Arrastei minha mala pelo chão da rodoviária. Depois de quatro paradas e quarenta e oito horas de viagem deitada, minhas costas doíam um pouco.
Olhei ao redor e respeitei fundo, meu estômago roncou e eu fiz uma careta, levando a mão até ela em seguida.
— Bruna! — Ouvi alguém me chamar, e olhei em direção a voz. — Bruna!
Um sorriso grande se abriu em meu rosto quando Lucas entrou no meu campo de visão, e eu andei a passos largos até a sua direção, puxando a mala grande e pesada.
— Lucas, meu amor. — Falei, antes de me jogar em seus braços e beijar sua boca.
— Oi, meu bebê. — Ele sorriu, tirando um cachinho teimoso do meu rosto. — Você é mais bonita ainda de perto.
— Obrigada. — sorri sem mostrar os dentes e lhe dei um selinho. — Você também.
— Você deve estar cansada, vamos para casa. — O moreno falou.
Lucas entrelaçou nossos dedos, me puxando para a saída a passar largos. Meus olhos percorreram pelo lugar e tentei gravar cada detalhezinho da cidade.
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As ruas eram bastante movimentadas. O Uber estava no cartão de crédito dos meus pais, então desembarquei do carro, pegando a mala.
Parei na calçada, esperando Lucas se aproximar e rodei os olhos pela rua movimentada de Nova Iguaçu. Não era como eu imaginava totalmente, mas, isso não me incomodava.. eu saí de uma cidade pequena, onde todos se conheciam, esse lugar era um paraíso.
— Lucas! — Ouvi uma voz feminina gritar e virei o rosto junto com Lucas. — Cara, onde você estava? — A morena perguntou se aproximando.
— Oi, Gi. — Ele sorriu, puxando um molho de chaves do bolso. — Fui buscar a Bruna.
— Ah! — disse sem emoção, e me encarou por alguns segundos. — Oi, Bruna! — Sorriu fraco, e voltou a se virar para Lucas. — Vai ter jogo hoje no campo, o Diego pediu para eu avisar para você.
— Hoje não vai rolar! — Lucas passou por mim e enfiou a chave na fechadura. — Tenho outras coisas para fazer, a Bruna acabou de chegar.
— Ela não vai se importar. — a morena me encarou.
— Na verdade, eu estou bastante cansada. — respirei fundo. — Mas.. se o Lucas quiser, eu não me importo em ficar sozinha. ,— dei os ombros e puxei o celular do meu bolso de trás.
Era uma das minhas únicas amigas do meu antigo estado. Ela era incrível e amável.
Sorri fraco com a mensagem e respondi rapidamente, antes de voltar a minha atenção para a pequena discussão a minha frente.
— Eu só vou se a Bruna decidir ir. — Lucas disse por fim. — Não vou deixar ela sozinha, Giovanna. — seu tom de voz era seco. — Ela acabou de chegar.
— Quer saber? Eu não ligo. — Disse brava e se virou. — Seu ignorante.
Giovanna saiu rápido, jogando seus cabelos longos para trás, digitando algo no celular.
— Não liga para ela! — Ele disse, me dando passagem para entrar no corredor extenso.
— Ta' tudo bem. — sorri fraco. — mas, se você quiser ir, pode ir. — falei, voltando a andar no corredor.
— Não, eu vou ficar com você. — Dei os ombros, eu realmente não ligava se ele iria querer ir ou não. Queria mesmo era comer algo e cair na cama.
Após chegarmos no quintal não muito grande, Lucas abriu a porta e entramos. A casa não era muito grande, mas era confortável.
Uma sala simples com um jogo de sofá, um tapete felpudo e uma televisão grande, um quarto com uma cama de casal, a cozinha com um armário, um fogão e uma geladeira grande.
— Sua casa é bem aconchegante. — falei, me sentando no sofá. Era bastante confortável.
— Quer comer algo? Eu posso pedir alguma comida pra' você. perguntou, enquanto me entregava o controle remoto.
— Sim, eu estou com muita fome. — Meu estômago se contraiu e senti a dor da fome me invadir. Eu não sentia essa fome desde da semana que eu havia feito greve de fome.
