Alex Stevens e Annchi Zhang olhavam atônitos para o que havia se tornado o centro de Westfield. As ruas estavam totalmente desertas, de um modo como eles nunca tinham visto até então. Alex reduziu a velocidade para contemplar o cenário que se seguia, mas vendo claramente, ele custou a acreditar. Eram oito e quinze da noite e costumeiramente o centro de Westfield estaria tomado por um trânsito intenso, os bares estariam lotados de clientes que habitualmente os frequentavam para aproveitar o happy hour e alguns poucos comércios ainda estavam em atividade para convidar os clientes que preferiam passear à noite. Mas definitivamente não era o caso naquela quinta-feira. O odor de morte era quase insuportável. Ao longe, se podia enxergar os mortos que despertaram do seu sono e foram condenados a caminhar eternamente, de um lado a outro, cambaleantes, esperando pelo alimento que nunca saciará a sua fome. Pais de família, professores, advogados, estudantes, engenheiros, policiais... Todos part
Beatrice Murray soube do que acontecera com Westfield, a Organização Ômega, assim como também soube o que ocorreu a doutora Annchi Zhang e ao policial Alex Stevens nos últimos vinte e cinco minutos que passou no banco de trás da Dodge Ram. Diferente do que Annchi pensou, Beatrice não a culpou de forma alguma pelo que aconteceu às crianças do orfanato de Westfield. Ela era uma jovem extremamente inteligente. Apesar da pouca idade, possuía um profundo senso crítico de qual situação. Aprendera com a mãe desde muito cedo a conservar a empatia em seu coração. Soube na infância que, fossem bons ou ruins, todas as pessoas tinham sentimentos e que era preciso administrar sabiamente a sua própria personalidade. Beatrice parecia saber enxergar a essência das pessoas, mesmo que não as conhecesse. Alex e Annchi arriscaram suas vidas para salvá-la. Não havia a menor possibilidade da essência deles ser ruim. Ao contrário do que ela pensava do criador de toda aquele pesadelo.— Então esse doutor Dav
O distrito de Rainbow Land não era tão grande se comparado aos outros bairros próximos ao centro de Westfield. Entretanto, tinha uma tranquilidade que poderia ser invejada até mesmo pela burguesia do país. O trânsito era pouco intenso naquelas ruas e o comércio, que se resumia a estabelecimentos que poderiam se contar nos dedos, era suficiente para atender a população. Porém, o que mais agradava Alex Stevens naquele pequeno bairro era o parque da rua de baixo, onde sempre que lhe era possível, levava sua esposa Annete e a pequena Amber para passar os poucos, agradáveis e preciosos momentos em família. O parque não era muito extenso, mas com toda a certeza era bem cuidado. A grama era quinzenalmente aparada, as poucas flores do local eram bem cuidadas e os brinquedos onde as crianças se divertiam eram rigorosamente limpos e sua manutenção estava sempre em dia. As melhores fotos da família, onde Alex sorria a ponto de seus olhos brilharem, foram tiradas naquele parque. Naquele dia, ent
Alex Stevens se viu em pé, sentindo uma brisa tão suave em seu rosto que ele jurava ser capaz de ignorar qualquer dor, independente da intensidade. Naquele momento, o céu não possuía cor. Era um branco semelhante à neve. Não era possível visualizar em que ambiente exatamente ele estava, pois a espessa camada de névoa o cercava por todos os lados. Ele estava sozinho e nunca havia visto aquele lugar antes. Não havia nenhum sinal de concreto ou asfalto. Não existiam ali prédios, construções, veículos e nada que lembrasse uma metrópole. Alex estava envolto pela paz e pelo silêncio.O chão era forrado de uma grama tão verde que aparentava estar recém banhada pelo sereno. A grama acompanhava o ritmo do vento, que estava longe de ser incômodo ou violento. Era um ar extremamente agradável, que trazia o cheiro de tulipas, rosas e também girassóis. Como se estivesse sendo movido somente pelo instinto, Alex caminhou lentamente por uma trilha de terra que estava ali próximo. Por um breve momento,
