A atmosfera no salão privado continuava densa, impregnada com uma tensão que Elise sentia na pele. Lucian ainda estava próximo, o polegar roçando sua pele com uma suavidade inesperada, enquanto Astor mantinha-se um pouco mais afastado, observando-a como se estivesse pesando cada uma de suas reações.
O silêncio foi quebrado por Astor, sua voz firme e sem hesitação.
— Não pense que este casamento foi apenas um capricho do conselho ou uma tentativa fútil de selar alianças. — Ele se moveu, aproximando-se com passos lentos e pesados. — O reino de Vittoria está cercado por ameaças. Nossos inimigos espreitam, esperando um sinal de fraqueza, e um herdeiro é a única garantia de que a linhagem real continue forte.
Elise sentiu o ar escapar de seus pulmões. O peso daquela afirmação caiu sobre ela como uma muralha. Um herdeiro. Sua mente gritava para que recusasse, para que dissesse que aquilo era um erro terrível. Mas sua voz não saiu. Em vez disso, ela permaneceu ali, estática, os dedos trêmulos agarrando o tecido de seu vestido.
Lucian afastou a mão de seu rosto, mas não se distanciou completamente.
— Você está assustada. — Sua voz era baixa, quase um sussurro. — Mas há algo dentro de você que já sabe que não há saída.
Ela apertou os lábios. Ele estava certo. A ideia de fuga parecia tão distante quanto o próprio sol naquela noite. Mas havia algo mais. Algo dentro dela parecia... inquieto. Um calor estranho em seu peito, uma energia que não deveria estar ali. Seus olhos se desviaram para os reis à sua frente. O que eles realmente sabiam sobre ela?
— Se eu me recusar? — Sua pergunta soou mais audaciosa do que pretendia.
Astor arqueou uma sobrancelha, um brilho frio em seu olhar dourado
— Então, estará desafiando não apenas a nós, mas ao próprio reino. — Sua voz era calma, mas carregava uma ameaça velada. — E duvido que esteja pronta para lidar com as consequências disso.
O ar no ambiente pareceu ficar mais pesado. Elise engoliu em seco, sentindo um nó se formar em sua garganta. A cada segundo, a realidade daquela união tornava-se mais sufocante.
Lucian inclinou a cabeça ligeiramente, seu olhar penetrante capturando o dela.
— Você acha que não sabemos o que se passa dentro de você? — Ele murmurou. — Há mais do que aparenta, Elise. E quando esse poder despertar... não haverá como voltar atrás.
Ela sentiu um calafrio percorrer sua espinha. Poder? Sobre o que ele estava falando? Ela não era ninguém além de uma impostora naquele palácio, uma peça colocada em um tabuleiro que não compreendia. Mas então, por que sentia aquela energia pulsando sob sua pele?
Astor aproximou-se ainda mais, até estar diante dela, sua presença dominadora como a sombra de um predador.
— Você pertence a Vittoria agora — disse ele, sua voz baixa, porém inquestionável. — E como nossa rainha, terá deveres. Negá-los não está entre suas opções.
Aquelas palavras eram uma sentença. Elise quis gritar, quis dizer que tudo aquilo era um engano, mas sua garganta se fechou. E então, como se algo se partisse dentro dela, uma onda de emoções a invadiu. Raiva. Medo. Algo que ela não conseguia nomear.
— Eu nunca escolhi isso. — Sua voz era um fio de desespero, seus olhos ardendo com a mistura de sentimentos que não conseguia conter.
Lucian sorriu, um sorriso enigmático, quase divertido.
— O destino raramente nos dá escolhas, pequena rainha.
Astor, no entanto, manteve sua expressão fria.
— Mas nos dá um propósito. E o seu foi selado esta noite.
O peso daquela afirmação a esmagou. Elise queria negar, queria fugir daquele salão e de tudo que aquilo representava. Mas no fundo, algo lhe dizia que não importava o quanto tentasse escapar.
Ela já estava presa há muito tempo.
