– Elaine. – Andrea chamou seu nome em tom sério. – Eu não me importo. Você é minha melhor amiga. Lhe empresto o dinheiro e você ganha um tempo para pensar melhor. Com esse tempo tenho certeza que vai escolher um marido ideal. E, se ele for um mão de vaca que não te deixe mexer no seu próprio dinheiro, pode me pagar com sua amizade. – Ela finalizou com um tom mais doce que fez Elaine chorar.
Elaine esteve se sentindo tão sozinha nos últimos dias, sufocando a dor da perda sem um ombro amigo que agora que Andrea estava ali o alívio era tão grande que ela se viu chorando e soluçando sem conseguir parar, colocando para fora todas as lágrimas reprimidas nos últimos dias.– Eu sinto falta de meu pai. – Ela revelou entre os soluços, o que fez sua amiga sentar-se ao seu lado e a abraçar por alguns minutos.– Eu sei, amiga, eu sei. Mas, você não está sozinha. Eu estou aqui com você.Elaine sempre tivera uma vida livre de quaisquer preocupações. Estudou nas melhores escolas e colégios, com uma educação impecável, além de aulas particulares de tutores especializados e selecionados a dedo pela equipe de seu pai. Além do usual, havia ainda aprendido sobre administração, política, arte e diversos esportes. Seu pai sempre ensinou que o corpo devia ser tão afiado quanto sua mente.Na teoria, havia aprendido a comandar todo o império que nunca iria herdar de seu pai, porém nunca teve a oportunidade de colocar todo seu conhecimento em prática, já que não lhe era permitido participar ativamente de qualquer gestão de suas indústrias.O pesar caiu ainda mais fundo em seu peito quando enfim notou, nunca foi treinada para comandar um império, foi treinada para comandar uma legião de empregados, mansões e etc., foi treinada para ser uma excelente esposa.Porém, faltava-lhe um marido.– Já decidi o que irei fazer. – Elaine informou com sua vontade de ferro sendo renovada enquanto se desvencilhava do abraço de sua amiga.– Não seja precipitada… – Andrea pediu baixinho um tanto duvidosa de qual era a intenção de sua amiga.– Irei comprar algum tempo. Meu pai deixou um seguro de vida em meu nome. Posso utilizar para manter os funcionários e propriedades em pleno funcionamento. Enquanto isso consigo ganhar um pouco mais de tempo e não me vejo com a necessidade de escolher um marido em 11 dias. – Explicou enquanto se dirigia a seu quarto, com Andrea seguindo-a, para buscar seu celular.– Acredito que seja uma ideia genial. Não havia me contado da parte do seguro de vida de seu pai… – Andrea comentou pensativa, enquanto pensava em um plano para pesquisarem um bom marido para sua amiga, claro que com uma tendência para que seu irmão estivesse na lista de Elaine. Ela era sua melhor amiga e tinha certeza que seria extremamente feliz tê-la como sua cunhada e parte de sua grande família.– Vai me ajudar a pesquisar e catalogar os melhores solteiros do mercado? – Elaine perguntou antes de rir da péssima ideia, mas sua melhor saída.– Detetive de homem solteiro e bom partido? Estou totalmente dentro! Nós vamos- O que houve? – Andrea se interrompeu assim que viu o sorriso de sua amiga morrendo rapidamente conforme seu olhar se arregalava enquanto ela lia algo em seu aparelho celular.– Meu dinheiro está todo bloqueado, não tenho um centavo! – Elaine exclamou em um tom de voz alto, quase como um grito. O desespero era palpável em sua voz. – Nem mesmo posso comprar um prego! – Elaine mostrou-se extremamente desesperada. Não esperava que aquilo acontecesse. Esperava que o dinheiro de seu pai e de suas indústrias estivessem bloqueados, mas não de sua conta pessoal. Estava buscando o contato em sua agenda quando o telefone tocou e o identificador mostrou que era justamente a pessoa para quem iria ligar.– O que houve? Meu dinheiro está totalmente bloqueado! – Por mais que Elaine tentasse manter a calma, estava quase histérica.– Senhorita Locker, infelizmente foi verificado que o dinheiro em sua conta era proveniente das indústrias de seu avô, assim como o dinheiro que seu pai utilizou para o pagamento do seguro de vida. Desta forma, seu dinheiro foi bloqueado e assim irá permanecer até que arranje um marido. A boa notícia é que quando se casar, o dinheiro que está na sua conta será seu, sem acesso ao seu marido. – O advogado tentou acalmá-la, mas não surtiu muito efeito, já que ela apenas grunhiu e desligou o aparelho antes de gritar a plenos pulmões.Andrea deu um pulo com o susto quando ouviu o alto grito de sua amiga. Um grito alto e longo, como se ela quisesse colocar toda sua raiva e angústia para fora. Sem saber ao certo o que fazer, aguardou que ela terminasse sem sequer se mover.Elaine respirava pesadamente após o intenso grito e só após alguns segundos virou-se para Andrea novamente. – Mudanças de plano. Preciso de um marido. Para hoje! – Informou com frieza, era palpável a raiva que sentia naquele momento.