Capítulo II

Nenhum dos cientistas presentes na sala 407 acreditava no que via, com exceção do Dr. Brendon Davis. As criaturas que acabavam de adentrar à sala ostentavam uma aparência medonha, bizarra e quase inacreditável. Seus olhos não possuíam mais vida, sua pele parecia descascar a cada passo que davam, suas bocas e línguas estavam negras e de seus corpos exalava um odor insuportável, um cheiro de... morte.

O Dr. Ash Simons foi o primeiro a conseguir pronunciar algo em meio à inimaginável situação:

— Dr. Davis... O que aconteceu com esses homens? São nossos colegas, nós os vimos há poucos minutos. Quem fez isso com eles?

O Dr. Brandon Davis tinha um sorriso tenebroso estampado em seu rosto. Sua expressão era de total satisfação. Os outros cientistas podiam jurar que viram uma lágrima de emoção brotar em seus olhos.

— Por que está tão perturbado, Dr. Simons? Olhe para esses homens. Eles não têm mais medo de coisa alguma, não possuem insegurança e nem mesmo fraquezas. Não percebe o que nós criamos? Imagine a fortuna com que os exércitos do mundo inteiro nos pagarão para ter o Orpheu em seu arsenal. Imagine um pelotão inteiro composto de soldados como esses? Acha que eles tem alguma chance de derrota?

Ash Simons parecia não acreditar no que estava ouvindo.

— Exércitos? Soldados? Esses homens estão... mortos, Brendon! Por alguma razão, o vírus Orpheu reanimou as suas células, mas não as suas funções cerebrais! Não percebe que eles são vegetais ambulantes?

De repente, o Dr. Davis explodiu em fúria. Ele avançou sobre o Dr Simons, o segurou pela gola do jaleco e esbravejou:

— Veja como fala, seu maldito insolente! Você é um parasita que não consegue enxergar uma oportunidade mesmo se ela passar dançando em sua frente! O que nós fizemos aqui vai revolucionar a medicina e sobretudo revolucionar o mundo! Sim, eles estão mortos, mas observe... Eles não estão caídos! Como você poderá derrotar um soldado que não morre? Olhe com mais atenção, Ash! Podemos comercializar o Orpheu pelo preço que quisermos e pode ter certeza que nos tornaremos multibilionários. E na pior das hipóteses, criaremos também o antígeno para combater o Orpheu se precisarmos. Acorde, homem! Temos tudo sob controle!

O Dr. Ash Simons parecia ficar mais enojado a cada palavra dita pelo Dr. Davis. Como se inconscientemente, ele deu três passos para trás e declarou, sua voz quase inaudível:

— Você enlouqueceu! Definitivamente, você é um doente! Mais do que isso... Você é um assassino!

Mal terminou de proferir a última palavra, Ash Simons levou a mão ao seu aparelho celular que estava no bolso de sua calça. Ele não suportava ouvir nem mais uma palavra sequer. Iria chamar a polícia. Porém, antes que o cientista pudesse fazer o contato, o Dr. Davis abriu exibiu novamente o seu sorriso doentio e disse, com uma calma sinistra na voz:

— Eu sacrifiquei muito para que isso se tornasse realidade, Ash! Você não irá me parar agora. Nem você... E nenhum verme que esteja dentro ou fora da Ômega.

Como se fosse uma fração de segundo, o Dr. Davis correu até a criatura que antes era o Dr. Josh Smithers, segurou seu jaleco pela parte de trás e com uma força incrível, lançou a criatura na direção do Dr. Simons. Imediatamente e sem hesitar, o monstro segurou o cientista com suas garras poderosas e abocanhou o seu pescoço, lançando um jato de sangue de sua artéria. O Dr. Simons deu um grito tão estridente que apavorou os outros cientistas na sala 407. O Dr. Davis repetiu a sua ação com os outros dois monstros, que começaram um ataque assustador em toda a equipe de cientistas. Em uma questão de poucos minutos, a sala ficou tomada de sangue, que se espalhou entre o chão e as paredes brancas. Os mortos-vivos se alimentavam da carne dos cientistas. Devoravam as suas vidas como se fossem um trio de prisioneiros que não desfrutavam de uma refeição há meses.

Brandon Davis contemplava o frenesi alimentar com espanto e também admiração. As criaturas eram muito mais fortes do que ele imaginara. Os cientistas se tornaram presas insignificantes. Em um intervalo de quatro minutos, não sobrou mais nada do time de criação da sala 407. Seus corpos foram terrivelmente mutilados. Todo o cômodo estava repleto de sangue, vísceras e massa encefálica. O cenário era de um horror quase impossível de descrever. Os gritos foram ouvidos por todo o laboratório e uma grande agitação se formou nos andares mais abaixo. Alguém ativou os alarmes de emergência e todas as portas imediatamente foram trancadas. Os elevadores tiveram seu funcionamento interrompido e o protocolo de segurança foi subitamente iniciado.

