A jovem na clareira estava evidentemente acuada pelos monstros, que se aproximavam com uma fome feroz, porém não aparentava estar amedrontada. Ela segurava uma Ruger com determinação e também mirava na cabeça dos mortos-vivos. A julgar pela destreza com a qual ela enfrentava a situação e controlava seu fôlego e movimentos, Alex deduziu que aquele não poderia ser o seu primeiro contato com os zumbis. A putrefação da presença dos monstros não fazia a jovem hesitar. Pelo contrário, ela atirava de modo a economizar munição e apesar de sua perna esquerda estar bastante machucada, ela se movia para a esquerda e para a direita, escapando das investidas da criatura. Porém, segundos depois, Alex percebeu que mesmo com toda a segurança e desenvoltura da jovem, seria preciso muito mais se eles quisessem fugir do cerco de monstros. Uma outra hora, composta de aproximadamente trinta mortos-vivos se aproximava da clareira pelo outro lado. Alex sabia que a primeira horda estava a poucos metros de d
A cada minuto, a avenida principal de Westfield ficava mais tomada de mortos-vivos. Pareciam vir de cada canto do qual era possível sair qualquer coisa que estivesse viva. Centenas de criaturas emergiram do bosque e um outro bando se aproximava lentamente pelos dois extremos da estrada. Alex Stevens e a doutora Annchi Zhang tinham pouquíssimo tempo para pensar. Em poucos minutos, a multidão os cercaria e o Dodge Ram não conseguiria mais avançar. Alex segurou firme o volante com as duas mãos e respirou fundo. Annchi pareceu ler o seu pensamento.— Espere aí.. você não está pensando em...— Logo, logo não haverá outro jeito! - interrompeu Alex - Não consigo sequer contar quantos deles já estão aqui. E nem quantos mais chegarão aqui! É melhor você se segurar!— Droga! - Annchi colocou rapidamente o cinto de segurança e segurou-se no banco, protegendo sua perna esquerda. No entanto, antes que Alex engrenasse a primeira marcha e pisasse no acelerador, ela respirou fundo e constatou algo e
Alex Stevens possuía habilidade de muitos anos na corporação no que dizia respeito à arte de manobrar viaturas em alta velocidade, fosse para perseguir algum criminoso ou até mesmo para prestar socorro a um companheiro ferido. Normalmente, as viaturas tinham o mesmo porte da Dodge Ram que estava pilotando naquele momento, sem contar o mesmo senso de direção e estabilidade. Por essa razão, o policial conseguiu, em poucos minutos, reposicionar o veículo de volta à estrada, mesmo em meio ao horrível e imenso mar de sangue que se espalhava pela avenida principal. Finalmente conseguindo respirar com naturalidade, ele virou-se para a doutora no banco do carona.— Annchi, está tudo bem?— Está sim... Minha perna está doendo bem menos... Valeu!— Bem, eu... não perguntei sobre a perna.Annchi percebeu então que deixara transparecer e muito um momento de humanidade e sensibilidade que não aflorava há muito tempo. Desde que começou a trabalhar na Organização Ômega, sua vida passou a ser uma gra
Não havia luz alguma naquele lugar. As trevas pairavam a cento e cinquenta metros do solo. O cenário era composto de um ambiente cavernoso. O teto continha estalactites que pingavam água que advinha da irrigação natural da superfície. Havia também pouco oxigênio e as condições de sobrevivência eram quase escassas, exceto para as únicas três pessoas que ali estavam. Para eles, não importava se o lugar possuía salubridade ou se havia a possibilidade de morrerem asfixiados com o tempo. Em meio àquele ambiente tenebroso, um plano muito maior era colocado em prática. A única luz que preenchia o lugar vinha das telas de três microcomputadores utilizados pelos cientistas Mark Denver, a renomada virologia Kassandra Winslet e pelo homem responsável pelo início do projeto Orpheu, o experiente biomédico chefe da Organização Ômega, o doutor Brandon Davis. A caverna no subsolo foi escolhida, mesmo às pressas, como o esconderijo perfeito para que eles pudessem discutir e replanejar e definir a est
