O silêncio que tomou o salão era quase ensurdecedor. Elise sentia seu coração martelar contra o peito enquanto a lâmina reluzente pairava entre ela e os reis lycans. O frio do metal se aproximava de sua pele quando, pela primeira vez, sua voz rompeu a tensão.
— Esperem! — Sua própria ousadia surpreendeu até a si mesma.
Os murmúrios se espalharam como fogo entre os convidados. Nobres trocaram olhares, soldados se moveram discretamente, como se aguardassem uma ordem para intervir. Os reis não esboçaram reação imediata, mas os olhos predatórios cravaram-se nela, avaliando cada detalhe de sua expressão.
— Você tem algo a dizer? — a voz do rei de cabelos escuros cortou o silêncio. Não havia raiva, apenas um interesse calculado.
Elise engoliu em seco. Sabia que qualquer palavra errada poderia selar seu destino de forma ainda mais cruel. Inspirou fundo, tentando manter sua compostura.
— Eu… só gostaria de entender. Por que este ritual é necessário? — Ela tentava soar respeitosa, mas sua hesitação era perceptível.
O segundo rei, aquele de traços afiados, ergueu uma sobrancelha. Sua voz era baixa, mas carregava uma ameaça velada.
— Você foi preparada para isso durante anos e só agora decide questionar?
Elise desviou o olhar por um breve instante. Sim, havia sido treinada, moldada para esse momento. Mas, agora que estava diante dele, algo dentro de si gritava em revolta.
— Sempre me disseram que esse casamento garantiria a paz entre os nossos povos — continuou, tentando manter a voz firme. — Mas nunca explicaram por que precisava ser assim. O que exatamente o voto de sangue significa?
Os reis trocaram um olhar rápido. Foi o suficiente para que Elise percebesse que ali havia algo além do que lhe fora contado. A resposta veio lenta, calculada.
— O voto de sangue é mais do que uma cerimônia — disse o rei de cabelos longos. — É um elo. Um laço indissolúvel que une sua essência à nossa. A partir do momento em que seu sangue se fundir ao nosso, não haverá volta.
O frio se espalhou pelo corpo de Elise. Não era apenas um casamento. Era algo muito maior… e mais perigoso do que imaginava.
A lâmina voltou a se erguer.
Seu instinto gritava para fugir. Mas fugir para onde? Para quem? Ela era uma impostora vivendo uma mentira. Se tentasse escapar, seria caçada. Se cedesse, perderia sua liberdade para sempre.
Os olhos dos reis estavam sobre ela, esperando sua decisão.
O salão inteiro prendeu a respiração.
Elise sentiu o olhar de sua família postiça sobre ela. A duquesa Delacroix sorria de forma discreta, satisfeita. Seu marido, ao lado, mantinha uma expressão serena, mas Elise conhecia aquele olhar – havia algo mais ali, algo que ela nunca conseguira decifrar. Ao lado deles, os nobres a observavam com uma mistura de fascínio e expectativa. Para todos ali, ela era a jovem escolhida, a que levaria sua linhagem à grandeza. Mas para Elise, aquilo era uma sentença.
O sacerdote aproximou-se, murmurando as palavras sagradas em um idioma antigo. Elise sentiu o peso das correntes invisíveis se fechando ao seu redor. Seu peito subia e descia rapidamente, a respiração tornando-se superficial. Sentia o suor frio na nuca. Estava realmente prestes a fazer isso?
O rei de cabelos escuros, Astor, tomou sua mão com firmeza, a pele quente contra a dela, e fez um pequeno corte na ponta do dedo de Elise. O sangue brotou imediatamente, um vermelho vivo que contrastava com sua pele pálida. O rei de cabelos longos, Lucian, fez o mesmo em seu próprio dedo e então segurou a mão de Elise, pressionando suas peles unidas. O contato queimava, mas não como fogo – era algo mais profundo, algo que ia além do físico.
Uma onda de calor percorreu seu corpo, e Elise arquejou. Seu sangue estava sendo puxado, mesclando-se com o deles. Sentiu algo despertando dentro de si, um eco distante de algo que sempre esteve adormecido.
Seus joelhos vacilaram. Ela teria caído se Lucian não a tivesse segurado firmemente. O salão girou por um momento, e ela ouviu murmúrios preocupados ao redor. O que estava acontecendo com ela? Nunca lhe haviam contado sobre essa parte do ritual.
— Tranquila, pequena rainha — murmurou Astor, sua voz baixa e hipnotizante. — Está tudo certo.
Mas não estava. Elise sentia o próprio coração mudar de ritmo, como se algo estivesse tentando sincronizá-lo com algo maior, algo antigo. Seus olhos se arregalaram quando imagens começaram a surgir em sua mente – visões que não eram suas. Florestas densas sob luas sangrentas. Garras rasgando a pele. Um trono de ossos cercado por chamas.
