— Você tem um mês para aproveitar a sua liberdade. — Carlos soltou, me fazendo assentir em seguida tristemente. Eu não queria ter só um mês.
— E depois? — Perguntei, torcendo os lábios.
— Depois, você irá comigo para a Colômbia, e ficará por lá até que a sua dívida esteja paga. — Explicou, tomando seu capuccino. — vai durar uns dois ou três anos.
— Mas, eu só devo três mil reais. — Franzi a testa.
— Me diz, você vai ou não vai segurar as dívidas do Lucas? — Carlos estava impaciente na minha frente, eu sabia que ele o mataria. Era tão perigoso.
— E quanto ele deve a você? — Cruzei os braços, suspirando alto.
— No mínimo, duzentos mil.. — Meus olhos se abriram em descrença e Carlos deu um leve sorriso de lado.
— DUZENTOS? — gritei.
— Sim, minha linda. — O homem me encarava com uma leve expressão de divertimento, e quis jogar a xícara fumegante em seu rosto.
— Não tem outro jeito?
— Tem, e talvez, você não goste de saber.. — Ele olhou para os lados e em seguida para seu relógio de pulso, impaciente. — E então, menina? Me diz.
— Sim, tudo bem. — Suspirei. — Dois ou três anos não mata ninguém.
— Ótima escolha! — Ele sorriu abertamente, antes de se levantar com um impulso e largar uma nota de cinquenta na mesa. — Nós nos falamos depois, gracinha. Tenho compromisso agora.
— Até mais, Carlos! — Me despedi sem humor.
Um mês. Um mísero mês, era tudo que eu tinha, e eu precisava aproveita-lo ao máximo.
Paguei a conta no caixa e sai do estabelecimento, fiquei parada ali por alguns minutos, esperando o Uber chegar.
Eu tinha um mês, mas hoje, eu só queria me aproveitar. Aproveitar minha liberdade. O resto, eu podia fazer depois.
Quando finalmente consegui chegar no meu apartamento, Manu não estava. Aproveitei a minha deixa, e me joguei na cama, passando o resto da tarde dormindo e assistindo programas aleatórios.

— Pra' onde? — perguntei sem emoção.
— Uma baladinha maravilhosa que os meus amigos costumam frequentar. — Ela sorriu animada.
Todos os meus pensamentos seguintes me levaram a um “Obrigada, amiga. Mas, ficarei em casa hoje, tenho umas coisas para resolver.”, o último, porém, foram as palavras de carlos e me lembrei apenas dos trinta dias restante a partir de hoje.
— Ah, pode ser! — Sorri amigável e voltei a minha atenção para a Televisão.
— Levanta, Donzela. — Ela desligou a televisão animada e ficou de pé. — Já são oito da noite. — anunciou, por fim.
Assenti e me levantei preguiçosamente da cama, sentindo meu corpo pesar pelo cansaço e indisposição.
Me tranquei no banheiro do meu quarto e coloquei uma playlist aleatória para tocar. Desfiz o coque mal feito em meus cabelos e toquei meus fios levemente desgrenhados.
Quando me despi, aumentei mais o volume do celular e entrei no box, liguei o chuveiro no morno e aproveitei as maravilhas daquela água.
Meu corpo se arrepiou com a sensação e os pensamentos dos últimos dias voltaram com força.
Depois de ligar para Carlos, marcamos em uma cafeteria perto daqui. Minhas mãos suavam e meu nervosimos era visto de longe, porém, decidi prosseguir e aceitar a proposta de Carlos, o acompanhando a outro país.
Senti meus olhos se afogando nas lágrimas teimosas que escorriam pelos meus olhos e permiti que elas viessem. Eu precisava chorar, extravasar. Eu necessitava disso.
A decisão já estava tomada e não tinha mais volta. Não existia mais volta. Pensei em meus pais, achando que sua princesa estava levando uma vida confortável, em Lucas que ficaria para trás e nos poucos amigos que fiz. Pensei em Manu e na falta que sentiria das suas loucuras.
Sofri sozinha naquele banheiro enorme, implorando aos céus uma luz, um caminho, uma saída para tudo isso. Eu precisava me libertar disso, eu necessitava. O sangue de Lucas estava nas minhas mãos e deixar que o matassem, seria o meu fim.
Fechei os olhos, aproveitando a solidão e deixando que a tristeza me abraçasse.
Despertei alguns segundos, ou minutos depois, com alguém esmurrando a porta do cómodo violentamente.
— Droga, Bruna.. — Manu gritou do outro lado. — Você morreu aí dentro?
— Han, Oi! — Gritei, desligando o registro e puxando a toalha do gancho. — Desculpe, não te escutei.
