Tasya
— Uau, sempre fico com medo quando você me diz essas coisas — fala, agarrando o seu avental com mais força.
Se diz que está com medo, o que devo sentir quando sou a pessoa devendo dinheiro a eles? É bem claro que é com o que se importam e só, mas e se deixarem de pensar como empreendedores e me foderem?
— Enquanto eu estiver pagando-os, eles não podem me ferrar — digo e ela concorda, mas não é simples assim.
Não estamos falando de uma dívida em um banco. Estou falando de agiotas que não se importam com a vida alheia, apenas querem dinheiro.
Se um dia acordarem com o rabo coçando, podem apenas desistir de receber por parcelas e me obrigar a pagar tudo que devo de uma vez, sendo que não acredito que quitaria o que devo nem mesmo vendendo alguns órgãos, isso é quão fodida eu estou.
— Você não falou com alguém dentro da lei ou sei lá? Não deveria ser responsável por todas as merdas que o seu pai faz — profere, mas parece não perceber que eu já tentei correr para todos os lados e de todo jeito acabo fodida no final.
Não tem ninguém que se interesse pelo que estou passando, querem apenas saber o que faço ou não.
Alguns até diriam que tenho sorte pelos agiotas não serem mais agressivos.
M*****a sorte.
Pessoas são individualistas por nascença, em uma situação como essa apenas tiram o seu corpo para longe dos problemas o mais rápido possível, é assim que vivem suas vidas tranquilamente. Quem iria gostar de se agarrar ao problema de outro ser que não tem nada a ver com a sua vida?
Se pais podem ignorar os seus filhos, o que não fariam os estranhos?
— Não tem nada o que eu possa fazer, eles são criminosos que a polícia finge não ver, não adianta ir reclamar, vão dizer que meu pai pegou o dinheiro porque quis e depois rirão da minha desgraça quando eu der as costas — falo e ela bufa injuriada.
O gerente adentra no cômodo se perguntando o que continuamos fazendo aqui, sendo que nosso horário de almoço já está no fim.
— Vamos trabalhar, se adiantem — manda, e eu gostaria de dizer que ainda temos alguns minutos, mas arrumar qualquer confusão pode fazer com que eu tenha que deixar o trabalho, e sem ele eu me fodo.
Longe do alcance de nossas vozes, a minha colega de serviço o xinga, falando que ele deveria descontar o seu estresse em alguém que de fato não cumpra com o seu trabalho, pois estamos fazendo tudo que pedem, ainda assim não é o bastante para deixar de pegar em nossos pés.
Não me importo com o tipo de reclamação que venha fazer se tiver feito alguma coisa de errado, mas parece ser do feitio de todo chefe encontrar motivos para implicar com você quando percebem que tem alguma relevância. Como se alguém fosse me dar o seu cargo, é claro que estou aqui apenas para ser um peão.
— O que acha de sairmos hoje? Tomar algumas bebidas, pode te animar um pouco — profere as palavras, mexe o corpo de um lado para o outro como se já estivesse aproveitando a pista de dança, contudo, eu não posso ter esse privilégio no momento, não tendo que dar conta de dois empregos.
Assim que saio daqui, tenho apenas duas horas de sono antes de precisar estar no próximo trabalho. É com ele que consigo complementar a renda que me garante comer alguns pães por dia.
Quando consigo comer alguma coisa aqui na cozinha, já é uma refeição a menos que preciso fazer. Se ganho alguma pizza no serviço de entrega, é um café da manhã garantido.
Gastar dinheiro com outras coisas está fora de questão.
— Não posso, tenho que ir trabalhar depois de descansar um pouco — conto e ela deixa uma expressão triste escapar, porém, não volta a insistir, sabe que se estou falando é porque realmente não tem como ser diferente.
Gostaria que pudesse, que eu tivesse outras formas de passar o meu dia que não fosse gastando toda a minha energia trabalhando.
