O peso daquelas palavras ainda pairava sobre Elise, que tentava, com toda a força de sua vontade, encontrar uma maneira de romper o silêncio sufocante que se formara entre ela e os reis. Sua garganta estava apertada, os olhos marejados, e tudo o que ela queria era gritar que não era a verdadeira filha da família Delacroix, que ela era uma impostora, uma simples peça nesse jogo de poder que não compreendia.
Ela respirou fundo, tentando reunir coragem, mas antes que pudesse abrir os lábios para falar, um som estridente cortou o ar, vindo de fora do salão. O alarme soou estridente. Como o som de guerra, de algo que se aproxima, algo que fez o coração de Elise disparar de imediato.
“Invasão!”
A palavra ecoou em sua mente como um pesadelo que se tornou realidade.
Os olhos dos reis se fixaram instantaneamente na porta, e uma tensão palpável se instalou entre eles. Astor, normalmente tão calmo e imperturbável, foi o primeiro a se mover. Seus passos, rápidos e pesados, levaram-no até o centro da sala, fazendo sinal com a mão, sinalizando silêncio absoluto. O som do alarme reverberava nas paredes, aumentando a pressão na sala.
— Isso não é bom. — A voz de Astor era firme, mas algo nela traía um fio de preocupação. — Eles chegaram mais rápido do que esperávamos.
Lucian, que permaneceu ao lado de Elise, imediatamente assumiu uma postura altiva. Seus olhos, normalmente serenos, estavam agora alertas, com um brilho predador que ele que ele antes parecia esconder. Ele se aproximou de Astor, conversando com ele em voz baixa, mas Elise ainda podia ouvir fragmentos de suas palavras.
— Não temos tempo. O castelo precisa ser protegido. — Lucian já estava tomando providências, seus olhos se voltando para os guardas. — Preparem-se! Todos os postos de segurança precisam ser reforçados imediatamente. Protejam Elise com suas vidas!
Elise sentiu seu estômago revirar ao ouvir isso. Ela não conseguiu entender o que estava acontecendo. O pânico, o caos, os gritos de comando, e os passos apressados dos guardas que se afastaram, deixaram tudo ao seu redor turvo e distante. Ela, por um momento, se sentiu esquecida, como uma peça inanimada em um jogo que não sabia jogar.
Astor, no entanto, não a deixou em paz. Ele virou-se lentamente, seus olhos dourados fixos nela com uma intensidade que fez Elise estremecer.
— Agora não é o momento, Elise. — Ele disse, a voz mais fria do que nunca. — Deixe os guardas cuidarem de você. Nossa noite de núpcias deverá ser adiada por conta deste contratempo.
Ela não sabia o que dizer, mas aquilo não fazia sentido. O que acontecia fora do castelo foi mais importante do que a sua presença? Mais importante do que a ameaça que ela sentia crescendo dentro de si? Ela queria gritar, queria dizer que não era quem eles pensavam que era, mas as palavras se perdiam na garganta, engolidas pelo barulho das armaduras e passos apressados.
Lucian, no entanto, não pareceu ter tempo para se explicar. Ele a agarrou pela mão com firmeza, seus dedos envolvendo os dela com uma possessividade que não deixava espaço para objeções.
— Venha. — Ele murmurou. — Você estará mais segura nos aposentos.
A ideia de ser isolada no momento mais tenso de sua vida fez o sangue ferver em suas veias. Elise queria contestar, queria lutar, mas o olhar de Lucian, que agora era frio e calculista, a paralisou. Ele não estava brincando. E ela sabia que não tinha escolha. Olhando para trás ela já não via mais a Astor.
O som da invasão fora de suas paredes agora era mais do que real. O castelo estava sob ataque, e o poder dos reis lycans era a única garantia de que ela sairia dali com vida. A realidade de que ela era uma peça nesse tabuleiro estava se tornando mais clara a cada segundo. Mas uma dúvida ainda persistia em sua mente. Se ela era a chave para salvar o reino de Vittoria, o que realmente esperavam dela?
