Antes
Tasya
— Seu pai continua sendo um babaca? — pergunta minha colega após ver o homem trôpego saindo de perto de mim. Não bastasse o inferno que é estar na mesma casa que ele, não tenho alívio nem mesmo no meu trabalho.
— Trabalho como uma cachorra e ele continua criando mais dívidas que no final acabam no meu nome — respondo e ela b**e em meu ombro, sentindo pena de mim por ter que viver com um sujeito como ele.
Mas, considerando o quanto tenho que gastar durante o mês só para pagar a todos os agiotas a quem deve, não tenho como me mudar para um lugar onde não vá me encontrar nunca mais.
— Você vai conseguir sair dessa — fala, mas é apenas uma esperança perdida por bons longos anos.
Já estou quase nos vinte e quatro, mas desde os quinze venho vivendo para pagar tudo que criou de rombos com o seu vício alcoólico e em jogos de azar.
— Pense que pelo menos a casa vai ser sua quando terminar de pagar e que, se o expulsar, não terá ninguém te criticando.
— Duvido que esse seja um ponto tão positivo assim — digo. Deixo escapar sabendo que ela está apenas tentando fazer com que a minha vida não pareça tão fodida, mas é assim que as coisas são. Tenho perspectivas de que o meu futuro pode ser bom, mas não enquanto o tiver me puxando para o chão com os seus problemas.
Se eu conseguisse dinheiro o bastante para ir embora...
Se não precisasse olhar para trás a cada vez que saio do trabalho...
Minha vida poderia ser muito mais honrada.
Ele se jogou na merda e me arrastou com ele.
— Por enquanto, vamos pensar em quantas mesas temos que limpar hoje — discorre por ver que uma mãe e seus dois filhos passam um perrengue para manter as coisas organizadas e menos sujas.
Um dos meninos é uma fofura, pois se esforça para manter o hambúrguer inteiro ao apertar para dar uma mordida, mas o que consegue é o molho escorrendo por entre seus dedos.
— Somos duas mulheres precisando de todo o dinheiro que der.
Claro, não poderia dizer que ela não tem problemas, mas estou no fundo do poço enquanto alguém continua cavando para baixo para que eu continue caindo sem parar, sem chance de me agarrar às paredes para conseguir me reerguer.
— Para de olhar para eles como uma babona, faz meu útero coçar — reclama, me dá um tapa no traseiro e se afasta para atender um casal que entra na lanchonete.
Puxo o ar agradecendo por conseguir o trabalho em uma boa franquia de alimentos fast food, quando estou incapacitada de melhorar minhas habilidades acadêmicas.
— Mande o seu namorado coçar se está precisando — replico e ela começa a rir. — Pego os dois ali. — Aponto para os dois homens entrando ao procurarem por uma mesa onde sentar e me adianto em sua direção.
“Que não sejam babacas”, é o que peço mentalmente a cada passo que dou para mais perto, pois já perdi as contas de quantas vezes passei por problemas devido a clientes que podem vir aqui e pedir mais do que a comida. Acreditam que estou no menu somente porque tenho que lhes mostrar um sorriso bonito.
Malditas regras da empresa, sem elas poderia correr de algumas implicações causadas por isso, mas dizem que ninguém quer comprar de alguém que mostra uma expressão azeda, por esse motivo me obrigo a colocar uma máscara doce para atender cada um deles.
Mas quando será o fim desse túnel obscuro na minha vida?
TasyaEmpurro a porta estranhando o fato dela estar entre aberta. Tenho certeza de que a deixei fechada. Além disso, meu pai certamente está em algum bar qualquer enchendo a cara com o dinheiro que conseguiu com o seu trabalho ontem.É tudo que ele pode fazer quando ninguém confiaria em uma pessoa como ele em um serviço melhor. Faz bicos aqui e ali que não pagam muito, mas são os únicos trabalhos que pode fazer, ainda que feda como um gambá bêbado.— Pai, você está em casa? — berro, esperando que, se não for ele, que o indivíduo que arrombou a casa dê o seu jeito de correr antes que eu entre.Olho para os cantos, mas não há literalmente nada. Os poucos móveis de valor, meu pai fez questão de vender na intenção de conseguir algum dinheiro.Se conseguiu, eu não vi a cor do dinheiro. Tudo que como tem que ser comprado no dia e, com o passar dos anos, aprendi que não poderia deixar o dinheiro em casa, pois ele a reviraria até encontrar, depois o gastaria sem pensar em como me mato diariam
Tasya— Uau, sempre fico com medo quando você me diz essas coisas — fala, agarrando o seu avental com mais força.Se diz que está com medo, o que devo sentir quando sou a pessoa devendo dinheiro a eles? É bem claro que é com o que se importam e só, mas e se deixarem de pensar como empreendedores e me foderem?— Enquanto eu estiver pagando-os, eles não podem me ferrar — digo e ela concorda, mas não é simples assim.Não estamos falando de uma dívida em um banco. Estou falando de agiotas que não se importam com a vida alheia, apenas querem dinheiro.Se um dia acordarem com o rabo coçando, podem apenas desistir de receber por parcelas e me obrigar a pagar tudo que devo de uma vez, sendo que não acredito que quitaria o que devo nem mesmo vendendo alguns órgãos, isso é quão fodida eu estou.— Você não falou com alguém dentro da lei ou sei lá? Não deveria ser responsável por todas as merdas que o seu pai faz — profere, mas parece não perceber que eu já tentei correr para todos os lados e de
