O ar no salão parecia congelado, e Elise mal conseguia distinguir entre o que era real e o que sua mente delirante criava. Cada palavra de Astor ecoava em sua mente como um trovão, reverberando nas paredes da sala e dentro de seu peito. Ela tentou, em vão, racionalizar, mas o peso das palavras de Lucian e Astor parecia esmagá-la. A sensação de impotência se enrosca em seu estômago, um peso denso e inquietante.
Lucian estava à sua esquerda, imóvel, observando-a com um olhar tão profundo que parecia atravessar sua alma. A cada momento, ele a estudava mais, como se a descortinasse diante de seus olhos. Não era mais apenas um homem ao seu lado. Ele parecia ser algo mais, algo bem distante da humanidade, uma presença etérea que fazia Elise se questionar até onde sua própria realidade poderia ir.
— Você tem medo, não tem? — A voz de Lucian cortou o silêncio, suave, mas compartilhou de um tom de compreensão que a fez estremecer.
Elise não respondeu. Ela não precisa. O medo estava ali, latente, pulsante, e Lucian sabia disso.
— Não se preocupe. — Ele continua, seus dedos tocando levemente seu ombro, como se tentasse passar uma sensação de conforto. — O medo pode ser uma força poderosa, se você conseguir controlá-lo.
Astor, por outro lado, mantinha-se impassível, seus olhos dourados fixos nela como se analisasse cada movimento que fazia. Ele se mudou ainda mais, seu olhar implacável, uma sombra pairando sobre ela.
— O que Lucian não diz é que o poder que você contém, Elise, não pode ser ignorado. Você tem algo dentro de si, algo que ainda não sabe controlar, mas que precisará dominar. E não há tempo para hesitações. — A voz de Astor era baixa, quase um sussurro, mas tão penetrante quanto uma lâmina afiada.
Elise sentiu um calafrio percorrendo sua espinha. O que queria dizer com isso? Ela sabia que não era uma simples noiva a ser colocada em um trono de ouro, mas... aquilo era real? Ela realmente possuía algo dentro de si que era tão poderoso? Para ela isso não fazia sentido.
— O quer de mim? — Sua voz é tão rouca, como se fosse difícil para ela mesmo articular aquelas palavras. Mas a pergunta foi feita. Ela não podia mais voltar atrás.
Lucian se inclinava para mais perto, o calor de seu corpo quase abrasador, mas sua expressão era enigmática, distante.
— O que queremos, Elise, é que você aceite o que está dentro de você. — Ele falou como se estivesse explicando algo óbvio. — Esse reino, essas alianças, esse casamento… tudo isso é apenas o começo. Você tem o poder de moldar o futuro, mas para isso, precisa entender quem você realmente é.
Aquelas palavras reverberaram em sua mente. Moldar o futuro? Como ela poderia fazer algo assim, quando mal conseguia entender o próprio reflexo no espelho?
— Eu não sou… — Elise tentou falar, mas as palavras morreram em sua garganta.
Astor, então, deu um passo à frente, colocando-se diretamente à sua frente, bloqueando sua visão de Lucian. Seus olhos dourados brilharam com uma intensidade que Elise não podia ignorar.
— Você é a chave, Elise. Você e o que há dentro de você são essenciais para a sobrevivência do reino de Vittoria. — A voz de Astor se tornou mais grave, mais impessoal. — Sua recusa não é uma opção. Não se iluda achando que pode escapar. O destino já foi selado. E agora, tudo o que resta é você entender o papel que deve desempenhar.
O ar ficou mais denso, e a realidade ao redor dela parecia se distorcer. Elise queria recuar, fugir para o longe, onde pudesse respirar sem aquele peso esmagado em seus ombros. Mas o olhar de Astor, a pressão de Lucian, a ideia de que não havia mais saída… isso a aniquilava.
E quando Lucian finalmente falou, sua voz suave, mas transmitindo uma promessa que Elise não conseguiu entender, ela soube que não poderia mais ignorar a verdade.
— Quando o poder despertar, não haverá mais como voltar atrás, Elise. Não há mais como viver na sombra do que você era.
Aquelas palavras a assolaram. Não haveria mais retorno. Ela estava no centro de algo muito maior do que poderia compreender. A escolha que ela tinha, a única escolha, era aceitar ou se perder completamente. E talvez… talvez já fosse tarde demais para resistir.
