Desde aquele dia, Dayane se tornou cada vez mais silenciosa.Ela começou a passar longos períodos em que ficava absorta, às vezes olhando para mim ou para Bruno, outras vezes fixando o olhar em qualquer coisa ao redor. Cada vez que entrava nesse estado, ficava ali, perdida, por mais de dez minutos.Sempre que isso acontecia, nós não ousávamos interromper. A única coisa que podíamos fazer era nos mantermos próximos, tentando fazer algum som para chamar sua atenção, na esperança de tirá-la do transe.Ela começou a resistir a se expressar. Não pedia mais abraços e já não tomava a iniciativa de nos beijar. Mesmo quando estava com fome e queria comer, não dizia nada, apenas esperava em silêncio até a hora das refeições. Mas, quando a comida chegava, mal dava uma mordida antes de desistir.Como não sabíamos se ela queria realmente comer ou não, a família contratou um chef especializado em nutrição infantil, que preparava doces e lanches durante o dia, sempre com formas fofas e criativas. Day
Eu me sentia extremamente agitada. Desde a noite em que briguei com o Bruno, ele já estava em contato com a sua equipe médica.Devido a mudanças inesperadas, todas as questões que a equipe já havia preparado precisaram ser substituídas. Como envolvia a Dayane, nós não nos importávamos de dar mais tempo a eles. Finalmente, a espera havia chegado ao fim.Apesar da alegria, ainda havia uma certa preocupação.— Que tipo de questões? Devemos dar uma olhada antes? Não sabemos se a Dayane vai conseguir entender.— Eu já vi as questões. Basicamente são todas com imagens e os textos são bem simples. Já fizemos alguns testes com crianças da mesma idade e elas não tiveram problemas para entender. A Dayane é até mais esperta que elas, pode ficar tranquila.Eu acenei com a cabeça em silêncio.Quando estávamos no exterior, eu fui muitas vezes ao hospital, mas os resultados eram sempre os mesmos: disseram que a Dayane era muito nova e que ainda precisávamos cuidar dela em casa. Agora...Embora eu não
Depois que Dayane terminou de comer, e dona Rose a levou para a escola, finalmente tive um pouco de tempo para mim. Enviei os documentos que já tinha preparado para Zeca, pedindo que ele me ajudasse a providenciar o visto para Dayane para o País B. Quando a situação dela estivesse um pouco mais estável, eu a levaria embora, e o visto só exigia a autorização da mãe, caso contrário, quanto mais tarde, mais complicado seria. Zeca respondeu rapidamente. — Já verifiquei os outros documentos, não vejo problemas, você está com pressa? Se for necessário, posso pedir para alguém agilizar. — Não é urgente. A situação de Dayane tem sido instável, ela está piorando novamente. Quando ela melhorar um pouco, então partiremos. A voz no telefone soava um tanto melancólica. — Espero que a Presidente Sofia, onde quer que esteja, possa abençoar Dayane. Ela nasceu em uma família tão boa, deveria estar desfrutando de uma vida feliz. Eu também estava um pouco emocionada, mais uma vez agradece
Eu me arrumei de forma simples e fiquei esperando o Bruno voltar para me buscar. Ele me ligou, dizendo que hoje teria terminado mais cedo e perguntou se eu queria ir com ele buscar a Dayane na escola. Quase no instante seguinte, eu pude perceber a expectativa na voz dele, mas mesmo assim, disse que não queria. Ultimamente, o Bruno sempre tenta me levar junto com a Dayane para sair. Ele quer nos levar para passear, para qualquer lugar, fazer qualquer coisa. Eu não sei se é para se redimir ou se é para viver a sensação de ter a esposa e a filha ao seu lado. A situação da Dayane não é adequada para lugares movimentados e eu também não quero sair sozinha com ele, então recusei todas as propostas sem exceção. Não quero mais ter nada a ver com o Bruno, não quero que nenhum de nós se torne alvo de discussões nas redes sociais, virando uma cicatriz na mente um do outro. No fim, vou acabar saindo com a Dayane, mas espero que seja de forma discreta, sem toda aquela agitação que fazia