E então, de repente, tudo desapareceu. O salão voltou ao normal, e a única evidência do que acabara de acontecer era a respiração acelerada de Elise.
O sacerdote anunciou o fim do ritual, e aplausos ecoaram pelo salão. Elise mal conseguia processar. Ela sentiu o aperto dos reis suavizar por um breve instante antes de soltarem sua mão.
Astor e Lucian se entreolharam, trocando um olhar que Elise não soube interpretar. Havia algo ali – algo que ela não entendia. Algo que iam esconder dela.
A duquesa Delacroix se aproximou, segurando as mãos de Elise com um sorriso de orgulho.
— Minha querida, você foi magnífica — disse suavemente, mas havia algo afiado em seu tom.
Elise tentou sorrir, mas sua mente estava em outro lugar. O que realmente havia acontecido? O que aquele ritual tinha despertado dentro dela?
Enquanto os convidados se aproximavam para cumprimentá-la, ela percebeu que, embora estivesse casada com os reis lycans, sua verdadeira batalha apenas começava.
A noite avançava enquanto Elise era levada pelos corredores do castelo, escoltada por guardas silenciosos. O peso do ritual ainda impregnava seu corpo, como se seu sangue estivesse queimando sob a pele. Ela tentou ignorar a sensação, mantendo o olhar fixo no caminho à frente, mas a atmosfera ao redor parecia diferente, carregada de algo invisível, mas opressivo.Antes disso, no salão principal, a cerimônia havia chegado ao seu ápice. O silêncio pesado que dominava o ambiente foi quebrado quando os reis finalmente se aproximaram para retirar o véu que cobria seu rosto. Elise prendeu a respiração, o coração martelando no peito. O medo de ser descoberta era esmagador, assim como a incerteza do que eles veriam ao olhar para ela sem o tecido que a separava do mundo.Os dedos firmes deslizaram com delicadeza ao remover o véu, revelando seu rosto pálido e os olhos arregalados pelo nervosismo. O que Elise não esperava era a reação dos reis. Nenhuma expressão de desagrado, nenhum olhar desconf
A atmosfera no salão privado continuava densa, impregnada com uma tensão que Elise sentia na pele. Lucian ainda estava próximo, o polegar roçando sua pele com uma suavidade inesperada, enquanto Astor mantinha-se um pouco mais afastado, observando-a como se estivesse pesando cada uma de suas reações.O silêncio foi quebrado por Astor, sua voz firme e sem hesitação.— Não pense que este casamento foi apenas um capricho do conselho ou uma tentativa fútil de selar alianças. — Ele se moveu, aproximando-se com passos lentos e pesados. — O reino de Vittoria está cercado por ameaças. Nossos inimigos espreitam, esperando um sinal de fraqueza, e um herdeiro é a única garantia de que a linhagem real continue forte.Elise sentiu o ar escapar de seus pulmões. O peso daquela afirmação caiu sobre ela como uma muralha. Um herdeiro. Sua mente gritava para que recusasse, para que dissesse que aquilo era um erro terrível. Mas sua voz não saiu. Em vez disso, ela permaneceu ali, estática, os dedos trêmulo
O ar no salão parecia congelado, e Elise mal conseguia distinguir entre o que era real e o que sua mente delirante criava. Cada palavra de Astor ecoava em sua mente como um trovão, reverberando nas paredes da sala e dentro de seu peito. Ela tentou, em vão, racionalizar, mas o peso das palavras de Lucian e Astor parecia esmagá-la. A sensação de impotência se enrosca em seu estômago, um peso denso e inquietante.Lucian estava à sua esquerda, imóvel, observando-a com um olhar tão profundo que parecia atravessar sua alma. A cada momento, ele a estudava mais, como se a descortinasse diante de seus olhos. Não era mais apenas um homem ao seu lado. Ele parecia ser algo mais, algo bem distante da humanidade, uma presença etérea que fazia Elise se questionar até onde sua própria realidade poderia ir.— Você tem medo, não tem? — A voz de Lucian cortou o silêncio, suave, mas compartilhou de um tom de compreensão que a fez estremecer.Elise não respondeu. Ela não precisa. O medo estava ali, latent
O peso daquelas palavras ainda pairava sobre Elise, que tentava, com toda a força de sua vontade, encontrar uma maneira de romper o silêncio sufocante que se formara entre ela e os reis. Sua garganta estava apertada, os olhos marejados, e tudo o que ela queria era gritar que não era a verdadeira filha da família Delacroix, que ela era uma impostora, uma simples peça nesse jogo de poder que não compreendia.Ela respirou fundo, tentando reunir coragem, mas antes que pudesse abrir os lábios para falar, um som estridente cortou o ar, vindo de fora do salão. O alarme soou estridente. Como o som de guerra, de algo que se aproxima, algo que fez o coração de Elise disparar de imediato.“Invasão!”A palavra ecoou em sua mente como um pesadelo que se tornou realidade.Os olhos dos reis se fixaram instantaneamente na porta, e uma tensão palpável se instalou entre eles. Astor, normalmente tão calmo e imperturbável, foi o primeiro a se mover. Seus passos, rápidos e pesados, levaram-no até o centro
