A noite avançava enquanto Elise era levada pelos corredores do castelo, escoltada por guardas silenciosos. O peso do ritual ainda impregnava seu corpo, como se seu sangue estivesse queimando sob a pele. Ela tentou ignorar a sensação, mantendo o olhar fixo no caminho à frente, mas a atmosfera ao redor parecia diferente, carregada de algo invisível, mas opressivo.
Antes disso, no salão principal, a cerimônia havia chegado ao seu ápice. O silêncio pesado que dominava o ambiente foi quebrado quando os reis finalmente se aproximaram para retirar o véu que cobria seu rosto. Elise prendeu a respiração, o coração martelando no peito. O medo de ser descoberta era esmagador, assim como a incerteza do que eles veriam ao olhar para ela sem o tecido que a separava do mundo.
Os dedos firmes deslizaram com delicadeza ao remover o véu, revelando seu rosto pálido e os olhos arregalados pelo nervosismo. O que Elise não esperava era a reação dos reis. Nenhuma expressão de desagrado, nenhum olhar desconfiado. Pelo contrário, os olhos dourados de Astor brilharam em uma mistura de interesse e avaliação, enquanto Lucian abriu um leve sorriso, satisfeito com o que via. Eles a achavam bela.
Em vez de selarem a união com um beijo tradicional, ambos se inclinaram em sua direção. Elise se sobressaltou quando sentiu o toque quente dos lábios de Lucian contra a curva de seu pescoço, um selar demorado, íntimo, quase possessivo. O toque de Astor logo veio em seguida, do outro lado, seu hálito quente contra sua pele. O gesto era muito mais do que simbólico; era a marca de sua espécie, um vínculo proclamado diante de todos.
A multidão aplaudiu, celebrando a consumação do casamento, mas Elise sentia o suor frio escorrer por sua nuca. A cada momento, a certeza de que sua vida não mais lhe pertencia se tornava mais evidente.
Agora, enquanto atravessava os corredores do castelo, os reis caminhavam à sua frente, imponentes e inabaláveis. Astor, de passos calculados, não olhava para trás. Lucian, por sua vez, parecia atento demais, como se aguardasse alguma reação dela. Elise não sabia o que isso significava, mas a inquietação em seu peito crescia a cada segundo.
Ao atravessar um grande arco adornado com símbolos antigos, Elise foi conduzida a um salão privado, decorado com tapeçarias escuras e tochas que lançavam sombras dançantes pelas paredes. A porta se fechou atrás dela com um estrondo surdo, isolando-a do mundo exterior. Ali, naquele momento, ela não era mais uma convidada, tampouco uma promessa. Era uma esposa diante de seus maridos.
— Você está pálida — comentou Lucian, observando-a de perto.
— Estou cansada — respondeu Elise, a voz mais frágil do que pretendia.
Astor finalmente voltou seu olhar para ela, frio como a noite lá fora. Ele cruzou os braços e se encostou a uma das colunas.
— O voto de sangue sempre causa certo impacto no começo — disse ele. — Seu corpo se ajustará com o tempo.
Aquelas palavras não traziam conforto. Elise sentia que algo dentro dela estava diferente, mas não sabia explicar o quê. O silêncio se estendeu entre eles até que Lucian se aproximou, inclinando-se ligeiramente.
— Há algo que queira perguntar? — Ele parecia estudá-la, como um predador analisando sua presa.
Elise hesitou. Tantas dúvidas fervilhavam em sua mente, mas ela não sabia por onde começar. O que aquele laço significava realmente? Por que sentia uma energia estranha percorrendo suas veias? Mas, acima de tudo, o que os reis realmente queriam com ela?
— E se eu disser que não me ajustarei? — arriscou, sua voz soando mais firme do que esperava.
Astor soltou um riso baixo, seco.
— Isso não é uma opção.
Elise estreitou os olhos, o peito inflando de um misto de frustração e medo. Ela se sentia como um pássaro enjaulado, incapaz de entender a extensão de sua própria prisão.
Lucian, diferente do irmão, parecia mais interessado na forma como ela reagia do que em suas palavras.
— O laço já foi feito — disse ele, a voz baixa, quase gentil. — Não há volta, Elise. Mas há coisas que ainda não lhe foram reveladas… e tudo a seu tempo.
Ela engoliu em seco. Segredos. Sempre havia mais do que ela sabia, e quanto mais avançava nessa farsa, mais percebia que era apenas uma peça em um jogo muito maior.
Astor se afastou da coluna e parou diante dela.