Elise ouviu Lucian, que a guiava pelos corredores escuros do castelo. Cada passo parecia ser uma eternidade, e os sons da invasão eram cada vez mais próximos. Seus olhos estavam vidrados, mas sua mente corria em turbilhão. Ela não conseguia pensar em mais nada além de uma única pergunta:
“Por que estou aqui?”
Ela se lembrou da sensação estranha de algo se agitando dentro de seu peito, um poder que ela não podia controlar. Mas o que seria aquilo? Algo além do simples desejo de sobrevivência. Algo que ela ainda não queria entender.
Lucian parou abruptamente, virando-se para ela com uma expressão sombria.
— Não olhe para os guardas. Não confie em ninguém além de mim e Astor. — Sua voz era baixa, mas havia uma urgência nela que Elise não podia ignorar.
Aqueles olhos escuros como a noite, fixos nela, brilhavam como se soubessem algo que ela ainda não havia descoberto. Elise engoliu em seco e olhou para baixo, seus dedos ainda tremendo, mas ela sabia que não poderia demonstrar fraqueza. Não agora.
A porta do aposento se abriu, e Lucian a empurrou suavemente para dentro, fechando a porta atrás de si. Elise se virou, sentindo uma dor crescente no peito. Ela estava isolada, mas ainda podia ouvir os gritos vindos dos corredores. A guerra estava se aproximando, e sua própria luta, uma luta interna, parecia mais difícil a cada instante.
Ela caminhou até a janela e olhou para fora, vendo o castelo sendo cercado por sombras e figuras alheias. As estrelas estavam escondidas por nuvens pesadas, e o vento gélido fazia com que as árvores ao redor se balançassem como espectros. Algo se aproximava, algo bem mais terrível do que uma simples invasão.
Lucian apareceu atrás dela, quebrando o silêncio com sua presença.
— Você está se perguntando o que está acontecendo, não está? — Ele disse, o tom de sua voz mais suave agora, mas carregado de um significado que Elise não conseguiu captar.
Ela se virou, sua expressão imperturbável, mas o turbilhão dentro dela se fazia mais presente.
— Eu não entendo. Tudo isso… tudo o que você e Astor disseram. O casamento, a ameaça… o poder. Não sei mais quem sou. — Sua voz tremia, mas ela tentou manter a compostura.
Lucian a olhou com um olhar que parecia entender mais do que deveria.
— Nem todos têm as respostas, Elise. Mas em breve você entenderá. — Ele disse, seu olhar fixo na jovem com uma intensidade que a deixava inquieta. — O castelo está em perigo, mas o que realmente nós importa está dentro de você. Não se esqueça disso.
Ela engoliu em seco. Não sabia se o que estava ouvindo fazia algum sentido. Mas algo dentro dela se rebelava contra aquelas palavras, uma vontade crescente de descobrir o que realmente estava acontecendo, de ir além daquilo que os reis lycans disseram que ela deveria ser.
O som de passos rápidos ecoou no corredor, interrompendo o momento. Lucian deu um último olhar para Elise, seus olhos como lâminas afiadas, e então se afastou.
— Fique aqui. Não saia até um de nós dois voltar. — Sua ordem foi clara, sem espaço para dúvidas.
Ela ficou em silêncio, os olhos fixos na porta que se fechava atrás dele.
