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Capítulo 2 | Cidade Maravilhosa

Arrastei minha mala pelo chão da rodoviária. Depois de quatro paradas e quarenta e oito horas de viagem deitada, minhas costas doíam um pouco. 

Olhei ao redor e respeitei fundo, meu estômago roncou e eu fiz uma careta, levando a mão até ela em seguida. 

— Bruna! — Ouvi alguém me chamar, e olhei em direção a voz. — Bruna! 

Um sorriso grande se abriu em meu rosto quando Lucas entrou no meu campo de visão, e eu andei a passos largos até a sua direção, puxando a mala grande e pesada. 

— Lucas, meu amor. — Falei, antes de me jogar em seus braços e beijar sua boca. 

— Oi, meu bebê. — Ele sorriu, tirando um cachinho teimoso do meu rosto. — Você é mais bonita ainda de perto. 

— Obrigada. — sorri sem mostrar os dentes e lhe dei um selinho. — Você também. 

— Você deve estar cansada, vamos para casa. — O moreno falou. 

Lucas entrelaçou nossos dedos, me puxando para a saída a passar largos. Meus olhos percorreram pelo lugar e tentei gravar cada detalhezinho da cidade.

As ruas eram bastante movimentadas. O Uber estava no cartão de crédito dos meus pais, então desembarquei do carro, pegando a mala. 

Parei na calçada, esperando Lucas se aproximar e rodei os olhos pela rua movimentada de Nova Iguaçu. Não era como eu imaginava totalmente, mas, isso não me incomodava.. eu saí de uma cidade pequena, onde todos se conheciam, esse lugar era um paraíso. 

— Lucas! — Ouvi uma voz feminina gritar e virei o rosto junto com Lucas. — Cara, onde você estava? — A morena perguntou se aproximando. 

— Oi, Gi. — Ele sorriu, puxando um molho de chaves do bolso. — Fui buscar a Bruna. 

— Ah! — disse sem emoção, e me encarou por alguns segundos. — Oi, Bruna! — Sorriu fraco, e voltou a se virar para Lucas. — Vai ter jogo hoje no campo, o Diego pediu para eu avisar para você. 

— Hoje não vai rolar! — Lucas passou por mim e enfiou a chave na fechadura. — Tenho outras coisas para fazer, a Bruna acabou de chegar. 

— Ela não vai se importar. — a morena me encarou. 

— Na verdade, eu estou bastante cansada. — respirei fundo. — Mas.. se o Lucas quiser, eu não me importo em ficar sozinha. ,— dei os ombros e puxei o celular do meu bolso de trás. 

Era uma das minhas únicas amigas do meu antigo estado. Ela era incrível e amável. 

Sorri fraco com a mensagem e respondi rapidamente, antes de voltar a minha atenção para a pequena discussão a minha frente. 

— Eu só vou se a Bruna decidir ir. — Lucas disse por fim. — Não vou deixar ela sozinha, Giovanna. — seu tom de voz era seco. — Ela acabou de chegar.

— Quer saber? Eu não ligo. — Disse brava e se virou. — Seu ignorante. 

Giovanna saiu rápido, jogando seus cabelos longos para trás, digitando algo no celular. 

— Não liga para ela! — Ele disse, me dando passagem para entrar no corredor extenso.

— Ta' tudo bem. — sorri fraco. —  mas, se você quiser ir, pode ir. — falei, voltando a andar no corredor. 

— Não, eu vou ficar com você. — Dei os ombros, eu realmente não ligava se ele iria querer ir ou não. Queria mesmo era comer algo e cair na cama. 

Após chegarmos no quintal não muito grande, Lucas abriu a porta e entramos. A casa não era muito grande, mas era confortável. 

Uma sala simples com um jogo de sofá, um tapete felpudo e uma televisão grande, um quarto com uma cama de casal, a cozinha com um armário, um fogão e uma geladeira grande.

— Sua casa é bem aconchegante. — falei, me sentando no sofá. Era bastante confortável. 

— Quer comer algo? Eu posso pedir alguma comida pra' você.  perguntou, enquanto me entregava o controle remoto. 

— Sim, eu estou com muita fome. — Meu estômago se contraiu e senti a dor da fome me invadir. Eu não sentia essa fome desde da semana que eu havia feito greve de fome. 

— O que você quer comer? — Lucas se sentou ao meu lado com o celular aberto em algum aplicativo. 

— Pode ser qualquer coisa. — Falei. — eu só preciso comer. 

— Posso pedir no iFood um empadão pra você ou algum salgado.— Disse, sem tirar os olhos do aparelho. — Não tem quentinhas disponíveis, já são quase seis e meia.

— Empadão. — Mudei o canal a procura de algum programa que me chamasse a atenção. 

