O amanhecer trouxe um peso adicional sobre os ombros de Elise. A noite mal dormida deixara sua mente ainda mais inquieta, os ecos da discussão com Lucian e Astor ressoando em seus pensamentos. Seu corpo estava exausto, mas sua determinação apenas crescia. Algo dentro dela dizia que não poderia recuar. Se Viktor estava certo sobre a ameaça dentro do castelo, então não havia tempo a perder.Vestindo um traje discreto, Elise deixou seus aposentos e caminhou pelos corredores, atenta aos olhares dos servos e guardas. Algo havia mudado. Havia mais vigilância, mais sussurros interrompidos assim que ela passava. Era evidente que seus movimentos na noite anterior não haviam passado despercebidos. Sentia-se vigiada.Ao chegar à sala do conselho, encontrou Lucian e Astor já sentados à mesa, suas expressões fechadas. Outros membros do conselho real estavam presentes, assim como Seraphine, que ostentava um sorriso enigmático. Elise endireitou os ombros e sentou-se, recusando-se a demonstrar qualqu
O som do sino ecoava como um rugido sombrio pelas paredes úmidas das masmorras. Elise sentia cada badalada reverberar dentro de si, um lembrete constante de que o tempo estava contra eles. A fuga precisava ser rápida e precisa.Viktor ajeitou-se ao seu lado, ainda se recuperando das correntes que o mantiveram cativo. Seu corpo carregava marcas de tortura, mas sua determinação permanecia intacta. Ele se movia com a cautela de um guerreiro experiente, mas a respiração pesada denunciava o esforço que fazia para acompanhar o ritmo da fuga.— Eles sabem que escapamos — murmurou ele entre dentes. — Não vão demorar para selar todas as saídas possíveis.Elise trocou um olhar breve com o arqueiro de capuz escuro, o misterioso aliado que havia surgido no momento certo. Seu arco estava preparado, a tocha em sua mão mal iluminava os túneis subterrâneos, mas era o suficiente para seguir em frente.— Precisamos sair antes que os corredores sejam bloqueados — respondeu Elise, seu tom frio e calculad
A tempestade rugia lá fora, uma sinfonia de trovões e ventos uivantes que pareciam refletir o caos dentro de Astor. Ele estava sentado à mesa de seu gabinete, os dedos tamborilando contra a madeira escura, o olhar perdido entre os papéis espalhados diante de si. A tinta fresca de relatórios e mensagens de espiões secava lentamente, mas sua mente não conseguia focar nos números ou nas estratégias. Tudo o que via era o rosto determinado de Elise, a expressão rígida de Lucian, e a sombra da traição que agora pairava sobre o castelo.Ele passou a mão pelos cabelos, frustrado. As ações de Elise tinham sido imprudentes, perigosas. Resgatar Viktor daquela forma comprometeria não apenas sua autoridade, mas todo o equilíbrio que ele e Lucian haviam lutado para manter. Mas por mais que quisesse condená-la por sua impulsividade, uma parte de si não conseguia ignorar a coragem que ela demonstrara. Quantas pessoas arriscariam tudo para salvar alguém que o mundo inteiro considerava culpado?Astor b
A tempestade que rugia lá fora parecia refletir a inquietação dentro de Astor. Desde que Elise desaparecera com Viktor, sua mente estava tomada por dúvidas e irritação. Não apenas pela ousadia dela, mas pela sensação incômoda de que, talvez, ele tivesse cometido um erro ao ignorar seus argumentos.Ele estava sentado em sua sala de guerra, cercado por mapas e relatórios das buscas. Espiões e batedores haviam sido enviados para todas as direções, mas Elise havia sido cuidadosa. Nenhum rastro óbvio, nenhum informante confiável que soubesse para onde ela e Viktor tinham ido. A única certeza era que haviam deixado a cidade e que a tempestade dificultava ainda mais qualquer perseguição.— Maldição — murmurou, passando as mãos pelos cabelos em frustração.O som de passos firmes ecoou pelo corredor antes que a porta se abrisse. Lucian entrou, a expressão tão sombria quanto a tempestade lá fora.— Alguma novidade? — perguntou o outro rei, cruzando os braços e encarando Astor com severidade.—