Alex Stevens e Annchi Zhang olhavam atônitos para o que havia se tornado o centro de Westfield. As ruas estavam totalmente desertas, de um modo como eles nunca tinham visto até então. Alex reduziu a velocidade para contemplar o cenário que se seguia, mas vendo claramente, ele custou a acreditar. Eram oito e quinze da noite e costumeiramente o centro de Westfield estaria tomado por um trânsito intenso, os bares estariam lotados de clientes que habitualmente os frequentavam para aproveitar o happy hour e alguns poucos comércios ainda estavam em atividade para convidar os clientes que preferiam passear à noite. Mas definitivamente não era o caso naquela quinta-feira. O odor de morte era quase insuportável. Ao longe, se podia enxergar os mortos que despertaram do seu sono e foram condenados a caminhar eternamente, de um lado a outro, cambaleantes, esperando pelo alimento que nunca saciará a sua fome. Pais de família, professores, advogados, estudantes, engenheiros, policiais... Todos part
Beatrice Murray soube do que acontecera com Westfield, a Organização Ômega, assim como também soube o que ocorreu a doutora Annchi Zhang e ao policial Alex Stevens nos últimos vinte e cinco minutos que passou no banco de trás da Dodge Ram. Diferente do que Annchi pensou, Beatrice não a culpou de forma alguma pelo que aconteceu às crianças do orfanato de Westfield. Ela era uma jovem extremamente inteligente. Apesar da pouca idade, possuía um profundo senso crítico de qual situação. Aprendera com a mãe desde muito cedo a conservar a empatia em seu coração. Soube na infância que, fossem bons ou ruins, todas as pessoas tinham sentimentos e que era preciso administrar sabiamente a sua própria personalidade. Beatrice parecia saber enxergar a essência das pessoas, mesmo que não as conhecesse. Alex e Annchi arriscaram suas vidas para salvá-la. Não havia a menor possibilidade da essência deles ser ruim. Ao contrário do que ela pensava do criador de toda aquele pesadelo.— Então esse doutor Dav
O distrito de Rainbow Land não era tão grande se comparado aos outros bairros próximos ao centro de Westfield. Entretanto, tinha uma tranquilidade que poderia ser invejada até mesmo pela burguesia do país. O trânsito era pouco intenso naquelas ruas e o comércio, que se resumia a estabelecimentos que poderiam se contar nos dedos, era suficiente para atender a população. Porém, o que mais agradava Alex Stevens naquele pequeno bairro era o parque da rua de baixo, onde sempre que lhe era possível, levava sua esposa Annete e a pequena Amber para passar os poucos, agradáveis e preciosos momentos em família. O parque não era muito extenso, mas com toda a certeza era bem cuidado. A grama era quinzenalmente aparada, as poucas flores do local eram bem cuidadas e os brinquedos onde as crianças se divertiam eram rigorosamente limpos e sua manutenção estava sempre em dia. As melhores fotos da família, onde Alex sorria a ponto de seus olhos brilharem, foram tiradas naquele parque. Naquele dia, ent
Alex Stevens se viu em pé, sentindo uma brisa tão suave em seu rosto que ele jurava ser capaz de ignorar qualquer dor, independente da intensidade. Naquele momento, o céu não possuía cor. Era um branco semelhante à neve. Não era possível visualizar em que ambiente exatamente ele estava, pois a espessa camada de névoa o cercava por todos os lados. Ele estava sozinho e nunca havia visto aquele lugar antes. Não havia nenhum sinal de concreto ou asfalto. Não existiam ali prédios, construções, veículos e nada que lembrasse uma metrópole. Alex estava envolto pela paz e pelo silêncio.O chão era forrado de uma grama tão verde que aparentava estar recém banhada pelo sereno. A grama acompanhava o ritmo do vento, que estava longe de ser incômodo ou violento. Era um ar extremamente agradável, que trazia o cheiro de tulipas, rosas e também girassóis. Como se estivesse sendo movido somente pelo instinto, Alex caminhou lentamente por uma trilha de terra que estava ali próximo. Por um breve momento,