Silêncio. Longo e pesado.
— Então, o que será, pequena rainha? — A pergunta de Lucian pairou no ar, a sufocando com as palavras.
E foi nesse silêncio esmagador que Elise soube: ela já havia sido consumida por aquele destino que tanto temia. Não havia mais escapatória.
O peso daquelas palavras ainda pairava sobre Elise, que tentava, com toda a força de sua vontade, encontrar uma maneira de romper o silêncio sufocante que se formara entre ela e os reis. Sua garganta estava apertada, os olhos marejados, e tudo o que ela queria era gritar que não era a verdadeira filha da família Delacroix, que ela era uma impostora, uma simples peça nesse jogo de poder que não compreendia.Ela respirou fundo, tentando reunir coragem, mas antes que pudesse abrir os lábios para falar, um som estridente cortou o ar, vindo de fora do salão. O alarme soou estridente. Como o som de guerra, de algo que se aproxima, algo que fez o coração de Elise disparar de imediato.“Invasão!”A palavra ecoou em sua mente como um pesadelo que se tornou realidade.Os olhos dos reis se fixaram instantaneamente na porta, e uma tensão palpável se instalou entre eles. Astor, normalmente tão calmo e imperturbável, foi o primeiro a se mover. Seus passos, rápidos e pesados, levaram-no até o centro
Astor estava parado diante da grande janela do salão principal, olhando para a escuridão que se espalhava como uma manta pesada sobre o castelo. O vento frio batia nas cortinas, mas ele mal sentia a brisa. Sua mente estava ocupada, suas energias focadas na ameaça. O alarme ainda ressoava nos corredores, uma chamada de guerra que ecoava em seu peito como uma batida furiosa.Ele podia sentir a tensão na sala, o nervosismo dos guardas, os murmúrios de comando que chegavam até ele. Mas, acima de tudo, havia o peso da responsabilidade que agora descansava sobre seus ombros. Ele não era apenas o monarca, o governante de sua casa, mas o líder da defesa do castelo. E a ameaça que se aproximava não era algo simples, era algo mais sombrio, mais profundo.Astor virou-se abruptamente, os olhos dourados brilhando com uma intensidade feroz. Ele primeiro tomará decisões necessárias, de forma rápida. O reino estava em perigo, a sua família estava em perigo. Todavia havia mais, havia algo que ele não
A noite, que deveria ter sido selada em alianças e promessas, agora queimava sob o peso da invasão. O alarme ainda ecoava pelos corredores do castelo, uma sinfonia estridente que anunciava o caos. Astor movia-se como uma sombra entre as colunas do salão principal, cada passo carregado de urgência e precisão. Seus sentidos estavam aguçados, seu olhar frio analisava cada detalhe ao seu redor.Ele não precisava perguntar quem ousaria atacar. Havia apenas um punhado de inimigos que seriam tolos o suficiente para tentar uma investida contra Vittoria. E nenhum deles sairia vivo.Lucian já estava no comando das defesas. Seu irmão, sempre impulsivo, distribuía ordens aos guardas com um olhar feroz. Mas Astor sabia que a força bruta por si só não venceria aquela batalha. Seria necessária estratégia.— Quanto tempo temos até que eles rompam as primeiras barreiras? — Astor perguntou, a voz baixa, mas firme. Um dos generais da guarda real, um lycan de porte robusto e olhos afiados, respondeu com
O som da batalha parecia se fundir com o pulsar frenético do coração de Elise. Do outro lado das paredes espessas do castelo, o eco de aço contra aço, gritos abafados e o rugido de bestas distantes preenchia o ar. O alarme de invasão já havia silenciado, mas a tensão permanecia, suspensa como um fio prestes a se romper.Ela se encolheu no centro da cama imensa, os joelhos dobrados contra o peito, os braços envolvendo o próprio corpo trêmulo. O vestido de casamento—branco, delicado, agora amarrotado—parecia um fardo pesado sobre sua pele. Seu corpo estava quente, mas seus dedos estavam frios.E se eles não voltassem?A ideia perfurou sua mente como uma lâmina afiada. Elise não conhecia totalmente os reis, mas sabia que eram guerreiros temíveis. Ainda assim, a invasão fora súbita, brutal. O tipo de ataque que não permitia tempo para planejamentos, apenas para derramamento de sangue.Ela mordeu o lábio, sentindo a própria respiração descompassada. Seus olhos varreram o quarto, buscando a
