Renê
Cada dia que passa me surpreendo mais com a Celine. Não posso negar que após sua chegada minha casa ganhou vida. Seu jeito animado de caminhar pela casa, às vezes cantando, outras vezes conversando sozinha. Tenho observado seus trejeitos, como se porta, a maneira de falar, seus gostos e como demonstra em pequenas situações seu conhecimento. Aparenta ser uma moça que foi criada em berço de ouro, mas ao mesmo tempo sua simplicidade e humildade me confundem, pois não faria sentido ela pertencer a uma família de posses e estar trabalhando na minha casa. Não sai nos domingos de folga, passa grande parte do dia em seu quarto desenhando. Já percebi que é algo que ela gosta de fazer. Vi alguns de seus desenhos e são incríveis, muito profissionais, às vezes acho que ela fez algum tipo de curso. Tive curiosidade em perguntar, mas acabei desistindo por temer que ela pudesse me achar invasivo. Sempre cozinha algo maravilhoso para que eu leve para comer no intervalo do meu plantão, ela gosta de me alimentar. Já não tenho pensado tanto na Scarlett e na sua partida, às vezes me pergunto se não estou me esquecendo dela rápido demais. Todos os dias durante meu plantão, olho várias vezes para o meu celular procurando se ela me enviou alguma mensagem, mas daí me recordo que eu mesmo avisei que só poderia enviar se fosse algo realmente urgente. Me preocupa que ela passe a noite em casa sozinha, mesmo sendo uma área nobre e a casa tendo um sofisticado sistema de segurança, tenho me sentido incomodado. Comecei a refletir sobre minha escala de trabalho e já não tenho excedido as minhas horas de trabalho, o que tem causado estranheza nos meus amigos do hospital.O barbeiro toca em meus ombros retirando a capa de corte me fazendo sair dos meus pensamentos. Depois de tanto tempo tendo abandonado a mim mesmo, decidi cortar meus cabelos. Optei por um corte mais cheio e fiz a barba, gostei do resultado. Senti essa necessidade de me cuidar, meus pensamentos sempre me levam a Celiene, não sei dizer o porque mas quero surpreendê-la. Gosto da dinâmica da nossa convivência, nos damos muito bem. Me sinto satisfeito por ela não sair para encontros, mas ao mesmo tempo me incomoda vê-la tão só. Mas isso nós temos em comum, ambos nos isolamos do mundo, ainda não sei o que a fez ficar assim, pois não acredito que ela tenha sempre sido assim. Tentei algumas vezes tocar no assunto sobre sua família ou amigos, mas ela sempre se esquiva.
- Uau! Quem é esse galã? - O Richard me fala assim que adentrei a sala dos médicos me puxando para um abraço.
- Resolveu tirar o disfarce de mendigo Renê? - Fred fala com um risadinha debochada.
- Não começa Fred! Há tempos vocês reclamam que eu não estou me cuidando.
- Brincadeiras a parte meu amigo. Tô muito feliz por você, já não era sem tempo. - Disse meu amigo Fred, sei que quer meu bem, mas ele não perde a chance de pegar no meu pé.
- Quem vai gostar do visual novo do nosso galã aí é a Emily, a enfermeira chefe gostosa.
- Lá vem você de novo com essa conversa Richard. Tô correndo da Emily.” Ela não é má pessoa, mas nunca fui afim.
- E quem é a felizarda?” Richard perguntou com curiosidade.
- Não é ninguém, vocês dois são muito fofoqueiros. Um homem não pode cuidar da aparência?
- Desconfio de quem seja, a mim você não engana. E por falar nisso, qual é a comida gostosa que sua empregada cozinhou pra você hoje?
- Cala a boca Fred! Vai trabalhar!” Ele passou por mim com um sorriso no rosto.
O Richard ficou feliz em saber que eu recebi a Celine em minha casa e a contratei. Ele me contou várias provocações e implicâncias da Bárbara com a Celine durante o período em que ela trabalhou por lá. Me disse que nunca houve nada entre os dois e que tudo não passava do ciúmes excessivo da Bárbara. O repreendi novamente sobre o fato dele ter um caso com a empregada, a Dora. Gosto muito do Richard mas não aprovo seu comportamento. Não se justifica um erro com o outro. O fato dele não se entender mais com a Bárbara não lhe dá o direito de trair. Seguimos animadamente conversando pelo corredor, quando percebi o par de olhos que me observava atentamente.
Emily
Quase não conseguia acreditar no que os meus olhos estavam vendo. Fiquei impactada ao ver o Renê completamente diferente do habitual. Seu semblante sereno, cabelos bem cortados e barba feita. Conseguiu ficar ainda mais bonito, chamando ainda mais atenção por onde passa. Todo de branco, vestindo seu jaleco com o estetoscópio pendurado no pescoço, uma visão perfeita que desperta o imaginário das mulheres e alguns homens que aqui trabalham. Sei que já recebeu várias cantadas, mas sempre é um poço de seriedade não dá oportunidade para ninguém. Mas tenho percebido há alguns dias um brilho nos seus olhos, sorrisos também, uma certa felicidade que antes não existia ali.
