03. O que eu temia, parte 1

Tasya

— Uau, sempre fico com medo quando você me diz essas coisas — fala, agarrando o seu avental com mais força.

Se diz que está com medo, o que devo sentir quando sou a pessoa devendo dinheiro a eles? É bem claro que é com o que se importam e só, mas e se deixarem de pensar como empreendedores e me foderem?

— Enquanto eu estiver pagando-os, eles não podem me ferrar — digo e ela concorda, mas não é simples assim.

Não estamos falando de uma dívida em um banco. Estou falando de agiotas que não se importam com a vida alheia, apenas querem dinheiro.

Se um dia acordarem com o rabo coçando, podem apenas desistir de receber por parcelas e me obrigar a pagar tudo que devo de uma vez, sendo que não acredito que quitaria o que devo nem mesmo vendendo alguns órgãos, isso é quão fodida eu estou.

— Você não falou com alguém dentro da lei ou sei lá? Não deveria ser responsável por todas as merdas que o seu pai faz — profere, mas parece não perceber que eu já tentei correr para todos os lados e de todo jeito acabo fodida no final.

Não tem ninguém que se interesse pelo que estou passando, querem apenas saber o que faço ou não.

Alguns até diriam que tenho sorte pelos agiotas não serem mais agressivos.

M*****a sorte.

Pessoas são individualistas por nascença, em uma situação como essa apenas tiram o seu corpo para longe dos problemas o mais rápido possível, é assim que vivem suas vidas tranquilamente. Quem iria gostar de se agarrar ao problema de outro ser que não tem nada a ver com a sua vida?

Se pais podem ignorar os seus filhos, o que não fariam os estranhos?

— Não tem nada o que eu possa fazer, eles são criminosos que a polícia finge não ver, não adianta ir reclamar, vão dizer que meu pai pegou o dinheiro porque quis e depois rirão da minha desgraça quando eu der as costas — falo e ela bufa injuriada.

O gerente adentra no cômodo se perguntando o que continuamos fazendo aqui, sendo que nosso horário de almoço já está no fim.

— Vamos trabalhar, se adiantem — manda, e eu gostaria de dizer que ainda temos alguns minutos, mas arrumar qualquer confusão pode fazer com que eu tenha que deixar o trabalho, e sem ele eu me fodo.

Longe do alcance de nossas vozes, a minha colega de serviço o xinga, falando que ele deveria descontar o seu estresse em alguém que de fato não cumpra com o seu trabalho, pois estamos fazendo tudo que pedem, ainda assim não é o bastante para deixar de pegar em nossos pés.

Não me importo com o tipo de reclamação que venha fazer se tiver feito alguma coisa de errado, mas parece ser do feitio de todo chefe encontrar motivos para implicar com você quando percebem que tem alguma relevância. Como se alguém fosse me dar o seu cargo, é claro que estou aqui apenas para ser um peão.

— O que acha de sairmos hoje? Tomar algumas bebidas, pode te animar um pouco — profere as palavras, mexe o corpo de um lado para o outro como se já estivesse aproveitando a pista de dança, contudo, eu não posso ter esse privilégio no momento, não tendo que dar conta de dois empregos.

Assim que saio daqui, tenho apenas duas horas de sono antes de precisar estar no próximo trabalho. É com ele que consigo complementar a renda que me garante comer alguns pães por dia.

Quando consigo comer alguma coisa aqui na cozinha, já é uma refeição a menos que preciso fazer. Se ganho alguma pizza no serviço de entrega, é um café da manhã garantido.

Gastar dinheiro com outras coisas está fora de questão.

— Não posso, tenho que ir trabalhar depois de descansar um pouco — conto e ela deixa uma expressão triste escapar, porém, não volta a insistir, sabe que se estou falando é porque realmente não tem como ser diferente.

Gostaria que pudesse, que eu tivesse outras formas de passar o meu dia que não fosse gastando toda a minha energia trabalhando.

— Tudo bem, mas em uma próxima você tem que ir comigo, não pode me deixar abandonada de novo — fala somente para mostrar que gostaria de ter minha companhia outras vezes, contudo, imagino que saiba que continuará sendo impossível. — Vou ter certeza de conseguir uns ingressos em um lugar legal para você poder aproveitar.

Apenas faço um meneio para concordar, porque não tenho noção de quando esse encontro será possível. Em alguns anos? Ainda preciso ganhar muito dinheiro antes de me deixar levar por coisas mais supérfluas.

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