Pedido de ajuda...

Renê

   Às vezes tenho a sensação de que estou vivendo no automático. Os dias para mim são sempre iguais. Só tenho me dedicado ao trabalho, o pouco tempo que fico em casa estou dormindo. Desde o falecimento da minha esposa há dois anos atrás, tenho usado o trabalho como rota de fuga.

   Morando há um ano e meio em uma nova casa em um outro bairro de alto padrão em Brasília, tenho a sensação de não estar no meu lar. Mas as lembranças da Scarlett estavam me matando aos poucos na minha antiga casa. Foi melhor ter me mudado de lá. Não tive coragem de vender a casa. Optei por colocá-la em uma imobiliária para alugar. Desde então também não tive coragem de voltar à minha antiga casa.

   Minha esposa era uma mulher jovem de 27 anos, mas um acidente de trânsito ceifou sua vida, não tivemos a oportunidade de construir a nossa família, depois de 4 anos juntos, somando namoro, noivado e casamento. Éramos muito diferentes, mas nos dávamos bem. Nossas famílias eram amigas desde sempre, algo que mudou depois da sua partida. Os pais da minha esposa me culpam, já que o acidente ocorreu em uma noite chuvosa que minha esposa decidiu de última hora ir até uma reunião entre amigos sozinha. Não pude acompanhá-la pois tive uma emergência no hospital e acabei me atrasando bastante. O motorista do caminhão que seguia na direção contrária perdeu o controle da direção e colidiu de frente com o carro da Scarllet, levando a óbito na hora. Me recordo como se fosse hoje a dor e o impacto que sofri com a notícia. Meu desespero embaixo de uma chuva torrencial, quando cheguei ao local da batida e a encontrei sem vida. 

   Essa tragédia que vivi, me tirou meu brilho e o gosto pela vida. Tenho trabalhado num ritmo intenso, às vezes  chego a ficar 18 horas seguidas em plantões. A direção do hospital tem me chamado a atenção, mas quando chego em casa a solidão me abraça, e um vazio toma conta do meu coração. Tenho preferido manter minha mente ocupada num ritmo frenético do hospital. Meu trabalho tem sido minha única motivação. Amo minha profissão, nasci para ser médico.

- Pensando em que meu amigão? Tá aí parado olhando o que dentro desse armário? - Meu amigo Richard interrompeu meus pensamentos.

- Bem que eu tento não pensar, mas você sabe o quanto é difícil a minha situação.

- Eu te entendo cara! Mas você precisa seguir em frente, a Scarlett não iria gostar de te ver assim. - Falou batendo a mão no meu ombro.

- Eu tô tentando meu amigo. - Falo tentando convencer a mim mesmo.

- Só se for tentando se matar de trabalhar Renê? Isso não é vida cara! Mas hoje eu não aceito não como resposta, te espero às oito pra jantar lá em casa. Uma boa comida caseira é o que você precisa nesse momento. E de quebra convidei a Emily, aquela chefe de enfermagem gostosa! - Balançou as sobrancelhas de forma sugestiva.

- É sério isso Richard? Aquela mulher pega no meu pé pra caralho! Me tira dessa cara!

- Já te falei que não aceito não como resposta. Você precisa de uma boa comida e uma boa foda.

- Fiquei com ela uma vez e não ultrapassamos de alguns beijos e ela já pega no meu pé. Você sabe que não quero um relacionamento agora Richard.

- Deixa de ser ranzinza Renê, tô te esperando hoje na minha casa! - Saiu da sala de descanso e me deixou falando sozinho.

Horas mais tarde…

 Já faz uns 20 minutos que estamos na sala da casa do meu amigo. Não acho que a Bárbara, sua esposa seja má pessoa, mas eu acho ela muito esnobe, parece que tem o rei na barriga. A Emily já está me irritando com essa agarração toda no meu braço como se eu pertencesse a ela. Sinceramente estou aqui só pela comida, sinto um cheiro maravilhoso vindo da sala de jantar. Bárbara nos chama para a sala de jantar, caminho alguns passos já irritado com a Emily pendurada no meu braço, quando meu olhar se cruza com uma moça usando um uniforme preto enquanto organiza a mesa.

   Me perco na beleza do seu rosto delicado com lábios cheios e seus belos olhos castanhos bem claros quase um tom mel, que faz um contraste com sua pele morena. Seu corpo escultural, cintura fina, quadris e bumbum avantajado, é uma bela mulher.

   Tê-la visto me fez lembrar a forma que meu pai sempre descrevia a beleza da minha mãe, quando a conheceu em uma de suas viagens para o Brasil. Sou filho de pai americano e mãe brasileira. Meu pai sempre contava os detalhes do primeiro encontro e sempre ressalta que mesmo após tantos anos minha mãe continua uma linha mulher, o que eu concordo plenamente. Mesmo depois de tantos anos, os dois continuam apaixonados um pelo outro.

  Percebi de imediato um tratamento grosseiro da Bárbara com a moça que sumiu logo em seguida. O jantar correu sem problemas, a comida estava maravilhosa, Richard com suas piadinhas de sempre. Consegui me livrar da Emily que fez várias insinuações durante a noite para que eu a levasse para a minha casa. Graças a Deus ela veio em seu próprio carro o que me ajudou a desvencilhar com mais facilidade e seguir em paz para a minha casa.

   Estava me preparando para entrar no meu carro quando escutei a voz ofegante da dona Nice correndo em minha direção. Eu a conheço há muitos anos, desde quando Richard e eu éramos solteiros, ela já trabalhava para a família dele. Ao se aproximar de mim me fez um pedido um tanto inusitado de emprego para uma amiga que considera como filha, contou da situação da moça que não é da cidade e não tem para onde ir e nem um outro trabalho em vista, que foi dispensada pela Bárbara. Já comecei a imaginar o que essa moça tem sofrido nessa casa. Meu amigo Richard que me desculpe, mas sua esposa é uma mulher insuportável. Lembrei que minha casa está de cabeça pra baixo desde a minha mudança, e mesmo tendo contratado uma diarista algumas vezes não tem sido suficiente. De fato, preciso de alguém que cuide das minhas coisas, não me importo se ela não tem muita experiência já que segundo a dona Nice, a moça estava em período de experiência aqui, sendo sua primeira vez trabalhando em casa de família. Na hora me recordei das histórias da minha mãe sobre as dificuldades que passou em sua juventude. De qualquer forma, quase não fico em casa e realmente preciso de alguém. Não tenho coragem de negar um pedido da dona Nice sabendo que estou deixando uma pessoa na mão quando não me custa nada ajudar.

   Chego em casa e tiro toda a minha roupa ficando apenas de cueca box, e me jogo no sofá. Faço uma nota mental que terei um plantão amanhã à noite, então posso dormir e descansar ao máximo, e conversar com a tal moça que virá trabalhar para mim. Pedi a dona Nice que a moça viesse à tarde, preciso dormir o máximo que eu puder, estou me sentindo muito cansado.

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