Os colaboradores da unidade de experimentos da Organização Ômega viviam momentos de pavor e extrema ansiedade, porém nenhum dos que estavam no prédio fazia ideia do que realmente estava ocorrendo naquele dia. Um grupo de jovens fazia o possível para dar suporte aos colaboradores veteranos na elaboração do Protocolo de Segurança. Todas as portas foram lacradas automaticamente e todos os acessos foram bloqueados. Seja lá o que tivesse ocorrido na sala 407, com certeza seria de alta gravidade. O oitavo andar era exclusivo para pesquisas de vírus poderosos, senão mortais. Algo havia dado errado e ninguém ali poderia arriscar a contar com a sorte.
No entanto, com toda a movimentação em solo, ninguém havia percebido a alteração nos dutos condutores de ar. Os cientistas, estagiários e demais colaboradores de fato sentiam um desconforto em sua respiração e a pressão arterial em seu organismo parecia cair drasticamente. Porém, todos imaginavam que eram sintomas da euforia daquela tarde turbulenta. Pouco a pouco, o vírus Orpheu foi tomando conta da atmosfera de todos os andares do edifício. Um grupo de cinco jovens estagiários corria para se certificar do correto funcionamento dos alarmes de contenção e do abastecimento dos dispositivos antivírus. Um jovem cientista chamado Roger Phillip sentiu o seu corpo formigar e parou de correr, sentindo uma súbita falta de ar e uma intensa fraqueza em seu organismo. Ele caiu de joelhos e levou a mão à região do abdômen. Roger suava frio e seu corpo tremia de maneira descontrolada.Sua companheira Marienne Fox correu até ele e rapidamente o amparou:— Roger! Roger, o que houve? Está tudo bem?A voz de Roger quase não podia ser ouvida. Estava incrivelmente fraca.— Marienne... eu não sei o que está acontecendo. Eu estava bem... mas agora meu corpo não me obedece mais!Gary Crowe, seu outro companheiro de estágio também correu-lhe ao encontro.— Eu tenho certeza de que tem a ver com o que aconteceu no oitavo andar! Algo de muito sinistro deve ter se espalhado no ar! Vamos, precisamos levar Roger até o setor de antígenos.Sem ousar discutir, Marienne ajudou Gary a carregar Roger pelos ombros pelo corredor principal do quinto andar. Porém, a cada segundo, o corpo do jovem Roger parecia ficar com a temperatura mais baixa. A sudorese apenas aumentava e os tremores se intensificaram cada vez mais. Marienne alertou o seu companheiro:— Gary! Ele está piorando! Temos que correr!— Mas que merda está acontecendo? Ele não estava sentindo nada há dez minutos!Não demorou muito para que Gary percebesse que a situação estava totalmente fora de controle. Em uma questão de segundos, Marienne sentiu seu corpo enfraquecer e desabou com força no chão, derrubando também os dois companheiros.—Marienne! O que aconteceu?A garota não mais respondia. Sentiu uma violenta falta de ar e deitou-se ao chão, debatendo-se de maneira tal como se tivesse tendo uma convulsão. Estranhamente, Roger Phillip também convulsionava e a pupila de seus olhos desaparecera. Apavorado, Gary se afastou dos dois jovens.— Mas o que é que tá acontecendo aqui?Instintivamente, ele se distanciava dos seus dois amigos e chegou ao ponto de pânico quando viu que, após convulsionarem com a febre, os dois ficaram inconscientes repentinamente. Haviam desmaiado? Ou pior...— Socorro! - gritou Gary aos colaboradores que passavam pelo saguão - Alguém por favor me ajude!Os dois outros jovens do grupo correram em busca de auxílio, enquanto um grupo de cientistas se aproximou.— O que aconteceu?— Eles... eles estavam bem, nós... Estávamos acionando os protocolos de isolamento. Eles não estavam sentindo nada!— Vou conferir as pulsações! - exclamou um dos cientistas. O homem se aproximou de Roger e posicionou os dedos polegar e anelar no pescoço do jovem. Parecendo assustado, rapidamente apanhou o braço de Roger e levantou um pouco a manga do seu jaleco para checar o pulso. Qualquer tentativa de mentir sobre o diagnóstico seria inútil, pois sua expressão de puro pavor denunciava a sua conclusão.