Astor estava parado diante da grande janela do salão principal, olhando para a escuridão que se espalhava como uma manta pesada sobre o castelo. O vento frio batia nas cortinas, mas ele mal sentia a brisa. Sua mente estava ocupada, suas energias focadas na ameaça. O alarme ainda ressoava nos corredores, uma chamada de guerra que ecoava em seu peito como uma batida furiosa.Ele podia sentir a tensão na sala, o nervosismo dos guardas, os murmúrios de comando que chegavam até ele. Mas, acima de tudo, havia o peso da responsabilidade que agora descansava sobre seus ombros. Ele não era apenas o monarca, o governante de sua casa, mas o líder da defesa do castelo. E a ameaça que se aproximava não era algo simples, era algo mais sombrio, mais profundo.Astor virou-se abruptamente, os olhos dourados brilhando com uma intensidade feroz. Ele primeiro tomará decisões necessárias, de forma rápida. O reino estava em perigo, a sua família estava em perigo. Todavia havia mais, havia algo que ele não
A noite, que deveria ter sido selada em alianças e promessas, agora queimava sob o peso da invasão. O alarme ainda ecoava pelos corredores do castelo, uma sinfonia estridente que anunciava o caos. Astor movia-se como uma sombra entre as colunas do salão principal, cada passo carregado de urgência e precisão. Seus sentidos estavam aguçados, seu olhar frio analisava cada detalhe ao seu redor.Ele não precisava perguntar quem ousaria atacar. Havia apenas um punhado de inimigos que seriam tolos o suficiente para tentar uma investida contra Vittoria. E nenhum deles sairia vivo.Lucian já estava no comando das defesas. Seu irmão, sempre impulsivo, distribuía ordens aos guardas com um olhar feroz. Mas Astor sabia que a força bruta por si só não venceria aquela batalha. Seria necessária estratégia.— Quanto tempo temos até que eles rompam as primeiras barreiras? — Astor perguntou, a voz baixa, mas firme. Um dos generais da guarda real, um lycan de porte robusto e olhos afiados, respondeu com
O som da batalha parecia se fundir com o pulsar frenético do coração de Elise. Do outro lado das paredes espessas do castelo, o eco de aço contra aço, gritos abafados e o rugido de bestas distantes preenchia o ar. O alarme de invasão já havia silenciado, mas a tensão permanecia, suspensa como um fio prestes a se romper.Ela se encolheu no centro da cama imensa, os joelhos dobrados contra o peito, os braços envolvendo o próprio corpo trêmulo. O vestido de casamento—branco, delicado, agora amarrotado—parecia um fardo pesado sobre sua pele. Seu corpo estava quente, mas seus dedos estavam frios.E se eles não voltassem?A ideia perfurou sua mente como uma lâmina afiada. Elise não conhecia totalmente os reis, mas sabia que eram guerreiros temíveis. Ainda assim, a invasão fora súbita, brutal. O tipo de ataque que não permitia tempo para planejamentos, apenas para derramamento de sangue.Ela mordeu o lábio, sentindo a própria respiração descompassada. Seus olhos varreram o quarto, buscando a
A fome não existia, mas Elise sabia que precisava comer. Deixou-se guiar até a sala de refeições por sua dama de companhia, sentindo cada passo ecoar de maneira estranha nos corredores do castelo. O silêncio não era total—vozes abafadas de servos, ordens sendo dadas por guardas, o som distante de algo sendo arrastado. Os reis não estavam ali. Elise sentiu um aperto no peito ao receber a notícia. — Suas Majestades ainda estão cuidando dos estragos da invasão, Alteza. Pediram que não se preocupasse. Não se preocupasse? Ela apertou os dedos no tecido do vestido, tentando afastar o desconforto que crescia dentro de si. A inquietação da noite anterior, aquela tensão inexplicável após o ritual de casamento, parecia ainda estar lá—latente, espreitando nas sombras da sua mente como algo esperando para ser percebido. Ela se sentou, forçando-se a manter a compostura enquanto lhe serviam chá quente e pratos delicados. Mas tudo tinha gosto de nada. Seu olhar vagava para a grande janela do