— Saia logo, já são quase nove. — Avisou, e o silêncio voltou a reinar no local. Quase como se ela nunca estivesse ido ali.
Enrolei meus fios molhados em uma toalha e vesti o roupão grosso no corpo, não permitindo que a friagem do local entrasse em contato com meu corpo.
Abri o guarda roupas, olhando entediada para todas as peças. Eu não sabia o que usar, e por isso, acabei optando por um vestido tubinho que ia até metade das cochas, era preto e não tinha decote algum na frente. A mágica acontecia atrás, com uma abertura do início até o final das costas.
Optei por um par de saltos altos pretos, e os coloquei perto da porta, para que eu pudesse me lembrar onde estava.
Me sentei na penteadeira branca do quarto, e fiquei encarando por alguns segundos. Eu não conseguia me reconhecer. Ainda era a mesma menina do interior, era mais ferida, mais destruída.. eu tinha me metido e tomado a pior das decisões e me arrpenedia amargamente.
Comecei a maquiagem, sem um rumo específico, mas fiquei feliz que o resultado saiu como o imaginado. Por fim, passei um pouco de creme capilar nas mãos, espalhei pelos meus cachos e desembaraçei os fios com os meus dedos longo e finos.
Encarei-me no espelho e fiz uma careta, peguei o secador e comecei a secar um pouco meus fios, torcendo para que fosse rápido.
— Você tá linda. — Manu disse, entrando no quarto e me assustando.
— Você me assustou. — Falei, levando a mão ao peito. — Obrigada, você também.
Bruna riu, antes de se sentar na minha cama e cruzar as pernas.
Bruna estava com um cropped preto e tomara que caia, uma calça de cós alto e um par de tênis nos pés. Seus cabelos haviam ganhado alguns cachos com o baby Liss, e uma maquiagem leve no rosto, exaltava a beleza natural da morena.
Me levantei da penteadeira, por fim, guardando o aparelho na gaveta do banheiro.
— Vamos? — Perguntei, pescando a bolsa de mão e enfiando meu celular dentro.
— Sim! — Ela sorriu animada e correu na minha frente.
Peguei os sapatos entre os dedos e me arrastei até a sala, antes de me sentar e encaixar meus dedos no meu martírio da noite.
~•~
— Eu vou pegar uma bebida. — Anunciei perto do ouvido de Manu, antes de caminhar até o bar do lugar.
Sentei-me no pequeno banco, e apoiei meus dedos ali.
— Boa noite, o que deseja? — A morena de tranças perguntou.
— Boa noite, uma caipirinha, por favor! — Pedi, olhando para os lados.
Eu odiava beber, não o fazia na maioria das vezes, mas hoje? Era uma exceção, eu merecia isso!
Logo, o copo estava na minha frente. Peguei o canudo entre os dedos e suguei o líquido gelado, sentindo minha garganta queimar, em seguida.
Olhei para os lados, enquanto tomava o líquido, tentando me acostumar com o gosto amargo. Encontrei, porém, com um par de olhos azuis, o homem sorriu de lado para mim e eu sorri de volta.
Ele era divino, alto, com braços grande e uma bela bunda, tinha dois belos olhos azuis e uma boca pequena. Era bonito, muito bonito, quase um super herói dos quadrinhos. O significado de inefável¹ acabou de ser atualizado.
Meu corpo chamava por ele e quase andei em sua direção, me segurando para não o fazer.
Meu celular vibrou dentro da bolsa e eu suspirei alto, cortando o contato visual com o deus grego do outro lado.
— Alô! — Gritei, sem sequer saber quem me ligava. — Quem é?
— Bruna? Bruna, onde você está? — ouvi a voz de Lucas e meu corpo gelou por alguns segundos. A culpa atravessou meu peito e senti uma fisgada. Tampei um dos ouvidos e mordi meus lábios nervosa.
— Oi, Lucas. — Gritei por fim. — Eu vou lá para fora, espere um minuto. — Falei, e não escutei a resposta do moreno.
Me levantei do balcão, largando meu copo por ali, não estava mais interessada na bebida.
Caminhei até a parte traseira do estabelecimento, parando o mais longe possível de toda a aglomeração de pessoas.
— Oi! — Falei suspirando, mordendo meus lábios com força.
— Onde você está? — Esbravejou do outro lado.
— Eu estou em uma festa com a Manu. — Falei, jogando meus cabelos para trás. Não era exatamente mentira.
— Você não me avisou. — Lucas disse do outro lado e pude sentir a raiva em sua voz.
— Não achei que fosse necessário, não voltarei muito tarde. — Dei os ombros.
— Não é assim que as coisas funcionam em um relacionamento, Bruna. — Lucas pontuou, magoado.