Uma nova reunião era iniciada no interior da gruta que acabou se tornando um escritório improvisado. Os três cientistas eram pontuais, detestavam atrasos. Cada minuto desperdiçado significava prejuízos incalculáveis. O odor de umidade era insuportável naquele lugar, mas isso não incomodava o trio de déspotas ambiciosos que tinham a mente repleta de novas ideias. A cena mais grotesca ficou por conta da virologista Kassandra Winslet, que tinha sobre sua mesa improvisada uma cabeça de zumbi. Ela ainda abria e fechava a boca, ainda com a esperança de saciar sua fome, mesmo não tendo mais o seu corpo. Kassandra colocou na cabeça decepada um boné do time de basquete Indiana Pacers, virado para trás em uma tentativa de fazer uma piada cruel. — Olhem pra ele, gente! Parece até que ficou quinze anos mais jovem. — Exatamente ao contrário de você, não é? - comentou o doutor Davis, quase não conseguindo segurar o riso. — Não seja tão mal, Brandon! Você vem que poderia me dar uma mãozinha para
Alex já estava quase totalmente recuperado graças aos cuidados de Annchi e Beatrice. Ainda sentado em sua cama, ele contou a Annchi sobre o sonho que tivera, enquanto Beatrice lhes preparava uma refeição na cozinha lá embaixo. Em um de seus raros momentos onde conseguia abrir um sorriso, Annchi comentou:— Sabe, eu nunca fui de acreditar que os sonhos poderiam passar alguma mensagem ou presságio, mas nesse caso sinceramente eu fico feliz por poder receber o perdão de Annete e Amber. Eu gostaria muito de tê-las conhecido, Alex!— A nossa vida mudou tanto em tão pouco tempo - comentou Alex, de cabeça baixa - De repente, a rotina não existe mais. Cada minuto é decisivo e precisamos estar alertas. Eu me pergunto como devem estar as coisas aí fora. — Se de fato existir um antivírus, e conhecendo o Dr. Davis eu tenho quase certeza que exista, teremos um chance de reverter a situação, por pior que ela possa parecer!— O problema é como iremos encontrá-lo - respondeu Alex - Se o laboratório
Após testemunhar o desastre na casa de Alex, que agora estava destruída, o grupo decidiu que o melhor a fazer naquele momento era se dirigir ao hospital de Westfield para tentar encontrar medicamentos, itens de sobrevivência e, se derem sorte, alimentos em supermercados e lojas de conveniência pelo caminho. Estavam todos em silêncio, cansados e desolados. Pela janela do carro, viam que nada mais restou da grande metrópole. As ruas estavam tomadas de lixo e algumas casas tinham paredes salpicadas de sangue. Tudo estava certo, exceto por algum morto-vivo que perambulava aqui e ali. Alex se mantinha atento ao medidor de combustível. Aquele detalhe era crucial, pois àquela altura, as pessoas que sobreviveram já deviam ter corrido alucinadas para abastecerem seus veículos. E pelo que Alex observava, todos os postos de combustível estavam em ruínas e suas bombas foram destruídas. O grupo calculou, pelos suprimentos e munição que coletaram na casa de Alex, que era possível tentar descansar p
Um ano antes...Beatrice Murray decidiu, em uma das raras ocasiões, fazer uma pausa em seu trabalho no orfanato de Westfield para comer um lanche no Larry's, uma lanchonete muito frequentada pelos jovens que estudavam em uma escola próxima dali. Não estava sendo um mês fácil para Beatrice. As dívidas do orfanato vinham aumentando e como se tratava de um estabelecimento que não recebia verba do governo, ela tinha que arrecadar doações para manter a casa que agora abrigava quase trinta crianças. Entretanto, Westfield estava enfrentando uma grave crise financeira. A inflação mundial havia subido exponencialmente e os preços dos alimentos e insumos em geral tiveram um grande aumento de preço nos últimos dias. Como consequência, as famílias não se sentiam seguras em fazer doações com a mesma frequência de antes. Além de trabalhar no orfanato, Beatrice também era artista plástica. Ela desenvolvia logomarcas e artes para campanhas publicitárias de grandes empresas. Ela não recebia exatament