Aquele noite parecia muito mais escura e tenebrosa do que normalmente são as noites em Westfield. Em toda a sua vida, Alex Stevens jamais imaginaria enfrentar um pesadelo daquela magnitude. Ele não saberia dizer como era possível, mas estava consciente. Seus ferimentos eram superficiais, nada que já não tivesse sentido em batalhas anteriores. Ele era capaz de suportar queimaduras de segundo grau, ferimentos causados por objetos cortantes. Era capaz de ficar por vários minutos embaixo d'água, economizando o máximo de oxigênio e também já se fingira de morto, se deitando entre pilhas de cadáveres para não ser capturado pelos seus inimigos. Mas absolutamente nada se comparava àquilo. Alex sobreviveu a um terrível descarrilamento de um trem a quase duzentos quilômetros por hora. Tinha um ferimento quase imperceptível em sua perna direita. Sentia algumas dores no tórax, o que impedia levemente sua respiração, mas nada que o impedisse de se levantar e assistir a uma das cenas mais trágicas
Alex Stevens sabia muito bem que não havia tempo para sentir remorso, tristeza e nem mesmo dor. Ele sabia que não foi ele que matou aquela mulher que, por algum motivo, acabou se afeiçoando. Ela tinha um nome, uma família, uma história. Certamente tinha sonhos, objetivos em sua vida. Talvez ela gostaria de um dia levar seus netos em uma viagem para outro país ou simplesmente vê-los correr e crescer até o último dia de sua vida. Apesar do acontecido, o terço continuava em sua mão e ele decidiu que iria guardá-lo consigo até o dia em que encontrasse algum familiar daquela mulher. Se esse encontro porventura jamais ocorresse, Alex iria guardar o amuleto com uma lembrança. De repente, o silêncio no qual se encontrava o local foi novamente quebrado por gritos ensandecidos. Parecia que uma matilha de lobos selvagens estava indo ao encontro de Alex, pelo menos foi o que ele pensou. Porém, o que ele viu lhe tirou novamente o oxigênio. Os passageiros, que até aquele momento estavam caídos e m
A jovem na clareira estava evidentemente acuada pelos monstros, que se aproximavam com uma fome feroz, porém não aparentava estar amedrontada. Ela segurava uma Ruger com determinação e também mirava na cabeça dos mortos-vivos. A julgar pela destreza com a qual ela enfrentava a situação e controlava seu fôlego e movimentos, Alex deduziu que aquele não poderia ser o seu primeiro contato com os zumbis. A putrefação da presença dos monstros não fazia a jovem hesitar. Pelo contrário, ela atirava de modo a economizar munição e apesar de sua perna esquerda estar bastante machucada, ela se movia para a esquerda e para a direita, escapando das investidas da criatura. Porém, segundos depois, Alex percebeu que mesmo com toda a segurança e desenvoltura da jovem, seria preciso muito mais se eles quisessem fugir do cerco de monstros. Uma outra hora, composta de aproximadamente trinta mortos-vivos se aproximava da clareira pelo outro lado. Alex sabia que a primeira horda estava a poucos metros de d
A cada minuto, a avenida principal de Westfield ficava mais tomada de mortos-vivos. Pareciam vir de cada canto do qual era possível sair qualquer coisa que estivesse viva. Centenas de criaturas emergiram do bosque e um outro bando se aproximava lentamente pelos dois extremos da estrada. Alex Stevens e a doutora Annchi Zhang tinham pouquíssimo tempo para pensar. Em poucos minutos, a multidão os cercaria e o Dodge Ram não conseguiria mais avançar. Alex segurou firme o volante com as duas mãos e respirou fundo. Annchi pareceu ler o seu pensamento.— Espere aí.. você não está pensando em...— Logo, logo não haverá outro jeito! - interrompeu Alex - Não consigo sequer contar quantos deles já estão aqui. E nem quantos mais chegarão aqui! É melhor você se segurar!— Droga! - Annchi colocou rapidamente o cinto de segurança e segurou-se no banco, protegendo sua perna esquerda. No entanto, antes que Alex engrenasse a primeira marcha e pisasse no acelerador, ela respirou fundo e constatou algo e
