Os dias estavam passando de pressa, já se passara uma semana desde em que fui detida. Eu não tinha notícias de meu filho, muito menos de minha vó, também não tive condições de pagar se quer um advogado. Quanto mais o tempo passava pior se tornava a situação ao meu respeito. Por mais que insistisse que não sou culpada, que falasse por detalhes tudo que aconteceu naquele dia, parecia asneira aos ouvidos dos investigadores e promotores.
Eu não imaginava que a situação ficaria tão desesperadora. Minha vó estaria angustiada com tudo aquilo, eu tinha certeza. Eu precisava pensar no que fazer no que falar. Mas era praticamente "ridículo" como o próprio investigador ácido me falara á uns dias atrás. — Isso está ridículo Samira, o tempo tá passando e quanto mais você insiste em negar menos tempo e chance você tem, veja bem... — Ele puxou a cadeira sentando a minha frente. — Você se safaria muito melhor se aceitasse as acusações, seria ré primária, ficha criminal linda e limpa, você conseguiria até conquistar o jure fingindo ser uma mãe excelente, que estava à procura de tudo por dinheiro apenas para sustentar a família.— A verdade é que quanto mais ele falava mais ódio eu sentia. — Você é idiota? Fugir dos meus princípios? Jamais! Eu não sou uma assassina, muito menos uma sem escrúpulos a ponto de fazer coisas horríveis apenas por dinheiro, eu preciso de dinheiro realmente, mas tenho princípios. Eles estão à frente de tudo. — Soltei em um tom muito alto. Ele não me ouviu por muito tempo, saiu fechando a porta soltando um estrondo logo que ela bateu. Aquele dia tinha sido exaustivo, mas eu estava começando acreditar nas palavras do investigador criminal. Eu sei que ninguém acreditaria em mim, eu estou ciente disso muito bem. Eu sei que minha situação é complicada, mas eu sinceramente só pensava no Calebe. Sentia-me inútil, sem valor algum. Eu nunca esperei fazer o meu próprio filho passar por aquela vergonha de ter uma mãe presidiária. O tempo estava curto, e dependendo do que andava as investigações, logo eu seria transferida para um presídio feminino. E pensar naquilo me dava calafrios! Eu estava com tanto medo, Deus! Por quê? Era tão assustador ter que lutar sozinha, era tão pesado não ter ninguém a quem confiar a quem me segurar. Eu tinha pesadelos todas as noites. Meu corpo paralisava toda vez que repetia a cena de Cecília morrendo na minha frente sem que eu pudesse ajudar. Eu tinha febre todos os dias, meu corpo estava um trapo. Eu estava tão magra que era assustador. As preocupações eram pesadas de mais pra mim, eu sentia que a qualquer momento eu não iria aguentar, eu iria explodir. Talvez a saída seria dar um fim a essa própria vida, talvez um dia alguém acreditaria que eu não era esse monstro que parecia. À tarde fui levada novamente a um novo interrogatório. Já estava perdendo as esperanças a cada interrogatório. Quando adentrei a sala vi que não eram as mesmas pessoas, dessa vez um homem com traços bem asiáticos me encarou com um olhar bem pequeno e observador de mais. Ao lado tinha um homem que me encarava com um sorriso macabro pra ser sincera. Eu quis correr da sala, eu era a única mulher naquele ambiente, não acho que seria certo aquilo. Sentei sobre a cadeira nervosa sentindo minhas pernas fraquejarem. — Samira Santos!— O homem de traços asiáticos e cabelos grandes caído pelo ombro, exclamou cruzando as mãos à minha frente. Era uma técnica persuasiva, dava para perceber por seus ombros largos e mais avantajados que o resto do corpo, seus olhos serrados pra mim e suas mãos cruzadas tentando me causar uma apreensão. Aos poucos relaxei até perceber que não era aquilo que ele queria. Pelo rosto esculpido e queixo aparentemente quadrado, dava pra vê que um dos traços predominantes de sua personalidade era a psicopatia. — E você é?— Cruzei as mãos fazendo o mesmo gesto que ele. Seus olhos foram direção a minha mão rapidamente. Foi uma ação rápida da parte dele, ele era como Lúcio, filho da dona Cecília. Pessoas predominantes puxam o medo das pessoas e geralmente o nervosismo também. Era por isso que me sentia tão apreensiva perto dele. É! Eu era boa nisso, eu poderia investir se tivesse recursos, mas claramente se pelo menos recursos eu tivesse, teria pagado um advogado, não seria envergonhada a ponto de ser defendida por um defensor público. — Se veio para me acusar novamente poupe o fôlego, uma acusação à mais ou uma à menos não fará diferença. — Eu suspirei no fim da frase. Ele que, eu ainda não sabia o nome, permaneceu inexpressivo. O que se esperar de alguém predominante e observador? Isso é o óbvio. Mas de forma astuta e inesperada ele posicionou seu corpo sobre a cadeira me deixando levemente insegura, seu corpo se voltou para a frente e o meu manteve uma expectativa. O que viria a seguir? Eu seria realmente acusada pra sempre?Continua…
