Alex Stevens possuía habilidade de muitos anos na corporação no que dizia respeito à arte de manobrar viaturas em alta velocidade, fosse para perseguir algum criminoso ou até mesmo para prestar socorro a um companheiro ferido. Normalmente, as viaturas tinham o mesmo porte da Dodge Ram que estava pilotando naquele momento, sem contar o mesmo senso de direção e estabilidade. Por essa razão, o policial conseguiu, em poucos minutos, reposicionar o veículo de volta à estrada, mesmo em meio ao horrível e imenso mar de sangue que se espalhava pela avenida principal. Finalmente conseguindo respirar com naturalidade, ele virou-se para a doutora no banco do carona.— Annchi, está tudo bem?— Está sim... Minha perna está doendo bem menos... Valeu!— Bem, eu... não perguntei sobre a perna.Annchi percebeu então que deixara transparecer e muito um momento de humanidade e sensibilidade que não aflorava há muito tempo. Desde que começou a trabalhar na Organização Ômega, sua vida passou a ser uma gra
Não havia luz alguma naquele lugar. As trevas pairavam a cento e cinquenta metros do solo. O cenário era composto de um ambiente cavernoso. O teto continha estalactites que pingavam água que advinha da irrigação natural da superfície. Havia também pouco oxigênio e as condições de sobrevivência eram quase escassas, exceto para as únicas três pessoas que ali estavam. Para eles, não importava se o lugar possuía salubridade ou se havia a possibilidade de morrerem asfixiados com o tempo. Em meio àquele ambiente tenebroso, um plano muito maior era colocado em prática. A única luz que preenchia o lugar vinha das telas de três microcomputadores utilizados pelos cientistas Mark Denver, a renomada virologia Kassandra Winslet e pelo homem responsável pelo início do projeto Orpheu, o experiente biomédico chefe da Organização Ômega, o doutor Brandon Davis. A caverna no subsolo foi escolhida, mesmo às pressas, como o esconderijo perfeito para que eles pudessem discutir e replanejar e definir a est
Alex Stevens e Annchi Zhang olhavam atônitos para o que havia se tornado o centro de Westfield. As ruas estavam totalmente desertas, de um modo como eles nunca tinham visto até então. Alex reduziu a velocidade para contemplar o cenário que se seguia, mas vendo claramente, ele custou a acreditar. Eram oito e quinze da noite e costumeiramente o centro de Westfield estaria tomado por um trânsito intenso, os bares estariam lotados de clientes que habitualmente os frequentavam para aproveitar o happy hour e alguns poucos comércios ainda estavam em atividade para convidar os clientes que preferiam passear à noite. Mas definitivamente não era o caso naquela quinta-feira. O odor de morte era quase insuportável. Ao longe, se podia enxergar os mortos que despertaram do seu sono e foram condenados a caminhar eternamente, de um lado a outro, cambaleantes, esperando pelo alimento que nunca saciará a sua fome. Pais de família, professores, advogados, estudantes, engenheiros, policiais... Todos part
Beatrice Murray soube do que acontecera com Westfield, a Organização Ômega, assim como também soube o que ocorreu a doutora Annchi Zhang e ao policial Alex Stevens nos últimos vinte e cinco minutos que passou no banco de trás da Dodge Ram. Diferente do que Annchi pensou, Beatrice não a culpou de forma alguma pelo que aconteceu às crianças do orfanato de Westfield. Ela era uma jovem extremamente inteligente. Apesar da pouca idade, possuía um profundo senso crítico de qual situação. Aprendera com a mãe desde muito cedo a conservar a empatia em seu coração. Soube na infância que, fossem bons ou ruins, todas as pessoas tinham sentimentos e que era preciso administrar sabiamente a sua própria personalidade. Beatrice parecia saber enxergar a essência das pessoas, mesmo que não as conhecesse. Alex e Annchi arriscaram suas vidas para salvá-la. Não havia a menor possibilidade da essência deles ser ruim. Ao contrário do que ela pensava do criador de toda aquele pesadelo.— Então esse doutor Dav