A noite envolvia a floresta com um manto denso de sombras e silêncio. A fogueira crepitava suavemente, lançando clarões laranja no rosto de Elise, que mantinha o olhar fixo nas chamas. O calor do fogo não era suficiente para aquecer o frio que se alojava dentro dela. O peso de suas escolhas, a incerteza do futuro, a presença constante de Viktor ao seu lado — tudo isso a consumia.Viktor repousava perto dela, ainda fraco, mas já demonstrando sinais de recuperação. O exílio tinha sido decretado, mas Elise se recusava a aceitá-lo como um fim definitivo. Ela havia desafiado tudo e todos para tirá-lo dali, mas agora precisava encontrar um meio de convencê-los a reconsiderar a sentença.O vento trouxe consigo um arrepio estranho, um pressentimento. Seu instinto gritava que alguém a observava. Seu coração acelerou quando levantou o olhar e viu a silhueta de Astor no alto do penhasco. O luar projetava um brilho prateado sobre ele, fazendo sua figura parecer ainda mais imponente. Seu olhar era
Elise suspirava pela décima vez consecutiva, enquanto apertava suas mãos suadas uma contra a outra. O vestido branco de tecido fino e caro parecia ter o caimento perfeito em seu corpo na frente do espelho, mas a jovem não conseguia sorrir ou ao menos se sentir bela. O véu de seda, delicado e impecável, cobria parcialmente seu rosto, um lembrete cruel de que ela deveria se manter quieta, pelo menos até o momento do voto de sangue. Este, que selaria sua vida com os dois lobos mais poderosos de todo o reino de Vittoria.Casamento. O dia que para muitas jovens deveria ser o mais mágico de suas vidas era para Elise uma mistura de pavor e repulsa. Mesmo que ela soubesse desde os catorze anos o motivo de ter sido adotada após a morte trágica de seus pais, nunca havia conseguido aceitar seu destino. Não era uma filha para aquela família, mas uma peça no tabuleiro político, um peão cuidadosamente moldado para se encaixar no lugar da filha verdadeira dos Delacroix. O pior de tudo? Ela aceitara.
O silêncio que tomou o salão era quase ensurdecedor. Elise sentia seu coração martelar contra o peito enquanto a lâmina reluzente pairava entre ela e os reis lycans. O frio do metal se aproximava de sua pele quando, pela primeira vez, sua voz rompeu a tensão.— Esperem! — Sua própria ousadia surpreendeu até a si mesma.Os murmúrios se espalharam como fogo entre os convidados. Nobres trocaram olhares, soldados se moveram discretamente, como se aguardassem uma ordem para intervir. Os reis não esboçaram reação imediata, mas os olhos predatórios cravaram-se nela, avaliando cada detalhe de sua expressão.— Você tem algo a dizer? — a voz do rei de cabelos escuros cortou o silêncio. Não havia raiva, apenas um interesse calculado.Elise engoliu em seco. Sabia que qualquer palavra errada poderia selar seu destino de forma ainda mais cruel. Inspirou fundo, tentando manter sua compostura.— Eu… só gostaria de entender. Por que este ritual é necessário? — Ela tentava soar respeitosa, mas sua hesi
A noite avançava enquanto Elise era levada pelos corredores do castelo, escoltada por guardas silenciosos. O peso do ritual ainda impregnava seu corpo, como se seu sangue estivesse queimando sob a pele. Ela tentou ignorar a sensação, mantendo o olhar fixo no caminho à frente, mas a atmosfera ao redor parecia diferente, carregada de algo invisível, mas opressivo.Antes disso, no salão principal, a cerimônia havia chegado ao seu ápice. O silêncio pesado que dominava o ambiente foi quebrado quando os reis finalmente se aproximaram para retirar o véu que cobria seu rosto. Elise prendeu a respiração, o coração martelando no peito. O medo de ser descoberta era esmagador, assim como a incerteza do que eles veriam ao olhar para ela sem o tecido que a separava do mundo.Os dedos firmes deslizaram com delicadeza ao remover o véu, revelando seu rosto pálido e os olhos arregalados pelo nervosismo. O que Elise não esperava era a reação dos reis. Nenhuma expressão de desagrado, nenhum olhar desconf