Tasya
Caminho em passos apressados, agarro a minha mochila com força mantendo o spray de pimenta pronto para atingir qualquer um que entre em meu trajeto. O som de passos atrás de mim faz com que eu continue andando apressadamente.
Tenho certeza de que está me seguindo. Já fiz diversas mudanças em meu percurso, mesmo assim seus passos continuam a soar em minhas costas.
Passei pelas principais ruas e pontos de ônibus, porém, permaneceu me seguindo. Se isto não é uma prova de que sou o seu alvo, devo estar enlouquecendo de vez.
O frio adentrando por minha luva gela todo o meu corpo junto ao som de seus passos. É como um ritmo macabro para que eu tenha cada vez mais medo me corroendo.
Se eu parar em qualquer lugar agora deve ser ainda pior.
Ficará mais tarde e haverá ainda menos transeuntes no caminho que preciso fazer para chegar em casa. Vendo minha respiração congelar no ar, adianto-me o máximo que minhas pernas conseguem sem que comece a correr de verdade. Você consegue Tasya. Só mais duas ruas e você pode ficar livre desse medo desgraçado.
Meu coração sente algum alívio quando percebo que tem um casal indo na mesma direção que eu. De novo forço minhas pernas em seu limite para os acompanhar e é bem claro que ficam assustados por minha entrada abrupta no mundinho que vinham fazendo para si próprios.
— Sinto muito — digo, caminho do lado deles. — Está um pouco tarde, não é? — Espero que entendam o que estou tentando dizer sem usar as palavras necessárias. Também não quero os colocar em risco, mas duvido que um stalker faria alguma coisa na presença deles.
Não estou devendo a ninguém com atraso. Tenho certeza de sempre pagar exatamente para que essas coisas não aconteçam, desse modo, acredito que seja um tipo de problema diferente. Quantos mais surgirão em minha vida é o que não consigo saber, muito menos se irei os suportar.
Entrar em casa foi de um alívio imenso, porque sabia que seria mais difícil ele se atrever a vir aqui, mas minha mente não deixa de racionalizar como pode ter sido por pouco, como eu poderia me foder se não encontrasse alguém vindo na mesma direção que eu.
Poderia ser a pessoa que invadiu a casa antes?
— Tasya, você chegou — fala o meu pai, se pendura no beiral da entrada que separa a cozinha e a sala. É bem claro que a sua embriaguez não pode ser contida pelo tempo dormido.
— Sim, cheguei — digo e ele dá um pequeno sopapo para correr em direção à cozinha, possivelmente para cuspir tudo que tem no estômago.
Às vezes, assim que come, tem que correr para vomitar. Seu corpo já entendeu que ele só sabe botar álcool dentro dele. Quando é outra coisa, rejeita.
Ando em direção à cozinha, retirando o pacote pardo de dentro da minha bolsa, colocando ali os hambúrgueres que pode comer mais tarde se conseguir.
Agora tudo que preciso é de um banho e da minha cama. Alguns minutos dormindo vão me fazer bem. Não posso pensar no sujeito que estava me seguindo, não quando preciso sair de casa daqui a pouco.
Me pergunto se o garoto com qual divido os turnos, passaria aqui para me buscar me entregando o carro de entrega, seria mais fácil do que ter que pegar um ônibus para chegar lá e eu poderia deixá-lo em sua casa.
Apanho meu celular, busco pelo seu contato, esperando que se compadeça com a minha situação e salve a minha vida, ainda que ela não o interesse. Continuo ouvindo o som assustador do meu pai colocando todos os seus bofes para fora antes de começar a tossir sem parar.
Tenho quase certeza de que não tem muitos órgãos que continuem saudáveis dentro dele depois de passar tantos anos abusando do álcool. Agora com a péssima situação para se alimentar, deve ser ainda pior.
Mas por que estou pensando nisso?
Preciso da minha cama.
***
— Hum, acho que você combinaria com a profissão, te vejo olhando para os pivetes, seria uma ótima pediatra, eu acho — fala minha colega ao sorrir.
Estamos falando de uma situação hipotética, pois que tempo eu teria para estudar? Muito menos o suficiente para receber uma bolsa. É impossível para mim pensar que pagar uma faculdade de medicina será viável algum dia.
— Poderíamos compartilhar cartões um dia, ainda que ache que seria difícil para mim te ajudar com alguma coisa.
— Você vai ser uma grande professora um dia, não precisa se preocupar — Tendo algumas situações que a favorecem, acabou conseguindo entrar na faculdade e eu fico feliz por ela, quer dizer que tem melhores chances de deixar esse emprego antes de mim.
— Ei, não me olhe assim, você também pode conseguir o que quer — diz, b**e em meu ombro para me incentivar, sem saber que estávamos muito perto de descobrir que não, eu não poderia.
A minha vida iria caminhar mais uma vez por um caminho que não escolhi somente porque outra pessoa tomou as piores decisões que podia e sem nem saber acabei sendo suja pelos seus erros.
