Elaine acordou próximo ao meio-dia e decidiu procurar algo para comer enquanto deixava Andrea dormir mais um pouco, afinal a amiga havia feito uma longa viagem para vir lhe consolar.
Elaine estava sentada na mesa da sala de chá de sua casa, brincando com o tecido macio de seus pijamas quando ouviu uma voz masculina vinda do outro lado da porta, uma voz desconhecida à princípio, mas que aos poucos foi se tornando mais familiar.Com a xícara em mãos, levantou-se e foi verificar o que estava acontecendo, o que resultou em uma recepção peculiar para Marck Taunt que estava ali para lhe visitar.Marck estava parado no saguão, explicando a seu mordomo o motivo de sua visita quando interrompeu sua fala ao ver Elaine. Ele estava extremamente mais belo do que ela se recordava em seus tempos de adolescência. Era uns 10 centímetros mais alto que ela, com os cabelos loiros que combinavam com o ar angelical que as piscinas azuis de seus olhos passavam. Seu rosto, que quando mais novo lembrava um bebê, hoje parecia a personificação do que ela imaginava que deveria se parecer a um deus grego.– Elaine. – Ele a cumprimentou ao se aproximar, fingindo não notar que ela trajava pijamas, um cavalheiro. Então, de forma delicada, tomou sua mão e depositou um delicado beijo ali. – Meus pêsames pelo seu pai. – Soou sincero e ela agradeceu com um leve e breve sorriso.– Quase não o reconheci, Marck. – Ela confessou assim que ele soltou sua mão e indicou a porta da sala como um convite para que ele entrasse. – Não costumo acordar tão tarde, mas gostaria de me acompanhar em meu desjejum? – Mesmo sendo alguém com quem estudou por anos, não conseguiu ser menos formal com ele naquele momento.– Não poderia existir convite melhor nesse momento. – Ele brincou ao galanteio ao lhe lançar um sorriso enquanto a seguia para o interior da sala.Seguiu-se um breve silêncio enquanto eram servidos bolinhos, frutas, chá e café. Somente após a saída dos empregados foi que Marck se manifestou exatamente no assunto que ela achou que faria.– Elaine, tomei conhecimento de sua situação e devo dizer que fiquei indignado quando me foi dito o posicionamento adotado por seu avô. – A confissão a deixou confusa e ela provavelmente deixou transparecer em seu rosto. – Sou apoiador e doador de grandes fundos anuais para a Associação de Liberdade das Mulheres e a situação em que se encontra fere totalmente os ideais que defendo. – Ele explicou com um sorriso genuíno tão gentil que ela se viu sorrindo de volta, mas novamente um sorriso pequeno e discreto.– Eu agradeço. – Elaine se viu respondendo sem saber o quê mais poderia falar naquele momento.– Eu gostaria de lhe fazer uma proposta, Elaine. – Ele fez uma pausa para beber um pouco de café, enquanto a deixava curiosa. – Gostaria de me casar com você. Já possuo minha própria fortuna então você seria totalmente livre para mover seu dinheiro, não tenho interesse nele. Em troca eu receberia a honra de possuir a esposa mais bela de todas. – Novamente ele jogou a ela seu charme com aquele sorriso que faria qualquer mulher se derreter, Elaine não era uma exceção.Se aquilo fosse um convite para um encontro, ela com certeza aceitaria sem pensar duas vezes. Mas, era uma proposta de casamento, não deveria ter que ser obrigada a decidir em tão pouco tempo. Ela mordeu de leve seu próprio lábio inferior ao sentir-se injustiçada com a situação em que se encontrava, mas logo forçou um sorriso para disfarçar, não queria que ele se sentisse desprezado.– Eu acabei de acordar, Marck. – Comentou com uma risadinha para dar um ar mais brincalhão à sua frase. – Posso responder isso quando meu cérebro entender que meu corpo acordou? – Propôs tentando jogar algum charme à ele, mesmo que naquele momento se sentisse mais destroçada do que charmosa.– Você tem todo o tempo do mundo para mim, Elaine. – Ele respondeu de forma séria e naquele momento ela chegou a desconfiar que talvez ele estivesse falando sério quando parecia cortejar ela.Andrea apareceu na sala logo em seguida, também em seus pijamas, o que fez Marck pedir licença e prometer retornar no dia seguinte para que seguissem com a conversa.– O que ele queria? – Andrea questionou um tanto desconfiada. Apesar de ter colocado o nome dele na lista, desde que acordou e leu a mensagem de seu irmão estava decidida que o marido ideal para Elaine seria Adam. Concorrentes não eram mais bem vistos por Andrea.