Depois que Dayane terminou de comer, e dona Rose a levou para a escola, finalmente tive um pouco de tempo para mim. Enviei os documentos que já tinha preparado para Zeca, pedindo que ele me ajudasse a providenciar o visto para Dayane para o País B. Quando a situação dela estivesse um pouco mais estável, eu a levaria embora, e o visto só exigia a autorização da mãe, caso contrário, quanto mais tarde, mais complicado seria. Zeca respondeu rapidamente. — Já verifiquei os outros documentos, não vejo problemas, você está com pressa? Se for necessário, posso pedir para alguém agilizar. — Não é urgente. A situação de Dayane tem sido instável, ela está piorando novamente. Quando ela melhorar um pouco, então partiremos. A voz no telefone soava um tanto melancólica. — Espero que a Presidente Sofia, onde quer que esteja, possa abençoar Dayane. Ela nasceu em uma família tão boa, deveria estar desfrutando de uma vida feliz. Eu também estava um pouco emocionada, mais uma vez agradece
Eu me arrumei de forma simples e fiquei esperando o Bruno voltar para me buscar. Ele me ligou, dizendo que hoje teria terminado mais cedo e perguntou se eu queria ir com ele buscar a Dayane na escola. Quase no instante seguinte, eu pude perceber a expectativa na voz dele, mas mesmo assim, disse que não queria. Ultimamente, o Bruno sempre tenta me levar junto com a Dayane para sair. Ele quer nos levar para passear, para qualquer lugar, fazer qualquer coisa. Eu não sei se é para se redimir ou se é para viver a sensação de ter a esposa e a filha ao seu lado. A situação da Dayane não é adequada para lugares movimentados e eu também não quero sair sozinha com ele, então recusei todas as propostas sem exceção. Não quero mais ter nada a ver com o Bruno, não quero que nenhum de nós se torne alvo de discussões nas redes sociais, virando uma cicatriz na mente um do outro. No fim, vou acabar saindo com a Dayane, mas espero que seja de forma discreta, sem toda aquela agitação que fazia
Os olhos negros de Bruno, antes tão brilhantes, se ofuscaram instantaneamente, e ele pareceu ser consumido por uma aura de desânimo.— Eu não comi nada, fiquei o tempo todo em reuniões, nem um gole de água consegui beber. Você vai me acompanhar só por pena? — Disse ele, a voz cheia de um cansaço profundo.Neste momento, percebi que a conexão silenciosa entre Bruno e eu estava mais fragilizada do que nunca. Não consegui evitar e tive que alertá-lo.— A Dayane não está em casa, não precisa fingir.— Quem está fingindo? — A voz de Bruno saiu rouca, como se a pergunta fosse uma explosão de frustração. — Quando estou diante de você, em que momento eu fingi? Eu chorei, eu sorri, estive feliz, estive triste... Não escondi nada de você. O que você não viu de mim? Aquela época, quando nós nos casamos, é que era um jogo. Naquela época, eu andava reto, apertava os dentes, fazia questão de me apresentar da melhor forma possível, tentando me manter distante de você, sem ousar tocar em você, com med
Quando me dei conta dos meus devaneios, percebi que estava deitada no quarto de Dayane, já adormecida. Ao abrir os olhos novamente, o céu já estava escuro.Levantei-me apressada, tentando abrir a porta; girei a fechadura várias vezes até conseguir destrancá-la. Mal coloquei metade do pé para fora, a porta do quarto ao lado também se abriu.Bruno, não sei se havia calculado o momento exato em que eu acordaria ou se estava simplesmente ouvindo os sons do meu quarto, olhou para mim com um sorriso suave, e sua voz soou gentil, como se a conversa da tarde nunca tivesse acontecido.— Acordou?Fiquei paralisada por um momento, mas acabei assentindo com a cabeça.— E Dayane?Bruno levantou a mão e olhou para o relógio no pulso.— Ela já dormiu. Está no quarto. Quer ir vê-la?— Dormiu? Que horas são?— Dez e meia.Fechei os olhos, acenei com a cabeça, mas logo balançei a cabeça em negação. A força que eu forçava para me manter de pé pareceu escorrer de mim como água, e eu me encostei à porta, s