– Marck não. – Andrea argumentou, o que fez Elaine olhar curiosa e abrir a boca para questionar, mas Andrea respondeu antes mesmo que ela pudesse falar algo. – Não conhecemos ele bem o suficiente, amiga. Ele pode ser um louco que mata suas esposas enquanto elas dormem. Prefiro Adam, pelo menos conhecemos ele e sabemos que não corro o risco de encontrar seu corpo sem vida depois de você passar uma semana sem responder minhas mensagens.– Adam nunca iria aceitar, amiga. Ele tem coisas mais importantes para fazer.– Ele já aceitou. – Andrea revelou em ar triunfante e sequer percebeu a expressão de espanto que tomou o rosto de Elaine. – Eu conheço meu irmão, ele super topa um casamento só no papel enquanto você segue no verdadeiro controle dos seus bens. – Ela garantiu enquanto tomava as mãos de Elaine entre as suas. – Confia, vai dar certo. Pelo menos para você ganhar um tempo. – Andrea apontou, ainda que não gostasse dessa parte do plano e estivesse expondo apenas para convencer Elaine. – Enquanto isso fazemos uma investigação com mais calma e você pode achar seu príncipe encantado. Adam assinaria facilmente os papéis do divórcio e você ficaria livre disso tudo.Elaine estava sem palavras naquele momento. Para ser mais exata, desde o falecimento de seu pai não sabia o que era pensar propriamente, apenas deixava-se levar por aqueles que estavam ao seu redor. E foi exatamente isso que fez, deixou-se convencer por Andrea e ignorou a voz no fundo da sua mente que gritava que aquilo era uma loucura.– Eu caso.Não teve cerimônia, não teve igreja e tampouco teve festa. Não era um casamento de verdade, era apenas um contrato de negócios. Adam nem ao menos compareceu, enviou seu sócio com uma procuração em mãos. Elaine tentou ignorar o quanto aquilo lhe incomodava e focou apenas no fato da salvação que aquele contrato de casamento representava em sua vida naquele momento. – Irei explicar os termos do casament-– Contrato. – Elaine interrompeu o advogado e isso lhe custou a atenção de todos presentes na sala. – Os termos do contrato. – Ela repetiu tentando transparecer uma coragem que não sentia de fato naquele momento. Estavam presentes seu advogado, o advogado de Adam, Elaine e Peter, o sócio e procurador de Adam em uma sala reservada junto ao cartório para que se celebrasse o contrato de casamento. Andrea havia organizado tudo extremamente rápido, de modo que em menos de 03 dias Elaine via sua vida mudar completamente. A amiga infelizmente não estava presente, pois havia retornado ao tra
Elaine seguia sua vida de forma tranquila, e o único indício de seu casamento era o valor depositado mensalmente em sua conta bancária para que custeasse seu sustento. Ainda era a responsável pela administração dos bens de sua família, mas o pagamento era sempre realizado pelas indústrias. Elaine de início teve medo do momento em que precisaria enfrentar Adam, mas esse momento nunca chegou. Nem no primeiro mês, nem no segundo, nem em qualquer mês que veio após isso. Ela estava contente com sua vida e seus estudos. Inclusive havia iniciado um relacionamento de amizade com o Marck, afinal ainda o tinha como um pretendente quando fosse a hora de se divorciar de Adam. Marck era incrível e fora totalmente compreensível com sua escolha, em especial quando ela explicou que era um casamento temporário apenas para lhe comprar tempo para que pudesse decidir melhor sobre seu futuro. Ele ainda por cima lhe enviava flores toda semana, às vezes um grande bouquet, às vezes uma rosa solitária com
Elaine decidiu então voltar ao jardim, era o melhor lugar para evitar Adam naquele momento, não queria estar por perto enquanto ele se instalava no quarto que havia sido de seu pai. Sabia que ele ainda encontraria as roupas de seu pai no guarda-roupa como se ele fosse surgir a qualquer momento para usá-las e sabia que Adam mandaria retirá-las, não queria presenciar aquilo. Várias teorias passavam pela mente de Elaine enquanto ela tentava adivinhar o motivo de Adam ter aparecido do nada, sem qualquer explicação após um ano sem notícia alguma. A mais plausível que encontrou é que ele estaria na cidade por alguns dias e aproveitaria que tinha uma mansão ali para não ter que ficar em um hotel. Convenceu-se a si mesma que deveria ser essa a teoria correta, afinal nessa teoria ele somente ficaria por alguns dias e era justamente isso que Elaine esperava que fosse acontecer, que em poucos dias ele fosse embora. – Srta. Locker. – Elaine virou a cabeça para dar atenção à sua governanta quan
