De repente, uma força inesperada apareceu na minha mão, me fazendo levar um susto.O movimento instintivo de puxar a mão fez com que a tigela balançasse fortemente, e o som do choque do prato foi ainda mais alto do que os batimentos acelerados que eu e Bruno estávamos tentando disfarçar.— Desculpe. Fui rápida em segurar a tigela, levantando os olhos para olhar para o homem à minha frente. A mão dele, que ainda segurava a faca e o garfo, estava rígida, e demorou um bom tempo até que ele colocasse os utensílios diante de mim.— Eu só estava pegando os utensílios para você. — Ele baixou a voz, mas o tom se tornou mais pesado. — Será que você pode tentar não me resistir tanto?...Eu não sabia o que responder, então abaixei os olhos, fingindo estar ocupada pegando a faca e o garfo da mesa.Mal sabia eu que ele ainda estava segurando uma ponta dos utensílios, e quando tentei puxar, ele não soltou. Não pude deixar de comentar.— Bruno, tudo o que estamos fazendo agora é por causa da crian
Fui até o quarto de Bruno para ver Dayane. A pequena estava dormindo, com as bochechas coradas. Ela ainda não sabia que, no dia seguinte, não precisaria ir à escola, mas sim ao hospital.Enquanto outras crianças da sua idade iam para a escola ou para o parque de diversões, Dayane precisava frequentar o hospital com frequência, para sentir o cheiro de desinfetante, que ela tanto detestava.Seria mentira dizer que não doía no coração. Suspirando suavemente, me levantei e, ao me virar, percebi que a porta estava bloqueada por uma grande parede humana. Bruno estava encostado à porta, com os braços cruzados, imerso na sombra, sem saber há quanto tempo estava ali.Ele parecia ter se recomposto, pois o semblante já não trazia vestígios de desagrado. Fui até ele e, em voz baixa, perguntei:— A que horas amanhã?Bruno pensou por um momento antes de responder:— Precisamos sair às sete e meia da manhã.— Tão cedo...Bruno explicou:— Pela manhã, as ondas cerebrais de Dayane estão mais ativas, o
Mesmo que Bruno tenha me dado garantias, eu ainda não conseguia relaxar.Estava deitada ao lado de Dayane, mas não conseguia dormir. Resolvi, então, pegar o celular e procurar informações sobre autismo infantil, para tentar entender mais sobre a doença. Quando abri o aparelho, uma notícia apareceu imediatamente. O título chamou minha atenção, pois estava relacionado a Bruno.[Presidente do Grupo Henriques, suposto romance exposto!]Meu coração deu um salto, e, por um momento, uma risada nervosa surgiu em meus pensamentos. Não podia ser Gisele, não novamente.Apesar de pensar assim, meus dedos se contraíram involuntariamente, e, com um suspiro, toquei no título da notícia.A matéria ainda não tinha aparecido, mas logo uma foto de comparação apareceu na tela. A imagem estava dividida ao meio. À esquerda, uma foto de Bruno, três anos atrás, com um semblante de dor intensa, ajoelhado no saguão do aeroporto, visivelmente em sofrimento, com comprimidos espalhados ao seu redor. Ele parecia d
No hospital, Bruno Henrique aprumou-se em toda a sua altura, destacando-se na multidão.— Não é da sua conta, pode ir embora.Mal tinha me aproximado quando ouvi ele dizer isso, e o saco que eu segurava foi tirado das minhas mãos. A meia-irmã de Bruno foi levada ao hospital no meio da noite, e minha única função, como cunhada, era apenas trazer algumas roupas, nada além do que uma empregada faria. Estávamos casados há quatro anos, e eu já estava acostumada à frieza dele, então fui falar com o médico para entender a situação. O médico disse que o ânus da paciente estava rompido, causado pelo ato de fazer amor com um parceiro.Naquele instante, senti como se tivesse caído em um poço de gelo, o frio invadindo-me dos pés à cabeça.Que eu soubesse, Gisele Silva não tinha namorado, e quem a levou ao hospital naquela ocasião foi meu marido.O médico ajustou os óculos no nariz e me olhou com certa pena.— Os jovens hoje em dia gostam de buscar novas emoções e procurar por estímulos.— O qu