Acabei optando por uma novela na televisão aberta. Eu era viciada nas novelas do SBT, desde sempre.. eu costumava assistir com a minha avó, e depois com a minha mãe. Todas as minhas amigas assistiam. Era o nosso assunto diário. 

— Aí, Alessandro! — Reclamei com o personagem da televisão. — a Montserrat não beijou o José Luiz. — Bufei.  

— Você assiste essas coisas? — Ele fez uma careta fechando a porta atrás de si com uma bolsa pendurada na mão e apoiou ao meu lado. — Aqui! Vou buscar um garfo. — Ele sorriu fraco e saiu do lugar. 

Peguei o pote de alumínio quente entre os dedos e apoiei em uma almofada, retirei a tampa de papel e senti o cheiro gostoso invadir meu nariz, me fazendo dar água na boca. 

— Obrigada. — Agradeçi dando uma garfada no empadão de frango. — É gostoso. 

— Comprei com um pessoal que eu sempre compro. — Disse, mordendo sua coxinha com os pés apoiados no sofá pequeno. 

Continuei com os olhos vidrados na televisão, atenta a cada detalhe da minha novela favorita. “O que a vida me roubou” era, sem dúvidas, uma das minhas novelas favoritas da vida e eu queria muito que o casal principal terminasse junto. Mesmo que eu soubesse o fim da novela, que já era previsível, eu adorava assistir e tentar descobrir o contexto por trás desse amor incondicional que eles tanto falavam. 

A noite estava quente e o macacão caiu muito bem no meu corpo. Ajeitei meus cachos pela última vez, antes de colocar uma nota de cinquenta reais na minha capinha rosa e bloquear o celular.

Guardei o celular no bolso da frente e fechei minha pulseira de ouro, presente de uma tia que morava na Itália. 

— Vamos? — Lucas perguntou, pegando a chave do rack suspenso. 

— Sim. — Sorri fraco, saindo da casa e indo para o portão sem espera-lo.

Com as mãos no bolso, observei a rua movimentada e uma pequena barraca de açaí. Era roxa, e tinha um logotipo bonito. 

Desviei o olhar do estabelecimento para Lucas e começamos a andar lado a lado, indo em direção ao campo de futebol. Ele não jogaria hoje, longe disso, ele ficaria ao meu lado para que eu não ficasse sozinha. 

Após caminhar por vinte minutos ou mais, chegamos a uma praça grande e cheia de pessoas. 

A praça contava com um grande campo de futebol no centro, com uma pequena arquibancada na cor azul. Algumas mesas de concreto estavam espalhadas pelo lugar e alguns grupos se amontoavam entre elas, conversando alto e rindo, alguns trailers com as mais diversas comidas e brinquedos infláveis infantis e pula-pula. 

Caminhamos por entre as pessoas e enquanto Lucas cumprimentava todos, tentei me concentrar em ser gentil e sorrir.

Chegamos ao pequeno grupo de Lucas e após cumprimentar todos, nos sentamos enquanto ele entravam em uma conversa super animada sobre resenhas, festas e coisas do gênero.  

Aos poucos, acabei entrando no assunto e acabei sendo convidada para a festa de aniversário de um deles. 

Eu adorei o jeito que eles organizavam as festas, basicamente, os convidados levavam o que bebiam e a comida ficava por conta do aniversáriante, tacada de mestre. 

Quando começou a ficar tarde e meu estômago mimado começou a dar sinais de fome, sai de perto do pessoal para rodar um pouco o local e procurar algo para saciar a minha fome. 

Acabei optando por uma vendinha de hambúrguer, e após devorar um super x-tudo com coca cola, tomei uma casquinha mista – baunilha com chocolate – e retornei para o pessoal, que agora, olhava para o campo e comentava sobre os jogadores e apontavam qual deles era “o pior”. 

Não vi mais Giovanna hoje, e mesmo contragosto, queria saber qual era a importância da garota na vida do meu namorado. 

— A Gi está chateada com você. — Melissa falou, após alguns segundos olhando para Lucas. 

— Problema é dela. — Ele deu os ombros. — a Giovanna não aceita que eu tenho uma vida e que eu tenho que cuidar dela. 

— Ela disse que você foi um babaca e que não queria vir por causa da Bruna. — completou. 

— Eu disse que iria vir se a Bruna viesse. — Ele deu os ombros e mudou de assunto. 

Meu celular vibrou no meu bolso, e eu o desbloqueei, sorrindo com a mensagem que havia recebido. Adorava os meus amigos e sabia que sentiria falta deles e de tudo o que vivemos.

Fechei meu WhatsApp e voltei a minha atenção para a conversa a minha volta. Encostei o queixo nas mãos e suspirei.. saudades dos meus amigos e da minha família. 

Mas, a minha nova vida me reservava muitas emoções, e eu esperava que boas. 

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