— Desculpe... — Murmurei, sentindo meus olhos marejados.
— Tudo bem. — Ele suspirou. — Nos falamos depois. — E desligou.
Desligou sem dizer que me amava, sem dizer Adeus. Ele desligou na minha cara.
A culpa invadiu meu peito, lembrando-me que a poucos minutos atrás, eu flertava com um outro homem. Quis chorar e correr para os braços de Lucas, pedindo perdão.
Voltei para o lugar cheio e optei por uma garrafinha de água, voltando para perto do grupo de amigos.
Voltei avoada, pensativa, a minha pouca animação havia me abandonado definitivamente agora e tentei rir das brincadeiras dos amigos animados de Emanuelle.
Quando a noite acabou, agradeci a todos os anjos possíveis e corri para o banheiro, para tirar aquelas roupas e aquela maquiagem que pesava em meu rosto.
Terminei, me sentindo levemente livre e me deitei na cama confortável.
O sono foi me invadindo aos poucos, deixando meu corpo mais pesado sobre o colchão, meu último pensamento foram os lindos olhos azuis do homem que me cativou² hoje a noite, sorri fraco, antes de apagar definitivamente.
•
inefável¹
adjetivo de dois gêneros
1. que não se pode nomear ou descrever em razão de sua natureza, força, beleza; indizível, indescritível.
2. POR EXTENSÃO; que causa imenso prazer; inebriante, delicioso, encantador.
•
Cativou² vem do verbo cativar.
1. transitivo direto e bitransitivo e pronominal; tornar(-se) cativo; prender(-se) física ou moralmente a; sujeitar(-se).
"os primeiros exploradores do Brasil cativaram índios e animais"2. transitivo direto, FIGURADO; guardar em seu poder; reter, conservar.
"seus olhos cativavam a luz da manhã"
Já havia corrido uma semana. Uma longa e cansativa semana.Eu fui a praia duas vezes, e saio quase todas as noites, tentando aproveitar meu último gostinho de liberdade.Lucas me beijava com furor, enquanto apertava meus seios com uma mão e alisava minha bunda com a outra.Levei meus dedos a sua nuca, arranhando a área levemente.Não sei exatamente em que momento ficamos pelados, mas Lucas arremetia contra o meu corpo rapidamente, fazendo uma sensação gostosa invadir meu corpo e um gemido sair da minha garganta.Meu ventre se apertou levemente, e torci para que isso não acabe agora, ouvi a respiração de Lucas mais pesado no meu ouvido e suas estocadas ficarem mais leves e sem velocidade, até parar definitivamente.Lucas jogou seu corpo suado contra os lençóis de sua cama, com a respiração entre cortada.- Foi bom? - Lucas disse, sorrindo fraco.- Sim, foi ótimo. - Menti.Eu não podia dize
Puxei minha última peça de roupa do guarda roupas e coloquei dentro da mala aberta em cima da minha cama.Separei uma calça comprida, uma blusa de alça fina e uma jaqueta jeans. Eu precisava terminar isso ainda hoje.Bufei, diminuindo um pouco mais a temperatura do ar condicionado. O Rio de Janeiro estava quente, com seus belos trinta e cinco graus Celsius, eu me sentia a ponto de derreter a qualquer momento.Se um ovo fosse quebrado na tampa de um esgoto, seria frito em segundos, levando em consideração que eu estava assando na quentura do lugar.Hoje era meu último dia de liberdade e eu queria aproveitar isso ao máximo. Não consigo me lembrar, exatamente, todos os momentos que passei durante esses vinte e oito dias, mas a certeza que eu tinha, era que eu havia me divertido como nunca.— Já está fazendo as malas? — Manu murmurou triste, se jogando ao lado da minha mala.— Sim, eu precisava terminar isso!
não pensei que me despedir doeria tanto.Acordei cedo naquela manhã, torcendo para que o dia passasse cada vez mais lento.Mesmo com meu coração dolorido, e com a decepção e insatisfação estampada no meu rosto, passamos o dia juntas.Fizemos o melhor almoço do mundo, e elas me acompanharam a minha última visita a praia.Me sentei na areia fofa, e fiquei admirando as ondas indo e voltando. Eu não tinha certeza se os colombianos tinham praia, e não estava muito animada para descobrir, não sei sequer se serei livre para ir e vir, quem dirá para descobrir se eles tem praias.— No que você tanto pensa? — Ket perguntou, se sentando ao meu lado.— Na minha vida. — sorri fraco, ainda sem encarar seus olhos castanhos escuros.— Você tem certeza disso? — Perguntou. — conheço umas pessoas que podem acabar com a raça desse Carlos.— Eu já dei a minha palavra. — falei, triste.