— Tudo bem, mas em uma próxima você tem que ir comigo, não pode me deixar abandonada de novo — fala somente para mostrar que gostaria de ter minha companhia outras vezes, contudo, imagino que saiba que continuará sendo impossível. — Vou ter certeza de conseguir uns ingressos em um lugar legal para você poder aproveitar.
Apenas faço um meneio para concordar, porque não tenho noção de quando esse encontro será possível. Em alguns anos? Ainda preciso ganhar muito dinheiro antes de me deixar levar por coisas mais supérfluas.
TasyaCaminho em passos apressados, agarro a minha mochila com força mantendo o spray de pimenta pronto para atingir qualquer um que entre em meu trajeto. O som de passos atrás de mim faz com que eu continue andando apressadamente.Tenho certeza de que está me seguindo. Já fiz diversas mudanças em meu percurso, mesmo assim seus passos continuam a soar em minhas costas.Passei pelas principais ruas e pontos de ônibus, porém, permaneceu me seguindo. Se isto não é uma prova de que sou o seu alvo, devo estar enlouquecendo de vez.O frio adentrando por minha luva gela todo o meu corpo junto ao som de seus passos. É como um ritmo macabro para que eu tenha cada vez mais medo me corroendo.Se eu parar em qualquer lugar agora deve ser ainda pior.Ficará mais tarde e haverá ainda menos transeuntes no caminho que preciso fazer para chegar em casa. Vendo minha respiração congelar no ar, adianto-me o máximo que minhas pernas conseguem sem que comece a correr de verdade. Você consegue Tasya. Só mai
TasyaAbro meus olhos, sentindo que meu corpo está completamente dolorido. Pareço ter levado uma grande surra enquanto dormia. Tudo que me lembro é que estava indo para o trabalho na companhia da minha colega, mas em certo momento alguma coisa aconteceu e eu me vi indo em direção ao chão. Estava bebendo um refrigerante e o que houve?— Oh, está acordando — me diz o sujeito e, com os olhos arregalados, vejo com desprazer que Yaroslyv segura em minha coxa com força pelo modo como os seus dedos entram em minha carne para pressioná-la, mas não sinto o seu toque como deveria.Assusto-me com a possibilidade de não poder mover minhas pernas.Todo meu cérebro começa a entrar em pânico com a probabilidade quando ele é a pessoa estando aqui do meu lado. Forço minha mente, mentalizo os músculos, querendo saber se estou mesmo paralisada ou se é o medo me impedindo.— Sabia que a sua expressão seria incrível, mas não precisa se preocupar, não fiz nada com você. Quando eu entrar em você, quero que
TasyaQuando adentro na sala, me assusto no momento em que vejo um bebê em um cesto enrolado de uma forma estranha com uma fralda que não está mais branca como fora um dia.— Se adiante, vadia — manda Yaroslyv, efetuando um sinal para que o sujeito nos deixe a sós. — Faz alguns dias que não te vejo, mas você continua muito bonita.— O que quer de mim agora? — pergunto, sentindo os meus ossos tremerem quando os seus olhos me encaram, agarrando a minha alma em suas mãos. A possui desde o dia em que me comprou do meu pai. Pode fazer o que bem entender, no momento em que desejar.— Você sabe que eu não costumo ter coração mole, mas o seu pai apareceu aqui de repente e eu… — Sinto o meu lábio tremer de raiva instantaneamente, junto aos punhos se fechando com força. — Ei, não chore, se chorar, é ela quem vai sofrer — diz, apontando para o bebê silencioso. — Como disse, seu pai veio aqui e aparentemente alguém foi burra de engravidar dele.— O quê? — Não consigo conter o questionamento. O qu
TasyaCom a chegada de Jasmine, passei a ouvir uma centena de comentários diferentes.“Não acredito que ela esteja cuidando de uma criança aqui.”Sim, claro que tenho que cuidar dela aqui, aonde mais eu poderia ir quando eles têm a minha vida em suas mãos? Nunca estive procurando por brigas para evitar que me visassem e agora que a tenho, tento ser ainda mais invisível.“Como um pai pode vender as duas filhas?” Se questionam, e eu também gostaria de saber que tipo de homem tem um caráter tão podre para não se importar de fazer uma coisa tão fodida duas vezes.Não cogitou a possibilidade de não me entregarem a menina? Porque Yaroslyv podia tê-la usado para uma coisa completamente diferente se não tivesse concluído que ela poderia ser uma algema mais pesada em meus pulsos.N&at