— Meu Deus... Ele está morto!— O que disse? - espantou-se Gary - Do que está falando? Roger estava ótimo! Não sentiu nada durante o dia, trabalhamos normalmente!Uma outra cientista que conferia a pulsação de Marienne disse ao grupo:— A garota também está morta!O espanto tomou conta de todos os presentes. Gary parecia ter saído de órbita:— Mas o que significa isso? O que está acontecendo nesse maldito lugar?Mal terminou de proferir essas palavras, Gary Crowe sentiu um incômodo abaixo do nariz. Levou o dedo indicador ao local e percebeu que estava sangrando. Não demorou muito para constatar que seu braço esquerdo estava dormente, assim como as suas duas pernas. Gary não conseguiu mais se manter em pé. Em questão de segundos, seus olhos pareciam estar queimando e sua visão ficou turva. No entanto, antes que perdesse totalmente a visão, Gary assistiu à maior cena de horror que poderia presenciar em toda a sua vida profissional ou pessoal. O jovem Roger Phillip, que dois minutos atrás fora dado como morto, de repente se levantou, sem tremores, sem sudorese, ficando em pé sem maiores dificuldades. Porém, aparentemente, não restou quase nada do que era o jovem cientista. Seu rosto não possuía expressão, seus olhos eram opacos e sua boca abria e fechava involuntariamente, como se quisesse mastigar alguma coisa no ar.Gary olhou para Marienne e a garota também havia se levantado de seu leve coma. Entretanto, assim como Roger, Marienne ressuscitou portando uma expressão cadavérica e ameaçadora. Seu corpo se movia com uma incomum rigidez. Seus braços lançavam-se para trás e a parte de cima do seu corpo e a parte de baixo pareciam se movimentar de maneira independente. Roger e Marienne tinham os olhos vagos. Eles olhavam ao redor e pareciam... farejar. Pareciam buscar um alvo específico, algo a perseguir. Em um intervalo de dez minutos, os dois pareciam ter se tornado animais.De repente, Gary pôde observar que os cientistas que o haviam ajudado estavam recuando, aparentemente assustados, enquanto Roger e Marienne avançavam na direção do grupo. O que ocorreu em seguida foi a última visão que Gary teve em vida. Parecia loucura, mas estava acontecendo. Roger e Marienne, com braços que se assemelhavam a garras, seguravam com uma incrível força os cientistas e morderam seus pescoços, fazendo jatos de sangue espirrarem abundantemente. As vítimas então caiam ao chão e se debatiam em convulsão, enquanto os outros dois monstros corriam para morder as outras dezenas de colaboradores do saguão. Após presenciar as atrocidades, Gary Crowe não teve mais forças para agir de nenhuma maneira. Sua visão se escureceu e seu corpo entregou-se rapidamente à morte.No quinto andar, a doutora Annchi Zhang tentava de todas as formas manter o doutor Brandon Davis preso na sala 407. Infelizmente, porém, ela receava que seus esforços nada mais valeriam para tentar evitar um desastre. O homem havia acabado de lançar o vírus Orpheu pelo duto de ventilação. A essa altura, a contaminação alcançara ao menos três andares do edifício e o tempo estava correndo.— Dr. Davis... por favor... Ainda temos chance de impedir que o vírus se espalhe ainda mais. Me diga... Por acaso você desenvolveu algum antígeno?— Eu disse anteriormente a esses infelizes que você acabou de matar, doutora... Eu não sou um monstro! Evidentemente existe a fórmula de um antígeno. Porém... Não vai ser preciso que eu o desenvolva!A fúria no espírito da Dra. Zhang aumentava a cada minuto que era obrigada a passar na presença do Dr. Delta. Ela apontou a Ruger para ele novamente, e sua mão não parava de tremer.— Não vai ser... preciso? Você acabou de espalhar o Orpheu pelo laboratório, mesmo depois de presenciar o que esse vírus é capaz de fazer! E ainda me diz que não há necessidade de produzir o antígeno?