Uma nova reunião era iniciada no interior da gruta que acabou se tornando um escritório improvisado. Os três cientistas eram pontuais, detestavam atrasos. Cada minuto desperdiçado significava prejuízos incalculáveis. O odor de umidade era insuportável naquele lugar, mas isso não incomodava o trio de déspotas ambiciosos que tinham a mente repleta de novas ideias. A cena mais grotesca ficou por conta da virologista Kassandra Winslet, que tinha sobre sua mesa improvisada uma cabeça de zumbi. Ela ainda abria e fechava a boca, ainda com a esperança de saciar sua fome, mesmo não tendo mais o seu corpo. Kassandra colocou na cabeça decepada um boné do time de basquete Indiana Pacers, virado para trás em uma tentativa de fazer uma piada cruel. — Olhem pra ele, gente! Parece até que ficou quinze anos mais jovem. — Exatamente ao contrário de você, não é? - comentou o doutor Davis, quase não conseguindo segurar o riso. — Não seja tão mal, Brandon! Você vem que poderia me dar uma mãozinha para
Alex já estava quase totalmente recuperado graças aos cuidados de Annchi e Beatrice. Ainda sentado em sua cama, ele contou a Annchi sobre o sonho que tivera, enquanto Beatrice lhes preparava uma refeição na cozinha lá embaixo. Em um de seus raros momentos onde conseguia abrir um sorriso, Annchi comentou:— Sabe, eu nunca fui de acreditar que os sonhos poderiam passar alguma mensagem ou presságio, mas nesse caso sinceramente eu fico feliz por poder receber o perdão de Annete e Amber. Eu gostaria muito de tê-las conhecido, Alex!— A nossa vida mudou tanto em tão pouco tempo - comentou Alex, de cabeça baixa - De repente, a rotina não existe mais. Cada minuto é decisivo e precisamos estar alertas. Eu me pergunto como devem estar as coisas aí fora. — Se de fato existir um antivírus, e conhecendo o Dr. Davis eu tenho quase certeza que exista, teremos um chance de reverter a situação, por pior que ela possa parecer!— O problema é como iremos encontrá-lo - respondeu Alex - Se o laboratório
Após testemunhar o desastre na casa de Alex, que agora estava destruída, o grupo decidiu que o melhor a fazer naquele momento era se dirigir ao hospital de Westfield para tentar encontrar medicamentos, itens de sobrevivência e, se derem sorte, alimentos em supermercados e lojas de conveniência pelo caminho. Estavam todos em silêncio, cansados e desolados. Pela janela do carro, viam que nada mais restou da grande metrópole. As ruas estavam tomadas de lixo e algumas casas tinham paredes salpicadas de sangue. Tudo estava certo, exceto por algum morto-vivo que perambulava aqui e ali. Alex se mantinha atento ao medidor de combustível. Aquele detalhe era crucial, pois àquela altura, as pessoas que sobreviveram já deviam ter corrido alucinadas para abastecerem seus veículos. E pelo que Alex observava, todos os postos de combustível estavam em ruínas e suas bombas foram destruídas. O grupo calculou, pelos suprimentos e munição que coletaram na casa de Alex, que era possível tentar descansar p
Um ano antes...Beatrice Murray decidiu, em uma das raras ocasiões, fazer uma pausa em seu trabalho no orfanato de Westfield para comer um lanche no Larry's, uma lanchonete muito frequentada pelos jovens que estudavam em uma escola próxima dali. Não estava sendo um mês fácil para Beatrice. As dívidas do orfanato vinham aumentando e como se tratava de um estabelecimento que não recebia verba do governo, ela tinha que arrecadar doações para manter a casa que agora abrigava quase trinta crianças. Entretanto, Westfield estava enfrentando uma grave crise financeira. A inflação mundial havia subido exponencialmente e os preços dos alimentos e insumos em geral tiveram um grande aumento de preço nos últimos dias. Como consequência, as famílias não se sentiam seguras em fazer doações com a mesma frequência de antes. Além de trabalhar no orfanato, Beatrice também era artista plástica. Ela desenvolvia logomarcas e artes para campanhas publicitárias de grandes empresas. Ela não recebia exatament