TasyaCaminho em passos apressados, agarro a minha mochila com força mantendo o spray de pimenta pronto para atingir qualquer um que entre em meu trajeto. O som de passos atrás de mim faz com que eu continue andando apressadamente.Tenho certeza de que está me seguindo. Já fiz diversas mudanças em meu percurso, mesmo assim seus passos continuam a soar em minhas costas.Passei pelas principais ruas e pontos de ônibus, porém, permaneceu me seguindo. Se isto não é uma prova de que sou o seu alvo, devo estar enlouquecendo de vez.O frio adentrando por minha luva gela todo o meu corpo junto ao som de seus passos. É como um ritmo macabro para que eu tenha cada vez mais medo me corroendo.Se eu parar em qualquer lugar agora deve ser ainda pior.Ficará mais tarde e haverá ainda menos transeuntes no caminho que preciso fazer para chegar em casa. Vendo minha respiração congelar no ar, adianto-me o máximo que minhas pernas conseguem sem que comece a correr de verdade. Você consegue Tasya. Só mai
TasyaAbro meus olhos, sentindo que meu corpo está completamente dolorido. Pareço ter levado uma grande surra enquanto dormia. Tudo que me lembro é que estava indo para o trabalho na companhia da minha colega, mas em certo momento alguma coisa aconteceu e eu me vi indo em direção ao chão. Estava bebendo um refrigerante e o que houve?— Oh, está acordando — me diz o sujeito e, com os olhos arregalados, vejo com desprazer que Yaroslyv segura em minha coxa com força pelo modo como os seus dedos entram em minha carne para pressioná-la, mas não sinto o seu toque como deveria.Assusto-me com a possibilidade de não poder mover minhas pernas.Todo meu cérebro começa a entrar em pânico com a probabilidade quando ele é a pessoa estando aqui do meu lado. Forço minha mente, mentalizo os músculos, querendo saber se estou mesmo paralisada ou se é o medo me impedindo.— Sabia que a sua expressão seria incrível, mas não precisa se preocupar, não fiz nada com você. Quando eu entrar em você, quero que
TasyaQuando adentro na sala, me assusto no momento em que vejo um bebê em um cesto enrolado de uma forma estranha com uma fralda que não está mais branca como fora um dia.— Se adiante, vadia — manda Yaroslyv, efetuando um sinal para que o sujeito nos deixe a sós. — Faz alguns dias que não te vejo, mas você continua muito bonita.— O que quer de mim agora? — pergunto, sentindo os meus ossos tremerem quando os seus olhos me encaram, agarrando a minha alma em suas mãos. A possui desde o dia em que me comprou do meu pai. Pode fazer o que bem entender, no momento em que desejar.— Você sabe que eu não costumo ter coração mole, mas o seu pai apareceu aqui de repente e eu… — Sinto o meu lábio tremer de raiva instantaneamente, junto aos punhos se fechando com força. — Ei, não chore, se chorar, é ela quem vai sofrer — diz, apontando para o bebê silencioso. — Como disse, seu pai veio aqui e aparentemente alguém foi burra de engravidar dele.— O quê? — Não consigo conter o questionamento. O qu
TasyaCom a chegada de Jasmine, passei a ouvir uma centena de comentários diferentes.“Não acredito que ela esteja cuidando de uma criança aqui.”Sim, claro que tenho que cuidar dela aqui, aonde mais eu poderia ir quando eles têm a minha vida em suas mãos? Nunca estive procurando por brigas para evitar que me visassem e agora que a tenho, tento ser ainda mais invisível.“Como um pai pode vender as duas filhas?” Se questionam, e eu também gostaria de saber que tipo de homem tem um caráter tão podre para não se importar de fazer uma coisa tão fodida duas vezes.Não cogitou a possibilidade de não me entregarem a menina? Porque Yaroslyv podia tê-la usado para uma coisa completamente diferente se não tivesse concluído que ela poderia ser uma algema mais pesada em meus pulsos.N&at
TasyaEla procura por algo que espero que não encontre, imagino que o melhor seja apenas sair daqui antes que tudo se complique, porque até mesmo eu posso ser acusada de estar em conluio com seu plano insano.Já sou massacrada pela quantidade de clientes que recebo, se esse tipo de fofoca se espalhar acabarei sendo enterrada viva para sufocar até que a morte me alcance enquanto sofro por saber que o bebê em meus braços pode ter um futuro ainda pior.— Entendo por que guarda suas lágrimas, porque tem suportado tudo sem deixar que eles vejam o quão quebrada está por dentro, compreendo de verdade — explicita. Me sinto como uma pessoa sendo ludibriada pelos seus olhos bonitos, dado que experimento as suas palavras como se fossem reais demais para não acreditar no que me diz. — Mas é a única que pode criar o caminho para longe do que te sufoca.
TasyaPor que estou cogitando fazer o que aquela mulher me disse?Como posso acreditar nela quando nem teve a decência de me dizer seu nome depois de pedir para eu matar alguém?Pessoas como ela tendem a ser desse jeito? E por que estou pensando nisso se não planejo levar a situação adiante? É só esquecer.Posso continuar com o meu planejamento anterior. Em alguns anos estarei livre e poderei levar minha irmã para o mais longe possível de qualquer coisa semelhante ao que vivi.Por que acreditaria em uma estranha que não tem motivos para se preocupar com a minha vida? Aprendi da pior forma possível que nem mesmo a pessoa com o sangue igual ao meu correndo em suas veias não se interessou pelo que aconteceria a mim.Pode estar apenas querendo foder comigo após me fazer o matar, tiraria um desgraçado do seu caminho e ninguém s