Dois dias depois eu fui chamada sendo informada que tinha uma visita. Eu estava tão eufórica! Por um momento imaginei que fosse a minha vó. Mas quando adentrei a sala vi que se tratava do Carlos. Meu semblante passou de alegria e euforia para desconforto e medo. Sinceramente Carlos não me fazia bem, sentia-me assustada, desde a última vez fiquei apreensiva, nosso encontro não foi dos melhores. Minha cabeça ainda doía daquela batida na mesa, mas resolvi ouvi-lo, quem sabe ele peça desculpas.
Percebi que não tinha nada a ver com o que eu pensei, quando vi ele dispensando o policial que era obrigado a fazer vigia no lado de fora da porta. Também percebi que ele aproximou-se mais do que o necessário daquele homem, o que aparentou que estava pagando para o policial nos deixar sozinhos. Eu permaneci com minha expressão a mesma, não mostraria que estava com medo daquilo. Eu sempre soube que Carlos deu trabalho a Cecília, e era óbvio pra mim, visto que sempre ouvia as discussões de ambos ao telefone. Cecília sempre contava com pesar que Carlos sempre pedia dinheiro para seus luxos. Eu sentia pena dela, ele claramente não tinha visão de um homem maduro de seus trinta e poucos anos. Não sabia exatamente a idade dos filhos de Cecília, não é que ela não tenha falo, é que não dei importância a esse detalhe. Mas era evidente que Lúcio era o mais velho. Carlos pouco importava-se com a empresa deles, Cecília contava que ele não gostava de ter responsabilidades, por esse motivo ele nunca tinha se casado. Eu sempre achei que talvez as mulheres que não tenham sido tão loucas a ponto de casar com alguém que pouco se importava com os outros além dele mesmo. Carlos era um ser humano de índole horrível e uma personalidade horrorosa. Era notório seu racismo para com os de classe inferiores. Ele virou-se a minha direção aproximando-se e segurando meu braço direito de forma nada amigável. Talvez ele tenha voltado para concluir o serviço que Lawrence o interrompeu da última vez. — Finalmente podemos conversar a sós querida Samira.— Meu estomago embrulhou com a parte "Querida". Era óbvio que Carlos me detestava sem nem mesmo esforçar-se o bastante para conhecer a minha pessoa. Ele puxou meu braço desajeitadamente me trazendo de encontro ao seu corpo de forma nada agradável. De cenho franzido o encarei confusa com sua mudança de atitude totalmente brusca. Lembro-me muito bem que ele tinha praticamente me agredido, que era caso de até processo se eu tivesse interesse. Mas enrolada da forma que já estou eu queria distancia de justiça. O afastei imediatamente puxando meu braço, mas a minha força por mais que persistente não comparava com a de um homem de trinta e poucos anos. Meu pulso doeu imediatamente, era como uma agulhada no osso do pulso. Mordi os lábios ao senti-la, me prendi de um grito. Puxei a respiração nervosa tentando me conter e não demonstrar fraqueza, Carlos não merecia aquilo. — Porque está tão nervosa?— Ele me prendeu contra a única mesa que tinha naquela sala. — É que não gosto de qualquer um com esse tipo de aproximação comigo. Você é o último da lista a qual eu permitiria algo desse tipo.— Segurei meu pulso direito com a mão esquerda. Tinha certeza que estava deslocado. Prendi um grito quando senti que não conseguia erguer a mão direita. — Isso pouco importa Samira.— Ele falava o meu nome de forma desdenhosa. — Você não tem opção de escolha, pensa um pouco...— Ele puxou meu corpo como se eu não pesasse nada e me posicionou sobre a mesa. Suspirei totalmente desconfortável. — Posso tira-la daqui sem muito esforço sabe, eu sou o único que está fazendo as acusações nesse caso, e eu sou o único que pode retira-las. Carlos acariciou meu rosto e eu afastei do toque imediatamente. Eu não podia acreditar naquilo que estava ouvindo. Carlos não estava preocupado em quem era o assassino, ele não se importava com isso, ele estava no intuito de apenas me manter pressa a ele de alguma forma. Pensar naquilo me causou um medo absurdo, ele comprovou mais uma vez que não se importava com ninguém, nem mesmo sua própria mãe. Mas o que me deixava confusa era, por que eu? O que ele ganhava com isso? Porque tão de repente estava forçando uma aproximação intima comigo? Eu estava totalmente confusa e perdida naquela questão. — Como pode fazer tudo isso se não tem se quer dinheiro? sua mãe morreu, sua protetora e única que te dava uma renda está morta.