Celine
O que era para ser um período de felicidades e realizações em minha vida, se tornou um verdadeiro pesadelo. Sou filha do Álvaro Castelli, um dos maiores produtores de algodão do centro-oeste. Suas fazendas somam cerca de 260 mil hectares, sem contar com o milho e a soja, além de várias empresas em ramos diferentes que meu pai é investidor ou sócio. Nasci numa família privilegiada, sempre tive as melhores roupas, estudei nos melhores colégios, cursos de idiomas, viagens internacionais, tudo sempre com luxo e conforto. Mas todo o dinheiro no mundo nunca foi capaz de ocupar o vazio no meu coração pela ausência da minha mãe após sua morte prematura.
Fui para São Paulo onde estudei em uma faculdade de alto padrão e me formei no curso de arquitetura e urbanismo. A promessa era que após formada retornaria para Goiânia, minha cidade natal, para exercer minha profissão. Mas tudo desmoronou quando eu retornei. Para bem da verdade os sinais sempre estiveram claros que não era isso que meu pai queria para mim. Pela sua forma de falar era nítido que seus planos eram outros, mas eu não quis acreditar até ver todo o desenrolar.
Se não fosse pela minha tia Alda, irmã do meu pai que ajudou a me criar, a essa altura eu estaria casada com o fazendeiro Geraldo Mattos, um homem viúvo de 65 anos com dois filhos adultos, e com pretensões políticas. Meu pai em aliança com ele, viu em mim uma oportunidade de ouro para me unir a ele em matrimônio fortalecendo suas alianças.
A cada dia que passava a pressão sobre mim estava se tornando insuportável, eu já não via saída. Meu pai percebendo que cortar mesada ou me deixar sem cartões não surtia efeito, decidiu interferir para que eu não conseguisse arrumar nenhum tipo de trabalho, por fim me proibiu de sair de casa, mesmo com meus 24 anos.
Apesar das nossas condições financeiras nunca fui deslumbrada. Gostava de me envolver nos afazeres da casa e as férias que passava na fazenda da minha avó eram sempre os momentos mais felizes da minha vida. Aprendi com ela a cozinhar diversos pratos e costurar algumas roupas. Minha tia Alda é extremanete importante em minha vida, ela sempre foi como uma segunda mãe, sempre bateu de frente com meu pai para me proteger. Meu pai desde o falecimento da minha mãe quando eu tinha 8 anos, mudou completamente. Se tornou um homem frio sempre focado em ganhar cada vez mais dinheiro. Por várias vezes ele nos apresentava algumas namoradas, mas não durava muito tempo. Tentei justificar por muito tempo que o seu comportamento era no fundo saudades da minha mãe, achava mais fácil pensar assim.
Meu irmão Pablo, dois anos mais novo do que eu, sempre foi um inconsequente, vivendo alheio a tudo. Sua preocupação se resume a baladas e mulheres, nunca levou os estudos a sério, mesmo sendo cobrado já que seu lugar na empresa está garantido. Enquanto meu primo Victor, filho da minha tia Alda, vive como uma sombra do meu pai. Ele é cinco anos mais velho do que eu, muito ambicioso e astuto, um perfeito puxa-saco que se empenha ao máximo para no futuro substituir meu pai nos negócios, pois sabe que meu irmão não é um obstáculo para ele. Mesmo sendo diretor financeiro sei que não está satisfeito. Nem meu primo ou meu irmão intercederam ao meu favor. Supliquei para que o Victor tirasse aquela ideia absurda da cabeça do meu pai, mas ele não quis me ajudar.
Tudo chegou ao limite quando meu pai organizou um jantar para me aproximar do meu “futuro marido”. O velho me olhava com muita lascívia e não disfarçava suas intenções que não era das melhores. As coisas estavam acontecendo fora do meu controle, datas estavam sendo marcadas. Minha tia intercedeu por mim, tentou falar com meu pai por diversas vezes, mas de nada adiantou. Mesmo relutante ela concordou que eu deveria fugir de casa, mas sua intenção era que eu saísse de viagem para o exterior, o que não iria adiantar, pois meu pai descobriria com facilidade. Ela então me deu uma boa quantia em dinheiro vivo e um celular simples que era cadastrado em nome de terceiros. Naquela madrugada saí com uma bolsa com poucas roupas. Deixei todas as minhas coisas para trás. Roupas, bolsas, sapatos, tudo em sua maioria de grife, joias e muito mais. Nada daquilo fazia sentido para mim, minha liberdade não tem preço.
