Não teve cerimônia, não teve igreja e tampouco teve festa. Não era um casamento de verdade, era apenas um contrato de negócios.
Adam nem ao menos compareceu, enviou seu sócio com uma procuração em mãos. Elaine tentou ignorar o quanto aquilo lhe incomodava e focou apenas no fato da salvação que aquele contrato de casamento representava em sua vida naquele momento.– Irei explicar os termos do casament-– Contrato. – Elaine interrompeu o advogado e isso lhe custou a atenção de todos presentes na sala. – Os termos do contrato. – Ela repetiu tentando transparecer uma coragem que não sentia de fato naquele momento.Estavam presentes seu advogado, o advogado de Adam, Elaine e Peter, o sócio e procurador de Adam em uma sala reservada junto ao cartório para que se celebrasse o contrato de casamento. Andrea havia organizado tudo extremamente rápido, de modo que em menos de 03 dias Elaine via sua vida mudar completamente.A amiga infelizmente não estava presente, pois havia retornado ao trabalho e estava em viagem para um desfile de moda. Andrea era uma famosa estilista e tinha uma marca de roupas femininas que levava seu nome por todo o mundo, era motivo de orgulho para Elaine que sempre havia apoiado e acreditado no pleno potencial de sua amiga.– Irei explicar os termos do casamento. – Corrigiu-se o advogado de Elaine. – Seu avô colocou algumas especificações no testamento. O casamento deve ser consentido, assim como divórcio.“Os bens e valores que estão em seu nome, serão seus para uso próprio, porém os bens que estão no nome das empresas e indústrias passarão temporariamente ao seu marido, retornando somente em caso de divórcio. Contudo, em caso de divórcio retorna-se ao status atual, com os devidos bloqueios.”O advogado fez uma pequena pausa para que fizessem perguntas, porém o silêncio manteve-se por alguns segundos, então ele prosseguiu.– Caso seu marido venha a falecer, os bens retornam à senhora, como seria em caso de divórcio, porém sem o bloqueio. Apesar de estar sob a tutela de seu marido, os bens ainda são seus, inclusive as empresas e indústrias, de modo que qualquer venda significativa de ações necessita de sua assinatura, assim como demais operações de grande porte, como, por exemplo, venda de alguma de suas mansões.– E o contrário? – Elaine questionou um tanto interessada.– Como assim?– Se eu quiser vender alguma de minhas mansões, posso?– Somente com a assinatura de seu marido, a Srta. Locker. – O advogado lhe dirigiu um olhar de pena antes de prosseguir. – Contudo, essa limitação somente ocorrerá nos primeiros 05 anos de casamento. Após esse período é possibilitado às partes a modificação de qualquer termos deste contrato, inclusive na permissão de venda de ações sem a permissão da Srta. Locker ou a permissão de venda e aquisição de mansões e carros e outros bens por parte do Sr. Wolf.– Certo. – Ela concordou apenas por achar que devia, já que sua mente estava ainda um tanto adormecida pelo luto e pela situação catastrófica em que se encontrava naquele momento.– Por fim, fica o Sr. Wolf comprometido ao uso de parte dos lucros das empresas e indústrias Locker para o pagamento e custeio de gastos provenientes de todas as propriedades pertencentes à Srta. Locker, assim como seu sustento.Elaine sequer leu o documento quando entregaram papel e caneta em suas mãos, apenas assinou e confiou nas palavras de seu advogado. Queria apenas ver-se livre de tudo aquilo o mais rápido possível. A única certeza que possuía ali era que pelo menos ela seria sustentada e os gastos com seus bens seriam plenamente cobertos por Adam, ela e nenhum de seus funcionários seriam postos na rua.Após o término da assinatura de todos, Elaine tentou conversar com Peter para que ele lhe desse alguma luz de como seriam as coisas a seguir, porém ele apenas a informou que nada havia lhe sido explicado e foi embora.Naquele mesmo dia os valores foram desbloqueados de suas contas bancárias e finalmente ela sentiu um certo alívio.Ela aguardou contato por parte de Adam e imaginou que em algum momento ele iria lhe explicar os termos que o levaram a aceitar a ideia louca de Andrea, porém isso não aconteceu.Nem no dia seguinte, nem na semana seguinte.Elaine estava casada apenas no papel e deduziu que aqueles eram os termos propostos por Andrea. Convenceu-se que Adam não pretendia envolvimento algum e estava apenas fazendo um favor à irmã. Foi assim que Elaine se permitiu retornar à sua rotina, inclusive retomou os estudos e conseguiu negociar nova data para a realização de suas provas.Elaine a cada dia que passava sentia um pequeno pedacinho de seu coração se soltando das amarras do pânico que havia lhe tomado nos dias anteriores. Tinha sua vida de volta e poderia muito bem prosseguir daquela forma até finalmente encontrar alguém que a amasse e que fosse um pretendente à sua altura.Exceto pela dor do luto que ainda apertava seu peito toda noite quando ia dormir, Elaine estava satisfeita com o cenário em que se encontrava.