A Doutora Annchi Zhang temia pelo pior. Os gritos vinham do oitavo andar, não havia dúvidas. Algo havia dado errado e com toda a certeza o Dr. Brandon Davis estava envolvido. Os elevadores não funcionavam, então ela teria que subir os andares pelas escadas. Não havia mais sigilo no projeto. Pessoas estavam em perigo e ela precisava agir rápido. A Dra. Zhang encontrou uma colega virologista na passagem do terceiro andar e exclamou com urgência:

— Acione todas as unidades de enfermaria imediatamente! Aconteceu um acidente e veio do oitavo andar! Prepare-se para uma possível evacuação por ar!

A médica pareceu ficar sem ação:

— No... Oitavo andar?

— Sim, e não temos tempo a perder! Vá agora mesmo ao suporte emergencial e acione os paramédicos! Quero um helicóptero à minha disposição em no máximo quinze minutos!

— Mas Dra. Zhang... Por que o helicóptero? Temos unidades de prontidão em terra para evacuação imediata!

Annchi Zhang aproximou-se da colega virologista e olhou em seus olhos, enfatizando a urgência da situação:

— Um vírus acabou de escapar, doutora! E seja lá o que isso for, não deve passar pelas portas desse laboratório! Agora por tudo o que é mais sagrado, vá e me apronte esse helicóptero!

Sem mais discussões, a virologista correu rumo ao setor de suporte emergencial. A Dra. Zhang correu apressada pelos degraus e tentava inutilmente conter a respiração desesperada. Assim como todos no laboratório, ela percebeu que os gritos cessaram subitamente. Um silêncio extremamente perturbador invadiu o laboratório. Apesar disso, um grande número de cientistas corria de um lado para outro gritando ordens e ativando todos os protocolos de segurança imagináveis. No momento em que o primeiro começou a acompanhar a Dra. Zhang degraus acima, ela imediatamente o deteve.

— Espere! Por favor, não me siga! Se eu estiver certa, quanto mais pessoas forem ao oitavo andar, será pior!

— Mas o que está dizendo? Com que autoridade você me ordena para ficar e esperar?

— Com a autoridade de alguém que sabe o que aconteceu e o que poderá acontecer se eu ficar perdendo tempo aqui com você! Desça e aguarde novas instruções agora mesmo!

Mesmo parecendo não se agradar com a atitude da Dra. Zhang, o cientista voltou-se e desceu os degraus. A cada degrau que subia, Annchi sentia que algo terrivelmente ruim estava para acontecer. Seu coração não conseguia reduzir o ritmo das batidas e ela suava frio à medida que avançava sobre os andares. Finalmente ela alcançou o oitavo andar. Por qualquer que fosse o motivo, o corredor estava frio e aparentava estar mais escuro do que qualquer ambiente naquele laboratório. O corpo da Dra. Zhang pareceu ficar mais pesado assim que ela começou a caminhar pelo corredor. A única porta aberta era a da sala 407.

Quando se aproximou da sala, Zhang sentiu um odor horrível invadir suas narinas. Seu estômago imediatamente se revirou e ela sentia uma forte ânsia de vômito. Tratava-se de uma mistura de queima de elementos químicos extremamente fortes junto com o odor da morte. Entretanto, mesmo isso não foi capaz de deter a doutora. Quanto mais ela se aproximava, mais forte seu coração palpitava e sua sudorese aumentava. Finalmente, ela chegou à porta 407 e a cena a seguir jamais iria desaparecer de suas lembranças, por pior que sua vida fosse ficar a partir daquele instante.

O cenário era de uma carnificina sem precedentes. Cerca de cinco homens ou mais - ela não saberia explicar, o choque foi tão intenso que ela paralisou-se à porta - jaziam mutilados, seus corpos estavam espalhados pelo chão repleto de sangue da sala de experimentos. As paredes estavam salpicadas de sangue esguichados dos homens mortos. Porém, o que realmente tomou a doutora do mais puro espanto, foi o que ela viu mais ao fundo da sala, embaixo do aparelho de ar condicionado. Três figuras decrépitas, com os corpos se desfigurando, com olhos e bocas negros, debatiam-se furiosamente presas a correntes. E no centro estratégico da grande sala, parado em pé,estava o homem que deu início ao pesadelo. O Dr. Brandon Davis parecia hipnotizado pelo pequeno tubo de ensaio que continha o vírus Orpheu. Ele o ostentava acima de seus olhos como se fosse um troféu. Era a pura imagem do mal encarnado em um homem. A Dra. Zhang, com muita dificuldade, conseguiu indagar sobre a cena trágica:

— Dr... Davis! Mas... O que aconteceu com esses homens? O que aconteceu... Aqui?

O Dr. Davis lentamente virou-se na direção da doutora e abriu mais uma vez o seu sorriso diabólico. Seus olhos pareciam ter sido tomado da mais pura loucura.

— Doutora Zhang... Seja bem vinda ao novo mundo! E de hoje em diante, não sou mais o fraco Dr. Bradon Davis. Lembre-se bem desse meu novo codinome... Me chame de Doutor Delta!

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