- Tem algo acontecendo com o Renê e eu não estou gostando nada disso!.- Falei colocando minha prancheta com anotações dos pacientes sobre o balcão.
- O Renê está lindo Emily! Cortou o cabelo, fez a barba, está mais contente.- Respondeu minha amiga Glória.
- Eu vou descobrir o que, ou melhor, quem é a vadia.” Atirei minha caneta longe.
- Que horror Emily! Você me disse que gosta dele, deveria estar feliz por ele. - Me respondeu de forma indignada, o que me irritou profundamente.
- Eu não nadei pra morrer na praia Gloria! Estou há quase dois anos esperando por uma chance com o Renê, pra outra chegar e passar na minha frente.
- Que horror Emily! Você fala como se o Renê fosse uma fila, onde a preferência é de quem chega primeiro. A Glória como sempre tão boazinha, tão legal e bla bla bla…
- Eu não tô nem aí Glória! Mas eu vou descobrir quem é a vadia! Ah, eu vou, não vou permitir que outra tire o que é meu.
- Melhor se tratar Emily, essa sua obsessão por ele não é normal. Até onde sei vocês nunca tiveram nada, apenas uns beijos.
- Cala a boca Glória! Eu sei de mim! - Garota idiota.
Quase que instantaneamente me veio em minha mente uma ideia, aliás um nome. Eu precisava ligar imediatamente para alguém que poderia me ajudar a descobrir o que estava acontecendo.
Renê Cheguei em casa como sempre com o dia amanhecendo. Percebi de imediato a silhueta feminina deitada no sofá, me aproximei da Celine que dormia tranquilamente enquanto os primeiros raios suaves da luz da manhã se filtravam através das cortinas da sala, criando um ambiente acolhedor. Não resisti, aproveitei que ela dormia profundamente para fazer uma análise detalhada do seu corpo. Senti um certo nervosismo, e mesmo com medo de acordá-la me agachei próximo ao sofá e comecei a observar os traços delicados do seu rosto tão angelical, os lábios levemente entreabertos. O vestido de alças finas destacava seus seios que com certeza devem caber na palma da minha mão. Fiquei ali parado como um bobo olhando as suas belas coxas e as lindas curvas do seu corpo. A visão dela tão próxima e ao mesmo tempo tão distante esquentou meu corpo. Um desejo primitivo à flor da pele. Sentimentos que há muito tempo eu não sentia por uma mulher. A sensação de atração era palpável, não me contive e tir
“O que ele pensa que está fazendo?” Murmurei para mim mesmo cruzando meus braços enquanto observava o desenrolar da cena. O vento suave balançava os cabelos de Celine, enquanto ela recebia de Sérgio um botão de rosa que o mesmo acabava de lhe entregar. Me senti novamente ameaçado com a troca de olhares entre os dois. Por um impulso do momento, saí abruptamente da casa decidido a interromper essa interação que em nada me agradava. Caminhei em direção ao jardim, minha mente fervilhando de ciúmes e insegurança. Ao me aproximar tentei colocar um sorriso no rosto, mas a tensão nos meu ombros era palpável.- Oi Sérgio! Como está indo o trabalho no jardim? - Minha voz soou mais ríspida do que eu pretendia, e Celine virou-se de surpresa.- Oi Renê! já estou terminando aqui. Estava mostrando para Celine como cuidar das plantas. - Ele respondeu com um brilho nos olhos cheio de gentilezas, o que me fez ferver ainda mais por dentro.- Ótimo! Espero que você não esteja se distraindo demais. - D
Acordei um pouco mais tarde aproveitando que hoje é domingo e estou de folga. Me sentei com uma caneca de café próxima a grande janela de vidro do meu quarto apreciando a vista do jardim. Realmente o Sérgio faz um trabalho incrível com as plantas. Meus pensamentos voltaram para o Renê. A lembrança da forma que ele se aproximou e o seu olhar faminto sobre mim, sempre me deixando agitada. A atração que sinto é forte ,não sei o que fazer e nem como devo me comportar na presença dele, que está desaparecido desde ontem a noite. Escuto o som de leves batidas na porta do meu quarto, meu coração já começa a bater forte. Permaneci sentada e pedi que ele entrasse. Foi uma opção me manter sentada para disfarçar o meu nervosismo.- Bom dia Celine! Atrapalho? - Percebi que ele estava meio sem jeito mas com seu olhar avaliativo de sempre.- Claro que não Renê, precisa de algo? - Respondi tentando disfarçar a excitação que a sua presença me causa. - Vim te fazer um convite. Gostaria que você vie
