Os olhos negros de Bruno, antes tão brilhantes, se ofuscaram instantaneamente, e ele pareceu ser consumido por uma aura de desânimo.— Eu não comi nada, fiquei o tempo todo em reuniões, nem um gole de água consegui beber. Você vai me acompanhar só por pena? — Disse ele, a voz cheia de um cansaço profundo.Neste momento, percebi que a conexão silenciosa entre Bruno e eu estava mais fragilizada do que nunca. Não consegui evitar e tive que alertá-lo.— A Dayane não está em casa, não precisa fingir.— Quem está fingindo? — A voz de Bruno saiu rouca, como se a pergunta fosse uma explosão de frustração. — Quando estou diante de você, em que momento eu fingi? Eu chorei, eu sorri, estive feliz, estive triste... Não escondi nada de você. O que você não viu de mim? Aquela época, quando nós nos casamos, é que era um jogo. Naquela época, eu andava reto, apertava os dentes, fazia questão de me apresentar da melhor forma possível, tentando me manter distante de você, sem ousar tocar em você, com med
Quando me dei conta dos meus devaneios, percebi que estava deitada no quarto de Dayane, já adormecida. Ao abrir os olhos novamente, o céu já estava escuro.Levantei-me apressada, tentando abrir a porta; girei a fechadura várias vezes até conseguir destrancá-la. Mal coloquei metade do pé para fora, a porta do quarto ao lado também se abriu.Bruno, não sei se havia calculado o momento exato em que eu acordaria ou se estava simplesmente ouvindo os sons do meu quarto, olhou para mim com um sorriso suave, e sua voz soou gentil, como se a conversa da tarde nunca tivesse acontecido.— Acordou?Fiquei paralisada por um momento, mas acabei assentindo com a cabeça.— E Dayane?Bruno levantou a mão e olhou para o relógio no pulso.— Ela já dormiu. Está no quarto. Quer ir vê-la?— Dormiu? Que horas são?— Dez e meia.Fechei os olhos, acenei com a cabeça, mas logo balançei a cabeça em negação. A força que eu forçava para me manter de pé pareceu escorrer de mim como água, e eu me encostei à porta, s
De repente, uma força inesperada apareceu na minha mão, me fazendo levar um susto.O movimento instintivo de puxar a mão fez com que a tigela balançasse fortemente, e o som do choque do prato foi ainda mais alto do que os batimentos acelerados que eu e Bruno estávamos tentando disfarçar.— Desculpe. Fui rápida em segurar a tigela, levantando os olhos para olhar para o homem à minha frente. A mão dele, que ainda segurava a faca e o garfo, estava rígida, e demorou um bom tempo até que ele colocasse os utensílios diante de mim.— Eu só estava pegando os utensílios para você. — Ele baixou a voz, mas o tom se tornou mais pesado. — Será que você pode tentar não me resistir tanto?...Eu não sabia o que responder, então abaixei os olhos, fingindo estar ocupada pegando a faca e o garfo da mesa.Mal sabia eu que ele ainda estava segurando uma ponta dos utensílios, e quando tentei puxar, ele não soltou. Não pude deixar de comentar.— Bruno, tudo o que estamos fazendo agora é por causa da crian
Fui até o quarto de Bruno para ver Dayane. A pequena estava dormindo, com as bochechas coradas. Ela ainda não sabia que, no dia seguinte, não precisaria ir à escola, mas sim ao hospital.Enquanto outras crianças da sua idade iam para a escola ou para o parque de diversões, Dayane precisava frequentar o hospital com frequência, para sentir o cheiro de desinfetante, que ela tanto detestava.Seria mentira dizer que não doía no coração. Suspirando suavemente, me levantei e, ao me virar, percebi que a porta estava bloqueada por uma grande parede humana. Bruno estava encostado à porta, com os braços cruzados, imerso na sombra, sem saber há quanto tempo estava ali.Ele parecia ter se recomposto, pois o semblante já não trazia vestígios de desagrado. Fui até ele e, em voz baixa, perguntei:— A que horas amanhã?Bruno pensou por um momento antes de responder:— Precisamos sair às sete e meia da manhã.— Tão cedo...Bruno explicou:— Pela manhã, as ondas cerebrais de Dayane estão mais ativas, o
