! o que estava acontecendo comigo? Nunca tinha me sentido tão miserável e impotente.
Vi Lawrence tentar acalmar meus nervos tentando manter minha atenção a ele. Ele me virou pra si mantendo meu rosto erguido. Aos poucos a dor foi diminuindo me possibilitando ouvir.
Quando fui deixada na cela fiquei completamente horrorizada ao pensar nas palavras de Carlos. Minha preocupação era tremenda. Como estaria minha vó e meu filho nesse momento? Quanto mais eu pensava mais desesperada eu me sentia. Eu tinha destruído a vida das duas pessoas mais importantes da minha vida.
Continua…Dois dias depois eu fui chamada sendo informada que tinha uma visita. Eu estava tão eufórica! Por um momento imaginei que fosse a minha vó. Mas quando adentrei a sala vi que se tratava do Carlos. Meu semblante passou de alegria e euforia para desconforto e medo. Sinceramente Carlos não me fazia bem, sentia-me assustada, desde a última vez fiquei apreensiva, nosso encontro não foi dos melhores. Minha cabeça ainda doía daquela batida na mesa, mas resolvi ouvi-lo, quem sabe ele peça desculpas. Percebi que não tinha nada a ver com o que eu pensei, quando vi ele dispensando o policial que era obrigado a fazer vigia no lado de fora da porta. Também percebi que ele aproximou-se mais do que o necessário daquele homem, o que aparentou que estava pagando para o policial nos deixar sozinhos. Eu permaneci com minha expressão a mesma, não mostraria que estava com medo daquilo. Eu sempre soube que Carlos deu trabalho a Cecília, e era óbvio pra mim, visto que sempre ouvia as discussões de ambos ao
Ergui a perna para trás o acertando quase em cheio no meio das pernas. Ele me jogou contra a mesa e aquela ação parecia ter quebrado todos os meus ossos. Não consegui levantar, minha respiração estava fraca, parecia ter batido as costas contra a mesa. Carlos parecia urrar de dor no meio das pernas, eu sorri fraco só pra mim. Eu estava acabada literalmente, mas eu consegui sorrir mesmo assim. Enquanto tentava acalmar eu tentei me erguer forçando meu corpo mesmo doendo. Consegui sentar, mas Carlos me cobriu com seu corpo passando a apertar minha garganta com mais força do que da outra vez. Estava sem ar, eu não estava conseguindo raciocinar direito pra entender o que ele pretendia fazer. Ele não iria me matar, ele não ganharia nada com isso. A minha respiração estava cada vez mais fraca. Mas alguém avançou sobre o Carlos o tirando de cima de mim. Eu não consegui vê com clareza, mas era alguém com poder sobre o Carlos pois ele não revidou. Na verdade Carlos foi acertado na face. Passe
Lawrence adentrou o quarto com seus cabelos lisos e saudáveis preso em um penteado onde a parte superior dos cabelos estavam presa deixando mechas na parte de baixo soltas. Ele usava uma camisa gola alta preta que o deixara muito atraente. Ele me olhou de olhos estreitos mas já era natural dele pois seus olhos eram muito asiático. Ele simplesmente soltou aquela frase sem nem mesmo preparar meu coração antes. — Encontrei o seu advogado.— Ele falou sentando na poltrona jogando mechas de seu cabelo para trás. — Maria afirmou que não esteve no local do ocorrido aquele dia. Precisamos trabalhar mais do que nunca para provar isso. Eu fiquei paralisada de tanta emoção. Eu não sabia se chorava, sorria. Mas meus olhos foram mais rápidos, algumas lágrimas surgiram. Lawrence afagou meu rosto limpando as lágrimas que surgiam imediatamente. Eu tinha um advogado de verdade agora? — Ah furos nesse caso, não conseguimos localizar Jorge. E Maria negou de forma muito rápida como se já soubesse que a
— Você vai ter uma pequena cicatriz aqui.— Ele me olhou como se esperasse uma resposta. — AN...— Comecei perdida.— Tá legal é... não tem problema.— Conclui, engolindo ar seco pela garganta. Porque estava nervosa? — Não é grande, não precisa se preocupar.— Ele sorriu? Lawrence sorriu bem na minha frente, e pra mim. Bom, era estranho, ou só diferente? Sim! Ele balançou a cabeça afirmando mas sua expressão mudou rapidamente. Parecia que ele tinha lembrado de algo. — Não precisa se preocupar com o Carlos.— Ele comentou pensativo.— Ele teve sorte de ter sido o Lúcio a segui-lo, pois não seria você que estaria aqui, mas sim ele.— Lawrence falou de forma tão fria e ameaçadora que eu não pude deixar de sentir medo por Carlos. Não sabia que Lawrence incomodara-se tanto com o fato de que fui machucada por Carlos.— Antes que pergunte eu odeio qualquer tipo de violência contra a mulher. Não há mau que ela cause que mereça um tapa de um homem, sejamos sinceros, essa nossa mão não se compara em
