02. Planos futuros - Parte 2

Tasya

Empurro a porta estranhando o fato dela estar entre aberta. Tenho certeza de que a deixei fechada. Além disso, meu pai certamente está em algum bar qualquer enchendo a cara com o dinheiro que conseguiu com o seu trabalho ontem.

É tudo que ele pode fazer quando ninguém confiaria em uma pessoa como ele em um serviço melhor. Faz bicos aqui e ali que não pagam muito, mas são os únicos trabalhos que pode fazer, ainda que feda como um gambá bêbado.

— Pai, você está em casa? — berro, esperando que, se não for ele, que o indivíduo que arrombou a casa dê o seu jeito de correr antes que eu entre.

Olho para os cantos, mas não há literalmente nada. Os poucos móveis de valor, meu pai fez questão de vender na intenção de conseguir algum dinheiro.

Se conseguiu, eu não vi a cor do dinheiro. Tudo que como tem que ser comprado no dia e, com o passar dos anos, aprendi que não poderia deixar o dinheiro em casa, pois ele a reviraria até encontrar, depois o gastaria sem pensar em como me mato diariamente para conseguir o que comer.

— Pai, estou entrando — anuncio mais uma vez.

Agarro um taco de beisebol que deixo atrás da porta para o caso de ser necessário me defender. Não dá para saber o que pode acontecer, mesmo que ele nunca tenha sido violento.

Não consigo confiar que as suas atitudes não podem mudar outra vez.

Meu pai não era um bêbado que não faz nada da vida quando minha mãe o conheceu, tinha uma vida, seus negócios e conseguia manter uma família ou quase isso, até que as coisas mudaram ao ponto da minha mãe preferir desaparecer ao invés de continuar do lado dele afundando.

E eu acho a sua decisão incrível, só cometeu o deslize de me deixar.

Sendo a única que poderia fazer alguma coisa, eu tive que assumir tudo o que estava ao meu alcance, independentemente de como isso acabaria com a minha vida.

Foi desse jeito que deixei a escola, amigos e o que mais poderia ser normal para começar a minha vida adulta cuidando dele, pois era assim que me manteria viva.

No cômodo, com a mochila nas costas e os dedos apertando o taco de beisebol com força, senti o metal esfriar contra minhas falanges enquanto caminho cuidadosamente.

Devido ao pequeno espaço em que são separados a sala e a cozinha, consigo ver que a reviraram com tudo que podiam.

Lamento o micro-ondas velho que era a minha salvação, pois não está mais ali por mim. Choro pelos poucos pratos quebrados sobre o piso. E amaldiçoo qualquer que seja o babaca que acreditou que conseguiria alguma coisa de valor após invadir uma casa como essa.

Seu estado é deplorável desde a entrada, como imaginaram que haveria algo valioso dentro dela?

Baixo o taco e ando em direção aos outros dois cômodos restantes. Dois quartos. Um meu e outro do meu pai. No caminho, vejo que o banheiro foi completamente revirado também.

O quarto do meu pai está completamente bagunçado, com a cama lançada de lado para não ser meio de esconder alguma coisa. Porém, o fato de o colchão estar rasgado me chama a atenção. Por que o rasgariam? O que pensaram que encontrariam?

— Que grande merda — xingo vendo que no meu quarto a situação não está diferente, que eu não tenho nada inteiro que possa ser colocado no lugar de novo.

— Tasya — ergo o taco, me viro na direção da voz dele. Os olhos fundos, a barba que não é feita há séculos, o punho segurando uma garrafa de tequila como se ela fosse um manjar me enoja. — O que houve? Você está bem?

— O que acha? Viu o que fizeram? Quebraram a porra toda e por que acredita que eles fizeram isso? Certeza que meus clientes não viriam aqui para causar essa bagunça. — Não consigo conter toda a raiva que sinto por ver que o mínimo que tínhamos acabou por ser destruído e eu não tenho a menor condição de as comprar novamente.

Não posso nem mesmo comprar calcinhas novas, quem dirá móveis para casa.

— Tasya, eu não… — Baixa a mão ao ver que encaro a garrafa de álcool que tem com ele.

