Atualmente
Egor
O quarto de brinquedos está em um estado controlado de caos. Bonecas espalhadas no chão, carrinhos estacionados de qualquer jeito em uma pista de corrida improvisada, e risadas infantis enchendo o ambiente.
Todo mundo quer contribuir com algo, então há muito aqui.
Estou encostado no batente da porta, observando-a no meio da confusão.
Ela está sentada no tapete felpudo, a pequena irmã dela aninhada em seu colo enquanto um dos meus sobrinhos insiste para que ela veja seu "voador incrível" — um avião de brinquedo que ele lança no ar com toda a força de seus braços minúsculos.
— Uau! Esse foi alto! — ela exclama, sua voz cheia de entusiasmo.
O garoto sorri, orgulhoso, e corre para pegar o avião.
O jeito como ela lida com as crianças me prende. É uma faceta dela que eu não vi antes, no meio de toda bagunça. Ela é tão diferente da mulher que sempre parece pronta para me afastar, me matar... Aqui, Tasya é suave, paciente, quase maternal. É impossível não se impressionar.
Ela levanta os olhos e me vê ali, parado.
— Vai ficar só olhando ou vai ajudar?
Não acredito que fiquei como babá das crianças enquanto o meu irmão está em lua de mel.
— Estou avaliando sua performance — respondo, cruzando os braços com um sorriso preguiçoso.
— É mesmo? E o que achou até agora? — Tasya está pronta para zombar de mim.
— Melhor do que esperava — admito, entrando no quarto e me abaixando para pegar um dos carrinhos. — Mas ainda tem espaço para melhorias.
Minhas palavras são uma mentira descarada, sou o único que precisa melhorar a sua performance quando se trata de cuidar de crianças. Ela tem muitos anos de prática. Tenho sorte de Jasmine gostar de mim.
— Você tem muita coragem para criticar enquanto não faz nada.
— Ei, eu fui recrutado para garantir que ninguém se machuque. E, até agora, todos estão inteiros. Então, tecnicamente, estou fazendo minha parte.
— Se acha que isso é suficiente, você claramente não entende nada de crianças — zomba. Não está irritada de verdade comigo.
Antes que eu possa retrucar, meu sobrinho se aproxima, puxando minha mão.
— Você pode montar o castelo comigo?
Foi incrível descobrir que meu irmão tinha um filho tão crescido.
Ele é tão inteligente.
— Claro — respondo, pegando as peças espalhadas pelo chão. Enquanto monto o castelo, sinto o olhar dela sobre mim, e quando levanto os olhos, vejo um sorriso sutil nos lábios dela.
— Que foi? — pergunto, desconfiado.
— Nada, só é engraçado ver você nesse pape — fala, com sua zombaria explicita.
— Qual papel?
— O de babá — pontua.
— Ah, é? E você acha que eu não levo jeito? — Devo dizer que isso é causado por minhas próprias implicâncias contra ela?
— Eu acho que você está se saindo melhor do que eu esperava — ela admite, sua voz carregada de uma provocação suave.
— Então estamos quites, porque você também me surpreendeu.
— Com o quê? — indaga com curiosidade.
— Com isso — digo, gesticulando para o quarto, as crianças, ela. — Você é... boa com eles. Nunca pensei que veria esse lado seu, Taysa. Sabe, a primeira vez que nos vimos foi em um lugar...
Paro de falar, dado que o olhar que me lança avisa-me de que serei engolido.
— Todo mundo tem suas surpresas — responde Tasya, mas há um leve rubor em suas bochechas que me faz sorrir.
Antes que eu possa aprofundar o assunto, a irmã dela começa a bocejar, sinalizando que o dia cheio está começando a cobrar seu preço.
— Hora de dormir? — pergunto, me levantando.
— Sim, mas boa sorte convencendo todos eles disso — arrazoa com um suspiro.
— Desafio aceito — afianço, sorrindo.
E enquanto organizamos o caos, trocando provocações e risadas, não consigo deixar de pensar que, por mais complicada que ela seja, momentos como esse fazem valer cada esforço. Assim como sei que eles também são os únicos em que me deixa ficar tão perto dela.