Os olhos negros de Bruno, antes tão brilhantes, se ofuscaram instantaneamente, e ele pareceu ser consumido por uma aura de desânimo.— Eu não comi nada, fiquei o tempo todo em reuniões, nem um gole de água consegui beber. Você vai me acompanhar só por pena? — Disse ele, a voz cheia de um cansaço profundo.Neste momento, percebi que a conexão silenciosa entre Bruno e eu estava mais fragilizada do que nunca. Não consegui evitar e tive que alertá-lo.— A Dayane não está em casa, não precisa fingir.— Quem está fingindo? — A voz de Bruno saiu rouca, como se a pergunta fosse uma explosão de frustração. — Quando estou diante de você, em que momento eu fingi? Eu chorei, eu sorri, estive feliz, estive triste... Não escondi nada de você. O que você não viu de mim? Aquela época, quando nós nos casamos, é que era um jogo. Naquela época, eu andava reto, apertava os dentes, fazia questão de me apresentar da melhor forma possível, tentando me manter distante de você, sem ousar tocar em você, com med
Quando me dei conta dos meus devaneios, percebi que estava deitada no quarto de Dayane, já adormecida. Ao abrir os olhos novamente, o céu já estava escuro.Levantei-me apressada, tentando abrir a porta; girei a fechadura várias vezes até conseguir destrancá-la. Mal coloquei metade do pé para fora, a porta do quarto ao lado também se abriu.Bruno, não sei se havia calculado o momento exato em que eu acordaria ou se estava simplesmente ouvindo os sons do meu quarto, olhou para mim com um sorriso suave, e sua voz soou gentil, como se a conversa da tarde nunca tivesse acontecido.— Acordou?Fiquei paralisada por um momento, mas acabei assentindo com a cabeça.— E Dayane?Bruno levantou a mão e olhou para o relógio no pulso.— Ela já dormiu. Está no quarto. Quer ir vê-la?— Dormiu? Que horas são?— Dez e meia.Fechei os olhos, acenei com a cabeça, mas logo balançei a cabeça em negação. A força que eu forçava para me manter de pé pareceu escorrer de mim como água, e eu me encostei à porta, s
No hospital, Bruno Henrique aprumou-se em toda a sua altura, destacando-se na multidão.— Não é da sua conta, pode ir embora.Mal tinha me aproximado quando ouvi ele dizer isso, e o saco que eu segurava foi tirado das minhas mãos. A meia-irmã de Bruno foi levada ao hospital no meio da noite, e minha única função, como cunhada, era apenas trazer algumas roupas, nada além do que uma empregada faria. Estávamos casados há quatro anos, e eu já estava acostumada à frieza dele, então fui falar com o médico para entender a situação. O médico disse que o ânus da paciente estava rompido, causado pelo ato de fazer amor com um parceiro.Naquele instante, senti como se tivesse caído em um poço de gelo, o frio invadindo-me dos pés à cabeça.Que eu soubesse, Gisele Silva não tinha namorado, e quem a levou ao hospital naquela ocasião foi meu marido.O médico ajustou os óculos no nariz e me olhou com certa pena.— Os jovens hoje em dia gostam de buscar novas emoções e procurar por estímulos.— O qu
Minha visão caiu sobre a calça de Bruno, que estava jogada ao lado da cama, com o cós frouxo e distorcido formando um rosto choroso, e um canto de seu celular preto deslizando para fora, parecendo mais triste com as lágrimas.Na vida matrimonial, acreditava que tanto o amor quanto a privacidade eram importantes. Sempre demos espaço um ao outro e nunca mexemos no celular do parceiro.Mas hoje, depois de vasculhar até o escritório, pensei que também deveria olhar o celular dele.Peguei o celular e com pressa, mergulhei debaixo das cobertas até cobrir minha cabeça.Eu estava muito nervosa.Diziam que ninguém conseguia manter um sorriso no rosto após verificar o celular do parceiro. Eu tinha medo de encontrar provas de sua traição com Gisele ou de não encontrar nada e parecer que não confiava nele.Ao pensar no bracelete que ele gostava de usar todos os dias, meus dentes começaram a tremer.“Bruno, o que você está escondendo de mim? O que realmente importa para você?”Errei a senha várias