— Nada disso era necessário, doutora! Eu tenho tudo sob controle. Mas como sempre, vocês me ofendem e me desafiam a todo o tempo! Chegou a hora de todos vocês aprenderem o real poder da Ciência! Nós vivemos por todos esses anos sob a influência de um governo corrupto e manipulador. Um governo composto de pessoas ignorantes e preguiçosas que não sabem olhar para nada além do próprio umbigo! Por acaso não se lembra de quantos projetos brilhantes de medicações você apresentou ao Ministério da Saúde e foram rejeitados sem ao menos serem lidos?— Isso se chama constituição, Doutor! Nós somos regidos por ela há séculos e é o que garante que tudo seja feito dentro da lei. Sim, o senhor tem razão... Nem sempre a legislação é justa conosco e muitos dos projetos que desenvolvemos realmente são promissores e podem até mesmo mudar a História, mas o que se há de fazer quando existem maiores do que os nossos? Nós somos cientistas, Doutor Davis, mas não somos revolucionários e muito menos rebeldes! Não há motivos para...— O Doutor Smithers... esse que jaz morto ao nosso lado... Sabia que ele conseguiu desenvolver, aos seus vinte e oito anos de idade, um microorganismo que combate diretamente o câncer em uma pessoa viva, Doutora? Sim... Nós fizemos mais de quarenta testes em nosso pequeno mascote roedor na gaiola. Inserimos nele o câncer mais mortal que a humanidade tem conhecimento. Deixamos ele agir por um mês e logo em seguida aplicamos o microorganismo do Doutor Smithers. Sabe o que aconteceu? Nosso ratinho ficou curado com apenas três doses, aplicadas no intervalo de setenta e duas horas. Não havia nenhum resquício de câncer nele. E sabe o que foi mais interessante? Fizemos todos os testes no laboratório do prédio do ministério. Aqueles virologistas presenciaram todas as etapas do processo, Annchi! Do início ao fim! E ao final dos testes, quando tínhamos a certeza absoluta de que iríamos ter o aval do governo, sabe o que nos responderam?A Dra. Annchi Zhang continuou em silêncio, ouvindo atenciosamente. O Dr. Delta prosseguiu:— O Governo, sob avaliação do Ministério da Saúde, recusou a inserção do microorganismo do Dr. Smithers na indústria farmacêutica, alegando que o remédio seria muito... barato! O recolhimento de impostos seria de quase zero por cento, visto que usaríamos apenas insumos de origem nacional. Você acredita nisso, Doutora? Milhões de pessoas ainda vão morrer de Câncer simplesmente porque o Governo não aceitou abrir mão dos impostos!Ao dizer essas palavras, o Dr. Delta esmurrou a mesa de experimentos, jogando várias seringas, tubos de ensaio e outros recipientes pelo chão. A reação foi inesperada e a Dra. Zhang se assustou.— Doutor... Eu sei que tudo isso é trágico! Acha que eu também não fico indignada com esse descaso que a América tem conosco? Esse desrespeito pela vida humana? Todas as oportunidades que temos de salvar milhões, bilhões de vidas... Amassadas e jogadas fora, isso quando não se tornam papéis para rascunho? Entretanto, temos outras maneiras de lidar com tudo isso, Dr. Davis! Nossa luta é pela ciência, é pelo progresso! A nossa luta é dentro do laboratório, é nas salas de aula, é nos congressos internacionais... o que você está fazendo, Doutor... É terrorismo!O Dr. Brendon Davis adotou naquele momento uma expressão extremamente sombria. Parecia que o brilhante cientista, o admirável professor de química geral e inorgânica havia deixado de existir, dando lugar a um homem diabólico, capaz de ceifar milhares de vidas apenas para satisfazer aquilo que ele considerava o seu senso de justiça. Seu sorriso desapareceu por completo. Seu olhar tornou-se tão frio e penetrante que foi capaz de paralisar a Doutora Annchi Zhang. Ela não reconhecia mais o virologista. Na sua frente, ela enxergava somente o homem que prometia ser a partir daquele momento, o seu pior pesadelo.