Celine
Não tem sido dias fáceis, estou andando de um lado para o outro sem saber o que fazer, ou melhor para onde eu vou quando sair dessa casa. Há uns dois meses que trabalho aqui como doméstica, mas sei que minha estadia aqui será curta, pois a minha patroa não está nada satisfeita comigo. Não com o meu trabalho, mas por ciúmes do marido. Mal sabe ela que a outra empregada que trabalha aqui e ela julga ser de “confiança” por estar aqui há mais de 3 anos, vive de amassos com o marido dela dentro da dispensa. Já percebi que os outros funcionários sabem mas fazem vista grossa, ninguém tem coragem de contar, a nossa patroa é bem megera. Dona Nice a cozinheira, uma senhora de idade, que me lembra minha vozinha, tenta me acalmar todos os dias, mas estou sentindo que de hoje eu não passo. Minhas economias e o dinheiro que ganhei da minha tia, foram roubadas com alguns objetos de valor que eu tinha na pensão do Manolo. Além disso, eu tinha que lidar com um vizinho bem inconveniente que adorava me assediar. O Carlito é um homem super descarado, me cercava o tempo todo com cantadas baratas, queria que eu cedesse a ele de todas as formas, mas graças a Deus conheci a Dona Nice, que é a cozinheira aqui da casa, ela tem dois filhos que moram perto dessa pensão, e me conseguiu esse emprego. Já trabalhei hoje feito uma condenada, corri pro meu quartinho e tomei um banho rápido, coloquei o uniforme especial já que hoje os patrões receberão visitas para o jantar. Saio dos meus pensamentos e dou de cara com a Sra. Barbara minha patroa, me olhando com um olhar de julgamento, meu coração dispara, tenho certeza do que está por vir. - Bom te ver bonitinha! Quero te avisar que amanhã quero você fora da minha casa! - Ela me diz isso com seu tom arrogante de sempre. Passa por mim como se eu não fosse nada. Engulo em seco e tento manter a calma. - O que foi minha filha? Que cara é essa? Parece que viu assombração. - Antes fosse Dona Nice, a Senhora Bárbara, acabou de me demitir, disse que a partir de amanhã não me quer mais aqui! - Mas essa mulher é muito sem coração. Veio debaixo igual a gente, só porque hoje é casada com um homem rico, esqueceu das suas origens! Isso é puro ciúmes do marido, mal sabe ela o que ele apronta nessa casa. - Me abraçou me guiando até uma cadeira na cozinha. - Mas não tem nada que eu possa fazer. - Suspirei ajeitando o coque em meu cabelo. - Ela te paga uma miséria, minha filha. Você trabalha muito mais do que a Dora. Mas fica tranquila, eu tive uma ideia, confia em mim, vou te ajudar. - Falou com um tom de determinação na voz. Não consigo imaginar como Dona Nice pode me ajudar. Aceitei de bom grado esse trabalho, mesmo com todas as humilhações que tenho suportado, já que aqui eu tenho casa e comida, e não estou podendo escolher. Nem olho na cara do patrão, o Sr. Richard é sem vergonha, mas nunca dei nenhum tipo de abertura, quase nem o vejo, seu escritório a Dora faz questão de limpar e eu sei bem o porquê, aliás todos os funcionários daqui da casa sabem. Tento fingir normalidade, ajeito meu uniforme voltando ao trabalho. Termino de colocar a mesa de jantar, já que o casal de convidados chegou. Estão todos na sala se servindo de drinks e aperitivos, daqui eu consigo escutar conversas e risadas. Percebo a voz grave de um homem conversando com meus patrões. Evito contato visual com todos, mantenho meu olhar focado nos pratos enquanto sirvo à mesa, mas percebo olhares direcionados a mim, prefiro evitar olhar quem me observa. O cheiro maravilhoso de um perfume masculino invadiu meu nariz, percebi a figura alta de um homem bem vestido, mas ao seu lado esta uma mulher loira de olhos claros pendurada em seu braço direito como se estivesse marcando território, vestida com um longo vestido preto que a deixou muito pálida. Definitivamente essa roupa não a favoreceu, mas quem sou eu pra julgar. Todos se acomodam na mesa, dona Bárbara acena pra mim com um olhar frio e cortante, me retiro rapidamente porque sei que ela prefere que a Dora sirva a mesa, e eu também não faço a mínima questão de ficar perto dessa esnobe. Seus convidados devem ser esnobes igual a ela. Aproveito a deixa e vou pro meu quartinho, começo a organizar minhas coisas na mala, com um sentimento de angústia, mas preciso deixar tudo arrumado antes de ir dormir. Não tenho muitas coisas, o que me faz lembrar do meu antigo closet na casa do meu pai, com uma infinidade de peças e marcas. Algumas horas mais tarde escuto umas batidinhas na porta, é a Dona Nice. - Resolvi