A fome não existia, mas Elise sabia que precisava comer. Deixou-se guiar até a sala de refeições por sua dama de companhia, sentindo cada passo ecoar de maneira estranha nos corredores do castelo. O silêncio não era total—vozes abafadas de servos, ordens sendo dadas por guardas, o som distante de algo sendo arrastado. Os reis não estavam ali. Elise sentiu um aperto no peito ao receber a notícia. — Suas Majestades ainda estão cuidando dos estragos da invasão, Alteza. Pediram que não se preocupasse. Não se preocupasse? Ela apertou os dedos no tecido do vestido, tentando afastar o desconforto que crescia dentro de si. A inquietação da noite anterior, aquela tensão inexplicável após o ritual de casamento, parecia ainda estar lá—latente, espreitando nas sombras da sua mente como algo esperando para ser percebido. Ela se sentou, forçando-se a manter a compostura enquanto lhe serviam chá quente e pratos delicados. Mas tudo tinha gosto de nada. Seu olhar vagava para a grande janela do
O tédio era um veneno lento.Elise não sabia dizer quanto tempo havia se passado desde que fora deixada sozinha em seus aposentos. Minutos? Horas? O tempo parecia se esticar, tortuoso e incerto.Ela deveria se acostumar com isso?Com o som de passos incessantes do lado de fora, confundindo-se com as batidas irregulares de seu coração? Com o confinamento que, embora luxuoso, começava a lhe dar a sensação de estar aprisionada?Respirou fundo.Deitada na cama, fitava o teto adornado com pinturas douradas, mas não conseguia se perder na beleza dos detalhes. Tudo parecia frio, distante.É assim que será minha vida de agora em diante?A ideia a deixou inquieta.Elise se sentou, passando os dedos pelo vestido leve que vestia agora. O silêncio pesado do quarto pressionava seus ouvidos. Ela precisava se mover.Levantou-se e caminhou devagar, os pés descalços quase não fazendo barulho contra o chão de pedra coberto por tapetes luxuosos. Seu olhar vagava pelo aposento, como se estivesse vendo tu
Cada passo que Elise dava ecoava pelos corredores de pedra do castelo. O chamado dos reis ainda ressoava em sua mente, carregado de autoridade e algo mais sombrio, algo que a fazia sentir-se presa em uma teia invisível.Desde a descoberta do livro e da profecia, sua cabeça fervilhava. "A chegada da rainha que nasceu no dia de um eclipse..." Como aquilo poderia se referir a ela? Não fazia sentido. E o pior: se esse destino realmente existia, ela sabia que não poderia cumpri-lo. Porque tudo era uma mentira. Ela não era a herdeira dos Delacroix.Ela tragou o ar e forçou seus pensamentos para o presente. Não poderia demonstrar hesitação. Não agora.Quando chegou à grande porta do salão, os guardas imediatamente abriram caminho. Elise hesitou por um instante antes de atravessar o limiar, onde Astor e Lucian a esperavam.A sala era ampla, iluminada pelo brilho pálido da manhã que filtrava-se pelas janelas altas. Os irmãos estavam diante do trono, conversando em tons baixos, mas pararam no i
Lucian não dormiu naquela noite. A invasão havia sido repelida, mas o gosto amargo da batalha ainda permanecia. Os corpos dos invasores já haviam sido retirados dos corredores, mas as manchas escuras nas pedras e o cheiro de sangue no ar ainda não haviam se dissipado completamente. Ele sabia que aquilo não era o fim. A movimentação pelo castelo começava antes mesmo do nascer do sol. Feridos sendo tratados, patrulhas dobradas, conselheiros reunindo informações. O ataque havia sido um aviso. Mas de quem? E por quê? No entanto, havia algo mais que o inquietava. A rainha. Lucian nunca havia sido um homem de acreditar em profecias cegamente. Mas agora, depois do que havia lido, depois do que havia visto, não podia ignorá-las completamente. Elise tinha surgido em suas vidas como um enigma, e ele odiava enigmas que não conseguia decifrar. Ele encontrou Astor na biblioteca, assim como imaginava. O irmão nunca dormia quando algo importante o preocupava. — Alguma novidade sobre os r