O ar no salão parecia congelado, e Elise mal conseguia distinguir entre o que era real e o que sua mente delirante criava. Cada palavra de Astor ecoava em sua mente como um trovão, reverberando nas paredes da sala e dentro de seu peito. Ela tentou, em vão, racionalizar, mas o peso das palavras de Lucian e Astor parecia esmagá-la. A sensação de impotência se enrosca em seu estômago, um peso denso e inquietante.Lucian estava à sua esquerda, imóvel, observando-a com um olhar tão profundo que parecia atravessar sua alma. A cada momento, ele a estudava mais, como se a descortinasse diante de seus olhos. Não era mais apenas um homem ao seu lado. Ele parecia ser algo mais, algo bem distante da humanidade, uma presença etérea que fazia Elise se questionar até onde sua própria realidade poderia ir.— Você tem medo, não tem? — A voz de Lucian cortou o silêncio, suave, mas compartilhou de um tom de compreensão que a fez estremecer.Elise não respondeu. Ela não precisa. O medo estava ali, latent
O peso daquelas palavras ainda pairava sobre Elise, que tentava, com toda a força de sua vontade, encontrar uma maneira de romper o silêncio sufocante que se formara entre ela e os reis. Sua garganta estava apertada, os olhos marejados, e tudo o que ela queria era gritar que não era a verdadeira filha da família Delacroix, que ela era uma impostora, uma simples peça nesse jogo de poder que não compreendia.Ela respirou fundo, tentando reunir coragem, mas antes que pudesse abrir os lábios para falar, um som estridente cortou o ar, vindo de fora do salão. O alarme soou estridente. Como o som de guerra, de algo que se aproxima, algo que fez o coração de Elise disparar de imediato.“Invasão!”A palavra ecoou em sua mente como um pesadelo que se tornou realidade.Os olhos dos reis se fixaram instantaneamente na porta, e uma tensão palpável se instalou entre eles. Astor, normalmente tão calmo e imperturbável, foi o primeiro a se mover. Seus passos, rápidos e pesados, levaram-no até o centro
Astor estava parado diante da grande janela do salão principal, olhando para a escuridão que se espalhava como uma manta pesada sobre o castelo. O vento frio batia nas cortinas, mas ele mal sentia a brisa. Sua mente estava ocupada, suas energias focadas na ameaça. O alarme ainda ressoava nos corredores, uma chamada de guerra que ecoava em seu peito como uma batida furiosa.Ele podia sentir a tensão na sala, o nervosismo dos guardas, os murmúrios de comando que chegavam até ele. Mas, acima de tudo, havia o peso da responsabilidade que agora descansava sobre seus ombros. Ele não era apenas o monarca, o governante de sua casa, mas o líder da defesa do castelo. E a ameaça que se aproximava não era algo simples, era algo mais sombrio, mais profundo.Astor virou-se abruptamente, os olhos dourados brilhando com uma intensidade feroz. Ele primeiro tomará decisões necessárias, de forma rápida. O reino estava em perigo, a sua família estava em perigo. Todavia havia mais, havia algo que ele não
A noite, que deveria ter sido selada em alianças e promessas, agora queimava sob o peso da invasão. O alarme ainda ecoava pelos corredores do castelo, uma sinfonia estridente que anunciava o caos. Astor movia-se como uma sombra entre as colunas do salão principal, cada passo carregado de urgência e precisão. Seus sentidos estavam aguçados, seu olhar frio analisava cada detalhe ao seu redor.Ele não precisava perguntar quem ousaria atacar. Havia apenas um punhado de inimigos que seriam tolos o suficiente para tentar uma investida contra Vittoria. E nenhum deles sairia vivo.Lucian já estava no comando das defesas. Seu irmão, sempre impulsivo, distribuía ordens aos guardas com um olhar feroz. Mas Astor sabia que a força bruta por si só não venceria aquela batalha. Seria necessária estratégia.— Quanto tempo temos até que eles rompam as primeiras barreiras? — Astor perguntou, a voz baixa, mas firme. Um dos generais da guarda real, um lycan de porte robusto e olhos afiados, respondeu com