Tasya— Você pode parar e me ouvir por um segundo? — Gostaria de o odiar tanto quanto eu quero, mas aqui estou eu, parando para escutar o que tem a dizer, mesmo que não devesse. Não percebe que o que criou entre nós não pode continuar existindo?— Egor, creio que já deixei claro que não, não posso, você também não quer o que tenho — digo e segura em meu braço, me mantém próximo a ele. Não aperta, apenas quer ter alguma segurança quanto a me ter no lugar onde poderei ouvir tudo que diz. — Porque está insistindo tanto nisso, nós transamos algumas vezes e você ficou todo emocionado.— Temos transado por vários meses, Tasya e eu acredito que você não saiu, por aí procurando outra pessoa com quem foder, assim como eu não pude. — Rio, de verdade, pois me parece inocente demais proferindo palavras como essa, mas são as máscaras mais grossas que escondem os piores monstros, sei bem disso.E pode ser que ele não seja um deles, na verdade, as chances são muito baixas, mas não quero me arriscar
AntesTasya— Seu pai continua sendo um babaca? — pergunta minha colega após ver o homem trôpego saindo de perto de mim. Não bastasse o inferno que é estar na mesma casa que ele, não tenho alívio nem mesmo no meu trabalho.— Trabalho como uma cachorra e ele continua criando mais dívidas que no final acabam no meu nome — respondo e ela bate em meu ombro, sentindo pena de mim por ter que viver com um sujeito como ele.Mas, considerando o quanto tenho que gastar durante o mês só para pagar a todos os agiotas a quem deve, não tenho como me mudar para um lugar onde não vá me encontrar nunca mais.— Você vai conseguir sair dessa — fala, mas é apenas uma esperança perdida por bons longos anos.Já estou quase nos vinte e quatro, mas desde os quinze venho vivendo para pagar tudo que criou de rombos com o seu vício alcoólico e em jogos de azar.— Pense que pelo menos a casa vai ser sua quando terminar de pagar e que, se o expulsar, não terá ninguém te criticando.— Duvido que esse seja um ponto
TasyaEmpurro a porta estranhando o fato dela estar entre aberta. Tenho certeza de que a deixei fechada. Além disso, meu pai certamente está em algum bar qualquer enchendo a cara com o dinheiro que conseguiu com o seu trabalho ontem.É tudo que ele pode fazer quando ninguém confiaria em uma pessoa como ele em um serviço melhor. Faz bicos aqui e ali que não pagam muito, mas são os únicos trabalhos que pode fazer, ainda que feda como um gambá bêbado.— Pai, você está em casa? — berro, esperando que, se não for ele, que o indivíduo que arrombou a casa dê o seu jeito de correr antes que eu entre.Olho para os cantos, mas não há literalmente nada. Os poucos móveis de valor, meu pai fez questão de vender na intenção de conseguir algum dinheiro.Se conseguiu, eu não vi a cor do dinheiro. Tudo que como tem que ser comprado no dia e, com o passar dos anos, aprendi que não poderia deixar o dinheiro em casa, pois ele a reviraria até encontrar, depois o gastaria sem pensar em como me mato diariam
Tasya— Uau, sempre fico com medo quando você me diz essas coisas — fala, agarrando o seu avental com mais força.Se diz que está com medo, o que devo sentir quando sou a pessoa devendo dinheiro a eles? É bem claro que é com o que se importam e só, mas e se deixarem de pensar como empreendedores e me foderem?— Enquanto eu estiver pagando-os, eles não podem me ferrar — digo e ela concorda, mas não é simples assim.Não estamos falando de uma dívida em um banco. Estou falando de agiotas que não se importam com a vida alheia, apenas querem dinheiro.Se um dia acordarem com o rabo coçando, podem apenas desistir de receber por parcelas e me obrigar a pagar tudo que devo de uma vez, sendo que não acredito que quitaria o que devo nem mesmo vendendo alguns órgãos, isso é quão fodida eu estou.— Você não falou com alguém dentro da lei ou sei lá? Não deveria ser responsável por todas as merdas que o seu pai faz — profere, mas parece não perceber que eu já tentei correr para todos os lados e de