seu problema, minha filha. - Ela me fala com um tom de satisfação e vitória. - Como assim Dona Nice? - Estou preocupada, para saber o que ela conseguiu. - Te arrumei um novo trabalho, você tem que se apresentar lá amanhã a tarde, toma aqui o papel com o endereço, é fácil de chegar, se for preciso peço pro meu filho Xavier te levar. - Ela fala colocando um papel em minha mão - Quem é Renê Williams, Dona Nice? - Falo sem entender e com medo olhando o papel com o nome do homem e o endereço em minha mão. - É um amigo do patrão, Celine, mas é um rapaz gentil e de bom coração. O conheço de longa data, desde antes do Sr. Richard ter se casado com a dona Bárbara. Na rua você não vai ficar minha filha, confia em mim que eu sei o que estou fazendo, vai dá certo, acredite em mim. Sentei em minha cama segurando o pedaço de papel em minhas mãos com uma caligrafia bonita bem talhada, sentindo um frio na barriga e a angústia por um futuro incerto. Preciso acreditar que tudo vai dar certo, só espero em Deus que esse Doutor Renê seja um bom homem como a dona Nice diz.Renê Às vezes tenho a sensação de que estou vivendo no automático. Os dias para mim são sempre iguais. Só tenho me dedicado ao trabalho, o pouco tempo que fico em casa estou dormindo. Desde o falecimento da minha esposa há dois anos atrás, tenho usado o trabalho como rota de fuga. Morando há um ano e meio em uma nova casa em um outro bairro de alto padrão em Brasília, tenho a sensação de não estar no meu lar. Mas as lembranças da Scarlett estavam me matando aos poucos na minha antiga casa. Foi melhor ter me mudado de lá. Não tive coragem de vender a casa. Optei por colocá-la em uma imobiliária para alugar. Desde então também não tive coragem de voltar à minha antiga casa. Minha esposa era uma mulher jovem de 27 anos, mas um acidente de trânsito ceifou sua vida, não tivemos a oportunidade de construir a nossa família, depois de 4 anos juntos, somando namoro, noivado e casamento. Éramos muito diferentes, mas nos dávamos bem. Nossas famílias eram amigas desde sempre, algo que mu
Celine Estou aqui sentada em um banco de uma praça próximo ao endereço do meu novo emprego. Fiz um lanche rápido e estou no aguardo do horário para ir até a casa em que vou trabalhar. Dona Nice me explicou que meu novo chefe é médico, e que pediu que eu fosse até lá no período da tarde. Não deu tempo dela me dar mais detalhes sobre ele, pois dona Bárbara interrompeu nossa conversa na cozinha, acertou meu tempo de trabalho e mal pude despedir da dona Nice. Sou muito grata a dona Nice que me salvou mais uma vez. Tô sentindo um frio na barriga de ansiedade, mas tenho fé que tudo vai dar certo. Me sinto envergonhada de chegar assim do nada na casa de uma pessoa de mala e cuia como dizem na minha terra. Caminho por ruas arborizadas de um lindo condomínio de alto padrão, vejo os jardins e uma casa mais bonita do que a outra. Chego em frente a uma linda casa branca com janelas grandes. Um lindo jardim muito bem cuidado por sinal, parei em frente a grande porta e confirmo que já são 1
Renê Quando meus olhos se cruzaram com a figura da bela morena em pé em frente a minha casa, confesso que me senti surpreendido. Não esperava que fosse a bela moça que vi organizando a mesa de jantar na casa do meu amigo. Senti uma certa ansiedade em me imaginar dividindo a casa com ela, uma mulher tão linda. Eu não deveria ter esse tipo de pensamento, mas é algo inevitável. Ela demonstrou ser tímida enquanto conversávamos, não queria fazer contato visual comigo, mas sou um homem que gosta de conversar olhando nos olhos. Não gostei quando perguntou da minha esposa, sei que fui ríspido em minha resposta, afinal de contas como ela iria adivinhar que sou viúvo? Mas compreendi quando ela me disse que não teve tempo para conversar com a dona Nice. Raiva e indignação tomaram conta de mim quando me contou que ficou desde cedo caminhando por aí enquanto aguardava o horário combinado. Me frustrou imaginar que enquanto eu dormia, ela estava tão desamparada. A Bárbara é definitivamente uma