— Eu o respondi. Não era sensato fazer aquilo realmente, mas eu tinha que puxar mais dali, pois aos poucos eu só conseguia duvidar dele. E se ele fosse o causador da morte de sua própria mãe? Carlos pareceu não gostar nenhum pouco. Seu rosto expressou raiva mas de uma forma um pouco contida. Ele pressionou meu pescoço tentando mostrar que tinha controle sobre aquela situação. O empurrei apenas com a mão esquerda e contive um grunido ao soltar o pulso direito. Pulei da mesa seguindo direção a porta. — Algém por favor pode abrir essa porta?— Bati na porta com a mão esquerda fazendo barulho o suficiente para que algum policial que não fosse o comprado me ouvisse. Mas era tecnicamente impossível pois a porta estava trancada, e eu sabia que o dinheiro sempre estaria a frente de qualquer dever. As pessoas estão desesperada todos os dias, o poder do dinheiro era capaz de destruir familias. Não consegui gritar pois Carlos cobriu minha boca imediatamente. Meu pulso estava doendo muito, eu estava começando suar. O medo do que poderia acontecer estava me consumindo. Era desesperador! Vi Carlos passar me arrastar para trás me afastando da porta. Por mais que eu tentasse não conseguia ser forte o bastante. Meu corpo tremia com medo percorrendo cada parte da minha carne. Carlos estava prestes me causar muito mal e eu não tinha forças o suficiente.Continua…
Ergui a perna para trás o acertando quase em cheio no meio das pernas. Ele me jogou contra a mesa e aquela ação parecia ter quebrado todos os meus ossos. Não consegui levantar, minha respiração estava fraca, parecia ter batido as costas contra a mesa. Carlos parecia urrar de dor no meio das pernas, eu sorri fraco só pra mim. Eu estava acabada literalmente, mas eu consegui sorrir mesmo assim. Enquanto tentava acalmar eu tentei me erguer forçando meu corpo mesmo doendo. Consegui sentar, mas Carlos me cobriu com seu corpo passando a apertar minha garganta com mais força do que da outra vez. Estava sem ar, eu não estava conseguindo raciocinar direito pra entender o que ele pretendia fazer. Ele não iria me matar, ele não ganharia nada com isso. A minha respiração estava cada vez mais fraca. Mas alguém avançou sobre o Carlos o tirando de cima de mim. Eu não consegui vê com clareza, mas era alguém com poder sobre o Carlos pois ele não revidou. Na verdade Carlos foi acertado na face. Passe
Lawrence adentrou o quarto com seus cabelos lisos e saudáveis preso em um penteado onde a parte superior dos cabelos estavam presa deixando mechas na parte de baixo soltas. Ele usava uma camisa gola alta preta que o deixara muito atraente. Ele me olhou de olhos estreitos mas já era natural dele pois seus olhos eram muito asiático. Ele simplesmente soltou aquela frase sem nem mesmo preparar meu coração antes. — Encontrei o seu advogado.— Ele falou sentando na poltrona jogando mechas de seu cabelo para trás. — Maria afirmou que não esteve no local do ocorrido aquele dia. Precisamos trabalhar mais do que nunca para provar isso. Eu fiquei paralisada de tanta emoção. Eu não sabia se chorava, sorria. Mas meus olhos foram mais rápidos, algumas lágrimas surgiram. Lawrence afagou meu rosto limpando as lágrimas que surgiam imediatamente. Eu tinha um advogado de verdade agora? — Ah furos nesse caso, não conseguimos localizar Jorge. E Maria negou de forma muito rápida como se já soubesse que a
— Você vai ter uma pequena cicatriz aqui.— Ele me olhou como se esperasse uma resposta. — AN...— Comecei perdida.— Tá legal é... não tem problema.— Conclui, engolindo ar seco pela garganta. Porque estava nervosa? — Não é grande, não precisa se preocupar.— Ele sorriu? Lawrence sorriu bem na minha frente, e pra mim. Bom, era estranho, ou só diferente? Sim! Ele balançou a cabeça afirmando mas sua expressão mudou rapidamente. Parecia que ele tinha lembrado de algo. — Não precisa se preocupar com o Carlos.— Ele comentou pensativo.— Ele teve sorte de ter sido o Lúcio a segui-lo, pois não seria você que estaria aqui, mas sim ele.— Lawrence falou de forma tão fria e ameaçadora que eu não pude deixar de sentir medo por Carlos. Não sabia que Lawrence incomodara-se tanto com o fato de que fui machucada por Carlos.— Antes que pergunte eu odeio qualquer tipo de violência contra a mulher. Não há mau que ela cause que mereça um tapa de um homem, sejamos sinceros, essa nossa mão não se compara em