TasyaCaminho em passos apressados, agarro a minha mochila com força mantendo o spray de pimenta pronto para atingir qualquer um que entre em meu trajeto. O som de passos atrás de mim faz com que eu continue andando apressadamente.Tenho certeza de que está me seguindo. Já fiz diversas mudanças em meu percurso, mesmo assim seus passos continuam a soar em minhas costas.Passei pelas principais ruas e pontos de ônibus, porém, permaneceu me seguindo. Se isto não é uma prova de que sou o seu alvo, devo estar enlouquecendo de vez.O frio adentrando por minha luva gela todo o meu corpo junto ao som de seus passos. É como um ritmo macabro para que eu tenha cada vez mais medo me corroendo.Se eu parar em qualquer lugar agora deve ser ainda pior.Ficará mais tarde e haverá ainda menos transeuntes no caminho que preciso fazer para chegar em casa. Vendo minha respiração congelar no ar, adianto-me o máximo que minhas pernas conseguem sem que comece a correr de verdade. Você consegue Tasya. Só mai
TasyaAbro meus olhos, sentindo que meu corpo está completamente dolorido. Pareço ter levado uma grande surra enquanto dormia. Tudo que me lembro é que estava indo para o trabalho na companhia da minha colega, mas em certo momento alguma coisa aconteceu e eu me vi indo em direção ao chão. Estava bebendo um refrigerante e o que houve?— Oh, está acordando — me diz o sujeito e, com os olhos arregalados, vejo com desprazer que Yaroslyv segura em minha coxa com força pelo modo como os seus dedos entram em minha carne para pressioná-la, mas não sinto o seu toque como deveria.Assusto-me com a possibilidade de não poder mover minhas pernas.Todo meu cérebro começa a entrar em pânico com a probabilidade quando ele é a pessoa estando aqui do meu lado. Forço minha mente, mentalizo os músculos, querendo saber se estou mesmo paralisada ou se é o medo me impedindo.— Sabia que a sua expressão seria incrível, mas não precisa se preocupar, não fiz nada com você. Quando eu entrar em você, quero que
TasyaQuando adentro na sala, me assusto no momento em que vejo um bebê em um cesto enrolado de uma forma estranha com uma fralda que não está mais branca como fora um dia.— Se adiante, vadia — manda Yaroslyv, efetuando um sinal para que o sujeito nos deixe a sós. — Faz alguns dias que não te vejo, mas você continua muito bonita.— O que quer de mim agora? — pergunto, sentindo os meus ossos tremerem quando os seus olhos me encaram, agarrando a minha alma em suas mãos. A possui desde o dia em que me comprou do meu pai. Pode fazer o que bem entender, no momento em que desejar.— Você sabe que eu não costumo ter coração mole, mas o seu pai apareceu aqui de repente e eu… — Sinto o meu lábio tremer de raiva instantaneamente, junto aos punhos se fechando com força. — Ei, não chore, se chorar, é ela quem vai sofrer — diz, apontando para o bebê silencioso. — Como disse, seu pai veio aqui e aparentemente alguém foi burra de engravidar dele.— O quê? — Não consigo conter o questionamento. O qu
TasyaCom a chegada de Jasmine, passei a ouvir uma centena de comentários diferentes.“Não acredito que ela esteja cuidando de uma criança aqui.”Sim, claro que tenho que cuidar dela aqui, aonde mais eu poderia ir quando eles têm a minha vida em suas mãos? Nunca estive procurando por brigas para evitar que me visassem e agora que a tenho, tento ser ainda mais invisível.“Como um pai pode vender as duas filhas?” Se questionam, e eu também gostaria de saber que tipo de homem tem um caráter tão podre para não se importar de fazer uma coisa tão fodida duas vezes.Não cogitou a possibilidade de não me entregarem a menina? Porque Yaroslyv podia tê-la usado para uma coisa completamente diferente se não tivesse concluído que ela poderia ser uma algema mais pesada em meus pulsos.N&at