— O que você quer comer? — Lucas se sentou ao meu lado com o celular aberto em algum aplicativo.
— Pode ser qualquer coisa. — Falei. — eu só preciso comer.
— Posso pedir no iFood um empadão pra você ou algum salgado.— Disse, sem tirar os olhos do aparelho. — Não tem quentinhas disponíveis, já são quase seis e meia.
— Empadão. — Mudei o canal a procura de algum programa que me chamasse a atenção.
Acabei optando por uma novela na televisão aberta. Eu era viciada nas novelas do SBT, desde sempre.. eu costumava assistir com a minha avó, e depois com a minha mãe. Todas as minhas amigas assistiam. Era o nosso assunto diário.
— Aí, Alessandro! — Reclamei com o personagem da televisão. — a Montserrat não beijou o José Luiz. — Bufei.
— Você assiste essas coisas? — Ele fez uma careta fechando a porta atrás de si com uma bolsa pendurada na mão e apoiou ao meu lado. — Aqui! Vou buscar um garfo. — Ele sorriu fraco e saiu do lugar.
Peguei o pote de alumínio quente entre os dedos e apoiei em uma almofada, retirei a tampa de papel e senti o cheiro gostoso invadir meu nariz, me fazendo dar água na boca.
— Obrigada. — Agradeçi dando uma garfada no empadão de frango. — É gostoso.
— Comprei com um pessoal que eu sempre compro. — Disse, mordendo sua coxinha com os pés apoiados no sofá pequeno.
Continuei com os olhos vidrados na televisão, atenta a cada detalhe da minha novela favorita. “O que a vida me roubou” era, sem dúvidas, uma das minhas novelas favoritas da vida e eu queria muito que o casal principal terminasse junto. Mesmo que eu soubesse o fim da novela, que já era previsível, eu adorava assistir e tentar descobrir o contexto por trás desse amor incondicional que eles tanto falavam.
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A noite estava quente e o macacão caiu muito bem no meu corpo. Ajeitei meus cachos pela última vez, antes de colocar uma nota de cinquenta reais na minha capinha rosa e bloquear o celular.
Guardei o celular no bolso da frente e fechei minha pulseira de ouro, presente de uma tia que morava na Itália.
— Vamos? — Lucas perguntou, pegando a chave do rack suspenso.
— Sim. — Sorri fraco, saindo da casa e indo para o portão sem espera-lo.
Com as mãos no bolso, observei a rua movimentada e uma pequena barraca de açaí. Era roxa, e tinha um logotipo bonito.
Desviei o olhar do estabelecimento para Lucas e começamos a andar lado a lado, indo em direção ao campo de futebol. Ele não jogaria hoje, longe disso, ele ficaria ao meu lado para que eu não ficasse sozinha.
Após caminhar por vinte minutos ou mais, chegamos a uma praça grande e cheia de pessoas.
A praça contava com um grande campo de futebol no centro, com uma pequena arquibancada na cor azul. Algumas mesas de concreto estavam espalhadas pelo lugar e alguns grupos se amontoavam entre elas, conversando alto e rindo, alguns trailers com as mais diversas comidas e brinquedos infláveis infantis e pula-pula.
Caminhamos por entre as pessoas e enquanto Lucas cumprimentava todos, tentei me concentrar em ser gentil e sorrir.
Chegamos ao pequeno grupo de Lucas e após cumprimentar todos, nos sentamos enquanto ele entravam em uma conversa super animada sobre resenhas, festas e coisas do gênero.
Aos poucos, acabei entrando no assunto e acabei sendo convidada para a festa de aniversário de um deles.
Eu adorei o jeito que eles organizavam as festas, basicamente, os convidados levavam o que bebiam e a comida ficava por conta do aniversáriante, tacada de mestre.
Quando começou a ficar tarde e meu estômago mimado começou a dar sinais de fome, sai de perto do pessoal para rodar um pouco o local e procurar algo para saciar a minha fome.
Acabei optando por uma vendinha de hambúrguer, e após devorar um super x-tudo com coca cola, tomei uma casquinha mista – baunilha com chocolate – e retornei para o pessoal, que agora, olhava para o campo e comentava sobre os jogadores e apontavam qual deles era “o pior”.