Astor estava parado diante da grande janela do salão principal, olhando para a escuridão que se espalhava como uma manta pesada sobre o castelo. O vento frio batia nas cortinas, mas ele mal sentia a brisa. Sua mente estava ocupada, suas energias focadas na ameaça. O alarme ainda ressoava nos corredores, uma chamada de guerra que ecoava em seu peito como uma batida furiosa.Ele podia sentir a tensão na sala, o nervosismo dos guardas, os murmúrios de comando que chegavam até ele. Mas, acima de tudo, havia o peso da responsabilidade que agora descansava sobre seus ombros. Ele não era apenas o monarca, o governante de sua casa, mas o líder da defesa do castelo. E a ameaça que se aproximava não era algo simples, era algo mais sombrio, mais profundo.Astor virou-se abruptamente, os olhos dourados brilhando com uma intensidade feroz. Ele primeiro tomará decisões necessárias, de forma rápida. O reino estava em perigo, a sua família estava em perigo. Todavia havia mais, havia algo que ele não
A noite, que deveria ter sido selada em alianças e promessas, agora queimava sob o peso da invasão. O alarme ainda ecoava pelos corredores do castelo, uma sinfonia estridente que anunciava o caos. Astor movia-se como uma sombra entre as colunas do salão principal, cada passo carregado de urgência e precisão. Seus sentidos estavam aguçados, seu olhar frio analisava cada detalhe ao seu redor.Ele não precisava perguntar quem ousaria atacar. Havia apenas um punhado de inimigos que seriam tolos o suficiente para tentar uma investida contra Vittoria. E nenhum deles sairia vivo.Lucian já estava no comando das defesas. Seu irmão, sempre impulsivo, distribuía ordens aos guardas com um olhar feroz. Mas Astor sabia que a força bruta por si só não venceria aquela batalha. Seria necessária estratégia.— Quanto tempo temos até que eles rompam as primeiras barreiras? — Astor perguntou, a voz baixa, mas firme. Um dos generais da guarda real, um lycan de porte robusto e olhos afiados, respondeu com
O som da batalha parecia se fundir com o pulsar frenético do coração de Elise. Do outro lado das paredes espessas do castelo, o eco de aço contra aço, gritos abafados e o rugido de bestas distantes preenchia o ar. O alarme de invasão já havia silenciado, mas a tensão permanecia, suspensa como um fio prestes a se romper.Ela se encolheu no centro da cama imensa, os joelhos dobrados contra o peito, os braços envolvendo o próprio corpo trêmulo. O vestido de casamento—branco, delicado, agora amarrotado—parecia um fardo pesado sobre sua pele. Seu corpo estava quente, mas seus dedos estavam frios.E se eles não voltassem?A ideia perfurou sua mente como uma lâmina afiada. Elise não conhecia totalmente os reis, mas sabia que eram guerreiros temíveis. Ainda assim, a invasão fora súbita, brutal. O tipo de ataque que não permitia tempo para planejamentos, apenas para derramamento de sangue.Ela mordeu o lábio, sentindo a própria respiração descompassada. Seus olhos varreram o quarto, buscando a
A fome não existia, mas Elise sabia que precisava comer. Deixou-se guiar até a sala de refeições por sua dama de companhia, sentindo cada passo ecoar de maneira estranha nos corredores do castelo. O silêncio não era total—vozes abafadas de servos, ordens sendo dadas por guardas, o som distante de algo sendo arrastado. Os reis não estavam ali. Elise sentiu um aperto no peito ao receber a notícia. — Suas Majestades ainda estão cuidando dos estragos da invasão, Alteza. Pediram que não se preocupasse. Não se preocupasse? Ela apertou os dedos no tecido do vestido, tentando afastar o desconforto que crescia dentro de si. A inquietação da noite anterior, aquela tensão inexplicável após o ritual de casamento, parecia ainda estar lá—latente, espreitando nas sombras da sua mente como algo esperando para ser percebido. Ela se sentou, forçando-se a manter a compostura enquanto lhe serviam chá quente e pratos delicados. Mas tudo tinha gosto de nada. Seu olhar vagava para a grande janela do