A cada instante, a horda gigante parecia aumentar e se aproximava, trazendo o terror e o perigo. O grupo estava totalmente cercado e sem rota de fuga. Annchi Zhang não sabia se mantinha a mira da Magnum nos Carnívoros mais próximos ou no motoqueiro desconhecido, que ainda estava deitado ao chão, rendido por Alex. O ladrão aproveitou que Alex voltou sua atenção à horda por um milissegundo e aplicou uma joelhada na virilha do policial, que instintivamente se afastou, deixando o motoqueiro livre. Ele se levantou rapidamente e em um movimento de pura técnica, levou a mão às suas costas e sacou a sua espada, posicionando-a em mãos como um verdadeiro samurai. Imediatamente, Annchi apontou a Ruger para ele. — Não se mexa! Você ainda está rendido!— Acho que todos nós estamos, moça! - disse o ladrão, apontando com a cabeça para a horda - Vamos acabar logo com isso! Quero sua comida, seu dinheiro, caso o tenha e também suas armas! Com o carro vocês podem ficar, eu prefiro as duas rodas!— Por
O Dr. Delta caminhava pelo seu pequeno laboratório improvisado no subterrâneo de Westfield. A cada dia, o odor de esgoto e os bichos peçonhentos o incomodavam menos. Também não o incomodava o calor extremo que fazia embaixo da terra. A base subterrânea e improvisada da Organização Ômega era agora o seu lar. Ele se sentia satisfeito, pois todos os resultados dos seus estudos e projetos haviam alcançado os resultados desejados. O vírus Orpheu era um sucesso absoluto e o fator de contágio rápido era o principal atrativo de venda para os mais poderosos líderes militares do planeta. O Dr. Delta havia conseguido já muitos contatos em diversos países e o Orpheu já vinha sendo constantemente requisitado. A Coréia do Norte alegava estar disposta a pagar qualquer preço por algumas maletas com amostragens do vírus. Tão logo os líderes militares assistiram aos vídeos que mostravam o poder de combate dos infectados, o e-mail da Organização Ômega foi bombardeado por pedidos de envio de amostragens
A noite chegava mais uma vez. Em poucos minutos, as trevas prevalecerão sobre Westfield, dificultando a visão dos vivos e facilitando a caça para os mortos. Os Carnívoros não se importavam com a falta de luz ou de visão. A fome passou a guiá-los. Cada forma de vida representava momentos de prazer temporário. Eles não possuíam mais paladar. Mesmo aqueles que em vida tinham um refinado gosto alimentar abandonaram tal luxo e passaram a procurar por carne incansavelmente. Não sentiam mais dor, não sentiam mais frio e tampouco tristeza ou solidão. Eles sentiam fome, somente fome. Mesmo que devorassem a população de uma grande metrópole, ainda assim não iriam estar satisfeitos. Estavam condenados a não mais sentir o alívio da morte. Condenados a não ter mais sentimentos, a não ser mais capazes de tomar qualquer decisão. Estavam vivos, porém inconscientes e famintos. E assim estariam por toda a eternidade. Ela sabia muito bem disso. Testemunhou os efeitos do vírus Orpheu em toda a sua magni
Após a súbita explosão, o Dodge Ram acabou ficando de cabeça para baixo, porém os seus três ocupantes sobreviveram milagrosamente, apenas com ferimentos leves. Alex conseguiu mexer o seu pescoço e virou-se para as suas companheiras.— Vocês estão bem?Annchi e Beatrice assentiram com a cabeça, mas ainda gemiam de dor. Estavam totalmente desconfortáveis, pois o veículo capotou por duas vezes repentinamente, fazendo com que todos machucassem coluna, ombro e pescoço. Alex se esforçou para redobrar a perna de modo que conseguisse chutar a porta do motorista para que essa pudesse abrir, nem que fosse com um espaço mínimo para eles saíssem do carro e seguissem a pé para o hospital. Após quatro pancadas, a porta finalmente se abriu. Ele se esgueirou entre o painel, o câmbio e o volante para conseguir colocar seu corpo para fora e desse modo ajudar suas companheiras a também sair. Porém, antes que Alex pudesse ficar de pé do lado de fora e respirar sem que seus pulmões fossem comprimidos, el