– Me propôs em casamento. – Elaine revelou sem emoção enquanto pegava algumas uvas para seu prato.– O que respondeu?– Pedi um tempo para pensar.– Acho que não precisamos nos apressar, nem conhecemos ele direito. Ele mudou bastante desde a época da escola. Você ainda tem tempo antes de decidir. – Elaine comentou tentando soar casual, porém soou como se houvesse algum interesse por trás daquilo, o que fez Elaine franzir a sobrancelha. – Posso lhe emprestar um dinheiro e ganhar mais uns dois meses para você se decidir sem pressa.– Se meu futuro marido vetar o acesso ao meu dinheiro, não terei como lhe pagar. – Ela apontou um tanto desesperançosa, já esquecendo o tom peculiar usado por sua amiga anteriormente.– Elaine. – Andrea chamou seu nome em tom sério. – Eu não me importo. Você é minha melhor amiga. Lhe empresto o dinheiro e você ganha um tempo para pensar melhor. Com esse tempo tenho certeza que vai escolher um marido ideal. E, se ele for um mão de vaca que não te deixe mexer no seu próprio dinheiro, pode me pagar com sua amizade. – Ela finalizou com um tom mais doce que fez Elaine chorar. Elaine esteve se sentindo tão sozinha nos últimos dias, sufocando a dor da perda sem um ombro amigo que agora que Andrea estava ali o alívio era tão grande que ela se viu chorando e soluçando sem conseguir parar, colocando para fora todas as lágrimas reprimidas nos últimos dias. – Eu sinto falta de meu pai. – Ela revelou entre os soluços, o que fez sua amiga sentar-se ao seu lado e a abraçar por alguns minutos. – Eu sei, amiga, eu sei. Mas, você não está sozinha. Eu estou aqui com você. Elaine sempre tivera uma vida livre de quaisquer preocupações. Estudou nas melhores escolas e colégios, com u
Não teve cerimônia, não teve igreja e tampouco teve festa. Não era um casamento de verdade, era apenas um contrato de negócios. Adam nem ao menos compareceu, enviou seu sócio com uma procuração em mãos. Elaine tentou ignorar o quanto aquilo lhe incomodava e focou apenas no fato da salvação que aquele contrato de casamento representava em sua vida naquele momento. – Irei explicar os termos do casament-– Contrato. – Elaine interrompeu o advogado e isso lhe custou a atenção de todos presentes na sala. – Os termos do contrato. – Ela repetiu tentando transparecer uma coragem que não sentia de fato naquele momento. Estavam presentes seu advogado, o advogado de Adam, Elaine e Peter, o sócio e procurador de Adam em uma sala reservada junto ao cartório para que se celebrasse o contrato de casamento. Andrea havia organizado tudo extremamente rápido, de modo que em menos de 03 dias Elaine via sua vida mudar completamente. A amiga infelizmente não estava presente, pois havia retornado ao tra
Elaine seguia sua vida de forma tranquila, e o único indício de seu casamento era o valor depositado mensalmente em sua conta bancária para que custeasse seu sustento. Ainda era a responsável pela administração dos bens de sua família, mas o pagamento era sempre realizado pelas indústrias. Elaine de início teve medo do momento em que precisaria enfrentar Adam, mas esse momento nunca chegou. Nem no primeiro mês, nem no segundo, nem em qualquer mês que veio após isso. Ela estava contente com sua vida e seus estudos. Inclusive havia iniciado um relacionamento de amizade com o Marck, afinal ainda o tinha como um pretendente quando fosse a hora de se divorciar de Adam. Marck era incrível e fora totalmente compreensível com sua escolha, em especial quando ela explicou que era um casamento temporário apenas para lhe comprar tempo para que pudesse decidir melhor sobre seu futuro. Ele ainda por cima lhe enviava flores toda semana, às vezes um grande bouquet, às vezes uma rosa solitária com
Elaine decidiu então voltar ao jardim, era o melhor lugar para evitar Adam naquele momento, não queria estar por perto enquanto ele se instalava no quarto que havia sido de seu pai. Sabia que ele ainda encontraria as roupas de seu pai no guarda-roupa como se ele fosse surgir a qualquer momento para usá-las e sabia que Adam mandaria retirá-las, não queria presenciar aquilo. Várias teorias passavam pela mente de Elaine enquanto ela tentava adivinhar o motivo de Adam ter aparecido do nada, sem qualquer explicação após um ano sem notícia alguma. A mais plausível que encontrou é que ele estaria na cidade por alguns dias e aproveitaria que tinha uma mansão ali para não ter que ficar em um hotel. Convenceu-se a si mesma que deveria ser essa a teoria correta, afinal nessa teoria ele somente ficaria por alguns dias e era justamente isso que Elaine esperava que fosse acontecer, que em poucos dias ele fosse embora. – Srta. Locker. – Elaine virou a cabeça para dar atenção à sua governanta quan