Alex Stevens possuía habilidade de muitos anos na corporação no que dizia respeito à arte de manobrar viaturas em alta velocidade, fosse para perseguir algum criminoso ou até mesmo para prestar socorro a um companheiro ferido. Normalmente, as viaturas tinham o mesmo porte da Dodge Ram que estava pilotando naquele momento, sem contar o mesmo senso de direção e estabilidade. Por essa razão, o policial conseguiu, em poucos minutos, reposicionar o veículo de volta à estrada, mesmo em meio ao horrível e imenso mar de sangue que se espalhava pela avenida principal. Finalmente conseguindo respirar com naturalidade, ele virou-se para a doutora no banco do carona.— Annchi, está tudo bem?— Está sim... Minha perna está doendo bem menos... Valeu!— Bem, eu... não perguntei sobre a perna.Annchi percebeu então que deixara transparecer e muito um momento de humanidade e sensibilidade que não aflorava há muito tempo. Desde que começou a trabalhar na Organização Ômega, sua vida passou a ser uma gra
Não havia luz alguma naquele lugar. As trevas pairavam a cento e cinquenta metros do solo. O cenário era composto de um ambiente cavernoso. O teto continha estalactites que pingavam água que advinha da irrigação natural da superfície. Havia também pouco oxigênio e as condições de sobrevivência eram quase escassas, exceto para as únicas três pessoas que ali estavam. Para eles, não importava se o lugar possuía salubridade ou se havia a possibilidade de morrerem asfixiados com o tempo. Em meio àquele ambiente tenebroso, um plano muito maior era colocado em prática. A única luz que preenchia o lugar vinha das telas de três microcomputadores utilizados pelos cientistas Mark Denver, a renomada virologia Kassandra Winslet e pelo homem responsável pelo início do projeto Orpheu, o experiente biomédico chefe da Organização Ômega, o doutor Brandon Davis. A caverna no subsolo foi escolhida, mesmo às pressas, como o esconderijo perfeito para que eles pudessem discutir e replanejar e definir a est
Alex Stevens e Annchi Zhang olhavam atônitos para o que havia se tornado o centro de Westfield. As ruas estavam totalmente desertas, de um modo como eles nunca tinham visto até então. Alex reduziu a velocidade para contemplar o cenário que se seguia, mas vendo claramente, ele custou a acreditar. Eram oito e quinze da noite e costumeiramente o centro de Westfield estaria tomado por um trânsito intenso, os bares estariam lotados de clientes que habitualmente os frequentavam para aproveitar o happy hour e alguns poucos comércios ainda estavam em atividade para convidar os clientes que preferiam passear à noite. Mas definitivamente não era o caso naquela quinta-feira. O odor de morte era quase insuportável. Ao longe, se podia enxergar os mortos que despertaram do seu sono e foram condenados a caminhar eternamente, de um lado a outro, cambaleantes, esperando pelo alimento que nunca saciará a sua fome. Pais de família, professores, advogados, estudantes, engenheiros, policiais... Todos part
Beatrice Murray soube do que acontecera com Westfield, a Organização Ômega, assim como também soube o que ocorreu a doutora Annchi Zhang e ao policial Alex Stevens nos últimos vinte e cinco minutos que passou no banco de trás da Dodge Ram. Diferente do que Annchi pensou, Beatrice não a culpou de forma alguma pelo que aconteceu às crianças do orfanato de Westfield. Ela era uma jovem extremamente inteligente. Apesar da pouca idade, possuía um profundo senso crítico de qual situação. Aprendera com a mãe desde muito cedo a conservar a empatia em seu coração. Soube na infância que, fossem bons ou ruins, todas as pessoas tinham sentimentos e que era preciso administrar sabiamente a sua própria personalidade. Beatrice parecia saber enxergar a essência das pessoas, mesmo que não as conhecesse. Alex e Annchi arriscaram suas vidas para salvá-la. Não havia a menor possibilidade da essência deles ser ruim. Ao contrário do que ela pensava do criador de toda aquele pesadelo.— Então esse doutor Dav