– Por que aceitou casar com a Locker? – Peter questionou ao seu amigo pela quinta vez após ter sido enviado como seu procurador.– Porque as indústrias Locker são grandes portas para expansão de nossos negócios. – Ele repetiu pela quinta vez.– Me enganou nas primeiras vezes, mas tendo em conta que nem ao menos se deu ao trabalho de entrar em contato com o administrador deles, estou desconfiado que tem algo a mais acontecendo. – Peter provocou enquanto servia-se de mais um pouco de whisky.– Na verdade, marquei uma reunião com ele para amanhã. – Adam mentiu tentando se livrar do rumo que aquela conversa poderia tomar. Não se sentia inclinado a revelar a seu amigo que aceitou aquela loucura por vingança.– Você conhece a Locker? – Apesar da insistência no assunto, Adam notou que agora Peter estava apenas jogando conversa fora. – Ela é gata.– É uma amiga da minha irmã. Mas, nem lembro direito dela. – Mais uma vez se viu mentindo. – E acho que agora ela não se chama mais Locker, não?– Quer que eu chame ela de Srta. Wolf? – Peter provocou antes de rir de sua própria piada. – Não, Adam. Ela continua usando o nome dela, não alterou. O advogado perguntou se ela queria alterar e ela disse que não. Falou algo como ser menos papelada para resolver após o divórcio. – Peter explicou dando de ombros.– Divórcio?! – Adam acidentalmente deixou transparecer em sua voz o incômodo daquela ideia. – Ela é louca se acha que vou me divorciar da mina de ouro que é a indústria dela. – Acrescentou logo em seguida, a fim de mascarar sua reação exagerada.– Vai ter que se divorciar em algum momento. – Peter recordou.– E irei. Mas, não agora. Primeiro pretendo fazer bom uso de uma sociedade das indústrias Wolf com as indústrias Locker. – E então bebeu todo o conteúdo de seu copo em um só gole.Elaine seguia sua vida de forma tranquila, e o único indício de seu casamento era o valor depositado mensalmente em sua conta bancária para que custeasse seu sustento. Ainda era a responsável pela administração dos bens de sua família, mas o pagamento era sempre realizado pelas indústrias. Elaine de início teve medo do momento em que precisaria enfrentar Adam, mas esse momento nunca chegou. Nem no primeiro mês, nem no segundo, nem em qualquer mês que veio após isso. Ela estava contente com sua vida e seus estudos. Inclusive havia iniciado um relacionamento de amizade com o Marck, afinal ainda o tinha como um pretendente quando fosse a hora de se divorciar de Adam. Marck era incrível e fora totalmente compreensível com sua escolha, em especial quando ela explicou que era um casamento temporário apenas para lhe comprar tempo para que pudesse decidir melhor sobre seu futuro. Ele ainda por cima lhe enviava flores toda semana, às vezes um grande bouquet, às vezes uma rosa solitária com
Elaine decidiu então voltar ao jardim, era o melhor lugar para evitar Adam naquele momento, não queria estar por perto enquanto ele se instalava no quarto que havia sido de seu pai. Sabia que ele ainda encontraria as roupas de seu pai no guarda-roupa como se ele fosse surgir a qualquer momento para usá-las e sabia que Adam mandaria retirá-las, não queria presenciar aquilo. Várias teorias passavam pela mente de Elaine enquanto ela tentava adivinhar o motivo de Adam ter aparecido do nada, sem qualquer explicação após um ano sem notícia alguma. A mais plausível que encontrou é que ele estaria na cidade por alguns dias e aproveitaria que tinha uma mansão ali para não ter que ficar em um hotel. Convenceu-se a si mesma que deveria ser essa a teoria correta, afinal nessa teoria ele somente ficaria por alguns dias e era justamente isso que Elaine esperava que fosse acontecer, que em poucos dias ele fosse embora. – Srta. Locker. – Elaine virou a cabeça para dar atenção à sua governanta quan
O restante da noite passou como nuvem diante dos olhos de Elaine, como se fosse mais espectadora do que participante, apenas comentando algo vago vez ou outra diante do silêncio deixado por alguém nos intervalos da conversa. Andrea chegou a lhe questionar se havia algo errado e apenas justificou que estava com uma forte dor de cabeça, o que foi aceito como justificativa por parte de sua amiga. Elaine acompanhou as duas mulheres até o saguão para se despedirem com um abraço. – Amanhã cedo estaremos aqui. – Prometeu Caroline ao depositar um delicado beijo na bochecha de Elaine, afinal havia combinado de sair de viagem logo na manhã seguinte. – Sua tentativa de desobediência teria sido até engraçada se não fosse tão patética. – Adam alfinetou assim que ambas estavam fora da mansão, longe de seu campo de visão e audição. – O que quer dizer com isso? – Você só está indo nessa viagem porque eu estou permitindo que vá. – Ele esclareceu ao se aproximar dela, impondo a diferença de altur
