Capítulo 3 – Elise

A atmosfera no salão privado continuava densa, impregnada com uma tensão que Elise sentia na pele. Lucian ainda estava próximo, o polegar roçando sua pele com uma suavidade inesperada, enquanto Astor mantinha-se um pouco mais afastado, observando-a como se estivesse pesando cada uma de suas reações.

O silêncio foi quebrado por Astor, sua voz firme e sem hesitação.

— Não pense que este casamento foi apenas um capricho do conselho ou uma tentativa fútil de selar alianças. — Ele se moveu, aproximando-se com passos lentos e pesados. — O reino de Vittoria está cercado por ameaças. Nossos inimigos espreitam, esperando um sinal de fraqueza, e um herdeiro é a única garantia de que a linhagem real continue forte.

Elise sentiu o ar escapar de seus pulmões. O peso daquela afirmação caiu sobre ela como uma muralha. Um herdeiro. Sua mente gritava para que recusasse, para que dissesse que aquilo era um erro terrível. Mas sua voz não saiu. Em vez disso, ela permaneceu ali, estática, os dedos trêmulos agarrando o tecido de seu vestido.

Lucian afastou a mão de seu rosto, mas não se distanciou completamente.

— Você está assustada. — Sua voz era baixa, quase um sussurro. — Mas há algo dentro de você que já sabe que não há saída.

Ela apertou os lábios. Ele estava certo. A ideia de fuga parecia tão distante quanto o próprio sol naquela noite. Mas havia algo mais. Algo dentro dela parecia... inquieto. Um calor estranho em seu peito, uma energia que não deveria estar ali. Seus olhos se desviaram para os reis à sua frente. O que eles realmente sabiam sobre ela?

— Se eu me recusar? — Sua pergunta soou mais audaciosa do que pretendia.

Astor arqueou uma sobrancelha, um brilho frio em seu olhar dourado

— Então, estará desafiando não apenas a nós, mas ao próprio reino. — Sua voz era calma, mas carregava uma ameaça velada. — E duvido que esteja pronta para lidar com as consequências disso.

O ar no ambiente pareceu ficar mais pesado. Elise engoliu em seco, sentindo um nó se formar em sua garganta. A cada segundo, a realidade daquela união tornava-se mais sufocante.

Lucian inclinou a cabeça ligeiramente, seu olhar penetrante capturando o dela.

— Você acha que não sabemos o que se passa dentro de você? — Ele murmurou. — Há mais do que aparenta, Elise. E quando esse poder despertar... não haverá como voltar atrás.

Ela sentiu um calafrio percorrer sua espinha. Poder? Sobre o que ele estava falando? Ela não era ninguém além de uma impostora naquele palácio, uma peça colocada em um tabuleiro que não compreendia. Mas então, por que sentia aquela energia pulsando sob sua pele?

Astor aproximou-se ainda mais, até estar diante dela, sua presença dominadora como a sombra de um predador.

— Você pertence a Vittoria agora — disse ele, sua voz baixa, porém inquestionável. — E como nossa rainha, terá deveres. Negá-los não está entre suas opções.

Aquelas palavras eram uma sentença. Elise quis gritar, quis dizer que tudo aquilo era um engano, mas sua garganta se fechou. E então, como se algo se partisse dentro dela, uma onda de emoções a invadiu. Raiva. Medo. Algo que ela não conseguia nomear.

— Eu nunca escolhi isso. — Sua voz era um fio de desespero, seus olhos ardendo com a mistura de sentimentos que não conseguia conter.

Lucian sorriu, um sorriso enigmático, quase divertido.

— O destino raramente nos dá escolhas, pequena rainha.

Astor, no entanto, manteve sua expressão fria.

— Mas nos dá um propósito. E o seu foi selado esta noite.

O peso daquela afirmação a esmagou. Elise queria negar, queria fugir daquele salão e de tudo que aquilo representava. Mas no fundo, algo lhe dizia que não importava o quanto tentasse escapar.

Ela já estava presa há muito tempo.

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