O bipe constante da máquina de hospital acalmava Elaine Locker, pois era um sinal que apesar do susto seu pai ainda estava vivo. Era sua única família e não estava disposta a perdê-lo ainda.
Hugo Locker estava internado no hospital há mais de 03 semanas e não havia previsão de uma melhora, fato que Elaine tentava ignorar a todo custo. Há 03 semanas não deixava o hospital, nem mesmo para realizar as provas de fim de semestre que estavam acontecendo em sua faculdade.Elaine sabia que se seu pai não se recuperasse não havia motivos para fazer as provas de sua faculdade, afinal não teria como pagar o restante de seu curso, todo o dinheiro das indústrias Locker seria bloqueado e ela somente teria permissão de acesso após matrimônio.A regra vinha de seu avô, Pierce Locker. Pierce sempre foi um homem extremamente patriarcal, acreditava que as mulheres não podiam possuir permissão para gerenciar negócios e patrimônios, por isso, em seu testamento, especificou que seu legado seria sempre deixado ao primogênito, ou, na falta de filho homem, ao marido da primogênita.Elaine odiou seu avô com todas as forças naquele momento.Perder seu pai, além de lhe destroçar o coração, destroçaria também toda sua vida e sua carreira, afinal ela sequer tinha namorado, quem dirá um marido. Preferia se agarrar à crença que seu pai logo acordaria e poderia retomar sua vida normalmente.Mesmo com os melhores médicos que o dinheiro pode comprar, no melhor hospital que sua fortuna podia pagar, naquela noite Hugo faleceu e Elaine se viu sozinha em todos os sentidos da palavra.Todo o acontecimento passou como um borrão na mente de Elaine, ela não se recordava do momento em que deixou o quarto de seu pai e foi à cafeteria do hospital, sequer sabia há quanto tempo estava ali. As lágrimas silenciosas já haviam parado de cair há alguns minutos quando sentiu um toque gentil em seu ombro.– Elaine. – Ela ouviu uma voz chamar, porém tentou ignorar ao máximo, assim como tentou ignorar o toque. – Elaine. – A voz insistiu e ela tentou agarrar-se ao vazio onde havia se escondido. – Elaine! – A voz praticamente gritou e o toque deixou de ser gentil e passou a ser uma sacudida em seu ombro.Ela piscou algumas vezes e lamentou no exato segundo em que seu corpo deixou o torpor e retomou a consciência de tudo que acontecia ao seu redor, a dor excruciante retornou ao seu coração quando ela se forçou a dirigir o olhar à quem lhe chamava.– Elaine, querida. – A voz tentava soar gentil, mas apenas lhe causa ânsia. – Estávamos lhe procurando por toda parte. – A voz provavelmente esperava alguma resposta, pois fez uma pausa, mas diante do silêncio de Elaine acabou prosseguindo: – Precisa ir para casa descansar.E mais uma vez tudo se passou como um borrão. Elaine permitiu que seu corpo fosse guiado por aquela que sempre fora sua governanta, enquanto voltava ao vazio em que estava antes. Sequer percebeu quando chegaram em casa ou quando a governanta a colocou na cama, apenas rendeu-se ao cansaço enquanto suas lágrimas molhavam seu travesseiro.Elaine revirou os olhos quando foi anunciado o quinto rapaz que lhe visitava naquela tarde. Seu pai havia falecido há 08 dias e já vinham lhe visitando há 03 dias. Ninguém respeitava o luto quando o assunto era uma herança sem dono. As Indústrias Locker eram famosas e grandes no mercado, sua fortuna estava entre as 15 maiores fortunas do mundo. Porém, pelas regras do testamento de seu avô, ela somente poderia usufruir dos bens já adquiridos (casas, carros, etc), sem o poder de realizar novas compras ou vender algo.“Srta. Locker, não gostaria de seu eu a lhe dar essa notícia, porém a senhorita precisa casar-se antes do fim do mês. Do contrário, os funcionários não receberão mais seus salários e nem mesmo as contas de água e luz serão pagas. Serão mais de 300 funcionários e famílias prejudicadas.”Haviam sido as palavras dos advogado de seu pai, responsável pelo cumprimento do testamento. Não os funcionários das empresas, mas os que trabalhavam em suas casas, jardineiros, faxineiros,
Elaine desejava um dia de spá mais que tudo naquele momento, estava desesperadamente precisando relaxar e por este motivo avisou que não receberia mais visitas naquele dia, todas haviam sido um desastre. Foi por isso que se viu sendo pega de surpresa quando as grandes portas da sala de estar se abriram mais uma vez, porém logo um enorme sorriso surgiu em seu rosto. – Andrea! – Ela saudou com um misto de alegria e alívio assim que se colocou de pé e recebeu sua melhor amiga com um forte e apertado abraço. – Elaine, eu vim correndo assim que fiquei sabendo. – Andrea a abraçou por longos minutos, dando amparo à amiga e sentiu seu coração se apertar pelo modo como Elaine se encolheu naquele abraço, demonstrando o quanto estava ferida naquele momento. Andrea avisou que iria dormir com Elaine naquela noite, assim poderiam conversar melhor, como faziam em sua época de adolescentes. Elas decidiram ir ao quarto de Elaine e pediram que o jantar fosse servido lá, assim teriam maior privacida