— Fique você com a sua luta e seus ideais medíocres, Annchi! Estou com a chave da justiça e do sucesso em minhas mãos. A história da minha vida e da vida da Ômega começa a mudar a partir de hoje! E não pense que eu não te matarei sem hesitar caso você fique no meu caminho! Nem mesmo você irá me impedir de concluir meu objetivo!— Para trás, Doutor Davis! Nem mais um passo, ou eu juro por Deus que vou atirar em você!— Saia da minha frente, Annchi! Se quisesse mesmo atirar em mim, já o teria feito! A essa altura, todo o prédio está infestado de mortos-vivos! Eu não pretendo virar comida para esses vermes, então irei agora mesmo acabar com todos eles e ir direto ao Ministério da Saúde apresentar o meu trabalho.— Não tenho a menor dúvida de que enlouqueceu! Se todas as pessoas do prédio estiverem mortas, o que vai contar à policia? Como vai explicar o fato de você ser o único sobrevivente?— Simples, doutora - o sorriso voltou a estampar o rosto do Dr. Delta - Tivemos uma dispersão acidental de um vírus mortal. O vazamento foi rápido e todos nós aplicamos o Protocolo de Isolamento e Quarentena. Porém, infelizmente, não houve tempo de evitar que o Orpheu matasse os colaboradores dessa empresa. Só que o mais importante, doutora, foi que o vírus não escapou do laboratório, o que mancharia drasticamente a imagem do Governo dos Estados Unidos. Já imaginou se os nossos parceiros comerciais soubessem de uma catástrofe assim? Pense comigo... Se o problema já foi resolvido aqui, não há porque levar o alarde para a imprensa. O Governo seguiria com a sua vida normalmente, assim como seus negócios... E os seus impostos! E os cientistas que aqui morreram contendo o vírus... As famílias deles ganharão medalhas de honra ao mérito, pois esses heróis deram as suas vidas para impedir uma segunda Chernobyl.— Você... como você... É asqueroso! Tem noção de que esse vírus vai acabar com todos nós, inclusive... Mas que droga!De repente, algo fez a Dra. Zhang sucumbir ao desespero. O choque do fato que ela acabara de lembrar foi tão grande que a Ruger caiu de sua mão. Como se algo violento a tivesse atingido de súbito, ela virou-se em direção à porta.— Maldição...— O que foi agora, Dra. Zhang?Annchi Zhang se lembrou de ter solicitado um helicóptero com urgência para socorrer as vítimas do ocorrido na sala 407, quando ela ainda não fazia ideia do que havia acontecido. No entanto, agora que ela se encontrava naquele cenário e testemunhou a disseminação do vírus pelos dutos de ar, ela pensou que, se seus cálculos estivessem corretos, não houve tempo necessário para que o piloto do helicóptero saísse do prédio e assumisse a aeronave antes do Orpheu ter se espalhado por completo. Isso só poderia significar uma coisa...— Dra. Zhang... Saia agora mesmo do meu caminho, ou eu atirarei em você com a arma que deixou cair! É o meu último aviso!Annchi pareceu não ter ouvido uma palavra da advertência do Dr. Delta. O que de fato ela ouviu foi algo muito mais assustador. O som que ela ouviu confirmou que seus cálculos estavam cirurgicamente certos. O som das hélices de um helicóptero podia ser ouvido e parecia aumentar de intensidade a cada segundo. Em poucos instantes, pôde-se ouvir também o barulho do motor chegando cada vez mais perto. A cada segundo o som ficava mais alto. Até que por fim, a Dra. Zhang pôde ouvir finalmente o grito desesperado do Dr. Delta quando viu o helicóptero que vinha em queda livre em direção ao prédio. O som que se pôde ouvir a seguir foi de vidros quebrando e o grande mostro de metal colidindo violentamente contra o prédio da Organização Ômega.Era muito agradável o clima em Pequim. O outono havia começado da melhor maneira da qual se poderia imaginar. O sol aparentava estar mais vaidoso, pois seu brilho era refletido nas folhas dos galhos, de modo que era possível enxergar um