TasyaEla procura por algo que espero que não encontre, imagino que o melhor seja apenas sair daqui antes que tudo se complique, porque até mesmo eu posso ser acusada de estar em conluio com seu plano insano.Já sou massacrada pela quantidade de clientes que recebo, se esse tipo de fofoca se espalhar acabarei sendo enterrada viva para sufocar até que a morte me alcance enquanto sofro por saber que o bebê em meus braços pode ter um futuro ainda pior.— Entendo por que guarda suas lágrimas, porque tem suportado tudo sem deixar que eles vejam o quão quebrada está por dentro, compreendo de verdade — explicita. Me sinto como uma pessoa sendo ludibriada pelos seus olhos bonitos, dado que experimento as suas palavras como se fossem reais demais para não acreditar no que me diz. — Mas é a única que pode criar o caminho para longe do que te sufoca.
TasyaPor que estou cogitando fazer o que aquela mulher me disse?Como posso acreditar nela quando nem teve a decência de me dizer seu nome depois de pedir para eu matar alguém?Pessoas como ela tendem a ser desse jeito? E por que estou pensando nisso se não planejo levar a situação adiante? É só esquecer.Posso continuar com o meu planejamento anterior. Em alguns anos estarei livre e poderei levar minha irmã para o mais longe possível de qualquer coisa semelhante ao que vivi.Por que acreditaria em uma estranha que não tem motivos para se preocupar com a minha vida? Aprendi da pior forma possível que nem mesmo a pessoa com o sangue igual ao meu correndo em suas veias não se interessou pelo que aconteceria a mim.Pode estar apenas querendo foder comigo após me fazer o matar, tiraria um desgraçado do seu caminho e ninguém s
Tasya“Respire Tasya. Você pode fazer isso”. Mentalizo as minhas palavras como certas, esse deve ser o único jeito para não me perder em meio aos pensamentos que me consomem para passar por essa situação sem me sentir ainda pior.Agarro sua cintura com uma mão, levando a outra para as minhas costas. Encontro a fenda do vestido com facilidade e enganchada na calcinha está a arma que foi entregue a mim por aquela estranha.Posso sentir o frio do metal contra a minha derme arrepiada pelo nojo de ter que ceder as suas investidas. Não podia deixar a lâmina ser impedida por nada, por esse motivo não a coloquei na bainha.Tive medo de me atrapalhar na hora de a retirar e acabar fodendo tudo.Segurou minha nuca com força mais uma vez para me forçar na direção de seu corpo e usei o solavanco para permitir que meus dedos alcançassem a lâmina ligeiro, para movê-la com o meu braço para que a empurrasse no seu pescoço.Porém, meu azar nã
Tasya— Está chorando de novo? — pergunta uma das meninas que divide o cômodo onde nos alocaram até que escolhamos o que fazer em seguida.Nunca pensei que me veria de novo em um lugar repleto de mulheres que dividem um lugar onde dormir, mas aqui são casas ou apartamentos, dependem de quantas outras ainda não foram mandadas para locais fixos.— Estou odiando essa crise de choro insana — falo e ela começa a sorrir.— Está se sentindo segura para expressar o que sente, é normal, eu gritava como uma louca quando cheguei — me conta. Pelo que pude conhecer dela, já está aqui, sendo cuidada por uma indivídua que eu sequer vi ainda, há cinco meses, quando foi tirada de um cativeiro no qual o seu namorado de infância fez com que fosse mantida.A típica história do homem com toda uma aura perfeita que se mostra como um grande monstro se você tenta o tirar da sua vida. Ela ficou presa por dois meses antes de ser resgatada, mas é nítido que