— Você é louco?- Gritei com Lucas que me olhava entediado.
- Olha, Bruna.. eu não quero brigar, tá legal? - Lucas se levantou, me ignorando e caminhou preguiçosamente até o quarto que dividamos por pouco tempo.
Bufei, e bati as unhas na pequena mesa de jantar da cozinha. Eu não podia passar por isso.
Fiz um coque bagunçado no topo do cabelo e suspirei pesadamente, indo atrás de Lucas no quarto.
Me encostei no batente da porta e cruzei minhas pernas e cruzei meus braços na frente do peito, limpei a garganta, chamando a sua atenção.
- Um tal de Carlos esteve aqui. - avisei, chamando toda a sua atenção para mim dessa vez.
- Ele disse algo? - Lucas perguntou, mantendo uma expressão nervosa no rosto.
- Comigo? Não! - tentei mostrar desinteresse. - disse que voltaria.
- Ele não fez nada contigo, não é? - Perguntou, se levantando e segurando meu braço levemente.
- Não. - Franzi a testa, encarando seus olhos castanhos. - Por que faria?
- Nada, só... - Lucas suspirou, passando a mão na cabeça nervosamente. - Só.. não abra a porta para um desconhecido novamente.
- O.k! - Falei, encarando meus pés.
Me virei em direção a sala, pronta para deixa-lo sozinho com a própria consciência, mas fui interrompida com sua mão puxando meu cotovelo.
- Você está brava? - perguntou por fim, soltando-me delicadamente.
- Estou! - suspirei pesado, cruzando meus braços e encarando Lucas.
Desde pequena, aprendi que tínhamos que expor nossos problemas dentro do nosso lar. Meu primeiro namorado tinha um grande problema com expor coisas que ele discordava em nosso relacionamento e fora dele também, e por isso, colocamos um ponto final na nossa história. Bem curta, por sinal.
E eu estava tentando colocar isso dentro do nosso relacionamento, um pouco mais de conversa e menos discussões, mas, Lucas era um homem difícil, e falava pouco sobre o que o incomodava. Normalmente, brigávamos e jogávamos tudo, um na cara do outro.
- Me desculpa! - Pediu.
- Olha, Lucas.. - Suspirei, tirando suas mãos dos meus braços e me afastando um pouco dele. - Eu não consigo agora, tudo bem? Eu estou chateada com você, você sumiu durante uma noite toda e aparece achando que eu iria te receber de braços abertos? - Falei um pouco mais alto. - Eu não sai da minha cidade para isso e é por isso também, que eu vou embora semana que vem! - Explodi, jogando todas as novidades da última semana em Lucas e deixando-o sozinho no quarto.
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— Vocês vão na festa da Giovanna? - Uma amiga de Lucas - que eu não lembrava o nome - perguntou, enquanto virava seu copo com um líquido duvidoso.
- Ah, mas isso nunca te impediu de ir pra uma festa. - A menina falou, olhando fixamente para a amanda. - Que cor é essa?
- Azul sei lá o que.. - a cacheada respondeu vagamente, centrada no seu trabalho
- nossa, amanda, não sabia que era azul. - A outra disse irónica.
- Aí, Lilian, não enche o saco. - Bufou, olhando para o vidro em sua mão. - O nome tá' apagado. - informou emburrada.
- Para de ser grossa com as pessoas. - Lilian reclamou, apoiando o copo na mesinha.
- Para de ser chata, meu Deus! - Amanda reclamou. - Gostou, Bruna? - Perguntou, soltando minha unha.
- Sim, obrigada, mandi. - Agradeci, assoprando meus dedos.
- Já estão com apelidos? - Lilian voltou a se pronunciar.
- Sim! - falei pela primeira vez, ela já estava enchendo o meu saco.
- Eu quero um também! - reclamou.
- Meu Deus, Lilian.. que implicância! - Foi a vez de um dos meninos reclamar, ainda sem tirar os olhos da TV.
- Vocês que não me aguentam. - Ela debochou, retornando a encher seu copo.
Revirei meus olhos, voltando a me entreter com as minhas unhas recém pintadas.
Durante todo o resto da noite, tive que aguentar as faltas de educação de Lilian e as várias discussões dela com Amanda, que não tinha mais paciência alguma.
Bufei, me levantando repentinamente, e esticando meu corpo.
- Beijos para quem fica, eu estou indo dormir. - Falei, saindo da presença dos demais e entrando no quarto.
Abri meu guarda roupas e pesquei meu pijama, indo para o banheiro lavar meu corpo.
Permiti que a água entrasse em contato com o meu corpo, me permitindo relaxar.
Eu precisa tirar a tensão dos últimos dias do meu corpo, eu necessitava muito disso, quase como eu dependo de ar.
Aproveitei cada minuto do meu banho, e quando decidi sair, me sequei por completo, vesti meu pijama e entrei para dentro do quarto, encostando a porta e ligando o ar condicionado do quarto de Lucas. Deitei na cama, fechando os olhos e relaxando o corpo.