— Esta será sua casa agora. Você será tratada como nossa rainha e terá tudo ao seu dispor. Mas há regras, Elise. E é melhor que não tente cruzar os limites.
Ela sentiu um arrepio percorrer-lhe a espinha. Não precisava de mais palavras para entender o que aquilo significava.
Lucian ergueu a mão e tocou de leve seu rosto, o polegar roçando sua pele fria. Elise ficou paralisada, sem saber se afastava-se ou permitia aquele contato.
— Há mais em você do que imagina — murmurou ele, os olhos penetrantes segurando os dela. — E quando descobrir, talvez perceba que esse casamento não é a maldição que pensa ser.
Elise queria contestar, queria dizer que ele estava errado, mas algo naqueles olhos a impediu.
Afinal, e se ele estivesse certo?
A atmosfera no salão privado continuava densa, impregnada com uma tensão que Elise sentia na pele. Lucian ainda estava próximo, o polegar roçando sua pele com uma suavidade inesperada, enquanto Astor mantinha-se um pouco mais afastado, observando-a como se estivesse pesando cada uma de suas reações.O silêncio foi quebrado por Astor, sua voz firme e sem hesitação.— Não pense que este casamento foi apenas um capricho do conselho ou uma tentativa fútil de selar alianças. — Ele se moveu, aproximando-se com passos lentos e pesados. — O reino de Vittoria está cercado por ameaças. Nossos inimigos espreitam, esperando um sinal de fraqueza, e um herdeiro é a única garantia de que a linhagem real continue forte.Elise sentiu o ar escapar de seus pulmões. O peso daquela afirmação caiu sobre ela como uma muralha. Um herdeiro. Sua mente gritava para que recusasse, para que dissesse que aquilo era um erro terrível. Mas sua voz não saiu. Em vez disso, ela permaneceu ali, estática, os dedos trêmulo
O ar no salão parecia congelado, e Elise mal conseguia distinguir entre o que era real e o que sua mente delirante criava. Cada palavra de Astor ecoava em sua mente como um trovão, reverberando nas paredes da sala e dentro de seu peito. Ela tentou, em vão, racionalizar, mas o peso das palavras de Lucian e Astor parecia esmagá-la. A sensação de impotência se enrosca em seu estômago, um peso denso e inquietante.Lucian estava à sua esquerda, imóvel, observando-a com um olhar tão profundo que parecia atravessar sua alma. A cada momento, ele a estudava mais, como se a descortinasse diante de seus olhos. Não era mais apenas um homem ao seu lado. Ele parecia ser algo mais, algo bem distante da humanidade, uma presença etérea que fazia Elise se questionar até onde sua própria realidade poderia ir.— Você tem medo, não tem? — A voz de Lucian cortou o silêncio, suave, mas compartilhou de um tom de compreensão que a fez estremecer.Elise não respondeu. Ela não precisa. O medo estava ali, latent
O peso daquelas palavras ainda pairava sobre Elise, que tentava, com toda a força de sua vontade, encontrar uma maneira de romper o silêncio sufocante que se formara entre ela e os reis. Sua garganta estava apertada, os olhos marejados, e tudo o que ela queria era gritar que não era a verdadeira filha da família Delacroix, que ela era uma impostora, uma simples peça nesse jogo de poder que não compreendia.Ela respirou fundo, tentando reunir coragem, mas antes que pudesse abrir os lábios para falar, um som estridente cortou o ar, vindo de fora do salão. O alarme soou estridente. Como o som de guerra, de algo que se aproxima, algo que fez o coração de Elise disparar de imediato.“Invasão!”A palavra ecoou em sua mente como um pesadelo que se tornou realidade.Os olhos dos reis se fixaram instantaneamente na porta, e uma tensão palpável se instalou entre eles. Astor, normalmente tão calmo e imperturbável, foi o primeiro a se mover. Seus passos, rápidos e pesados, levaram-no até o centro
Astor estava parado diante da grande janela do salão principal, olhando para a escuridão que se espalhava como uma manta pesada sobre o castelo. O vento frio batia nas cortinas, mas ele mal sentia a brisa. Sua mente estava ocupada, suas energias focadas na ameaça. O alarme ainda ressoava nos corredores, uma chamada de guerra que ecoava em seu peito como uma batida furiosa.Ele podia sentir a tensão na sala, o nervosismo dos guardas, os murmúrios de comando que chegavam até ele. Mas, acima de tudo, havia o peso da responsabilidade que agora descansava sobre seus ombros. Ele não era apenas o monarca, o governante de sua casa, mas o líder da defesa do castelo. E a ameaça que se aproximava não era algo simples, era algo mais sombrio, mais profundo.Astor virou-se abruptamente, os olhos dourados brilhando com uma intensidade feroz. Ele primeiro tomará decisões necessárias, de forma rápida. O reino estava em perigo, a sua família estava em perigo. Todavia havia mais, havia algo que ele não