Por essa tenho certeza que meu pai não esperava. Que eu furasse a bolha e fugisse daquela redoma de luxo. Driblei a segurança e consegui escapar do condomínio em que morávamos e de táxi fui até o centro da cidade, de lá peguei um ônibus indo até a rodoviária. Caminhei até o primeiro guichê e comprei uma passagem para o primeiro destino que me veio à mente, Brasília. Fiquei com medo por ser uma cidade próxima, mas tudo que eu precisava naquele momento era partir o quanto antes. Decidi a partir daquele momento que eu viveria de uma forma totalmente diferente, que sairia totalmente do radar do meu pai.
Celine Não tem sido dias fáceis, estou andando de um lado para o outro sem saber o que fazer, ou melhor para onde eu vou quando sair dessa casa. Há uns dois meses que trabalho aqui como doméstica, mas sei que minha estadia aqui será curta, pois a minha patroa não está nada satisfeita comigo. Não com o meu trabalho, mas por ciúmes do marido. Mal sabe ela que a outra empregada que trabalha aqui e ela julga ser de “confiança” por estar aqui há mais de 3 anos, vive de amassos com o marido dela dentro da dispensa. Já percebi que os outros funcionários sabem mas fazem vista grossa, ninguém tem coragem de contar, a nossa patroa é bem megera. Dona Nice a cozinheira, uma senhora de idade, que me lembra minha vozinha, tenta me acalmar todos os dias, mas estou sentindo que de hoje eu não passo. Minhas economias e o dinheiro que ganhei da minha tia, foram roubadas com alguns objetos de valor que eu tinha na pensão do Manolo. Além disso, eu tinha que lidar com um vizinho bem inconveniente
Renê Às vezes tenho a sensação de que estou vivendo no automático. Os dias para mim são sempre iguais. Só tenho me dedicado ao trabalho, o pouco tempo que fico em casa estou dormindo. Desde o falecimento da minha esposa há dois anos atrás, tenho usado o trabalho como rota de fuga. Morando há um ano e meio em uma nova casa em um outro bairro de alto padrão em Brasília, tenho a sensação de não estar no meu lar. Mas as lembranças da Scarlett estavam me matando aos poucos na minha antiga casa. Foi melhor ter me mudado de lá. Não tive coragem de vender a casa. Optei por colocá-la em uma imobiliária para alugar. Desde então também não tive coragem de voltar à minha antiga casa. Minha esposa era uma mulher jovem de 27 anos, mas um acidente de trânsito ceifou sua vida, não tivemos a oportunidade de construir a nossa família, depois de 4 anos juntos, somando namoro, noivado e casamento. Éramos muito diferentes, mas nos dávamos bem. Nossas famílias eram amigas desde sempre, algo que mu
Celine Estou aqui sentada em um banco de uma praça próximo ao endereço do meu novo emprego. Fiz um lanche rápido e estou no aguardo do horário para ir até a casa em que vou trabalhar. Dona Nice me explicou que meu novo chefe é médico, e que pediu que eu fosse até lá no período da tarde. Não deu tempo dela me dar mais detalhes sobre ele, pois dona Bárbara interrompeu nossa conversa na cozinha, acertou meu tempo de trabalho e mal pude despedir da dona Nice. Sou muito grata a dona Nice que me salvou mais uma vez. Tô sentindo um frio na barriga de ansiedade, mas tenho fé que tudo vai dar certo. Me sinto envergonhada de chegar assim do nada na casa de uma pessoa de mala e cuia como dizem na minha terra. Caminho por ruas arborizadas de um lindo condomínio de alto padrão, vejo os jardins e uma casa mais bonita do que a outra. Chego em frente a uma linda casa branca com janelas grandes. Um lindo jardim muito bem cuidado por sinal, parei em frente a grande porta e confirmo que já são 1
Renê Quando meus olhos se cruzaram com a figura da bela morena em pé em frente a minha casa, confesso que me senti surpreendido. Não esperava que fosse a bela moça que vi organizando a mesa de jantar na casa do meu amigo. Senti uma certa ansiedade em me imaginar dividindo a casa com ela, uma mulher tão linda. Eu não deveria ter esse tipo de pensamento, mas é algo inevitável. Ela demonstrou ser tímida enquanto conversávamos, não queria fazer contato visual comigo, mas sou um homem que gosta de conversar olhando nos olhos. Não gostei quando perguntou da minha esposa, sei que fui ríspido em minha resposta, afinal de contas como ela iria adivinhar que sou viúvo? Mas compreendi quando ela me disse que não teve tempo para conversar com a dona Nice. Raiva e indignação tomaram conta de mim quando me contou que ficou desde cedo caminhando por aí enquanto aguardava o horário combinado. Me frustrou imaginar que enquanto eu dormia, ela estava tão desamparada. A Bárbara é definitivamente uma