O som da batalha parecia se fundir com o pulsar frenético do coração de Elise. Do outro lado das paredes espessas do castelo, o eco de aço contra aço, gritos abafados e o rugido de bestas distantes preenchia o ar. O alarme de invasão já havia silenciado, mas a tensão permanecia, suspensa como um fio prestes a se romper.Ela se encolheu no centro da cama imensa, os joelhos dobrados contra o peito, os braços envolvendo o próprio corpo trêmulo. O vestido de casamento—branco, delicado, agora amarrotado—parecia um fardo pesado sobre sua pele. Seu corpo estava quente, mas seus dedos estavam frios.E se eles não voltassem?A ideia perfurou sua mente como uma lâmina afiada. Elise não conhecia totalmente os reis, mas sabia que eram guerreiros temíveis. Ainda assim, a invasão fora súbita, brutal. O tipo de ataque que não permitia tempo para planejamentos, apenas para derramamento de sangue.Ela mordeu o lábio, sentindo a própria respiração descompassada. Seus olhos varreram o quarto, buscando a
A fome não existia, mas Elise sabia que precisava comer. Deixou-se guiar até a sala de refeições por sua dama de companhia, sentindo cada passo ecoar de maneira estranha nos corredores do castelo. O silêncio não era total—vozes abafadas de servos, ordens sendo dadas por guardas, o som distante de algo sendo arrastado. Os reis não estavam ali. Elise sentiu um aperto no peito ao receber a notícia. — Suas Majestades ainda estão cuidando dos estragos da invasão, Alteza. Pediram que não se preocupasse. Não se preocupasse? Ela apertou os dedos no tecido do vestido, tentando afastar o desconforto que crescia dentro de si. A inquietação da noite anterior, aquela tensão inexplicável após o ritual de casamento, parecia ainda estar lá—latente, espreitando nas sombras da sua mente como algo esperando para ser percebido. Ela se sentou, forçando-se a manter a compostura enquanto lhe serviam chá quente e pratos delicados. Mas tudo tinha gosto de nada. Seu olhar vagava para a grande janela do
O tédio era um veneno lento.Elise não sabia dizer quanto tempo havia se passado desde que fora deixada sozinha em seus aposentos. Minutos? Horas? O tempo parecia se esticar, tortuoso e incerto.Ela deveria se acostumar com isso?Com o som de passos incessantes do lado de fora, confundindo-se com as batidas irregulares de seu coração? Com o confinamento que, embora luxuoso, começava a lhe dar a sensação de estar aprisionada?Respirou fundo.Deitada na cama, fitava o teto adornado com pinturas douradas, mas não conseguia se perder na beleza dos detalhes. Tudo parecia frio, distante.É assim que será minha vida de agora em diante?A ideia a deixou inquieta.Elise se sentou, passando os dedos pelo vestido leve que vestia agora. O silêncio pesado do quarto pressionava seus ouvidos. Ela precisava se mover.Levantou-se e caminhou devagar, os pés descalços quase não fazendo barulho contra o chão de pedra coberto por tapetes luxuosos. Seu olhar vagava pelo aposento, como se estivesse vendo tu
Cada passo que Elise dava ecoava pelos corredores de pedra do castelo. O chamado dos reis ainda ressoava em sua mente, carregado de autoridade e algo mais sombrio, algo que a fazia sentir-se presa em uma teia invisível.Desde a descoberta do livro e da profecia, sua cabeça fervilhava. "A chegada da rainha que nasceu no dia de um eclipse..." Como aquilo poderia se referir a ela? Não fazia sentido. E o pior: se esse destino realmente existia, ela sabia que não poderia cumpri-lo. Porque tudo era uma mentira. Ela não era a herdeira dos Delacroix.Ela tragou o ar e forçou seus pensamentos para o presente. Não poderia demonstrar hesitação. Não agora.Quando chegou à grande porta do salão, os guardas imediatamente abriram caminho. Elise hesitou por um instante antes de atravessar o limiar, onde Astor e Lucian a esperavam.A sala era ampla, iluminada pelo brilho pálido da manhã que filtrava-se pelas janelas altas. Os irmãos estavam diante do trono, conversando em tons baixos, mas pararam no i