HOTEL HUSTER - CELEBRANDO A VIDA
O Hotel Huster foi palco de grandes eventos durante os anos oitenta e costumava receber muitos hóspedes durante a alta temporada, mas os anos de glória do Huster estavam com os dias contados. Administrado pelo ex-banqueiro de Liontown, Chad J. Graham, os negócios pareciam ter atrofiado. Os moradores costumavam chamar o Chad de dedo de ouro, por ser bom nos negócios, mas aquele em especial, fora sua primeira e última investida no ramo da hotelaria. O hotel perdeu capital por 20 anos, antes de fechar as portas há dez anos. Agora, era uma construção inútil à beira da rodovia Clyde. Clyde era conhecida por cortar toda a cidade e ser um dos principais pontos de entrada e saída do município. Mas não tinha um ser humano sequer que saísse ou entrasse em Liontown e não reparasse o hotel. Ele ainda par
Na varanda dos Lewis havia uma mosca-varejeira que ia de lá para cá em rodopios sincronizados. Ela saiu do porão tão rápida, que não parecia um inseto, senão um pequeno e maquiavélico fantasma de barata, pronto a embocar alguém rapidamente. A animalesca criatura voadora chegou à sala atraída por um foco de luz que piscava cintilante, iluminando os jovens que ali estavam — era a luminosidade da TV e estava exibindo o filme clássico de terror: Nosferatu, de 1922. A mosca chegou ao cômodo naturalmente, como se não se importasse de ser apanhada inesperadamente — era o que costumava acontecer quando insetos de sua infeliz categoria eram visto por humanos — Desengonçada, repousou sobre o pedestal de um abajur branco de seda, que a senhora Lewis ganhara do seu melhor amigo, o carteiro da cidade, Daniel Smith. A mosca esfregou suas patinhas como se estivesse arquitetando um plano maléfico e deu um pequeno pulo, no mesmo instante que os jovens gritaram com a cena de terror que viram na tevê. A
— Eu… — era como uma velha sensação de dejavu da qual ele parecia lembrar de um fato que aconteceu, mas a verdade é que, fora de outra maneira. Bill estava sozinho em sua casa há três dias. — Está bem… Mas então, temos que enterrá-lo — Frank sugeriu, colocando a mão no ombro do amigo, na esperança de lhe passar paz. Ele conseguiu. — Enterrar? — Questionou Bill, profundamente sobre e ação, mas concordou. Ele desceu as escadas em passos lentos, tapando o nariz e procurou por algum lençol velho e uma pá, que ele lembrava estar no canto do porão, do lado das caixas de enfeites de natal. Aquela parte do porão só era acessada uma ou até raramente, duas vezes ao ano. — Você tá demorando — gritou Melissa, não aguentando mais manter aquela porta aberta. — Me dá dois segundos. Já achei o que preciso — o jovem juntou o material, pedindo mentalmente, que se Pirulito estivesse ali, mesmo que no mundo espiritual, desse o fora para que ele pudesse fazer o que tinha de ser feito. Bill se aproxi
Podia-se ver dois metros de faixa de pedestre à frente de Bill e ele estava parado na calçada da avenida Amister, observando aquelas linhas simétricas, por um motivo curioso. Era uma manhã de segunda, dois dias depois da misteriosa morte de seu amigo-cão e da ligação estranha. Bill vesta sua jaqueta de lã favorita, roupa aquela que usava há cinco anos, por todo o outono e princípio de inverno. Ele nunca trocara, afinal, também nunca engordou um quilo sequer. Um carro passou na rua, causando uma corrente de ar e Bill observou a fumaça que saia do escapamento, mas logo sua atenção voltou para as listras da faixa de pedestre. Elas estavam estranhamente irregulares, como se fizessem ondas. Para Bill, pareciam cobras brancas, e isso o deixava assutado. Ele pensou por alguns segundos, que tipo de droga sua mãe poderia ter colocado nos ovos mexidos que comera no café da manhã. Ela sempre lhe preparava algo decente, mas quando estava com pressa, costumava deixar duas fatias de pães cobertas po
McNemar juntou todos os alunos na sala com um breve bater de palmas, como se chamasse a atenção do público para um grande espetáculo, e eles, como se soubessem o que fazer, entraram na classe, sentando-se em seus respectivos lugares. Ela foi breve em anunciar os preparativos para o Halloween. Era de sua responsabilidade a decoração de toda a instituição e fazia por puro passatempo. Ela aproveitava de momentos como aquele, para observar o talento de alguns alunos. Naquele ano, tivera a ideia de fazer algo diferente, como leitora assídua, achou de grande valia inspirá-los a escrever redações sobre lendas urbanas ou histórias fantásticas e assombrosas que aconteceram na região. Sabia que se incitasse a imaginação deles, poderia desenvolver seus lados criativos, e ainda de quebra, ganharia histórias interessantes para ler durante o feriado de Dia das Bruxas, na companhia de seu inseparável gato, Little Ben.Por orientação do diretor Evans, McNemar decidiu criar duplas para a atividade do f