RenêResolvi sair mais cedo para o hospital e dar um certo espaço para Celine se adaptar a casa. Mas a verdade é que pela primeira vez em dois anos, encontrei essa mulher que mexe comigo de alguma forma. Depois do falecimento da minha esposa não me envolvi sentimentalmente nem sexualmente com outra mulher. Longe de mim querer pagar de santo, não se trata disso. Mas a tristeza do luto, do vazio da perda me consumiu. Por mais que eu tentasse sair de casa e interagir com outras pessoas, era como se nada fizesse mais sentido. Aos 38 anos de idade, já não me vejo me aventurando por aí com várias mulheres e noitadas como meus amigos me sugerem. Entrar em um relacionamento também não é uma opção para mim.- Sonhando acordado meu amigo? - Sinto a mão do Frederico apertar o meu ombro. Ele se senta com uma xícara de café de frente comigo na lanchonete do hospital.- Você é quem chega tarde Fred- falei bebericando meu café.- Antes tarde do que nunca! Mas o que está acontecendo Renê? Mesm
- Obrigado rapaz! Se me der licença, preciso ajudar a minha esposa! - As palavras saíram da minha boca no automático, não iria permitir a aproximação desse cara da Celine. Sem conseguir disfarçar seu olhar assustado, o folgado começou a sair apressadamente. Um sorriso de satisfação se formou nos meus lábios, não que eu estivesse com ciúmes, só queria protegê-la desse engraçadinho. Adentrei a cozinha colocando as demais sacolas sobre o balcão. Celine andava de um lado pro outro organizando as compras. Seus cabelos presos em um coque, dando uma bela visão do seu pescoço. Ela é muito bonita e delicada, e sua força e determinação são perceptíveis.- Deseja algo Sr. Renê?- Sim, que pare de me chamar de senhor, acho que não sou tão velho assim. Falei dando um sorriso de lado.- Não, claro que não Sr.Renê, quero dizer Renê. Gostei de ouvir meu nome sair de seus lábios e a forma que corou envergonhada enquanto falava comigo.- Você deseja algo? Posso preparar agora para você?. Ela é semp
Renê Cada dia que passa me surpreendo mais com a Celine. Não posso negar que após sua chegada minha casa ganhou vida. Seu jeito animado de caminhar pela casa, às vezes cantando, outras vezes conversando sozinha. Tenho observado seus trejeitos, como se porta, a maneira de falar, seus gostos e como demonstra em pequenas situações seu conhecimento. Aparenta ser uma moça que foi criada em berço de ouro, mas ao mesmo tempo sua simplicidade e humildade me confundem, pois não faria sentido ela pertencer a uma família de posses e estar trabalhando na minha casa. Não sai nos domingos de folga, passa grande parte do dia em seu quarto desenhando. Já percebi que é algo que ela gosta de fazer. Vi alguns de seus desenhos e são incríveis, muito profissionais, às vezes acho que ela fez algum tipo de curso. Tive curiosidade em perguntar, mas acabei desistindo por temer que ela pudesse me achar invasivo. Sempre cozinha algo maravilhoso para que eu leve para comer no intervalo do meu plan
Renê Cheguei em casa como sempre com o dia amanhecendo. Percebi de imediato a silhueta feminina deitada no sofá, me aproximei da Celine que dormia tranquilamente enquanto os primeiros raios suaves da luz da manhã se filtravam através das cortinas da sala, criando um ambiente acolhedor. Não resisti, aproveitei que ela dormia profundamente para fazer uma análise detalhada do seu corpo. Senti um certo nervosismo, e mesmo com medo de acordá-la me agachei próximo ao sofá e comecei a observar os traços delicados do seu rosto tão angelical, os lábios levemente entreabertos. O vestido de alças finas destacava seus seios que com certeza devem caber na palma da minha mão. Fiquei ali parado como um bobo olhando as suas belas coxas e as lindas curvas do seu corpo. A visão dela tão próxima e ao mesmo tempo tão distante esquentou meu corpo. Um desejo primitivo à flor da pele. Sentimentos que há muito tempo eu não sentia por uma mulher. A sensação de atração era palpável, não me contive e ti
“O que ele pensa que está fazendo?” Murmurei para mim mesmo cruzando meus braços enquanto observava o desenrolar da cena. O vento suave balançava os cabelos de Celine, enquanto ela recebia de Sérgio um botão de rosa que o mesmo acabava de lhe entregar. Me senti novamente ameaçado com a troca de olhares entre os dois. Por um impulso do momento, saí abruptamente da casa decidido a interromper essa interação que em nada me agradava. Caminhei em direção ao jardim, minha mente fervilhando de ciúmes e insegurança. Ao me aproximar tentei colocar um sorriso no rosto, mas a tensão nos meu ombros era palpável.- Oi Sérgio! Como está indo o trabalho no jardim? - Minha voz soou mais ríspida do que eu pretendia, e Celine virou-se de surpresa.- Oi Renê! já estou terminando aqui. Estava mostrando para Celine como cuidar das plantas. - Ele respondeu com um brilho nos olhos cheio de gentilezas, o que me fez ferver ainda mais por dentro.- Ótimo! Espero que você não esteja se distraindo demais. - D