— Espero um dia poder vir aqui só para xingar o nosso chefe — falo e começa a rir, pois também desejaria o mesmo, apenas é menos literal na hora de ponderar sobre o que fazer para se vingar.
Já eu tenho uma imaginação muito fértil, apenas não tenho as armas que facilitariam pôr o que tenho em mente em prática, porém, com certeza, seria assustador para alguém.
Não dizem que a cabeça de uma pessoa pode ser um mundo particular? O meu deve ser mais sombrio do que a maioria.
— Hoje você vai direto para o seu outro trabalho, não é? — me pergunta e eu concordo.
O rapaz que fica até que eu chegue precisará sair e eu fico feliz de ter a chance de ganhar algumas horas extras, elas podem ser a minha oportunidade de comer algo diferente durante a semana.
— Marquei com alguns amigos para que nos encontrássemos lá, quem sabe não tenha como dar a comissão para você.
Não creio que seja possível, mas fico feliz de ela ter pensado em mim pelo menos um pouco. É uma pessoa muito agradável de conviver e creio que por nossos humores serem semelhantes às coisas se tornam mais fáceis.
— Se você não se importar de pegar alguns ônibus comigo ou de caminhar um bocado. — Ela começa a rir dizendo que apenas parece ser fresca, mas que usa de transporte público como todo mundo e que entende que é o mais em conta para mim. — Em quantos vocês vão? — pergunto, aproveito esse momento para criar alguma conversa que me faça deixar de pensar em quanto a minha vida fodida tem muito mais chances de piorar do que de melhorar.
Surpresas para mim no geral são motivos para que eu me assuste.
A única alegria é receber o salário em dia e ter como pagar a quem devo.
Empolgada, fala que pode ter um amigo da faculdade que amaria me conhecer, desanda no assunto e continua sorrindo vez ou outra me verificando para ter certeza de que acompanho o seu raciocínio.
Não importa que eu diga que não quero me envolver com homem nenhum, que já estou de saco cheio para uma vida inteira do sexo oposto devido à minha péssima relação paterna, mas ela ainda discorreria sobre os prazeres de ter um bom companheiro.
Seu namorado deve ficar feliz de ter alguém como ela ao seu lado.
Mas o que eu poderia fazer por um companheiro?
TasyaAbro meus olhos, sentindo que meu corpo está completamente dolorido. Pareço ter levado uma grande surra enquanto dormia. Tudo que me lembro é que estava indo para o trabalho na companhia da minha colega, mas em certo momento alguma coisa aconteceu e eu me vi indo em direção ao chão. Estava bebendo um refrigerante e o que houve?— Oh, está acordando — me diz o sujeito e, com os olhos arregalados, vejo com desprazer que Yaroslyv segura em minha coxa com força pelo modo como os seus dedos entram em minha carne para pressioná-la, mas não sinto o seu toque como deveria.Assusto-me com a possibilidade de não poder mover minhas pernas.Todo meu cérebro começa a entrar em pânico com a probabilidade quando ele é a pessoa estando aqui do meu lado. Forço minha mente, mentalizo os músculos, querendo saber se estou mesmo paralisada ou se é o medo me impedindo.— Sabia que a sua expressão seria incrível, mas não precisa se preocupar, não fiz nada com você. Quando eu entrar em você, quero que
TasyaQuando adentro na sala, me assusto no momento em que vejo um bebê em um cesto enrolado de uma forma estranha com uma fralda que não está mais branca como fora um dia.— Se adiante, vadia — manda Yaroslyv, efetuando um sinal para que o sujeito nos deixe a sós. — Faz alguns dias que não te vejo, mas você continua muito bonita.— O que quer de mim agora? — pergunto, sentindo os meus ossos tremerem quando os seus olhos me encaram, agarrando a minha alma em suas mãos. A possui desde o dia em que me comprou do meu pai. Pode fazer o que bem entender, no momento em que desejar.— Você sabe que eu não costumo ter coração mole, mas o seu pai apareceu aqui de repente e eu… — Sinto o meu lábio tremer de raiva instantaneamente, junto aos punhos se fechando com força. — Ei, não chore, se chorar, é ela quem vai sofrer — diz, apontando para o bebê silencioso. — Como disse, seu pai veio aqui e aparentemente alguém foi burra de engravidar dele.— O quê? — Não consigo conter o questionamento. O qu
TasyaCom a chegada de Jasmine, passei a ouvir uma centena de comentários diferentes.“Não acredito que ela esteja cuidando de uma criança aqui.”Sim, claro que tenho que cuidar dela aqui, aonde mais eu poderia ir quando eles têm a minha vida em suas mãos? Nunca estive procurando por brigas para evitar que me visassem e agora que a tenho, tento ser ainda mais invisível.“Como um pai pode vender as duas filhas?” Se questionam, e eu também gostaria de saber que tipo de homem tem um caráter tão podre para não se importar de fazer uma coisa tão fodida duas vezes.Não cogitou a possibilidade de não me entregarem a menina? Porque Yaroslyv podia tê-la usado para uma coisa completamente diferente se não tivesse concluído que ela poderia ser uma algema mais pesada em meus pulsos.N&at
TasyaEla procura por algo que espero que não encontre, imagino que o melhor seja apenas sair daqui antes que tudo se complique, porque até mesmo eu posso ser acusada de estar em conluio com seu plano insano.Já sou massacrada pela quantidade de clientes que recebo, se esse tipo de fofoca se espalhar acabarei sendo enterrada viva para sufocar até que a morte me alcance enquanto sofro por saber que o bebê em meus braços pode ter um futuro ainda pior.— Entendo por que guarda suas lágrimas, porque tem suportado tudo sem deixar que eles vejam o quão quebrada está por dentro, compreendo de verdade — explicita. Me sinto como uma pessoa sendo ludibriada pelos seus olhos bonitos, dado que experimento as suas palavras como se fossem reais demais para não acreditar no que me diz. — Mas é a única que pode criar o caminho para longe do que te sufoca.