O distrito de Rainbow Land não era tão grande se comparado aos outros bairros próximos ao centro de Westfield. Entretanto, tinha uma tranquilidade que poderia ser invejada até mesmo pela burguesia do país. O trânsito era pouco intenso naquelas ruas e o comércio, que se resumia a estabelecimentos que poderiam se contar nos dedos, era suficiente para atender a população. Porém, o que mais agradava Alex Stevens naquele pequeno bairro era o parque da rua de baixo, onde sempre que lhe era possível, levava sua esposa Annete e a pequena Amber para passar os poucos, agradáveis e preciosos momentos em família. O parque não era muito extenso, mas com toda a certeza era bem cuidado. A grama era quinzenalmente aparada, as poucas flores do local eram bem cuidadas e os brinquedos onde as crianças se divertiam eram rigorosamente limpos e sua manutenção estava sempre em dia. As melhores fotos da família, onde Alex sorria a ponto de seus olhos brilharem, foram tiradas naquele parque. Naquele dia, ent
Alex Stevens se viu em pé, sentindo uma brisa tão suave em seu rosto que ele jurava ser capaz de ignorar qualquer dor, independente da intensidade. Naquele momento, o céu não possuía cor. Era um branco semelhante à neve. Não era possível visualizar em que ambiente exatamente ele estava, pois a espessa camada de névoa o cercava por todos os lados. Ele estava sozinho e nunca havia visto aquele lugar antes. Não havia nenhum sinal de concreto ou asfalto. Não existiam ali prédios, construções, veículos e nada que lembrasse uma metrópole. Alex estava envolto pela paz e pelo silêncio.O chão era forrado de uma grama tão verde que aparentava estar recém banhada pelo sereno. A grama acompanhava o ritmo do vento, que estava longe de ser incômodo ou violento. Era um ar extremamente agradável, que trazia o cheiro de tulipas, rosas e também girassóis. Como se estivesse sendo movido somente pelo instinto, Alex caminhou lentamente por uma trilha de terra que estava ali próximo. Por um breve momento,
Uma nova reunião era iniciada no interior da gruta que acabou se tornando um escritório improvisado. Os três cientistas eram pontuais, detestavam atrasos. Cada minuto desperdiçado significava prejuízos incalculáveis. O odor de umidade era insuportável naquele lugar, mas isso não incomodava o trio de déspotas ambiciosos que tinham a mente repleta de novas ideias. A cena mais grotesca ficou por conta da virologista Kassandra Winslet, que tinha sobre sua mesa improvisada uma cabeça de zumbi. Ela ainda abria e fechava a boca, ainda com a esperança de saciar sua fome, mesmo não tendo mais o seu corpo. Kassandra colocou na cabeça decepada um boné do time de basquete Indiana Pacers, virado para trás em uma tentativa de fazer uma piada cruel. — Olhem pra ele, gente! Parece até que ficou quinze anos mais jovem. — Exatamente ao contrário de você, não é? - comentou o doutor Davis, quase não conseguindo segurar o riso. — Não seja tão mal, Brandon! Você vem que poderia me dar uma mãozinha para
Alex já estava quase totalmente recuperado graças aos cuidados de Annchi e Beatrice. Ainda sentado em sua cama, ele contou a Annchi sobre o sonho que tivera, enquanto Beatrice lhes preparava uma refeição na cozinha lá embaixo. Em um de seus raros momentos onde conseguia abrir um sorriso, Annchi comentou:— Sabe, eu nunca fui de acreditar que os sonhos poderiam passar alguma mensagem ou presságio, mas nesse caso sinceramente eu fico feliz por poder receber o perdão de Annete e Amber. Eu gostaria muito de tê-las conhecido, Alex!— A nossa vida mudou tanto em tão pouco tempo - comentou Alex, de cabeça baixa - De repente, a rotina não existe mais. Cada minuto é decisivo e precisamos estar alertas. Eu me pergunto como devem estar as coisas aí fora. — Se de fato existir um antivírus, e conhecendo o Dr. Davis eu tenho quase certeza que exista, teremos um chance de reverter a situação, por pior que ela possa parecer!— O problema é como iremos encontrá-lo - respondeu Alex - Se o laboratório