Vê o céu, as arvores, sentir a brisa, o vento me rodeando. É incrível como sempre só passamos dá valor as coisas simples da vida, quando as perdemos. Pareciam anos o que passei naquela delegacia. Era como perder a esperança, perder a vida, perder o prazer. Todos os dias eu pensava em tudo que estava perdendo aqui fora. Estava perdendo a minha vida, os meus objetivos, as minhas idealizações. Tudo tinha caído por minha cabeça. Agora eu tentaria me reerguer, eu tentaria esquecer aquele pesadelo horrível ao qual fui submetida. Eu não tinha ideia de como faria isso, já que estou desempregada após a morte de minha patroa. Tudo que eu ainda poderia era recuperar o bico como garçonete a noite na boate de Elias. Não sei se minha vaga ainda estaria ali disponível, teríamos que por enquanto usar a pouca grana que tinha guardada na poupança, e lutar pra sobreviver com o mínimo possível até conseguir outro emprego que pagasse o que dona Cecília pagava. Seria um pesadelo para nós, afinal, mesmo co
Embora Carlos fosse muito atraente e bonito, ele não tinha adjetivos melhores que esse. Egoísta, egocêntrico narcisista. Eu não sou idiota de esquecer tudo que aconteceu e o que ele me causou. Minhas memorias com o Carlos são horrorosas. Ele não se importava com ninguém mais do que ele mesmo. Mas talvez eu estivesse errada e Carlos estivesse com uma competição tosca para alimentar seu ego, ou pior, Carlos talvez fosse do homem que não consegue ouvir e aceitar um "não". Talvez Carlos estivesse com raiva de sentir-se atraído por uma mulher que não fazia parte da elite a qual ele pertencia. Ele pressionava meu corpo de forma possessa como se seu desejo fosse grande mas a sua raiva também. Era aquele tipo de homem que toda mulher deveria fugir, se não quisesse problema. Obedecendo meus protestos ele afastou-se enquanto permanecia com um olhar embriagado, inflamado de paixão. Meu Deus! O Carlos realmente estava sendo sincero com seu desespero. — Se for permanecer fazendo as coisas do se
Eu estava desesperada, eu não conseguia salvá-la. Por mais que eu tentasse eu não conseguia me mover. Ela estava morrendo na minha frente e eu me sentia terrivelmente dominada por um medo que me impedia de agir. Minha garganta doía, eu não conseguia fazer nada. Meus braços estavam presos, eu estava sendo empurrada para algum lugar, eu não conseguia entender. Eu gritava desesperada por ajuda mas tudo estava confuso, as cenas foram sumindo. Eu sentia meu corpo ser pressionado, alguém estava me sacudindo. — PARA!— Eu gritava. — Samira está tudo bem.— Uma voz me respondia de longe e eu não conseguia ter ideia de onde vinha. Eu me debatia eu gritava.— Samira está tudo bem, sou eu, sou eu. Meus olhos abriram-se e eu percebi que tudo não passava de um pesadelo, pois estava num banco de uma praça, percebi que alguém segurava meu braço. Talvez eu tenha feito um escândalo ali, meus pesadelos eram aterrorizantes. Virei o rosto após erguer do banco percebendo que estava com uma jaqueta p
Lúcio deu um meio sorriso rapidamente voltando a afastar minha mão do seu pulso. Claramente Lúcio tinha uma reação estranha a toda vez que era tocado. Ele se esquivava como se fosse errado toca-lo. Eu não entendi, mas não fui questionar sobre isso, era direito dele querer ou não. E talvez eu tenha sido um pouco invasiva com ele.— Eu a visitei, ela e seu filho tinham sido despejados da casa. Aconteceu uma briga bem no dia que eu estava chegando lá. Na verdade eu os vi na casa em que moravam. Eu os ofereci carona para onde ela queria ir.— Lúcio passou a explicar como se não quisesse falar sobre isso.— Porque não queria falar sobre isso?— Questionei. Ele passou a língua sobre os lábios rapidamente umedecendo os lábios de forma rápida que nem ele mesmo percebeu.— Eu não preciso sair falando o que faço. Gosto do meu sigilo, você não precisava saber sobre isso.— Ele falou colocando as mãos ao redor da cintura como se estivesse preparado para um bate boca. Passei a mão sobre o queixo perc
Horas mais tarde quando voltei a casa de Camila ela tentou conversar comigo sobre minha vó. Lá dentro tinha algo quebrado, doloroso, eu não conseguiria explicar nunca. Uma tristeza dentro de mim por pensar que minha vó passou por isso sozinha, por pensar que minha vó foi despejada provavelmente por minha culpa. Quanto mais eu pensava sobre o assunto, pior eu me sentia.Eu fui buscar o Caleb na escola no horário de sua saída. Quando o vi eu o abracei tão apertado. Eu senti meu fôlego voltar, eu me senti completa mesmo que incompleta com a falta de minha vó. Vê meu filho vivo, bem na minha frente era a melhor coisa que poderia me acontecer.— Aah meu filho, que saudade de você meu amor!— Caleb retribuía o abraço com toda sua força mesmo que inferior a minha. Meu coração acelerou ao sentir o seu calor, o seu cheiro.— Filho eu te amo tanto, a mamãe sentiu tanto a sua falta.— Onde a senhora estava?— Ele acariciou meu rosto enquanto me encarava.— Eu tô aqui agora!— Não iria dizer que esta