TasyaPor que estou cogitando fazer o que aquela mulher me disse?Como posso acreditar nela quando nem teve a decência de me dizer seu nome depois de pedir para eu matar alguém?Pessoas como ela tendem a ser desse jeito? E por que estou pensando nisso se não planejo levar a situação adiante? É só esquecer.Posso continuar com o meu planejamento anterior. Em alguns anos estarei livre e poderei levar minha irmã para o mais longe possível de qualquer coisa semelhante ao que vivi.Por que acreditaria em uma estranha que não tem motivos para se preocupar com a minha vida? Aprendi da pior forma possível que nem mesmo a pessoa com o sangue igual ao meu correndo em suas veias não se interessou pelo que aconteceria a mim.Pode estar apenas querendo foder comigo após me fazer o matar, tiraria um desgraçado do seu caminho e ninguém s
Tasya“Respire Tasya. Você pode fazer isso”. Mentalizo as minhas palavras como certas, esse deve ser o único jeito para não me perder em meio aos pensamentos que me consomem para passar por essa situação sem me sentir ainda pior.Agarro sua cintura com uma mão, levando a outra para as minhas costas. Encontro a fenda do vestido com facilidade e enganchada na calcinha está a arma que foi entregue a mim por aquela estranha.Posso sentir o frio do metal contra a minha derme arrepiada pelo nojo de ter que ceder as suas investidas. Não podia deixar a lâmina ser impedida por nada, por esse motivo não a coloquei na bainha.Tive medo de me atrapalhar na hora de a retirar e acabar fodendo tudo.Segurou minha nuca com força mais uma vez para me forçar na direção de seu corpo e usei o solavanco para permitir que meus dedos alcançassem a lâmina ligeiro, para movê-la com o meu braço para que a empurrasse no seu pescoço.Porém, meu azar nã
Tasya— Está chorando de novo? — pergunta uma das meninas que divide o cômodo onde nos alocaram até que escolhamos o que fazer em seguida.Nunca pensei que me veria de novo em um lugar repleto de mulheres que dividem um lugar onde dormir, mas aqui são casas ou apartamentos, dependem de quantas outras ainda não foram mandadas para locais fixos.— Estou odiando essa crise de choro insana — falo e ela começa a sorrir.— Está se sentindo segura para expressar o que sente, é normal, eu gritava como uma louca quando cheguei — me conta. Pelo que pude conhecer dela, já está aqui, sendo cuidada por uma indivídua que eu sequer vi ainda, há cinco meses, quando foi tirada de um cativeiro no qual o seu namorado de infância fez com que fosse mantida.A típica história do homem com toda uma aura perfeita que se mostra como um grande monstro se você tenta o tirar da sua vida. Ela ficou presa por dois meses antes de ser resgatada, mas é nítido que
TasyaCompreendi na segunda semana após chegar que havia muitos motivos para o prédio onde moramos ser ligado a um prédio do lado onde diversas academias são instaladas.Tiro ao alvo, ginástica, balé, boxe e muito mais pode ser aprendido por nós ao usarmos o passe que ganhamos depois de chegarmos.Entro no elevador com ela, notando que pela primeira vez vejo o botão do subsolo sendo apertado e não pude conter a minha surpresa ao ver que, após chegarmos nele, apareceram novas opções no painel que poderiam ser clicadas e assim descemos ainda mais.Me senti como se estivesse andando ao lado de um agente da MIB.Pediu para que continuasse a acompanhá-la depois que as portas se abriram e facilmente pude ver a diferença desse lugar para os que estavam disponíveis para nós, onde os olhos podem alcançar com facilidade.Pude ver um ringue onde mulheres se digladiam sem parar enquanto alguém dá instruções do lado de fora