No hospital, Bruno Henrique aprumou-se em toda a sua altura, destacando-se na multidão.— Não é da sua conta, pode ir embora.Mal tinha me aproximado quando ouvi ele dizer isso, e o saco que eu segurava foi tirado das minhas mãos. A meia-irmã de Bruno foi levada ao hospital no meio da noite, e minha única função, como cunhada, era apenas trazer algumas roupas, nada além do que uma empregada faria. Estávamos casados há quatro anos, e eu já estava acostumada à frieza dele, então fui falar com o médico para entender a situação. O médico disse que o ânus da paciente estava rompido, causado pelo ato de fazer amor com um parceiro.Naquele instante, senti como se tivesse caído em um poço de gelo, o frio invadindo-me dos pés à cabeça.Que eu soubesse, Gisele Silva não tinha namorado, e quem a levou ao hospital naquela ocasião foi meu marido.O médico ajustou os óculos no nariz e me olhou com certa pena.— Os jovens hoje em dia gostam de buscar novas emoções e procurar por estímulos.— O qu
Minha visão caiu sobre a calça de Bruno, que estava jogada ao lado da cama, com o cós frouxo e distorcido formando um rosto choroso, e um canto de seu celular preto deslizando para fora, parecendo mais triste com as lágrimas.Na vida matrimonial, acreditava que tanto o amor quanto a privacidade eram importantes. Sempre demos espaço um ao outro e nunca mexemos no celular do parceiro.Mas hoje, depois de vasculhar até o escritório, pensei que também deveria olhar o celular dele.Peguei o celular e com pressa, mergulhei debaixo das cobertas até cobrir minha cabeça.Eu estava muito nervosa.Diziam que ninguém conseguia manter um sorriso no rosto após verificar o celular do parceiro. Eu tinha medo de encontrar provas de sua traição com Gisele ou de não encontrar nada e parecer que não confiava nele.Ao pensar no bracelete que ele gostava de usar todos os dias, meus dentes começaram a tremer.“Bruno, o que você está escondendo de mim? O que realmente importa para você?”Errei a senha várias
O celular de Bruno estava sobre o armário de relógios, preso entre duas caixas de relógio. A mão dele estava apoiada na superfície do armário, enquanto a outra se movia rapidamente abaixo dele.No chão, não muito longe dele, estava a toalha cinza que ele havia chutado. Mesmo que seu corpo estivesse parcialmente escondido, não era difícil adivinhar o que ele estava fazendo.Sons de intimidade logo preencheram o closet, carregados de sensualidade.Meus dedos dos pés se cravaram no chão de madeira, e uma sensação de frio percorreu meu corpo. Meu corpo inteiro ficou paralisado como se eu estivesse enfeitiçada.Ele logo pegou algumas folhas de papel toalha. Achei que ele tinha terminado, mas, para minha surpresa, ele começou tudo de novo.Só agora a dor real tomou conta de mim. Cada movimento do braço dele parecia cortar meu coração profundamente.Algumas fotos de Gisele eram suficientes para tirar meu marido da nossa cama. Ele preferia resolver suas necessidades sozinho, olhando suas fotos
Eu costumava gostar de assistir a novelas com enredos exagerados e, por isso, entendia bem quais tipos de mulheres podiam causar grande impacto nos homens. Algumas mulheres, quanto mais os homens não conseguiam ter elas, mais as desejavam.Os dois estavam destinados a não ficar juntos por razões mundanas; a família Henriques era um clã de grande prestígio e, mesmo que não tivessem laços de sangue, não ousariam desonrar o nome da família.Se Bruno realmente gostasse de Gisele, provavelmente acharia até o excremento dela cheiroso. Como eu poderia competir com ela?A cirurgia prosseguiu em silêncio e sem problemas. Após sair, sentei-me no segundo andar, aguardando ser chamada para pegar os remédios.O cheiro do desinfetante do hospital parecia limpar minha mente, e então, completamente lúcida, mandei uma mensagem para Bruno."Se você tivesse que escolher entre mim e Gisele, quem você escolheria?"Se ele dissesse que escolheria Gisele, eu recuaria e desejaria a felicidade deles.Eu sabia