O restante da noite passou como nuvem diante dos olhos de Elaine, como se fosse mais espectadora do que participante, apenas comentando algo vago vez ou outra diante do silêncio deixado por alguém nos intervalos da conversa. Andrea chegou a lhe questionar se havia algo errado e apenas justificou que estava com uma forte dor de cabeça, o que foi aceito como justificativa por parte de sua amiga. Elaine acompanhou as duas mulheres até o saguão para se despedirem com um abraço. – Amanhã cedo estaremos aqui. – Prometeu Caroline ao depositar um delicado beijo na bochecha de Elaine, afinal havia combinado de sair de viagem logo na manhã seguinte. – Sua tentativa de desobediência teria sido até engraçada se não fosse tão patética. – Adam alfinetou assim que ambas estavam fora da mansão, longe de seu campo de visão e audição. – O que quer dizer com isso? – Você só está indo nessa viagem porque eu estou permitindo que vá. – Ele esclareceu ao se aproximar dela, impondo a diferença de altur
Elaine acordou cedo no dia seguinte e decidiu aguardar em uma espreguiçadeira no jardim enquanto organizavam as malas no carro. O suco estava intocado ainda em suas mãos, não havia bebido um gole sequer, estava sem vontade. Naquele momento nada lhe apetecia verdadeiramente, estava irritadiça desde a hora em que levantou da cama. – Srta. – Elaine olhou ao ouvir ser chamada. – O Sr. Wolf lhe aguarda no carro. Elaine nem se deu ao trabalho de tentar discutir ou atrasar propositalmente para gerar confusão, não estava com humor para lidar com qualquer coisa que viesse de Adam naquele momento. Então, com um suspiro, deixou seu suco sobre a mesa do jardim e seguiu à entrada da mansão, onde lhe aguardavam. – Srta. – O motorista a cumprimentou antes de abrir a porta para ele. Mas, o que a surpreendeu foi que ele abriu a porta do passageiro e não a porta de trás, como normalmente fazia. A resposta veio em seguida, quando ela notou que quem iria dirigir era Adam, que já estava ali sentad
– Minha mãe está fantasiando com esse seu casamento com o Adam, ela jura que não é só um contrato e que logo vocês vão assumir isso para o resto do mundo. – Andrea confessou baixinho, deitada ao lado de Elaine em uma grande toalha na areia. Ambas estavam deitadas sob o sol de fim de tarde, apreciando o calor em sua pele, enquanto Caroline e Adam tinham voltado à casa que haviam alugado para aqueles poucos dias. A casa não era grande, mas era isolada o suficiente para que aquela praia estivesse quase deserta, o que as garotas apreciavam imensamente naquele momento. – Não viaja. – Ela repreendeu a amiga. Afinal, era bem visível que Caroline não era a única fantasiando por ali. – Amiga, por quê não? – Andrea deitou-se de lado para encarar a amiga. – Você era louca por ele na adolescência. Vivia dizendo que ia casar com ele. – Ela recordou enquanto visivelmente segurava o riso. – Amiga, você fez uma parede inteira no seu quarto com as fotos dele. Eu tive que lavar meus olhos com venen
– Elaine, querida. – Caroline chamou durante o jantar daquela noite. Estavam em um restaurante de frutos do mar, próximo à praia. Então podiam comer com o som das ondas como música ambiente, era simplesmente delicioso. – Sim, tia Caroline?Mas, Caroline não respondeu e Elaine sabia o que ela pretendia dizer, era visível nos olhos dela. Caroline havia tido um problema em seu coração e pulmões, por isso havia ficado internada em uma clínica especializada nos últimos dois anos, o que a impediu de estar ao lado de Elaine quando seu pai havia partido e a culpa era visível nos olhos da mulher. Mas, Elaine compreendia. Tanto o pré quanto o pós operatório no quadro de Caroline eram delicados, precisavam ser cuidadosos e atenciosos. Em momento algum havia se ressentido de sua ausência, principalmente agora que finalmente a tinha de volta em plena saúde. – Está tudo bem. – Elaine a tranquilizou com um sorriso. – De verdade. Estou muito mais feliz em saber que a senhora está bem hoje. Caro