A noite, que deveria ter sido selada em alianças e promessas, agora queimava sob o peso da invasão. O alarme ainda ecoava pelos corredores do castelo, uma sinfonia estridente que anunciava o caos. Astor movia-se como uma sombra entre as colunas do salão principal, cada passo carregado de urgência e precisão. Seus sentidos estavam aguçados, seu olhar frio analisava cada detalhe ao seu redor.Ele não precisava perguntar quem ousaria atacar. Havia apenas um punhado de inimigos que seriam tolos o suficiente para tentar uma investida contra Vittoria. E nenhum deles sairia vivo.Lucian já estava no comando das defesas. Seu irmão, sempre impulsivo, distribuía ordens aos guardas com um olhar feroz. Mas Astor sabia que a força bruta por si só não venceria aquela batalha. Seria necessária estratégia.— Quanto tempo temos até que eles rompam as primeiras barreiras? — Astor perguntou, a voz baixa, mas firme. Um dos generais da guarda real, um lycan de porte robusto e olhos afiados, respondeu com
O som da batalha parecia se fundir com o pulsar frenético do coração de Elise. Do outro lado das paredes espessas do castelo, o eco de aço contra aço, gritos abafados e o rugido de bestas distantes preenchia o ar. O alarme de invasão já havia silenciado, mas a tensão permanecia, suspensa como um fio prestes a se romper.Ela se encolheu no centro da cama imensa, os joelhos dobrados contra o peito, os braços envolvendo o próprio corpo trêmulo. O vestido de casamento—branco, delicado, agora amarrotado—parecia um fardo pesado sobre sua pele. Seu corpo estava quente, mas seus dedos estavam frios.E se eles não voltassem?A ideia perfurou sua mente como uma lâmina afiada. Elise não conhecia totalmente os reis, mas sabia que eram guerreiros temíveis. Ainda assim, a invasão fora súbita, brutal. O tipo de ataque que não permitia tempo para planejamentos, apenas para derramamento de sangue.Ela mordeu o lábio, sentindo a própria respiração descompassada. Seus olhos varreram o quarto, buscando a
A fome não existia, mas Elise sabia que precisava comer. Deixou-se guiar até a sala de refeições por sua dama de companhia, sentindo cada passo ecoar de maneira estranha nos corredores do castelo. O silêncio não era total—vozes abafadas de servos, ordens sendo dadas por guardas, o som distante de algo sendo arrastado. Os reis não estavam ali. Elise sentiu um aperto no peito ao receber a notícia. — Suas Majestades ainda estão cuidando dos estragos da invasão, Alteza. Pediram que não se preocupasse. Não se preocupasse? Ela apertou os dedos no tecido do vestido, tentando afastar o desconforto que crescia dentro de si. A inquietação da noite anterior, aquela tensão inexplicável após o ritual de casamento, parecia ainda estar lá—latente, espreitando nas sombras da sua mente como algo esperando para ser percebido. Ela se sentou, forçando-se a manter a compostura enquanto lhe serviam chá quente e pratos delicados. Mas tudo tinha gosto de nada. Seu olhar vagava para a grande janela do
O tédio era um veneno lento.Elise não sabia dizer quanto tempo havia se passado desde que fora deixada sozinha em seus aposentos. Minutos? Horas? O tempo parecia se esticar, tortuoso e incerto.Ela deveria se acostumar com isso?Com o som de passos incessantes do lado de fora, confundindo-se com as batidas irregulares de seu coração? Com o confinamento que, embora luxuoso, começava a lhe dar a sensação de estar aprisionada?Respirou fundo.Deitada na cama, fitava o teto adornado com pinturas douradas, mas não conseguia se perder na beleza dos detalhes. Tudo parecia frio, distante.É assim que será minha vida de agora em diante?A ideia a deixou inquieta.Elise se sentou, passando os dedos pelo vestido leve que vestia agora. O silêncio pesado do quarto pressionava seus ouvidos. Ela precisava se mover.Levantou-se e caminhou devagar, os pés descalços quase não fazendo barulho contra o chão de pedra coberto por tapetes luxuosos. Seu olhar vagava pelo aposento, como se estivesse vendo tu