Henry Coleman.— Bom, senhores.. por hoje é só! — Falei, deixando a pasta preta na mesa.Aos poucos, a sala ia esvaziando, até que ficassem apenas eu e minha secretária.— Senhor? — Merliah chamou a minha atenção. — Seu pai está na sua sala, está aguardando o seu retorno.— Obrigado, Merliah. — Sorri fraco, peguei a pequena pasta da mesa e sai da sala.Atravessei os corredores extensos até a minha sala no topo do prédio alto.Eu e meu pai não estávamos nos falando desde a nossa última discussão, ele não dava o braço a torcer e eu era orgulhoso demais para ir atrás do mais velho.Respirei fundo, antes de entrar na sala e encontrá-lo sentado na minha cadeira, enquanto lia alguns papéis.— Pai? — chamei sua atenção e me aproximei, para depositar a pasta ao lado de uma pilha de pastas.— Ah, oi! — Ele se levantou e ajeitou o blazer sobre o corpo, antes de pigarrear e me encar
Bruna Pinheiro. Carlos abriu porta de entrada da boate e me deu passagem para que eu pudesse passar.O lugar, não era ruim, era bem bonito e parecia aconchegante. Percorri meus olhos pela sala ampla e fiquei encantada com a beleza do lugar.Em um dos cantos, um bar estava muito bem posicionado com inúmeros bancos enfileirados um ao lado do outro, uma menina estava sentada no balcão, enquanto conversava animadamente com uma outra que estava lavando um copo no bar.Algumas mesas estavam espelhadas pelo local, com quatro cadeiras cada. Nos cantos, encostados nas paredes, alguns sofás vermelhos que pareciam confortáveis rodeavam mesas quadradas.No centro do lugar, dois palcos redondos e pequeno, com uma uma barra em seu centro. Uma garota estava sentada com outras duas no pequeno palco, comendo tacos e bebendo refrigerante.Percebi algumas garotas espalhadas pelo lugar, pareciam felizes e entretidas em suas próprias con
Estar aqui a seis meses, era de longe a coisa mais difícil a ser feita. Eu sabia que não seria fácil, mas não imaginei que seria tão repetitivo e entediante.Todas as noites era o mesmo, nós íamos para o salão, esperávamos eles aparecerem e nos jogávamos em cima, como urubus em carne podre.Eu não me orgulhava disso, na verdade, queria correr dali a qualquer momento, era bastante humilhante.. mas, eu precisava disso. Eu precisava quitar a dívida e salvar a vida de Lucas, estava tudo em minhas mãos.Eu não falava muito com Lucas, trabalhava até às quatro da manhã, e quando retornava para a casa, queria me deitar e nunca mais levantar dali.Cá estava eu, no centro da nossa sala de estar, comendo cereal e assistindo a qualquer filme
Abri meus olhos lentamente, sentindo a brisa suave entrar em contato com o meu rosto. A porta da sacada estava aberta, e o dia lá fora estava frio.O céu estava escuro e pequenos chuviscos molhavam o chão, o vento mexia a cortina descontroladamente, quase como se tivesse vida.Me levantei preguiçosamente, fechando a porta, deixando o ambiente se aquecer instantâneamente.Abri o guarda roupas e pesquei um conjunto de lingeries, um moletom rosa bebê e um par de meias da mesma cor, entrei para dentro do banheiro e liguei o chuveiro na água quente.Após o banho, me vesti com as peças e penteei meus cabelos, que agora batiam na metade das minhas costas.Peguei meu celular e vi algumas chamadas perdidas de Juh e franzi a testa, calcei um par de chinelos de dedo e sai do quarto.Atravessei o corredor vazio, ouvindo conversas paralelas em alguns quarto, não me interessando muito em parar para escutar.Me virei par
A porta do carro se abriu e eu saí, parando ao lado de Henry que travava o carro.Suas mãos desceram até a curva das minhas costas e caminhamos juntos até o elevador do seu prédio. Ajeitei meus cabelos no espelho e encostei na parede gelada.Não demorou muito para a porta se abrir e pararmos em um corredor com duas portas, uma de frente para a outra.Henry abriu a porta com um pequeno cartão e me deu passagem para que eu entrasse.A suíte do hotel era idêntica a um apartamento de alto nível, com uma sala ampla, uma televisão de cinquenta polegadas pegava metade da parede, três sofás brancos rodeavam a pequena mesa de centro no centro da sala. Uma cortina entre aberta revelava uma parede de vidro, que proporcionava uma vista incrível de toda o centro da cidade.O lugar era decorado entre o branco, o marrom e o dourado. Era bonito e amplo, dando um ar de lar em cada pequeno detalhe do local.- Estou aqui a seis meses, e