brilho intenso em cada gota. O vento também fazia seu papel, contribuindo para que a temperatura não estivesse tão quente e o frio não castigasse tanto, como era de costume. E tudo contribuía para a alegria da pequena Annchi Zhang, que parecia orgulhosa de si mesma por estar conseguindo se equilibrar em sua bicicleta após somente dois dias de treinamento. Ela ria sozinha e olhava com alegria para o avô, Lao Zhang, que acenava para ela e gargalhava com muita alegria. Naquele instante, não existia nada para o avô a não ser a felicidade de sua pequena e amada neta. Um ano atrás, seu filho e sua nora foram brutalmente assassinados em uma missão que visava frustrar um ato terrorista da máfia chinesa. Foi provado dias depois que houve uma traição na Intelig
A cidade de Westfield vivia mais um dia de intensa movimentação. Nada parecia poder parar o ritmo frenético da mega metrópole que se encontrava noite e dia em atividade. E nada poderia representar melhor aquela interminável agitação do que o metrô de Westfield. Vagões ultramodernos carregavam cerca de quase dois milhões de passageiros até diversas cidades em várias partes do Estado. E entre esse número incrível de passageiros, estava o policial Alex Stevens, que acabara de concluir mais um dia de trabalho e estava muito ansioso para retornar ao seu lar.Alex tinha trinta e sete anos de idade e estava há quinze anos na polícia. Ele possuía uma grande experiência em táticas de combate e também noções e conhecimento sobre a Inteligência. Tinha grande senso tático e nunca agia sem antes avaliar todas as probabilidades e consequências dos próximos passos. Seu pai era um tenente aposentado e se mudara há pouco tempo junto com a esposa, mãe de Alex, para Cleveland, onde pretendia passar tra
Aquele noite parecia muito mais escura e tenebrosa do que normalmente são as noites em Westfield. Em toda a sua vida, Alex Stevens jamais imaginaria enfrentar um pesadelo daquela magnitude. Ele não saberia dizer como era possível, mas estava consciente. Seus ferimentos eram superficiais, nada que já não tivesse sentido em batalhas anteriores. Ele era capaz de suportar queimaduras de segundo grau, ferimentos causados por objetos cortantes. Era capaz de ficar por vários minutos embaixo d'água, economizando o máximo de oxigênio e também já se fingira de morto, se deitando entre pilhas de cadáveres para não ser capturado pelos seus inimigos. Mas absolutamente nada se comparava àquilo. Alex sobreviveu a um terrível descarrilamento de um trem a quase duzentos quilômetros por hora. Tinha um ferimento quase imperceptível em sua perna direita. Sentia algumas dores no tórax, o que impedia levemente sua respiração, mas nada que o impedisse de se levantar e assistir a uma das cenas mais trágicas
Alex Stevens sabia muito bem que não havia tempo para sentir remorso, tristeza e nem mesmo dor. Ele sabia que não foi ele que matou aquela mulher que, por algum motivo, acabou se afeiçoando. Ela tinha um nome, uma família, uma história. Certamente tinha sonhos, objetivos em sua vida. Talvez ela gostaria de um dia levar seus netos em uma viagem para outro país ou simplesmente vê-los correr e crescer até o último dia de sua vida. Apesar do acontecido, o terço continuava em sua mão e ele decidiu que iria guardá-lo consigo até o dia em que encontrasse algum familiar daquela mulher. Se esse encontro porventura jamais ocorresse, Alex iria guardar o amuleto com uma lembrança. De repente, o silêncio no qual se encontrava o local foi novamente quebrado por gritos ensandecidos. Parecia que uma matilha de lobos selvagens estava indo ao encontro de Alex, pelo menos foi o que ele pensou. Porém, o que ele viu lhe tirou novamente o oxigênio. Os passageiros, que até aquele momento estavam caídos e m