— Você está enganada, antes de acusar eu preciso de provas e antes de defender provas também. O que te faz achar que apenas palavras bastam quando os acontecimentos levam a outra direção? Se quiser ajuda você mesma precisa se ajudar. Comece raciocinando, o que de diferente aconteceu aquele dia, antes do trágico final. Isso já pode ser de ajuda.— O cara era bom de verdade, ele conseguiu me persuadir. De forma calma branda e inexpressiva ele conseguiu me vencer na batalha e raciocinar, que foi algo que eu não fiz durante essa semana inteira. Eu estava tão desesperada em dizer que era inocente que não tive nem ideia de raciocinar e tentar desvendar o que aconteceu, porque se Cecília foi envenenada, isso porque alguém fez isso, porque eu não tinha feito aquilo. Eu tinha que me concentrar no mistério, no diferente, no inesperado e não no óbvio que era a minha inocência. Embora as provas estivessem me incriminando eu precisava achar o elo frágil dessa investigação, ele me traria brecha qu
Dois dias depois eu fui chamada sendo informada que tinha uma visita. Eu estava tão eufórica! Por um momento imaginei que fosse a minha vó. Mas quando adentrei a sala vi que se tratava do Carlos. Meu semblante passou de alegria e euforia para desconforto e medo. Sinceramente Carlos não me fazia bem, sentia-me assustada, desde a última vez fiquei apreensiva, nosso encontro não foi dos melhores. Minha cabeça ainda doía daquela batida na mesa, mas resolvi ouvi-lo, quem sabe ele peça desculpas. Percebi que não tinha nada a ver com o que eu pensei, quando vi ele dispensando o policial que era obrigado a fazer vigia no lado de fora da porta. Também percebi que ele aproximou-se mais do que o necessário daquele homem, o que aparentou que estava pagando para o policial nos deixar sozinhos. Eu permaneci com minha expressão a mesma, não mostraria que estava com medo daquilo. Eu sempre soube que Carlos deu trabalho a Cecília, e era óbvio pra mim, visto que sempre ouvia as discussões de ambos ao
Ergui a perna para trás o acertando quase em cheio no meio das pernas. Ele me jogou contra a mesa e aquela ação parecia ter quebrado todos os meus ossos. Não consegui levantar, minha respiração estava fraca, parecia ter batido as costas contra a mesa. Carlos parecia urrar de dor no meio das pernas, eu sorri fraco só pra mim. Eu estava acabada literalmente, mas eu consegui sorrir mesmo assim. Enquanto tentava acalmar eu tentei me erguer forçando meu corpo mesmo doendo. Consegui sentar, mas Carlos me cobriu com seu corpo passando a apertar minha garganta com mais força do que da outra vez. Estava sem ar, eu não estava conseguindo raciocinar direito pra entender o que ele pretendia fazer. Ele não iria me matar, ele não ganharia nada com isso. A minha respiração estava cada vez mais fraca. Mas alguém avançou sobre o Carlos o tirando de cima de mim. Eu não consegui vê com clareza, mas era alguém com poder sobre o Carlos pois ele não revidou. Na verdade Carlos foi acertado na face. Passe
Lawrence adentrou o quarto com seus cabelos lisos e saudáveis preso em um penteado onde a parte superior dos cabelos estavam presa deixando mechas na parte de baixo soltas. Ele usava uma camisa gola alta preta que o deixara muito atraente. Ele me olhou de olhos estreitos mas já era natural dele pois seus olhos eram muito asiático. Ele simplesmente soltou aquela frase sem nem mesmo preparar meu coração antes. — Encontrei o seu advogado.— Ele falou sentando na poltrona jogando mechas de seu cabelo para trás. — Maria afirmou que não esteve no local do ocorrido aquele dia. Precisamos trabalhar mais do que nunca para provar isso. Eu fiquei paralisada de tanta emoção. Eu não sabia se chorava, sorria. Mas meus olhos foram mais rápidos, algumas lágrimas surgiram. Lawrence afagou meu rosto limpando as lágrimas que surgiam imediatamente. Eu tinha um advogado de verdade agora? — Ah furos nesse caso, não conseguimos localizar Jorge. E Maria negou de forma muito rápida como se já soubesse que a
