4 de novembro de 1977.
Ninguém quer morrer. Pelo menos é assim que a maioria das pessoas pensa. Temos um instinto de defesa e sobrevivência que evoluiu há milhares de anos e nos preparou para os piores cenários. Algo que Bill Lewis sabia muito bem. Lutar ou fugir, estas eram as duas opções interessantes quando a questão era apenas sobreviver, e Bill estava usando-as. Já Samara Morris, em seu íntimo, tinha uma certeza que era assustadora. O tipo de certeza que ela tinha medo de verificar para ver se era realmente aquilo tudo, pois sabia que poderia ser muito pior. Ela ia morrer. Assassinato talvez. Só não sabia quando, como e porquê, o que era péssimo também. Entretanto, ela tinha esperança, do tipo que a fazia viver e esquecer o inevitável. A esperança que ela encontrou t
4 de novembro de 2007Quando o opala preto que Adam Wason estava dirigindo parou frente a antiga casa dos Morris. Ele teve uma intuição esquisita de que Edward não estaria ali. O tipo de intuição que ele não poderia compartilhar com os outros. Ele achava que essas coisas só eram sentidas por mulheres. Sua intuição se intensificou ao perceber haver rastros de pneu de carro por toda parte. Se Edward estivesse ali, não estaria mais.— Será que chamamos a atenção? — perguntou Melissa, com uma preocupação evidente. — Aqui é muito silencioso.— Se chamamos, quero estar preparado e saber que estou armado — retrucou Adam, com orgulho. Um orgulho quase doentio.<
4 de novembro de 1977 - 16:30— Se você não falar para onde foi aquela retardada, pode ter certeza que eu tiro todos os dentes de sua boca e te mando para o céu, santinho — disse James, dando um soco na barriga de Paul. Tony segurava-o pelos braços, como alguém que segura um porco para o abate. — Fala!Paul puxou o ar para os pulmões e olhou para a floresta que havia logo depois da rua atrás do colégio. Era um aglomerado de árvores altas e densas. Era o caminho mais rápido se quisesse chegar à rodovia principal da cidade.— Ela foi para lá…— Maldita hora para ir pela floresta, aberração — falou James. Tony soltou Paul, que
HOTEL HUSTER - CELEBRANDO A VIDAO Hotel Huster foi palco de grandes eventos durante os anos oitenta e costumava receber muitos hóspedes durante a alta temporada, mas os anos de glória do Huster estavam com os dias contados. Administrado pelo ex-banqueiro de Liontown, Chad J. Graham, os negócios pareciam ter atrofiado. Os moradores costumavam chamar o Chad de dedo de ouro, por ser bom nos negócios, mas aquele em especial, fora sua primeira e última investida no ramo da hotelaria. O hotel perdeu capital por 20 anos, antes de fechar as portas há dez anos. Agora, era uma construção inútil à beira da rodovia Clyde. Clyde era conhecida por cortar toda a cidade e ser um dos principais pontos de entrada e saída do município. Mas não tinha um ser humano sequer que saísse ou entrasse em Liontown e não reparasse o hotel. Ele ainda par
Na varanda dos Lewis havia uma mosca-varejeira que ia de lá para cá em rodopios sincronizados. Ela saiu do porão tão rápida, que não parecia um inseto, senão um pequeno e maquiavélico fantasma de barata, pronto a embocar alguém rapidamente. A animalesca criatura voadora chegou à sala atraída por um foco de luz que piscava cintilante, iluminando os jovens que ali estavam — era a luminosidade da TV e estava exibindo o filme clássico de terror: Nosferatu, de 1922. A mosca chegou ao cômodo naturalmente, como se não se importasse de ser apanhada inesperadamente — era o que costumava acontecer quando insetos de sua infeliz categoria eram visto por humanos — Desengonçada, repousou sobre o pedestal de um abajur branco de seda, que a senhora Lewis ganhara do seu melhor amigo, o carteiro da cidade, Daniel Smith. A mosca esfregou suas patinhas como se estivesse arquitetando um plano maléfico e deu um pequeno pulo, no mesmo instante que os jovens gritaram com a cena de terror que viram na tevê. A