A jovem na clareira estava evidentemente acuada pelos monstros, que se aproximavam com uma fome feroz, porém não aparentava estar amedrontada. Ela segurava uma Ruger com determinação e também mirava na cabeça dos mortos-vivos. A julgar pela destreza com a qual ela enfrentava a situação e controlava seu fôlego e movimentos, Alex deduziu que aquele não poderia ser o seu primeiro contato com os zumbis. A putrefação da presença dos monstros não fazia a jovem hesitar. Pelo contrário, ela atirava de modo a economizar munição e apesar de sua perna esquerda estar bastante machucada, ela se movia para a esquerda e para a direita, escapando das investidas da criatura. Porém, segundos depois, Alex percebeu que mesmo com toda a segurança e desenvoltura da jovem, seria preciso muito mais se eles quisessem fugir do cerco de monstros. Uma outra hora, composta de aproximadamente trinta mortos-vivos se aproximava da clareira pelo outro lado. Alex sabia que a primeira horda estava a poucos metros de d
A cada minuto, a avenida principal de Westfield ficava mais tomada de mortos-vivos. Pareciam vir de cada canto do qual era possível sair qualquer coisa que estivesse viva. Centenas de criaturas emergiram do bosque e um outro bando se aproximava lentamente pelos dois extremos da estrada. Alex Stevens e a doutora Annchi Zhang tinham pouquíssimo tempo para pensar. Em poucos minutos, a multidão os cercaria e o Dodge Ram não conseguiria mais avançar. Alex segurou firme o volante com as duas mãos e respirou fundo. Annchi pareceu ler o seu pensamento.— Espere aí.. você não está pensando em...— Logo, logo não haverá outro jeito! - interrompeu Alex - Não consigo sequer contar quantos deles já estão aqui. E nem quantos mais chegarão aqui! É melhor você se segurar!— Droga! - Annchi colocou rapidamente o cinto de segurança e segurou-se no banco, protegendo sua perna esquerda. No entanto, antes que Alex engrenasse a primeira marcha e pisasse no acelerador, ela respirou fundo e constatou algo e
Alex Stevens possuía habilidade de muitos anos na corporação no que dizia respeito à arte de manobrar viaturas em alta velocidade, fosse para perseguir algum criminoso ou até mesmo para prestar socorro a um companheiro ferido. Normalmente, as viaturas tinham o mesmo porte da Dodge Ram que estava pilotando naquele momento, sem contar o mesmo senso de direção e estabilidade. Por essa razão, o policial conseguiu, em poucos minutos, reposicionar o veículo de volta à estrada, mesmo em meio ao horrível e imenso mar de sangue que se espalhava pela avenida principal. Finalmente conseguindo respirar com naturalidade, ele virou-se para a doutora no banco do carona.— Annchi, está tudo bem?— Está sim... Minha perna está doendo bem menos... Valeu!— Bem, eu... não perguntei sobre a perna.Annchi percebeu então que deixara transparecer e muito um momento de humanidade e sensibilidade que não aflorava há muito tempo. Desde que começou a trabalhar na Organização Ômega, sua vida passou a ser uma gra
Não havia luz alguma naquele lugar. As trevas pairavam a cento e cinquenta metros do solo. O cenário era composto de um ambiente cavernoso. O teto continha estalactites que pingavam água que advinha da irrigação natural da superfície. Havia também pouco oxigênio e as condições de sobrevivência eram quase escassas, exceto para as únicas três pessoas que ali estavam. Para eles, não importava se o lugar possuía salubridade ou se havia a possibilidade de morrerem asfixiados com o tempo. Em meio àquele ambiente tenebroso, um plano muito maior era colocado em prática. A única luz que preenchia o lugar vinha das telas de três microcomputadores utilizados pelos cientistas Mark Denver, a renomada virologia Kassandra Winslet e pelo homem responsável pelo início do projeto Orpheu, o experiente biomédico chefe da Organização Ômega, o doutor Brandon Davis. A caverna no subsolo foi escolhida, mesmo às pressas, como o esconderijo perfeito para que eles pudessem discutir e replanejar e definir a est