Capítulo 2 - Elise

A noite avançava enquanto Elise era levada pelos corredores do castelo, escoltada por guardas silenciosos. O peso do ritual ainda impregnava seu corpo, como se seu sangue estivesse queimando sob a pele. Ela tentou ignorar a sensação, mantendo o olhar fixo no caminho à frente, mas a atmosfera ao redor parecia diferente, carregada de algo invisível, mas opressivo.

Antes disso, no salão principal, a cerimônia havia chegado ao seu ápice. O silêncio pesado que dominava o ambiente foi quebrado quando os reis finalmente se aproximaram para retirar o véu que cobria seu rosto. Elise prendeu a respiração, o coração martelando no peito. O medo de ser descoberta era esmagador, assim como a incerteza do que eles veriam ao olhar para ela sem o tecido que a separava do mundo.

Os dedos firmes deslizaram com delicadeza ao remover o véu, revelando seu rosto pálido e os olhos arregalados pelo nervosismo. O que Elise não esperava era a reação dos reis. Nenhuma expressão de desagrado, nenhum olhar desconfiado. Pelo contrário, os olhos dourados de Astor brilharam em uma mistura de interesse e avaliação, enquanto Lucian abriu um leve sorriso, satisfeito com o que via. Eles a achavam bela.

Em vez de selarem a união com um beijo tradicional, ambos se inclinaram em sua direção. Elise se sobressaltou quando sentiu o toque quente dos lábios de Lucian contra a curva de seu pescoço, um selar demorado, íntimo, quase possessivo. O toque de Astor logo veio em seguida, do outro lado, seu hálito quente contra sua pele. O gesto era muito mais do que simbólico; era a marca de sua espécie, um vínculo proclamado diante de todos.

A multidão aplaudiu, celebrando a consumação do casamento, mas Elise sentia o suor frio escorrer por sua nuca. A cada momento, a certeza de que sua vida não mais lhe pertencia se tornava mais evidente.

Agora, enquanto atravessava os corredores do castelo, os reis caminhavam à sua frente, imponentes e inabaláveis. Astor, de passos calculados, não olhava para trás. Lucian, por sua vez, parecia atento demais, como se aguardasse alguma reação dela. Elise não sabia o que isso significava, mas a inquietação em seu peito crescia a cada segundo.

Ao atravessar um grande arco adornado com símbolos antigos, Elise foi conduzida a um salão privado, decorado com tapeçarias escuras e tochas que lançavam sombras dançantes pelas paredes. A porta se fechou atrás dela com um estrondo surdo, isolando-a do mundo exterior. Ali, naquele momento, ela não era mais uma convidada, tampouco uma promessa. Era uma esposa diante de seus maridos.

— Você está pálida — comentou Lucian, observando-a de perto.

— Estou cansada — respondeu Elise, a voz mais frágil do que pretendia.

Astor finalmente voltou seu olhar para ela, frio como a noite lá fora. Ele cruzou os braços e se encostou a uma das colunas.

— O voto de sangue sempre causa certo impacto no começo — disse ele. — Seu corpo se ajustará com o tempo.

Aquelas palavras não traziam conforto. Elise sentia que algo dentro dela estava diferente, mas não sabia explicar o quê. O silêncio se estendeu entre eles até que Lucian se aproximou, inclinando-se ligeiramente.

— Há algo que queira perguntar? — Ele parecia estudá-la, como um predador analisando sua presa.

Elise hesitou. Tantas dúvidas fervilhavam em sua mente, mas ela não sabia por onde começar. O que aquele laço significava realmente? Por que sentia uma energia estranha percorrendo suas veias? Mas, acima de tudo, o que os reis realmente queriam com ela?

— E se eu disser que não me ajustarei? — arriscou, sua voz soando mais firme do que esperava.

Astor soltou um riso baixo, seco.

— Isso não é uma opção.

Elise estreitou os olhos, o peito inflando de um misto de frustração e medo. Ela se sentia como um pássaro enjaulado, incapaz de entender a extensão de sua própria prisão.

Lucian, diferente do irmão, parecia mais interessado na forma como ela reagia do que em suas palavras.

— O laço já foi feito — disse ele, a voz baixa, quase gentil. — Não há volta, Elise. Mas há coisas que ainda não lhe foram reveladas… e tudo a seu tempo.

Ela engoliu em seco. Segredos. Sempre havia mais do que ela sabia, e quanto mais avançava nessa farsa, mais percebia que era apenas uma peça em um jogo muito maior.

Astor se afastou da coluna e parou diante dela.

— Esta será sua casa agora. Você será tratada como nossa rainha e terá tudo ao seu dispor. Mas há regras, Elise. E é melhor que não tente cruzar os limites.

Ela sentiu um arrepio percorrer-lhe a espinha. Não precisava de mais palavras para entender o que aquilo significava.

Lucian ergueu a mão e tocou de leve seu rosto, o polegar roçando sua pele fria. Elise ficou paralisada, sem saber se afastava-se ou permitia aquele contato.

— Há mais em você do que imagina — murmurou ele, os olhos penetrantes segurando os dela. — E quando descobrir, talvez perceba que esse casamento não é a maldição que pensa ser.

Elise queria contestar, queria dizer que ele estava errado, mas algo naqueles olhos a impediu.

Afinal, e se ele estivesse certo?

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