— Eu… — era como uma velha sensação de dejavu da qual ele parecia lembrar de um fato que aconteceu, mas a verdade é que, fora de outra maneira. Bill estava sozinho em sua casa há três dias. — Está bem… Mas então, temos que enterrá-lo — Frank sugeriu, colocando a mão no ombro do amigo, na esperança de lhe passar paz. Ele conseguiu. — Enterrar? — Questionou Bill, profundamente sobre e ação, mas concordou. Ele desceu as escadas em passos lentos, tapando o nariz e procurou por algum lençol velho e uma pá, que ele lembrava estar no canto do porão, do lado das caixas de enfeites de natal. Aquela parte do porão só era acessada uma ou até raramente, duas vezes ao ano. — Você tá demorando — gritou Melissa, não aguentando mais manter aquela porta aberta. — Me dá dois segundos. Já achei o que preciso — o jovem juntou o material, pedindo mentalmente, que se Pirulito estivesse ali, mesmo que no mundo espiritual, desse o fora para que ele pudesse fazer o que tinha de ser feito. Bill se aproxi
Podia-se ver dois metros de faixa de pedestre à frente de Bill e ele estava parado na calçada da avenida Amister, observando aquelas linhas simétricas, por um motivo curioso. Era uma manhã de segunda, dois dias depois da misteriosa morte de seu amigo-cão e da ligação estranha. Bill vesta sua jaqueta de lã favorita, roupa aquela que usava há cinco anos, por todo o outono e princípio de inverno. Ele nunca trocara, afinal, também nunca engordou um quilo sequer. Um carro passou na rua, causando uma corrente de ar e Bill observou a fumaça que saia do escapamento, mas logo sua atenção voltou para as listras da faixa de pedestre. Elas estavam estranhamente irregulares, como se fizessem ondas. Para Bill, pareciam cobras brancas, e isso o deixava assutado. Ele pensou por alguns segundos, que tipo de droga sua mãe poderia ter colocado nos ovos mexidos que comera no café da manhã. Ela sempre lhe preparava algo decente, mas quando estava com pressa, costumava deixar duas fatias de pães cobertas po
McNemar juntou todos os alunos na sala com um breve bater de palmas, como se chamasse a atenção do público para um grande espetáculo, e eles, como se soubessem o que fazer, entraram na classe, sentando-se em seus respectivos lugares. Ela foi breve em anunciar os preparativos para o Halloween. Era de sua responsabilidade a decoração de toda a instituição e fazia por puro passatempo. Ela aproveitava de momentos como aquele, para observar o talento de alguns alunos. Naquele ano, tivera a ideia de fazer algo diferente, como leitora assídua, achou de grande valia inspirá-los a escrever redações sobre lendas urbanas ou histórias fantásticas e assombrosas que aconteceram na região. Sabia que se incitasse a imaginação deles, poderia desenvolver seus lados criativos, e ainda de quebra, ganharia histórias interessantes para ler durante o feriado de Dia das Bruxas, na companhia de seu inseparável gato, Little Ben.Por orientação do diretor Evans, McNemar decidiu criar duplas para a atividade do f
Um pouco de suco de laranja escorreu pela rachadura quase imperceptível que havia na jarra de vidro em formato de abacaxi, que Eva comprou na feira de artigos clássicos. Ela tinha a impressão que aquele objeto, vindo originalmente do Brasil, remetia belos dias de verão na casa de sua avó. O suco, como um rio, fez caminho pela mesa até alcançar o braço de Eva, que estava concentrada lendo uma revista de moda. Ela voltou para a realidade quando sentiu aquele toque gelado, e quando se deu conta do que estava acontecendo berrou o nome de Larry, seu marido, e ele apareceu, tão rápido quanto uma lebre que foge de um predador. Ela pegou a flanela que havia ali na pia e se debruçou sobre a mesa, interrompendo o fluxo.— O que houve, querida? — Larry perguntou espantado, mas conseguiu identificar o motivo do desespero dela. Ele soltou um suspiro breve ao saber que não era nada de mais. Pelo grito dela, ele jurou que ela tinha visto um intruso.— Aquela senhorinha mentiu para mim... ela havia di