O restante da noite passou como nuvem diante dos olhos de Elaine, como se fosse mais espectadora do que participante, apenas comentando algo vago vez ou outra diante do silêncio deixado por alguém nos intervalos da conversa. Andrea chegou a lhe questionar se havia algo errado e apenas justificou que estava com uma forte dor de cabeça, o que foi aceito como justificativa por parte de sua amiga. Elaine acompanhou as duas mulheres até o saguão para se despedirem com um abraço. – Amanhã cedo estaremos aqui. – Prometeu Caroline ao depositar um delicado beijo na bochecha de Elaine, afinal havia combinado de sair de viagem logo na manhã seguinte. – Sua tentativa de desobediência teria sido até engraçada se não fosse tão patética. – Adam alfinetou assim que ambas estavam fora da mansão, longe de seu campo de visão e audição. – O que quer dizer com isso? – Você só está indo nessa viagem porque eu estou permitindo que vá. – Ele esclareceu ao se aproximar dela, impondo a diferença de altur
Elaine acordou cedo no dia seguinte e decidiu aguardar em uma espreguiçadeira no jardim enquanto organizavam as malas no carro. O suco estava intocado ainda em suas mãos, não havia bebido um gole sequer, estava sem vontade. Naquele momento nada lhe apetecia verdadeiramente, estava irritadiça desde a hora em que levantou da cama. – Srta. – Elaine olhou ao ouvir ser chamada. – O Sr. Wolf lhe aguarda no carro. Elaine nem se deu ao trabalho de tentar discutir ou atrasar propositalmente para gerar confusão, não estava com humor para lidar com qualquer coisa que viesse de Adam naquele momento. Então, com um suspiro, deixou seu suco sobre a mesa do jardim e seguiu à entrada da mansão, onde lhe aguardavam. – Srta. – O motorista a cumprimentou antes de abrir a porta para ele. Mas, o que a surpreendeu foi que ele abriu a porta do passageiro e não a porta de trás, como normalmente fazia. A resposta veio em seguida, quando ela notou que quem iria dirigir era Adam, que já estava ali sentad
– Minha mãe está fantasiando com esse seu casamento com o Adam, ela jura que não é só um contrato e que logo vocês vão assumir isso para o resto do mundo. – Andrea confessou baixinho, deitada ao lado de Elaine em uma grande toalha na areia. Ambas estavam deitadas sob o sol de fim de tarde, apreciando o calor em sua pele, enquanto Caroline e Adam tinham voltado à casa que haviam alugado para aqueles poucos dias. A casa não era grande, mas era isolada o suficiente para que aquela praia estivesse quase deserta, o que as garotas apreciavam imensamente naquele momento. – Não viaja. – Ela repreendeu a amiga. Afinal, era bem visível que Caroline não era a única fantasiando por ali. – Amiga, por quê não? – Andrea deitou-se de lado para encarar a amiga. – Você era louca por ele na adolescência. Vivia dizendo que ia casar com ele. – Ela recordou enquanto visivelmente segurava o riso. – Amiga, você fez uma parede inteira no seu quarto com as fotos dele. Eu tive que lavar meus olhos com venen
– Elaine, querida. – Caroline chamou durante o jantar daquela noite. Estavam em um restaurante de frutos do mar, próximo à praia. Então podiam comer com o som das ondas como música ambiente, era simplesmente delicioso. – Sim, tia Caroline?Mas, Caroline não respondeu e Elaine sabia o que ela pretendia dizer, era visível nos olhos dela. Caroline havia tido um problema em seu coração e pulmões, por isso havia ficado internada em uma clínica especializada nos últimos dois anos, o que a impediu de estar ao lado de Elaine quando seu pai havia partido e a culpa era visível nos olhos da mulher. Mas, Elaine compreendia. Tanto o pré quanto o pós operatório no quadro de Caroline eram delicados, precisavam ser cuidadosos e atenciosos. Em momento algum havia se ressentido de sua ausência, principalmente agora que finalmente a tinha de volta em plena saúde. – Está tudo bem. – Elaine a tranquilizou com um sorriso. – De verdade. Estou muito mais feliz em saber que a senhora está bem hoje. Caro
Elaine ignorou a suave batida na porta de seu quarto enquanto encarava a tela de seu celular, se arrependendo amargamente de suas decisões da noite anterior.Movida pela raiva de Adam com a ousadia trazida pelo vinho, Elaine havia enviado uma mensagem para Marck. Ela encarou as palavras enviadas com um peso em seu estômago. “Estou com Andrea e a família dela”. Não era tão ruim. Não, as palavras não eram. Ruim era o que vinha a seguir. Ela havia mandado a ele sua localização.– Elaine. – Andrea abriu a porta após não obter resposta e viu-se surpresa ao ver que a amiga estava acordada. – Elaine? – Ela chamou novamente quando não obteve nem mesmo uma reação. Então decidiu sentar-se em um