Minha visão caiu sobre a calça de Bruno, que estava jogada ao lado da cama, com o cós frouxo e distorcido formando um rosto choroso, e um canto de seu celular preto deslizando para fora, parecendo mais triste com as lágrimas.Na vida matrimonial, acreditava que tanto o amor quanto a privacidade eram importantes. Sempre demos espaço um ao outro e nunca mexemos no celular do parceiro.Mas hoje, depois de vasculhar até o escritório, pensei que também deveria olhar o celular dele.Peguei o celular e com pressa, mergulhei debaixo das cobertas até cobrir minha cabeça.Eu estava muito nervosa.Diziam que ninguém conseguia manter um sorriso no rosto após verificar o celular do parceiro. Eu tinha medo de encontrar provas de sua traição com Gisele ou de não encontrar nada e parecer que não confiava nele.Ao pensar no bracelete que ele gostava de usar todos os dias, meus dentes começaram a tremer.“Bruno, o que você está escondendo de mim? O que realmente importa para você?”Errei a senha várias
O celular de Bruno estava sobre o armário de relógios, preso entre duas caixas de relógio. A mão dele estava apoiada na superfície do armário, enquanto a outra se movia rapidamente abaixo dele.No chão, não muito longe dele, estava a toalha cinza que ele havia chutado. Mesmo que seu corpo estivesse parcialmente escondido, não era difícil adivinhar o que ele estava fazendo.Sons de intimidade logo preencheram o closet, carregados de sensualidade.Meus dedos dos pés se cravaram no chão de madeira, e uma sensação de frio percorreu meu corpo. Meu corpo inteiro ficou paralisado como se eu estivesse enfeitiçada.Ele logo pegou algumas folhas de papel toalha. Achei que ele tinha terminado, mas, para minha surpresa, ele começou tudo de novo.Só agora a dor real tomou conta de mim. Cada movimento do braço dele parecia cortar meu coração profundamente.Algumas fotos de Gisele eram suficientes para tirar meu marido da nossa cama. Ele preferia resolver suas necessidades sozinho, olhando suas fotos
Eu costumava gostar de assistir a novelas com enredos exagerados e, por isso, entendia bem quais tipos de mulheres podiam causar grande impacto nos homens. Algumas mulheres, quanto mais os homens não conseguiam ter elas, mais as desejavam.Os dois estavam destinados a não ficar juntos por razões mundanas; a família Henriques era um clã de grande prestígio e, mesmo que não tivessem laços de sangue, não ousariam desonrar o nome da família.Se Bruno realmente gostasse de Gisele, provavelmente acharia até o excremento dela cheiroso. Como eu poderia competir com ela?A cirurgia prosseguiu em silêncio e sem problemas. Após sair, sentei-me no segundo andar, aguardando ser chamada para pegar os remédios.O cheiro do desinfetante do hospital parecia limpar minha mente, e então, completamente lúcida, mandei uma mensagem para Bruno."Se você tivesse que escolher entre mim e Gisele, quem você escolheria?"Se ele dissesse que escolheria Gisele, eu recuaria e desejaria a felicidade deles.Eu sabia
Eu esfreguei a testa, as lágrimas surgiram, e ao levantar a cabeça percebi que não tinha batido na parede, mas sim no peito sólido de Bruno.— Nem com um bilhão de dona Rose, eu iria à falência.Bruno não gostava de demonstrar suas emoções, mas por um instante, peguei uma expressão de desprezo em seu rosto. Do que ele tinha para se orgulhar? Por mais rico que ele fosse, era eu quem pagava o salário da dona Rose.Agarrei a alça da mala e, sem erguer os olhos, passei por ele.Com uma expressão impassível, Bruno me impediu, chutando a base da minha mala. — Coloque as coisas da Sra. Henriques de volta. — Ele ordenou a dona Rose, que estava a poucos metros de distância.Dona Rose correu atrás da mala que deslizava rapidamente.Eu não culpei a dona Rose pela falta de solidariedade, nem senti vergonha por ser descoberta por Bruno naquele momento. A pessoa que deveria sentir vergonha naquela casa não era eu.— Não bloqueie meu caminho. — Essa foi a frase mais firme que eu já tinha dito a Bruno