Meu celular vibrou embaixo do travesseiro e eu resmunguei, pegando o aparelho e me perguntando quem ligaria a essa hora da noite.
A luz cegou meus olhos por alguns segundos e eu fiz uma careta, fechando-os e voltando a abri-los, tentando me acostumar com o brilho do aparelho. Sorri quando li aquele nomezinho tão pequeno e tão cheio de significado brilhando na tela do celular, "Mãe".
- oi, mãe! - atendi o celular, sorrindo.
- Oi, minha filha! - ela disse do outro lado da linha. - Estava dormindo?
- Estava me deitando para, mas, para a senhora eu acordaria sem reclamar. - ri fraco e imaginei a mulher que me deu a luz sorrindo do outro lado da linha.
- Como você estão? Sabe que pode voltar a hora que quiser, não sabe? - A mulher desatou a falar, arrancando uma risada de mim .
- Estou ótima, mãe, não se preocupem! - Garanti. - E meu pai? Como está?
- Ótimo, querida, ele está com saudade. - Ela suspirou. - Já já teremos uma nova eleição e seu pai está tentando decidir entre a reeleição ou não. -
- Meu pai deveria deixar outra pessoa cuidar da cidade agora.. - Expressei minha opinião. - Ele já está ficando velho, tem que se cuidar e aproveitar os anos que lhe restam cuidando de você e dele mesmo.
- Eu estou ouvindo, Bruna! - Ele gritou do outro lado da linha e eu ri. - Oi, meu amor. - Ele disse por fim, de forma carinhosa e mais próximo do celular.
- Oi, pai! Que bom que o senhor ouviu, espero que siga meu toque. - firme minha ideia pela última vez.
Passamos os próximos quarenta minutos conversando amenidades e os assuntos gerais sobre a cidade. Minha mãe me deixou a par de todas as fofocas e confusões isoladas da qual ficou sabendo e eu ouvi tudo com bastante atenção, como a boa fofoqueira que eu era.
- Bom, precisamos dormir querida! - Ela anunciou por fim, suspirando do outro lado. - Nós te amamos!
- Eu também amo vocês. - Sorri, e desliguei o celular o posicionando no lugar de antes.
Me virei, e coloquei meu rosto apoiado nas mãos e fechei os olhos, finalmente, relaxando e pegando no sono.
Já correram cinco meses desde a minha chegada ao Rio De Janeiro. Eu já estava morando com Manu em seu apartamento e nós nos dávamos perfeitamente bem.O meu problema é bem pior. Estou atolada em dívidas, dívidas altas e não tenho como pagar. Meu trabalho em uma lanchonete não cobre sequer os juros da dívida e estou a ponto de explodir.Eu não quero ir embora do Rio, e é por isso que não posso pedir mais de três mil reais para o meu pai. E o pior, estou sofrendo milhares de ameaças desse tal de Carlos, e não consigo entender ainda, como cheguei a esse ponto.Limpei a última mesa do estabelecimento, eram três da manhã e já havíamos fechado. Fiz um coque frouxo no topo da cabeça, me despedi dos outros funcionários e caminhei até a minha casa, que não era muito longe.Eu não posso dizer, na verdade, que não entendo como cheguei a essa situação. Eu entendo e entendo muito bem.Tudo começou quando Carlos começou a aparecer muito
— Você tem um mês para aproveitar a sua liberdade. — Carlos soltou, me fazendo assentir em seguida tristemente. Eu não queria ter só um mês.— E depois? — Perguntei, torcendo os lábios.— Depois, você irá comigo para a Colômbia, e ficará por lá até que a sua dívida esteja paga. — Explicou, tomando seu capuccino. — vai durar uns dois ou três anos.— Mas, eu só devo três mil reais. — Franzi a testa.— Me diz, você vai ou não vai segurar as dívidas do Lucas? — Carlos estava impaciente na minha frente, eu sabia que ele o mataria. Era tão perigoso.— E quanto ele deve a você? — Cruzei os braços, suspirando alto.— No mí
Já havia corrido uma semana. Uma longa e cansativa semana.Eu fui a praia duas vezes, e saio quase todas as noites, tentando aproveitar meu último gostinho de liberdade.Lucas me beijava com furor, enquanto apertava meus seios com uma mão e alisava minha bunda com a outra.Levei meus dedos a sua nuca, arranhando a área levemente.Não sei exatamente em que momento ficamos pelados, mas Lucas arremetia contra o meu corpo rapidamente, fazendo uma sensação gostosa invadir meu corpo e um gemido sair da minha garganta.Meu ventre se apertou levemente, e torci para que isso não acabe agora, ouvi a respiração de Lucas mais pesado no meu ouvido e suas estocadas ficarem mais leves e sem velocidade, até parar definitivamente.Lucas jogou seu corpo suado contra os lençóis de sua cama, com a respiração entre cortada.- Foi bom? - Lucas disse, sorrindo fraco.- Sim, foi ótimo. - Menti.Eu não podia dize
Puxei minha última peça de roupa do guarda roupas e coloquei dentro da mala aberta em cima da minha cama.Separei uma calça comprida, uma blusa de alça fina e uma jaqueta jeans. Eu precisava terminar isso ainda hoje.Bufei, diminuindo um pouco mais a temperatura do ar condicionado. O Rio de Janeiro estava quente, com seus belos trinta e cinco graus Celsius, eu me sentia a ponto de derreter a qualquer momento.Se um ovo fosse quebrado na tampa de um esgoto, seria frito em segundos, levando em consideração que eu estava assando na quentura do lugar.Hoje era meu último dia de liberdade e eu queria aproveitar isso ao máximo. Não consigo me lembrar, exatamente, todos os momentos que passei durante esses vinte e oito dias, mas a certeza que eu tinha, era que eu havia me divertido como nunca.— Já está fazendo as malas? — Manu murmurou triste, se jogando ao lado da minha mala.— Sim, eu precisava terminar isso!