Celine Comecei a me arrumar animadamente. Optei por um vestido floral mais curto, com um leve decote nas costas. Fiz uma maquiagem leve, soltei meus cabelos e coloquei uma sandália baixa. Como já era de se esperar, Renê me esperava na sala. Ele é um homem de porte muito bonito, seus cabelos castanhos claros quase loiros fazem um belo conjunto com seus olhos verdes. Vestia uma camisa casual branca e uma calça jeans clara que realçou bem seu corpo, e como sempre passava as mãos pelos cabelos, um gesto involuntário mas muito sexy. Entramos em seu carro, um grande SUV preto. Conversamos sobre vários assuntos quando ele me perguntou sobre os meus desenhos e se eu havia feito algum tipo de curso. Contei que desde criança sempre tive talento, mas não revelei minha formação profissional. Com certeza ele não engoliria o fato da minha formação em arquitetura numa faculdade renomada, e trabalhando como empregada. Isso levantaria vários questionamentos, eu teria que revelar a verdade. Ele d
- Vou sim meu amigo, mas vou levar uma acompanhante, tudo bem pra você?- Falei encarando Celine que me olhava de forma apreensiva.- Que mudança cara! Uma acompanhante? Posso saber quem é? Aliás, é quem estou pensando? Achei que teria que te buscar amarrado na sua casa. Riu debochado.- Muito engraçadinho e curioso também! Nos vemos então, até mais tarde.Dito isso desliguei o telefone, enquanto Celine me olhava de forma apreensiva.- Você pode me deixar no shopping aqui próximo Renê? - sua voz era quase um sussurro.- Claro que não Celine! Quero que você vá comigo. - Meu tom de voz era baixo mas firme.- Não acho que seja uma boa ideia Renê, até pouco mais de um mês atrás eu era empregada naquela casa, e de repente eu chegar assim com você não me parece adequado. - A tensão em minha voz era palpável.- Ficarei muito feliz se você vier comigo, e quanto a Bárbara fique tranquila que ela não fará nada com você. Conheço ela há muitos anos e sei como colocá-la em seu lugar, ela não vai se
Senti um alívio quando Renê se desvencilhou dela. Seu olhar para ela não era nada amistoso. Se aproximou de nós com um sorriso no rosto, coisa rara de se ver. Ele fica ainda mais lindo quando sorri, é uma pena que o faz tão pouco.- Como vai dona Nice? - Inquiriu enquanto se abraçavam de forma carinhosa, percebi que ele tem muito carinho por ela.- Eu estou bem meu menino, vejo que a Celine está cuidando muito bem de você! Está ainda mais bonito, cortou o cabelo, fez a barba. Consigo ver um brilho diferente em seus olhos, é assim que eu gosto vê-lo meu filho, Acariciou uma das suas bochechas como se ele fosse um menininho.- Vejo que a presença da Celine tem te feito muito bem! - meu rosto queimou de vergonha.- Tem sim dona Nice.Seu olhar encontrou o meu de uma forma intensa, tentei desviar o assunto para os pratos que estavam dispostos na mesa.Fomos interrompidos pelo Sr. Richard que começou a se servir da comida disposta na mesa. Agradeci a Deus por aquela interrupção, eu já não
Fui surpreendido um tempo depois quando Celine se aproximou de mim com um prato bem preparado, me disse que havia observado que eu não havia me alimentado desde a minha chegada. Meus amigos não perderam tempo em comentar como estou sendo mimado por ela fazendo piadinhas como sempre, mas no fundo sei que eles desejam a minha felicidade. A postura de Celine sentada em uma mesa próxima a piscina enquanto comia paella e tomava uma taça de vinho branco não passou despercebida por mim e pelos homens que me acompanhavam. Sua postura elegante e a forma que conduzia os talheres e a taça a faz se destacar, mesmo com toda sua simplicidade, Celine tem um ar sofisticado que me intriga, se eu a conhecesse nesse momento diria que é filha de alguém muito importante. Passado um certo tempo, decidi ir até a cozinha atrás de Celine, já estava ficando tarde e o seu sumiço me causou uma certa preocupação. Adentrei a cozinha e encontrei dona Nice, que me avisou que Celine tinha ido até o banheiro, me
Renê Vários absurdos saiam da boca da Emily enquanto ela gritava de forma descontrolada insultos e ofensas contra a Celine ultrapassando todos os limites. Celine no auge do desespero e indignação, desferiu um tapa na cara de Emily. A atmosfera era tensa e carregada. Alguns funcionários formavam uma pequena plateia mas ninguém interveio. Após o tapa, Emily tocou o rosto com uma expressão de incredulidade e fúria, respirando pesadamente e de imediato avançou para cima da Celine. Minha reação de imediato e com um instinto de proteção foi puxar Celine pela cintura, colocando-a atrás do meu corpo para protegê-la de uma ataque iminente da Emily. Tomado por um sentimento de fúria, coloquei Emily no lugar dela, que ao perceber que eu não deixaria barato, mudou a sua postura autoritária e começou a chorar descontroladamente como se fosse a vítima. Era perceptível no rosto da Celine, uma onda de emoções. Lágrimas desciam pelo seu rosto como se tentasse apagar através delas a humilhaçã