O tédio era um veneno lento.Elise não sabia dizer quanto tempo havia se passado desde que fora deixada sozinha em seus aposentos. Minutos? Horas? O tempo parecia se esticar, tortuoso e incerto.Ela deveria se acostumar com isso?Com o som de passos incessantes do lado de fora, confundindo-se com as batidas irregulares de seu coração? Com o confinamento que, embora luxuoso, começava a lhe dar a sensação de estar aprisionada?Respirou fundo.Deitada na cama, fitava o teto adornado com pinturas douradas, mas não conseguia se perder na beleza dos detalhes. Tudo parecia frio, distante.É assim que será minha vida de agora em diante?A ideia a deixou inquieta.Elise se sentou, passando os dedos pelo vestido leve que vestia agora. O silêncio pesado do quarto pressionava seus ouvidos. Ela precisava se mover.Levantou-se e caminhou devagar, os pés descalços quase não fazendo barulho contra o chão de pedra coberto por tapetes luxuosos. Seu olhar vagava pelo aposento, como se estivesse vendo tu
Cada passo que Elise dava ecoava pelos corredores de pedra do castelo. O chamado dos reis ainda ressoava em sua mente, carregado de autoridade e algo mais sombrio, algo que a fazia sentir-se presa em uma teia invisível.Desde a descoberta do livro e da profecia, sua cabeça fervilhava. "A chegada da rainha que nasceu no dia de um eclipse..." Como aquilo poderia se referir a ela? Não fazia sentido. E o pior: se esse destino realmente existia, ela sabia que não poderia cumpri-lo. Porque tudo era uma mentira. Ela não era a herdeira dos Delacroix.Ela tragou o ar e forçou seus pensamentos para o presente. Não poderia demonstrar hesitação. Não agora.Quando chegou à grande porta do salão, os guardas imediatamente abriram caminho. Elise hesitou por um instante antes de atravessar o limiar, onde Astor e Lucian a esperavam.A sala era ampla, iluminada pelo brilho pálido da manhã que filtrava-se pelas janelas altas. Os irmãos estavam diante do trono, conversando em tons baixos, mas pararam no i
Lucian não dormiu naquela noite. A invasão havia sido repelida, mas o gosto amargo da batalha ainda permanecia. Os corpos dos invasores já haviam sido retirados dos corredores, mas as manchas escuras nas pedras e o cheiro de sangue no ar ainda não haviam se dissipado completamente. Ele sabia que aquilo não era o fim. A movimentação pelo castelo começava antes mesmo do nascer do sol. Feridos sendo tratados, patrulhas dobradas, conselheiros reunindo informações. O ataque havia sido um aviso. Mas de quem? E por quê? No entanto, havia algo mais que o inquietava. A rainha. Lucian nunca havia sido um homem de acreditar em profecias cegamente. Mas agora, depois do que havia lido, depois do que havia visto, não podia ignorá-las completamente. Elise tinha surgido em suas vidas como um enigma, e ele odiava enigmas que não conseguia decifrar. Ele encontrou Astor na biblioteca, assim como imaginava. O irmão nunca dormia quando algo importante o preocupava. — Alguma novidade sobre os r
Lucian permaneceu imóvel, observando as chamas oscilantes da lareira em seu aposento. O silêncio denso do castelo após os eventos das últimas horas pesava sobre seus ombros como um manto invisível. A conversa com Elise ainda ressoava em sua mente. Havia algo nela que não se encaixava, algo que se escondia por trás de seus olhos dourados e expressão tensa.Quando a porta se abriu sem cerimônia, ele não precisou virar para saber que era Astor. Seu irmão sempre teve uma presença imponente, um peso na sala que poucos conseguiam ignorar.— Você está remoendo tudo outra vez — Astor disse, cruzando os braços enquanto encostava-se à parede. — Vai se desgastar antes mesmo de termos uma solução.Lucian suspirou, apoiando os cotovelos sobre os joelhos e entrelaçando as mãos.— E o que sugere? Que ignoremos o óbvio? — Ele ergueu os olhos para Astor, seu olhar frio como lâminas de gelo. — Há algo errado com Elise. Ela hesita demais, se fecha sempre que a pressionamos. Se ela fosse realmente a herd