não pensei que me despedir doeria tanto.Acordei cedo naquela manhã, torcendo para que o dia passasse cada vez mais lento.Mesmo com meu coração dolorido, e com a decepção e insatisfação estampada no meu rosto, passamos o dia juntas.Fizemos o melhor almoço do mundo, e elas me acompanharam a minha última visita a praia.Me sentei na areia fofa, e fiquei admirando as ondas indo e voltando. Eu não tinha certeza se os colombianos tinham praia, e não estava muito animada para descobrir, não sei sequer se serei livre para ir e vir, quem dirá para descobrir se eles tem praias.— No que você tanto pensa? — Ket perguntou, se sentando ao meu lado.— Na minha vida. — sorri fraco, ainda sem encarar seus olhos castanhos escuros.— Você tem certeza disso? — Perguntou. — conheço umas pessoas que podem acabar com a raça desse Carlos.— Eu já dei a minha palavra. — falei, triste.
Henry Coleman.— Bom, senhores.. por hoje é só! — Falei, deixando a pasta preta na mesa.Aos poucos, a sala ia esvaziando, até que ficassem apenas eu e minha secretária.— Senhor? — Merliah chamou a minha atenção. — Seu pai está na sua sala, está aguardando o seu retorno.— Obrigado, Merliah. — Sorri fraco, peguei a pequena pasta da mesa e sai da sala.Atravessei os corredores extensos até a minha sala no topo do prédio alto.Eu e meu pai não estávamos nos falando desde a nossa última discussão, ele não dava o braço a torcer e eu era orgulhoso demais para ir atrás do mais velho.Respirei fundo, antes de entrar na sala e encontrá-lo sentado na minha cadeira, enquanto lia alguns papéis.— Pai? — chamei sua atenção e me aproximei, para depositar a pasta ao lado de uma pilha de pastas.— Ah, oi! — Ele se levantou e ajeitou o blazer sobre o corpo, antes de pigarrear e me encar
Bruna Pinheiro. Carlos abriu porta de entrada da boate e me deu passagem para que eu pudesse passar.O lugar, não era ruim, era bem bonito e parecia aconchegante. Percorri meus olhos pela sala ampla e fiquei encantada com a beleza do lugar.Em um dos cantos, um bar estava muito bem posicionado com inúmeros bancos enfileirados um ao lado do outro, uma menina estava sentada no balcão, enquanto conversava animadamente com uma outra que estava lavando um copo no bar.Algumas mesas estavam espelhadas pelo local, com quatro cadeiras cada. Nos cantos, encostados nas paredes, alguns sofás vermelhos que pareciam confortáveis rodeavam mesas quadradas.No centro do lugar, dois palcos redondos e pequeno, com uma uma barra em seu centro. Uma garota estava sentada com outras duas no pequeno palco, comendo tacos e bebendo refrigerante.Percebi algumas garotas espalhadas pelo lugar, pareciam felizes e entretidas em suas próprias con
Estar aqui a seis meses, era de longe a coisa mais difícil a ser feita. Eu sabia que não seria fácil, mas não imaginei que seria tão repetitivo e entediante.Todas as noites era o mesmo, nós íamos para o salão, esperávamos eles aparecerem e nos jogávamos em cima, como urubus em carne podre.Eu não me orgulhava disso, na verdade, queria correr dali a qualquer momento, era bastante humilhante.. mas, eu precisava disso. Eu precisava quitar a dívida e salvar a vida de Lucas, estava tudo em minhas mãos.Eu não falava muito com Lucas, trabalhava até às quatro da manhã, e quando retornava para a casa, queria me deitar e nunca mais levantar dali.Cá estava eu, no centro da nossa sala de estar, comendo cereal e assistindo a qualquer filme