Um pouco de suco de laranja escorreu pela rachadura quase imperceptível que havia na jarra de vidro em formato de abacaxi, que Eva comprou na feira de artigos clássicos. Ela tinha a impressão que aquele objeto, vindo originalmente do Brasil, remetia belos dias de verão na casa de sua avó. O suco, como um rio, fez caminho pela mesa até alcançar o braço de Eva, que estava concentrada lendo uma revista de moda. Ela voltou para a realidade quando sentiu aquele toque gelado, e quando se deu conta do que estava acontecendo berrou o nome de Larry, seu marido, e ele apareceu, tão rápido quanto uma lebre que foge de um predador. Ela pegou a flanela que havia ali na pia e se debruçou sobre a mesa, interrompendo o fluxo.— O que houve, querida? — Larry perguntou espantado, mas conseguiu identificar o motivo do desespero dela. Ele soltou um suspiro breve ao saber que não era nada de mais. Pelo grito dela, ele jurou que ela tinha visto um intruso.— Aquela senhorinha mentiu para mim... ela havia di
A velha usina hidrelétrica da cidade, que fora desativada depois da instalação de mais duas novas em Scotland. Mas estas eram usinas nucleares. Não era algo bem visto, mas chegou sorrateiramente a região, como pragas — fato não muito agradável a maioria dos moradores do condado de Delaware. Acreditavam que aquelas usinas seriam em alguns anos, as responsáveis pelos novos casos de câncer. — Já a velha usina, pouco aproveitada, tornou-se abrigo secreto para estudantes foragidos e usuários de droga da fábrica de pneus que havia ali próximo. Era um lu-gar interessante quando ainda era possível ser visto à luz do sol, mas extremamente sombrio a noite, como se ali mesmo, existisse uma zona morta, onde o portal entre esse plano e um outro mundo se abrisse, tra-zendo à tona todas as almas que vinham em busca de prazeres carnais em outros humanos viciados em dro-gas, bebida ou pornografia. Mas para Adam, era o local ideal para praticar tiro ao alvo. Ele costumava ir para lá quase todo dia, semp
(Atenção: esse capítulo contém tema sensível)Um círculo. Havia um halo na lua da silenciosa noite de 14 de novembro de 1977. Um perfeito círculo que formava um anel prateado cintilava no céu, como se Deus olhasse a desgraça logo abaixo. Sob essa luz, haviam corpos. Estavam no estábulo dos Morris. Era o senhor Morris e sua filhinha, Anna de cinco anos. Tudo começou com uma relação peculiar entre um padre e uma devota da cidade. Eles costumavam se encontrar todo domingo, e não era para assistir à missa. Mesmo que soubessem ser errado fazer o que faziam detrás das curtinas da igreja, mantinham uma relação de muita intimidade, até o dia que Gayle Gardner ficou grávida. Ela não esperava aquilo, apesar das aventu-ras sexuais, não acreditava que no auge de seus qua-renta anos pudesse dar à luz a outra criança. Boris Cales, padre e cuidador de idosos da Santa Casa de Misericórdia, não gostou nada da notícia. Para ele, era um sinal de que deveriam ter dado um fim àquela rela-ção. Vindo de um h
Bill gostava do cheiro da lasanha de frango que Eva costumava preparar às terças, porque o fazia lembrar do dia em que eles saíram juntos para a lanchonete do Ed, quando acidentalmente ela queimou o que seria uma torta salgada. Talvez se a torta não tivesse queimado, eles não teriam saído, se divertido e aprendido uma nova receita. Bill acreditava que certas coisas aconteciam por um proprósito e aquele em especial, era o melhor deles. — Nada de celular à mesa — disse Eva, limpando a boca em um guardanapo e encarando-o. Ela estava preocupada com ele. Tinha recebido a notificação do colégio acerca da briga e um telefonema da senhora Bailey informando que ele esteve lá na casa dela, quebrando as coisas do Edward. Ele não estava na melhor das fases. Eva estava no limite e uma mãe no limite sempre faz algo que se arrepende depois, mas não por ser ruim ou má educadora, mas por querer poupar os filhos de desgraças quase inevitáveis.— Eu sei que estou de castigo, mas já terminei de comer —