Capítulo 4 - Elise

O ar no salão parecia congelado, e Elise mal conseguia distinguir entre o que era real e o que sua mente delirante criava. Cada palavra de Astor ecoava em sua mente como um trovão, reverberando nas paredes da sala e dentro de seu peito. Ela tentou, em vão, racionalizar, mas o peso das palavras de Lucian e Astor parecia esmagá-la. A sensação de impotência se enrosca em seu estômago, um peso denso e inquietante.

Lucian estava à sua esquerda, imóvel, observando-a com um olhar tão profundo que parecia atravessar sua alma. A cada momento, ele a estudava mais, como se a descortinasse diante de seus olhos. Não era mais apenas um homem ao seu lado. Ele parecia ser algo mais, algo bem distante da humanidade, uma presença etérea que fazia Elise se questionar até onde sua própria realidade poderia ir.

— Você tem medo, não tem? — A voz de Lucian cortou o silêncio, suave, mas compartilhou de um tom de compreensão que a fez estremecer.

Elise não respondeu. Ela não precisa. O medo estava ali, latente, pulsante, e Lucian sabia disso.

— Não se preocupe. — Ele continua, seus dedos tocando levemente seu ombro, como se tentasse passar uma sensação de conforto. — O medo pode ser uma força poderosa, se você conseguir controlá-lo.

Astor, por outro lado, mantinha-se impassível, seus olhos dourados fixos nela como se analisasse cada movimento que fazia. Ele se mudou ainda mais, seu olhar implacável, uma sombra pairando sobre ela.

— O que Lucian não diz é que o poder que você contém, Elise, não pode ser ignorado. Você tem algo dentro de si, algo que ainda não sabe controlar, mas que precisará dominar. E não há tempo para hesitações. — A voz de Astor era baixa, quase um sussurro, mas tão penetrante quanto uma lâmina afiada.

Elise sentiu um calafrio percorrendo sua espinha. O que queria dizer com isso? Ela sabia que não era uma simples noiva a ser colocada em um trono de ouro, mas... aquilo era real? Ela realmente possuía algo dentro de si que era tão poderoso? Para ela isso não fazia sentido.

— O quer de mim? — Sua voz é tão rouca, como se fosse difícil para ela mesmo articular aquelas palavras. Mas a pergunta foi feita. Ela não podia mais voltar atrás.

Lucian se inclinava para mais perto, o calor de seu corpo quase abrasador, mas sua expressão era enigmática, distante.

— O que queremos, Elise, é que você aceite o que está dentro de você. — Ele falou como se estivesse explicando algo óbvio. — Esse reino, essas alianças, esse casamento… tudo isso é apenas o começo. Você tem o poder de moldar o futuro, mas para isso, precisa entender quem você realmente é.

Aquelas palavras reverberaram em sua mente. Moldar o futuro? Como ela poderia fazer algo assim, quando mal conseguia entender o próprio reflexo no espelho?

— Eu não sou… — Elise tentou falar, mas as palavras morreram em sua garganta.

Astor, então, deu um passo à frente, colocando-se diretamente à sua frente, bloqueando sua visão de Lucian. Seus olhos dourados brilharam com uma intensidade que Elise não podia ignorar.

— Você é a chave, Elise. Você e o que há dentro de você são essenciais para a sobrevivência do reino de Vittoria. — A voz de Astor se tornou mais grave, mais impessoal. — Sua recusa não é uma opção. Não se iluda achando que pode escapar. O destino já foi selado. E agora, tudo o que resta é você entender o papel que deve desempenhar.

O ar ficou mais denso, e a realidade ao redor dela parecia se distorcer. Elise queria recuar, fugir para o longe, onde pudesse respirar sem aquele peso esmagado em seus ombros. Mas o olhar de Astor, a pressão de Lucian, a ideia de que não havia mais saída… isso a aniquilava.

E quando Lucian finalmente falou, sua voz suave, mas transmitindo uma promessa que Elise não conseguiu entender, ela soube que não poderia mais ignorar a verdade.

— Quando o poder despertar, não haverá mais como voltar atrás, Elise. Não há mais como viver na sombra do que você era.

Aquelas palavras a assolaram. Não haveria mais retorno. Ela estava no centro de algo muito maior do que poderia compreender. A escolha que ela tinha, a única escolha, era aceitar ou se perder completamente. E talvez… talvez já fosse tarde demais para resistir.

Silêncio. Longo e pesado.

— Então, o que será, pequena rainha? — A pergunta de Lucian pairou no ar, a sufocando com as palavras.

E foi nesse silêncio esmagador que Elise soube: ela já havia sido consumida por aquele destino que tanto temia. Não havia mais escapatória.

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