RenêResolvi sair mais cedo para o hospital e dar um certo espaço para Celine se adaptar a casa. Mas a verdade é que pela primeira vez em dois anos, encontrei essa mulher que mexe comigo de alguma forma. Depois do falecimento da minha esposa não me envolvi sentimentalmente nem sexualmente com outra mulher. Longe de mim querer pagar de santo, não se trata disso. Mas a tristeza do luto, do vazio da perda me consumiu. Por mais que eu tentasse sair de casa e interagir com outras pessoas, era como se nada fizesse mais sentido. Aos 38 anos de idade, já não me vejo me aventurando por aí com várias mulheres e noitadas como meus amigos me sugerem. Entrar em um relacionamento também não é uma opção para mim.- Sonhando acordado meu amigo? - Sinto a mão do Frederico apertar o meu ombro. Ele se senta com uma xícara de café de frente comigo na lanchonete do hospital.- Você é quem chega tarde Fred- falei bebericando meu café.- Antes tarde do que nunca! Mas o que está acontecendo Renê? Mesm
- Obrigado rapaz! Se me der licença, preciso ajudar a minha esposa! - As palavras saíram da minha boca no automático, não iria permitir a aproximação desse cara da Celine. Sem conseguir disfarçar seu olhar assustado, o folgado começou a sair apressadamente. Um sorriso de satisfação se formou nos meus lábios, não que eu estivesse com ciúmes, só queria protegê-la desse engraçadinho. Adentrei a cozinha colocando as demais sacolas sobre o balcão. Celine andava de um lado pro outro organizando as compras. Seus cabelos presos em um coque, dando uma bela visão do seu pescoço. Ela é muito bonita e delicada, e sua força e determinação são perceptíveis.- Deseja algo Sr. Renê?- Sim, que pare de me chamar de senhor, acho que não sou tão velho assim. Falei dando um sorriso de lado.- Não, claro que não Sr.Renê, quero dizer Renê. Gostei de ouvir meu nome sair de seus lábios e a forma que corou envergonhada enquanto falava comigo.- Você deseja algo? Posso preparar agora para você?. Ela é semp
Renê Cada dia que passa me surpreendo mais com a Celine. Não posso negar que após sua chegada minha casa ganhou vida. Seu jeito animado de caminhar pela casa, às vezes cantando, outras vezes conversando sozinha. Tenho observado seus trejeitos, como se porta, a maneira de falar, seus gostos e como demonstra em pequenas situações seu conhecimento. Aparenta ser uma moça que foi criada em berço de ouro, mas ao mesmo tempo sua simplicidade e humildade me confundem, pois não faria sentido ela pertencer a uma família de posses e estar trabalhando na minha casa. Não sai nos domingos de folga, passa grande parte do dia em seu quarto desenhando. Já percebi que é algo que ela gosta de fazer. Vi alguns de seus desenhos e são incríveis, muito profissionais, às vezes acho que ela fez algum tipo de curso. Tive curiosidade em perguntar, mas acabei desistindo por temer que ela pudesse me achar invasivo. Sempre cozinha algo maravilhoso para que eu leve para comer no intervalo do meu plan
Renê Cheguei em casa como sempre com o dia amanhecendo. Percebi de imediato a silhueta feminina deitada no sofá, me aproximei da Celine que dormia tranquilamente enquanto os primeiros raios suaves da luz da manhã se filtravam através das cortinas da sala, criando um ambiente acolhedor. Não resisti, aproveitei que ela dormia profundamente para fazer uma análise detalhada do seu corpo. Senti um certo nervosismo, e mesmo com medo de acordá-la me agachei próximo ao sofá e comecei a observar os traços delicados do seu rosto tão angelical, os lábios levemente entreabertos. O vestido de alças finas destacava seus seios que com certeza devem caber na palma da minha mão. Fiquei ali parado como um bobo olhando as suas belas coxas e as lindas curvas do seu corpo. A visão dela tão próxima e ao mesmo tempo tão distante esquentou meu corpo. Um desejo primitivo à flor da pele. Sentimentos que há muito tempo eu não sentia por uma mulher. A sensação de atração era palpável, não me contive e ti