Vê o céu, as arvores, sentir a brisa, o vento me rodeando. É incrível como sempre só passamos dá valor as coisas simples da vida, quando as perdemos. Pareciam anos o que passei naquela delegacia. Era como perder a esperança, perder a vida, perder o prazer. Todos os dias eu pensava em tudo que estava perdendo aqui fora. Estava perdendo a minha vida, os meus objetivos, as minhas idealizações. Tudo tinha caído por minha cabeça. Agora eu tentaria me reerguer, eu tentaria esquecer aquele pesadelo horrível ao qual fui submetida. Eu não tinha ideia de como faria isso, já que estou desempregada após a morte de minha patroa. Tudo que eu ainda poderia era recuperar o bico como garçonete a noite na boate de Elias. Não sei se minha vaga ainda estaria ali disponível, teríamos que por enquanto usar a pouca grana que tinha guardada na poupança, e lutar pra sobreviver com o mínimo possível até conseguir outro emprego que pagasse o que dona Cecília pagava. Seria um pesadelo para nós, afinal, mesmo co
Embora Carlos fosse muito atraente e bonito, ele não tinha adjetivos melhores que esse. Egoísta, egocêntrico narcisista. Eu não sou idiota de esquecer tudo que aconteceu e o que ele me causou. Minhas memorias com o Carlos são horrorosas. Ele não se importava com ninguém mais do que ele mesmo. Mas talvez eu estivesse errada e Carlos estivesse com uma competição tosca para alimentar seu ego, ou pior, Carlos talvez fosse do homem que não consegue ouvir e aceitar um "não". Talvez Carlos estivesse com raiva de sentir-se atraído por uma mulher que não fazia parte da elite a qual ele pertencia. Ele pressionava meu corpo de forma possessa como se seu desejo fosse grande mas a sua raiva também. Era aquele tipo de homem que toda mulher deveria fugir, se não quisesse problema. Obedecendo meus protestos ele afastou-se enquanto permanecia com um olhar embriagado, inflamado de paixão. Meu Deus! O Carlos realmente estava sendo sincero com seu desespero. — Se for permanecer fazendo as coisas do se
Eu estava desesperada, eu não conseguia salvá-la. Por mais que eu tentasse eu não conseguia me mover. Ela estava morrendo na minha frente e eu me sentia terrivelmente dominada por um medo que me impedia de agir. Minha garganta doía, eu não conseguia fazer nada. Meus braços estavam presos, eu estava sendo empurrada para algum lugar, eu não conseguia entender. Eu gritava desesperada por ajuda mas tudo estava confuso, as cenas foram sumindo. Eu sentia meu corpo ser pressionado, alguém estava me sacudindo. — PARA!— Eu gritava. — Samira está tudo bem.— Uma voz me respondia de longe e eu não conseguia ter ideia de onde vinha. Eu me debatia eu gritava.— Samira está tudo bem, sou eu, sou eu. Meus olhos abriram-se e eu percebi que tudo não passava de um pesadelo, pois estava num banco de uma praça, percebi que alguém segurava meu braço. Talvez eu tenha feito um escândalo ali, meus pesadelos eram aterrorizantes. Virei o rosto após erguer do banco percebendo que estava com uma jaqueta p
Lúcio deu um meio sorriso rapidamente voltando a afastar minha mão do seu pulso. Claramente Lúcio tinha uma reação estranha a toda vez que era tocado. Ele se esquivava como se fosse errado toca-lo. Eu não entendi, mas não fui questionar sobre isso, era direito dele querer ou não. E talvez eu tenha sido um pouco invasiva com ele.— Eu a visitei, ela e seu filho tinham sido despejados da casa. Aconteceu uma briga bem no dia que eu estava chegando lá. Na verdade eu os vi na casa em que moravam. Eu os ofereci carona para onde ela queria ir.— Lúcio passou a explicar como se não quisesse falar sobre isso.— Porque não queria falar sobre isso?— Questionei. Ele passou a língua sobre os lábios rapidamente umedecendo os lábios de forma rápida que nem ele mesmo percebeu.— Eu não preciso sair falando o que faço. Gosto do meu sigilo, você não precisava saber sobre isso.— Ele falou colocando as mãos ao redor da cintura como se estivesse preparado para um bate boca. Passei a mão sobre o queixo perc