Adam encarava o celular em sua mão enquanto um pequeno sorriso aparecia. Elaine Locker precisava de um marido urgente e estava desesperada fazendo uma “listinha de possíveis maridos”, ou pelo menos era isso que Andrea havia lhe dito. Adam achou que aquele cenário era perfeito, Elaine de fato estava tendo o que merecia. Uma mulher como ela merecia encontrar um marido que fosse tão péssima pessoa quanto ela era. Adam bebeu mais um gole de sua bebida e fechou os olhos enquanto saboreava o líquido. Ele até mesmo chegou a pensar em alguns conhecidos que dariam péssimos maridos. Listou cada um deles em sua mente para indicar à amiga de sua irmã. Então o celular vibrou mais uma vez e a mensagem seguinte o fez franzir as sobrancelhas, “você deveria se casar com ela”. Andrea provavelmente havia bebido mais do que ele. Para ter certeza que havia lido certo, leu novamente a mensagem mais algumas vezes. – Nem se o diabo me pagar. – Ele respondeu em voz alta, desgostoso com a ideia dada por sua
Elaine acordou próximo ao meio-dia e decidiu procurar algo para comer enquanto deixava Andrea dormir mais um pouco, afinal a amiga havia feito uma longa viagem para vir lhe consolar. Elaine estava sentada na mesa da sala de chá de sua casa, brincando com o tecido macio de seus pijamas quando ouviu uma voz masculina vinda do outro lado da porta, uma voz desconhecida à princípio, mas que aos poucos foi se tornando mais familiar. Com a xícara em mãos, levantou-se e foi verificar o que estava acontecendo, o que resultou em uma recepção peculiar para Marck Taunt que estava ali para lhe visitar. Marck estava parado no saguão, explicando a seu mordomo o motivo de sua visita quando interrompeu sua fala ao ver Elaine. Ele estava extremamente mais belo do que ela se recordava em seus tempos de adolescência. Era uns 10 centímetros mais alto que ela, com os cabelos loiros que combinavam com o ar angelical que as piscinas azuis de seus olhos passavam. Seu rosto, que quando mais novo lembrava um
– Elaine. – Andrea chamou seu nome em tom sério. – Eu não me importo. Você é minha melhor amiga. Lhe empresto o dinheiro e você ganha um tempo para pensar melhor. Com esse tempo tenho certeza que vai escolher um marido ideal. E, se ele for um mão de vaca que não te deixe mexer no seu próprio dinheiro, pode me pagar com sua amizade. – Ela finalizou com um tom mais doce que fez Elaine chorar. Elaine esteve se sentindo tão sozinha nos últimos dias, sufocando a dor da perda sem um ombro amigo que agora que Andrea estava ali o alívio era tão grande que ela se viu chorando e soluçando sem conseguir parar, colocando para fora todas as lágrimas reprimidas nos últimos dias. – Eu sinto falta de meu pai. – Ela revelou entre os soluços, o que fez sua amiga sentar-se ao seu lado e a abraçar por alguns minutos. – Eu sei, amiga, eu sei. Mas, você não está sozinha. Eu estou aqui com você. Elaine sempre tivera uma vida livre de quaisquer preocupações. Estudou nas melhores escolas e colégios, com u
Não teve cerimônia, não teve igreja e tampouco teve festa. Não era um casamento de verdade, era apenas um contrato de negócios. Adam nem ao menos compareceu, enviou seu sócio com uma procuração em mãos. Elaine tentou ignorar o quanto aquilo lhe incomodava e focou apenas no fato da salvação que aquele contrato de casamento representava em sua vida naquele momento. – Irei explicar os termos do casament-– Contrato. – Elaine interrompeu o advogado e isso lhe custou a atenção de todos presentes na sala. – Os termos do contrato. – Ela repetiu tentando transparecer uma coragem que não sentia de fato naquele momento. Estavam presentes seu advogado, o advogado de Adam, Elaine e Peter, o sócio e procurador de Adam em uma sala reservada junto ao cartório para que se celebrasse o contrato de casamento. Andrea havia organizado tudo extremamente rápido, de modo que em menos de 03 dias Elaine via sua vida mudar completamente. A amiga infelizmente não estava presente, pois havia retornado ao tra
Elaine seguia sua vida de forma tranquila, e o único indício de seu casamento era o valor depositado mensalmente em sua conta bancária para que custeasse seu sustento. Ainda era a responsável pela administração dos bens de sua família, mas o pagamento era sempre realizado pelas indústrias. Elaine de início teve medo do momento em que precisaria enfrentar Adam, mas esse momento nunca chegou. Nem no primeiro mês, nem no segundo, nem em qualquer mês que veio após isso. Ela estava contente com sua vida e seus estudos. Inclusive havia iniciado um relacionamento de amizade com o Marck, afinal ainda o tinha como um pretendente quando fosse a hora de se divorciar de Adam. Marck era incrível e fora totalmente compreensível com sua escolha, em especial quando ela explicou que era um casamento temporário apenas para lhe comprar tempo para que pudesse decidir melhor sobre seu futuro. Ele ainda por cima lhe enviava flores toda semana, às vezes um grande bouquet, às vezes uma rosa solitária com
Elaine decidiu então voltar ao jardim, era o melhor lugar para evitar Adam naquele momento, não queria estar por perto enquanto ele se instalava no quarto que havia sido de seu pai. Sabia que ele ainda encontraria as roupas de seu pai no guarda-roupa como se ele fosse surgir a qualquer momento para usá-las e sabia que Adam mandaria retirá-las, não queria presenciar aquilo. Várias teorias passavam pela mente de Elaine enquanto ela tentava adivinhar o motivo de Adam ter aparecido do nada, sem qualquer explicação após um ano sem notícia alguma. A mais plausível que encontrou é que ele estaria na cidade por alguns dias e aproveitaria que tinha uma mansão ali para não ter que ficar em um hotel. Convenceu-se a si mesma que deveria ser essa a teoria correta, afinal nessa teoria ele somente ficaria por alguns dias e era justamente isso que Elaine esperava que fosse acontecer, que em poucos dias ele fosse embora. – Srta. Locker. – Elaine virou a cabeça para dar atenção à sua governanta quan