Capítulo 1 – Elise

O silêncio que tomou o salão era quase ensurdecedor. Elise sentia seu coração martelar contra o peito enquanto a lâmina reluzente pairava entre ela e os reis lycans. O frio do metal se aproximava de sua pele quando, pela primeira vez, sua voz rompeu a tensão.

— Esperem! — Sua própria ousadia surpreendeu até a si mesma.

Os murmúrios se espalharam como fogo entre os convidados. Nobres trocaram olhares, soldados se moveram discretamente, como se aguardassem uma ordem para intervir. Os reis não esboçaram reação imediata, mas os olhos predatórios cravaram-se nela, avaliando cada detalhe de sua expressão.

— Você tem algo a dizer? — a voz do rei de cabelos escuros cortou o silêncio. Não havia raiva, apenas um interesse calculado.

Elise engoliu em seco. Sabia que qualquer palavra errada poderia selar seu destino de forma ainda mais cruel. Inspirou fundo, tentando manter sua compostura.

— Eu… só gostaria de entender. Por que este ritual é necessário? — Ela tentava soar respeitosa, mas sua hesitação era perceptível.

O segundo rei, aquele de traços afiados, ergueu uma sobrancelha. Sua voz era baixa, mas carregava uma ameaça velada.

— Você foi preparada para isso durante anos e só agora decide questionar?

Elise desviou o olhar por um breve instante. Sim, havia sido treinada, moldada para esse momento. Mas, agora que estava diante dele, algo dentro de si gritava em revolta.

— Sempre me disseram que esse casamento garantiria a paz entre os nossos povos — continuou, tentando manter a voz firme. — Mas nunca explicaram por que precisava ser assim. O que exatamente o voto de sangue significa?

Os reis trocaram um olhar rápido. Foi o suficiente para que Elise percebesse que ali havia algo além do que lhe fora contado. A resposta veio lenta, calculada.

— O voto de sangue é mais do que uma cerimônia — disse o rei de cabelos longos. — É um elo. Um laço indissolúvel que une sua essência à nossa. A partir do momento em que seu sangue se fundir ao nosso, não haverá volta.

O frio se espalhou pelo corpo de Elise. Não era apenas um casamento. Era algo muito maior… e mais perigoso do que imaginava.

A lâmina voltou a se erguer.

Seu instinto gritava para fugir. Mas fugir para onde? Para quem? Ela era uma impostora vivendo uma mentira. Se tentasse escapar, seria caçada. Se cedesse, perderia sua liberdade para sempre.

Os olhos dos reis estavam sobre ela, esperando sua decisão.

O salão inteiro prendeu a respiração.

Elise sentiu o olhar de sua família postiça sobre ela. A duquesa Delacroix sorria de forma discreta, satisfeita. Seu marido, ao lado, mantinha uma expressão serena, mas Elise conhecia aquele olhar – havia algo mais ali, algo que ela nunca conseguira decifrar. Ao lado deles, os nobres a observavam com uma mistura de fascínio e expectativa. Para todos ali, ela era a jovem escolhida, a que levaria sua linhagem à grandeza. Mas para Elise, aquilo era uma sentença.

O sacerdote aproximou-se, murmurando as palavras sagradas em um idioma antigo. Elise sentiu o peso das correntes invisíveis se fechando ao seu redor. Seu peito subia e descia rapidamente, a respiração tornando-se superficial. Sentia o suor frio na nuca. Estava realmente prestes a fazer isso?

O rei de cabelos escuros, Astor, tomou sua mão com firmeza, a pele quente contra a dela, e fez um pequeno corte na ponta do dedo de Elise. O sangue brotou imediatamente, um vermelho vivo que contrastava com sua pele pálida. O rei de cabelos longos, Lucian, fez o mesmo em seu próprio dedo e então segurou a mão de Elise, pressionando suas peles unidas. O contato queimava, mas não como fogo – era algo mais profundo, algo que ia além do físico.

Uma onda de calor percorreu seu corpo, e Elise arquejou. Seu sangue estava sendo puxado, mesclando-se com o deles. Sentiu algo despertando dentro de si, um eco distante de algo que sempre esteve adormecido.

Seus joelhos vacilaram. Ela teria caído se Lucian não a tivesse segurado firmemente. O salão girou por um momento, e ela ouviu murmúrios preocupados ao redor. O que estava acontecendo com ela? Nunca lhe haviam contado sobre essa parte do ritual.

— Tranquila, pequena rainha — murmurou Astor, sua voz baixa e hipnotizante. — Está tudo certo.

Mas não estava. Elise sentia o próprio coração mudar de ritmo, como se algo estivesse tentando sincronizá-lo com algo maior, algo antigo. Seus olhos se arregalaram quando imagens começaram a surgir em sua mente – visões que não eram suas. Florestas densas sob luas sangrentas. Garras rasgando a pele. Um trono de ossos cercado por chamas.

E então, de repente, tudo desapareceu. O salão voltou ao normal, e a única evidência do que acabara de acontecer era a respiração acelerada de Elise.

O sacerdote anunciou o fim do ritual, e aplausos ecoaram pelo salão. Elise mal conseguia processar. Ela sentiu o aperto dos reis suavizar por um breve instante antes de soltarem sua mão.

Astor e Lucian se entreolharam, trocando um olhar que Elise não soube interpretar. Havia algo ali – algo que ela não entendia. Algo que iam esconder dela.

A duquesa Delacroix se aproximou, segurando as mãos de Elise com um sorriso de orgulho.

— Minha querida, você foi magnífica — disse suavemente, mas havia algo afiado em seu tom.

Elise tentou sorrir, mas sua mente estava em outro lugar. O que realmente havia acontecido? O que aquele ritual tinha despertado dentro dela?

Enquanto os convidados se aproximavam para cumprimentá-la, ela percebeu que, embora estivesse casada com os reis lycans, sua verdadeira batalha apenas começava.

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