Não vi mais Giovanna hoje, e mesmo contragosto, queria saber qual era a importância da garota na vida do meu namorado.
— A Gi está chateada com você. — Melissa falou, após alguns segundos olhando para Lucas.
— Problema é dela. — Ele deu os ombros. — a Giovanna não aceita que eu tenho uma vida e que eu tenho que cuidar dela.
— Ela disse que você foi um babaca e que não queria vir por causa da Bruna. — completou.
— Eu disse que iria vir se a Bruna viesse. — Ele deu os ombros e mudou de assunto.
Meu celular vibrou no meu bolso, e eu o desbloqueei, sorrindo com a mensagem que havia recebido. Adorava os meus amigos e sabia que sentiria falta deles e de tudo o que vivemos.
Fechei meu WhatsApp e voltei a minha atenção para a conversa a minha volta. Encostei o queixo nas mãos e suspirei.. saudades dos meus amigos e da minha família.
Mas, a minha nova vida me reservava muitas emoções, e eu esperava que boas.
— Sabe de uma coisa, Henry?— Meu pai balbuciou perto de mim, apoiando o copo de Whisky na mesa. — Você precisa se casar, não pode continuar sendo esse irresponsável. Existem tantas moças boas e de boa família por aí.— Eu não quero um casamento, pai! — Revirei os olhos e virei o último gole do meu whisky.Eu estava na sala de estar da mansão Coleman, a mansão da minha família. Eu havia sido convidado para um belo almoço em família, e é claro que isso não ficaria barato assim, meu pai arrumaria um momento para falar sobre casamento para mim.— Eu não sei se é o que preciso no momento.. — Completei. — Uma mulher para me adestrar, não estou preparado.. — fiz um pausa, rodando os olhos pelo abajur que estava ao lado sofá. — afinal, tenho coisas mais importantes para tratar, como a empresa.— Henry, eu confiei em você.. — meu pai me encarou sério e eu respirei fun
O calor do Rio de Janeiro era intenso e por um segundo, senti saudades do verão do interior.Minha cidade tinha tantas árvores, que o Verão era agradável e podíamos nos sentar no jardim do parque para ler ou fazer qualquer besteira que adolescente faz.Puxei meus cabelos em um coque no topo da cabeça, deixando alguns fios soltos. Passei um rímel nos olhos e me olhei no espelho.Meu short Jeans recém comprado por minha mãe estava um pouco curto e o cropped preto me deixava confortável. Espirrei um pouco de perfume e um desodorante, hidratei as pernas e peguei meu celular em cima da cômoda do quarto de Lucas.Sai do quarto e voltei para a sala, percebendo os amigos de Lucas jogando FIFA no Xbox montado no meio tapete. Abri as janelas, antes fechadas para que o ar corresse pela casa e bebi um copo com água bem gelada, antes de pegar meu aparelho celular e chamar por um carro no aplicativo.- Pra onde você vai? - Lucas perguntou sem
— Você é louco?- Gritei com Lucas que me olhava entediado.Seus cabelos estavam bagunçado e suas roupas amassadas, roupas de ontem. Ele nem sequer voltou para me dar uma satisfação.- Olha, Bruna.. eu não quero brigar, tá legal? - Lucas se levantou, me ignorando e caminhou preguiçosamente até o quarto que dividamos por pouco tempo.Bufei, e bati as unhas na pequena mesa de jantar da cozinha. Eu não podia passar por isso.Fiz um coque bagunçado no topo do cabelo e suspirei pesadamente, indo atrás de Lucas no quarto.Me encostei no batente da porta e cruzei minhas pernas e cruzei meus braços na frente do peito, limpei a garganta, chamando a sua atenção.- Um tal de Carlos esteve aqui. - avisei, chamando toda a sua atenç&