A olha também, mas não a larga, e essa é a questão, nunca tenta se livrar do seu vício, somente se agarra mais a ele, independentemente de como tento o ajudar, mesmo que tenha me matado para o colocar em uma clínica de reabilitação.

Deve ter sido o dinheiro que gastei de modo mais idiota.

— Eu não quero ouvir nada, pai, por que nada bom sai da sua boca — digo e ele me olha com uma expressão triste, mas do que adianta se sentir para baixo se não faz nada para impedir que o seu comportamento continue piorando? Está sempre nadando na direção de toda essa merda. — Vou sair para comprar uma fechadura nova para porta — aviso, passo por ele, mas meu dia ainda tinha como piorar. Sempre tem, ainda que acredite que está no seu pior momento as coisas agravam antes que note.

— A nova decoração está um pouco ruim, não acha? — fala o sujeito alto com uma cicatriz imensa em sua garganta que desce até o peito, pelo menos é o que consigo ver pelos botões abertos de sua blusa.

— Está, mas a companhia é bem bonita — declara o outro, cruza os braços atrás das costas. Yaroslyv está sempre dando em cima de mim. — Fico feliz em vê-la de novo Tasya.

— Ainda não é o dia do pagamento — digo voltando a apertar o taco entre meus dedos, porém, a ideia de atacar corre da minha mente com facilidade, pois eu não poderia combater os dois e sair viva. — Tenho mais uma semana antes de precisar pagar vocês.

— Claro, mas está falando da sua dívida antiga — diz, referindo-se à dívida como minha, ainda que eu nunca os tenha visto antes de meu pai os colocar em nossas vidas. Não tenho ideia de onde fica o seu local de trabalho, apenas sei que, se não pagar, não fico viva. — Seu pai esteve em nosso bar ontem, brincou com algumas garotas, jogou um pouco.

— Quanto ele ficou devendo? — pergunto e ele sorri, animado por saber que pode conseguir todo o dinheiro que precisa comigo, independente de como o meu pai agir. Porque entende que prezo pela minha vida, e para manter a minha é necessário custear a dele.

Quando o indivíduo menor, com os seus cabelos escuros sendo movidos pelos dedos esguios, se adianta na minha direção, vejo meus dedos perderem a cor por apertar o taco com muito mais convicção.

Nunca vi alguém tão podre com um rosto tão bonito. Tem olhos escuros como carvalho e um sorriso animalesco que avisa quando você se torna a sua presa.

— Ah, Tasya, seria tão mais fácil se você aceitasse a nossa proposta, ficaríamos felizes em quitar a sua dívida — me diz Yaroslyv, continua dando passos na minha direção, deixa que uma mão pouse no meu ombro.

Me olha como um ser diabólico quando me movo para correr de seu toque. Verifica a distância que tomei e volta a rir.

— Já estou pagando, não é preciso aceitar qualquer oferta — retruco, movo a minha mochila para a frente do corpo, pegando o envelope onde recebi o meu pagamento semanal das entregas de pizza que faço após o expediente do meu trabalho fixo. — Quanto ele ficou devendo?

— Gosto muito de como ela sempre se dispõe a resolver os problemas — sinaliza Vadim, cruzando seus braços monstruosamente cheios de músculos ao me encarar.

Agarra o dinheiro que lhe entrego depois que disse o valor e sorri, avaliando o modo como o seu comparsa se lambe por me ter em sua mira.

Escroto do caralho.

— Já paguei, podem sair da minha casa agora? — pergunto e Yaroslyv volta a se mover para chegar perto de mim após olhar para o meu pai, que surgiu como uma sombra atrás de mim, somente para verificar se é hoje que permitirei que tirem a sua vida.

E gostaria que fosse possível sem que eu acabasse ainda mais fodida.

— Um dia você vai aceitar a nossa oferta, Tasya, nesse momento, não vou deixar que corra de mim de novo — avisa-me, segurando em uma mecha do meu cabelo, a puxando para perto de sua narina para fungar com muito prazer.

Estou de novo me afastando, contudo, dessa vez é como estar correndo uma maratona que sei que não ganharei no fim. Assim como criar todos os planos que sei que não posso realizar em minha mente na esperança de ter dias melhores.

Continue lendo no Buenovela
Digitalize o código para baixar o App

Capítulos relacionados

Último capítulo

Digitalize o código para ler no App