Elaine acordou cedo no dia seguinte e decidiu aguardar em uma espreguiçadeira no jardim enquanto organizavam as malas no carro. O suco estava intocado ainda em suas mãos, não havia bebido um gole sequer, estava sem vontade. Naquele momento nada lhe apetecia verdadeiramente, estava irritadiça desde a hora em que levantou da cama. – Srta. – Elaine olhou ao ouvir ser chamada. – O Sr. Wolf lhe aguarda no carro. Elaine nem se deu ao trabalho de tentar discutir ou atrasar propositalmente para gerar confusão, não estava com humor para lidar com qualquer coisa que viesse de Adam naquele momento. Então, com um suspiro, deixou seu suco sobre a mesa do jardim e seguiu à entrada da mansão, onde lhe aguardavam. – Srta. – O motorista a cumprimentou antes de abrir a porta para ele. Mas, o que a surpreendeu foi que ele abriu a porta do passageiro e não a porta de trás, como normalmente fazia. A resposta veio em seguida, quando ela notou que quem iria dirigir era Adam, que já estava ali sentad
– Minha mãe está fantasiando com esse seu casamento com o Adam, ela jura que não é só um contrato e que logo vocês vão assumir isso para o resto do mundo. – Andrea confessou baixinho, deitada ao lado de Elaine em uma grande toalha na areia. Ambas estavam deitadas sob o sol de fim de tarde, apreciando o calor em sua pele, enquanto Caroline e Adam tinham voltado à casa que haviam alugado para aqueles poucos dias. A casa não era grande, mas era isolada o suficiente para que aquela praia estivesse quase deserta, o que as garotas apreciavam imensamente naquele momento. – Não viaja. – Ela repreendeu a amiga. Afinal, era bem visível que Caroline não era a única fantasiando por ali. – Amiga, por quê não? – Andrea deitou-se de lado para encarar a amiga. – Você era louca por ele na adolescência. Vivia dizendo que ia casar com ele. – Ela recordou enquanto visivelmente segurava o riso. – Amiga, você fez uma parede inteira no seu quarto com as fotos dele. Eu tive que lavar meus olhos com venen
– Elaine, querida. – Caroline chamou durante o jantar daquela noite. Estavam em um restaurante de frutos do mar, próximo à praia. Então podiam comer com o som das ondas como música ambiente, era simplesmente delicioso. – Sim, tia Caroline?Mas, Caroline não respondeu e Elaine sabia o que ela pretendia dizer, era visível nos olhos dela. Caroline havia tido um problema em seu coração e pulmões, por isso havia ficado internada em uma clínica especializada nos últimos dois anos, o que a impediu de estar ao lado de Elaine quando seu pai havia partido e a culpa era visível nos olhos da mulher. Mas, Elaine compreendia. Tanto o pré quanto o pós operatório no quadro de Caroline eram delicados, precisavam ser cuidadosos e atenciosos. Em momento algum havia se ressentido de sua ausência, principalmente agora que finalmente a tinha de volta em plena saúde. – Está tudo bem. – Elaine a tranquilizou com um sorriso. – De verdade. Estou muito mais feliz em saber que a senhora está bem hoje. Caro
Elaine ignorou a suave batida na porta de seu quarto enquanto encarava a tela de seu celular, se arrependendo amargamente de suas decisões da noite anterior.Movida pela raiva de Adam com a ousadia trazida pelo vinho, Elaine havia enviado uma mensagem para Marck. Ela encarou as palavras enviadas com um peso em seu estômago. “Estou com Andrea e a família dela”. Não era tão ruim. Não, as palavras não eram. Ruim era o que vinha a seguir. Ela havia mandado a ele sua localização.– Elaine. – Andrea abriu a porta após não obter resposta e viu-se surpresa ao ver que a amiga estava acordada. – Elaine? – Ela chamou novamente quando não obteve nem mesmo uma reação. Então decidiu sentar-se em um
Elaine se viu borbulhando de raiva em seu quarto após a saída de Adam. O maldito ainda havia tido a ousadia de levar suas flores! Não que ela quisesse as flores ou que quisesse Marck. Mas, ela queria menos ainda ser uma marionete nas mãos de Adam. O humor de Elaine não melhorou nem mesmo quando trocou de roupa, ou quando foi com a família Wolf passear no pequeno evento daquela cidade, tampouco quando pararam para almoçar. Mas, pelo menos ela sabia fingir bem e forçava um sorriso que soava até que genuíno. Mas, no meio da tarde, o mau humor começava a sumir e seu sorriso passava a ser de fato verdadeiro. Foi quando finalmente passou a apreciar o cenário ao seu redor. A rua principal da cidadezinha estava ladeada de barracas de todos os tipos, vendendo pequenas lembrancinhas ou comidas de todos os tipos. Havia até mesmo comida de outras nacionalidades. A música era animada, foi impossível resistir ao contágio da alegria do lugar. Apesar de usarem grandes chapéus, Caroline não achava