Já correram cinco meses desde a minha chegada ao Rio De Janeiro. Eu já estava morando com Manu em seu apartamento e nós nos dávamos perfeitamente bem.O meu problema é bem pior. Estou atolada em dívidas, dívidas altas e não tenho como pagar. Meu trabalho em uma lanchonete não cobre sequer os juros da dívida e estou a ponto de explodir.Eu não quero ir embora do Rio, e é por isso que não posso pedir mais de três mil reais para o meu pai. E o pior, estou sofrendo milhares de ameaças desse tal de Carlos, e não consigo entender ainda, como cheguei a esse ponto.Limpei a última mesa do estabelecimento, eram três da manhã e já havíamos fechado. Fiz um coque frouxo no topo da cabeça, me despedi dos outros funcionários e caminhei até a minha casa, que não era muito longe.Eu não posso dizer, na verdade, que não entendo como cheguei a essa situação. Eu entendo e entendo muito bem.Tudo começou quando Carlos começou a aparecer muito
— Você tem um mês para aproveitar a sua liberdade. — Carlos soltou, me fazendo assentir em seguida tristemente. Eu não queria ter só um mês.— E depois? — Perguntei, torcendo os lábios.— Depois, você irá comigo para a Colômbia, e ficará por lá até que a sua dívida esteja paga. — Explicou, tomando seu capuccino. — vai durar uns dois ou três anos.— Mas, eu só devo três mil reais. — Franzi a testa.— Me diz, você vai ou não vai segurar as dívidas do Lucas? — Carlos estava impaciente na minha frente, eu sabia que ele o mataria. Era tão perigoso.— E quanto ele deve a você? — Cruzei os braços, suspirando alto.— No mí
Já havia corrido uma semana. Uma longa e cansativa semana.Eu fui a praia duas vezes, e saio quase todas as noites, tentando aproveitar meu último gostinho de liberdade.Lucas me beijava com furor, enquanto apertava meus seios com uma mão e alisava minha bunda com a outra.Levei meus dedos a sua nuca, arranhando a área levemente.Não sei exatamente em que momento ficamos pelados, mas Lucas arremetia contra o meu corpo rapidamente, fazendo uma sensação gostosa invadir meu corpo e um gemido sair da minha garganta.Meu ventre se apertou levemente, e torci para que isso não acabe agora, ouvi a respiração de Lucas mais pesado no meu ouvido e suas estocadas ficarem mais leves e sem velocidade, até parar definitivamente.Lucas jogou seu corpo suado contra os lençóis de sua cama, com a respiração entre cortada.- Foi bom? - Lucas disse, sorrindo fraco.- Sim, foi ótimo. - Menti.Eu não podia dize
Puxei minha última peça de roupa do guarda roupas e coloquei dentro da mala aberta em cima da minha cama.Separei uma calça comprida, uma blusa de alça fina e uma jaqueta jeans. Eu precisava terminar isso ainda hoje.Bufei, diminuindo um pouco mais a temperatura do ar condicionado. O Rio de Janeiro estava quente, com seus belos trinta e cinco graus Celsius, eu me sentia a ponto de derreter a qualquer momento.Se um ovo fosse quebrado na tampa de um esgoto, seria frito em segundos, levando em consideração que eu estava assando na quentura do lugar.Hoje era meu último dia de liberdade e eu queria aproveitar isso ao máximo. Não consigo me lembrar, exatamente, todos os momentos que passei durante esses vinte e oito dias, mas a certeza que eu tinha, era que eu havia me divertido como nunca.— Já está fazendo as malas? — Manu murmurou triste, se jogando ao lado da minha mala.— Sim, eu precisava terminar isso!
não pensei que me despedir doeria tanto.Acordei cedo naquela manhã, torcendo para que o dia passasse cada vez mais lento.Mesmo com meu coração dolorido, e com a decepção e insatisfação estampada no meu rosto, passamos o dia juntas.Fizemos o melhor almoço do mundo, e elas me acompanharam a minha última visita a praia.Me sentei na areia fofa, e fiquei admirando as ondas indo e voltando. Eu não tinha certeza se os colombianos tinham praia, e não estava muito animada para descobrir, não sei sequer se serei livre para ir e vir, quem dirá para descobrir se eles tem praias.— No que você tanto pensa? — Ket perguntou, se sentando ao meu lado.— Na minha vida. — sorri fraco, ainda sem encarar seus olhos castanhos escuros.— Você tem certeza disso? — Perguntou. — conheço umas pessoas que podem acabar com a raça desse Carlos.— Eu já dei a minha palavra. — falei, triste.