Mesmo que Bruno tenha me dado garantias, eu ainda não conseguia relaxar.Estava deitada ao lado de Dayane, mas não conseguia dormir. Resolvi, então, pegar o celular e procurar informações sobre autismo infantil, para tentar entender mais sobre a doença. Quando abri o aparelho, uma notícia apareceu imediatamente. O título chamou minha atenção, pois estava relacionado a Bruno.[Presidente do Grupo Henriques, suposto romance exposto!]Meu coração deu um salto, e, por um momento, uma risada nervosa surgiu em meus pensamentos. Não podia ser Gisele, não novamente.Apesar de pensar assim, meus dedos se contraíram involuntariamente, e, com um suspiro, toquei no título da notícia.A matéria ainda não tinha aparecido, mas logo uma foto de comparação apareceu na tela. A imagem estava dividida ao meio. À esquerda, uma foto de Bruno, três anos atrás, com um semblante de dor intensa, ajoelhado no saguão do aeroporto, visivelmente em sofrimento, com comprimidos espalhados ao seu redor. Ele parecia d
No hospital, Bruno Henrique aprumou-se em toda a sua altura, destacando-se na multidão.— Não é da sua conta, pode ir embora.Mal tinha me aproximado quando ouvi ele dizer isso, e o saco que eu segurava foi tirado das minhas mãos. A meia-irmã de Bruno foi levada ao hospital no meio da noite, e minha única função, como cunhada, era apenas trazer algumas roupas, nada além do que uma empregada faria. Estávamos casados há quatro anos, e eu já estava acostumada à frieza dele, então fui falar com o médico para entender a situação. O médico disse que o ânus da paciente estava rompido, causado pelo ato de fazer amor com um parceiro.Naquele instante, senti como se tivesse caído em um poço de gelo, o frio invadindo-me dos pés à cabeça.Que eu soubesse, Gisele Silva não tinha namorado, e quem a levou ao hospital naquela ocasião foi meu marido.O médico ajustou os óculos no nariz e me olhou com certa pena.— Os jovens hoje em dia gostam de buscar novas emoções e procurar por estímulos.— O qu
Minha visão caiu sobre a calça de Bruno, que estava jogada ao lado da cama, com o cós frouxo e distorcido formando um rosto choroso, e um canto de seu celular preto deslizando para fora, parecendo mais triste com as lágrimas.Na vida matrimonial, acreditava que tanto o amor quanto a privacidade eram importantes. Sempre demos espaço um ao outro e nunca mexemos no celular do parceiro.Mas hoje, depois de vasculhar até o escritório, pensei que também deveria olhar o celular dele.Peguei o celular e com pressa, mergulhei debaixo das cobertas até cobrir minha cabeça.Eu estava muito nervosa.Diziam que ninguém conseguia manter um sorriso no rosto após verificar o celular do parceiro. Eu tinha medo de encontrar provas de sua traição com Gisele ou de não encontrar nada e parecer que não confiava nele.Ao pensar no bracelete que ele gostava de usar todos os dias, meus dentes começaram a tremer.“Bruno, o que você está escondendo de mim? O que realmente importa para você?”Errei a senha várias
O celular de Bruno estava sobre o armário de relógios, preso entre duas caixas de relógio. A mão dele estava apoiada na superfície do armário, enquanto a outra se movia rapidamente abaixo dele.No chão, não muito longe dele, estava a toalha cinza que ele havia chutado. Mesmo que seu corpo estivesse parcialmente escondido, não era difícil adivinhar o que ele estava fazendo.Sons de intimidade logo preencheram o closet, carregados de sensualidade.Meus dedos dos pés se cravaram no chão de madeira, e uma sensação de frio percorreu meu corpo. Meu corpo inteiro ficou paralisado como se eu estivesse enfeitiçada.Ele logo pegou algumas folhas de papel toalha. Achei que ele tinha terminado, mas, para minha surpresa, ele começou tudo de novo.Só agora a dor real tomou conta de mim. Cada movimento do braço dele parecia cortar meu coração profundamente.Algumas fotos de Gisele eram suficientes para tirar meu marido da nossa cama. Ele preferia resolver suas necessidades sozinho, olhando suas fotos