— Você vai ter uma pequena cicatriz aqui.— Ele me olhou como se esperasse uma resposta. — AN...— Comecei perdida.— Tá legal é... não tem problema.— Conclui, engolindo ar seco pela garganta. Porque estava nervosa? — Não é grande, não precisa se preocupar.— Ele sorriu? Lawrence sorriu bem na minha frente, e pra mim. Bom, era estranho, ou só diferente? Sim! Ele balançou a cabeça afirmando mas sua expressão mudou rapidamente. Parecia que ele tinha lembrado de algo. — Não precisa se preocupar com o Carlos.— Ele comentou pensativo.— Ele teve sorte de ter sido o Lúcio a segui-lo, pois não seria você que estaria aqui, mas sim ele.— Lawrence falou de forma tão fria e ameaçadora que eu não pude deixar de sentir medo por Carlos. Não sabia que Lawrence incomodara-se tanto com o fato de que fui machucada por Carlos.— Antes que pergunte eu odeio qualquer tipo de violência contra a mulher. Não há mau que ela cause que mereça um tapa de um homem, sejamos sinceros, essa nossa mão não se compara em
Vê o céu, as arvores, sentir a brisa, o vento me rodeando. É incrível como sempre só passamos dá valor as coisas simples da vida, quando as perdemos. Pareciam anos o que passei naquela delegacia. Era como perder a esperança, perder a vida, perder o prazer. Todos os dias eu pensava em tudo que estava perdendo aqui fora. Estava perdendo a minha vida, os meus objetivos, as minhas idealizações. Tudo tinha caído por minha cabeça. Agora eu tentaria me reerguer, eu tentaria esquecer aquele pesadelo horrível ao qual fui submetida. Eu não tinha ideia de como faria isso, já que estou desempregada após a morte de minha patroa. Tudo que eu ainda poderia era recuperar o bico como garçonete a noite na boate de Elias. Não sei se minha vaga ainda estaria ali disponível, teríamos que por enquanto usar a pouca grana que tinha guardada na poupança, e lutar pra sobreviver com o mínimo possível até conseguir outro emprego que pagasse o que dona Cecília pagava. Seria um pesadelo para nós, afinal, mesmo co
Embora Carlos fosse muito atraente e bonito, ele não tinha adjetivos melhores que esse. Egoísta, egocêntrico narcisista. Eu não sou idiota de esquecer tudo que aconteceu e o que ele me causou. Minhas memorias com o Carlos são horrorosas. Ele não se importava com ninguém mais do que ele mesmo. Mas talvez eu estivesse errada e Carlos estivesse com uma competição tosca para alimentar seu ego, ou pior, Carlos talvez fosse do homem que não consegue ouvir e aceitar um "não". Talvez Carlos estivesse com raiva de sentir-se atraído por uma mulher que não fazia parte da elite a qual ele pertencia. Ele pressionava meu corpo de forma possessa como se seu desejo fosse grande mas a sua raiva também. Era aquele tipo de homem que toda mulher deveria fugir, se não quisesse problema. Obedecendo meus protestos ele afastou-se enquanto permanecia com um olhar embriagado, inflamado de paixão. Meu Deus! O Carlos realmente estava sendo sincero com seu desespero. — Se for permanecer fazendo as coisas do se
Eu estava desesperada, eu não conseguia salvá-la. Por mais que eu tentasse eu não conseguia me mover. Ela estava morrendo na minha frente e eu me sentia terrivelmente dominada por um medo que me impedia de agir. Minha garganta doía, eu não conseguia fazer nada. Meus braços estavam presos, eu estava sendo empurrada para algum lugar, eu não conseguia entender. Eu gritava desesperada por ajuda mas tudo estava confuso, as cenas foram sumindo. Eu sentia meu corpo ser pressionado, alguém estava me sacudindo. — PARA!— Eu gritava. — Samira está tudo bem.— Uma voz me respondia de longe e eu não conseguia ter ideia de onde vinha. Eu me debatia eu gritava.— Samira está tudo bem, sou eu, sou eu. Meus olhos abriram-se e eu percebi que tudo não passava de um pesadelo, pois estava num banco de uma praça, percebi que alguém segurava meu braço. Talvez eu tenha feito um escândalo ali, meus pesadelos eram aterrorizantes. Virei o rosto após erguer do banco percebendo que estava com uma jaqueta p