Um Homem de princípios

 Hotel Plaza, Califórnia. 

Ivy Hunter

Despertei e esfreguei os olhos tentando me acostumar com a claridade do lugar. O sol entrava suavemente ultrapassando a fina cortina branca do quarto, iluminando todo o lugar. 

Toquei minha têmpora sentindo o desconforto como reação da noite anterior e ao me mover na cama, percebi que eu estava completamente nua embaixo de um fino lençol. 

—O que aconteceu? Por que estou... - Fragmentos de memória perfuram minha mente: primeiro, a traição do meu ex-namorado, depois, a ajuda de um cara bonito, e então, bebemos juntos e parece que até nos beijamos, no final... estou aqui. E... eu dormi com um estranho?!

Meu Deus, será que dá pra ficar pior que isso?

Me levantei, um papel na mesa chamou minha atenção. É um cheque, com um valor inestimável. - Eu nunca tinha visto tantos zeros na minha vida. Que generoso.

Tentei recordar do rosto do homem, mas quanto mais eu tentava, mais a minha cabeça doía.  

Tanto faz! Afinal, acho que a gente nunca mais vai se ver nessa vida mesmo!

Peguei minhas roupas que estavam jogadas no chão e me vesti, pegando aquele cheque e o encarando novamente. Eu então, o guardei na bolsa decidida a não precisar dele. Nem dele e nem da pessoa que me deu, a final, foi só uma noite casual, nunca mais irá acontecer. - Pensei confiante enquanto eu saía de lá o mais rápido possível. 

Peguei um táxi e fui para casa, pensando em mil coisas para me explicar. Eu precisava de uma desculpa plausível para eu ter passado a noite fora.  

Assim que cheguei em casa, respirei fundo e me movi para dentro, acreditando que ali pelo menos eu teria um pouco de paz, mas me enganei no instante seguinte. 

Girei a maçaneta cuidadosamente, passando pelo arco da porta e assim que entrei, encontrei os olhos frios e estreitos do meu pai, que estava com sua esposa ao seu lado. 

E antes que eu pudesse dizer algo, a voz do meu pai soou forte e autoritária, tomando minha atenção. 

—Ivy, venha aqui! - Disse ele, se levantando e ficando de frente para mim. —Por acaso isso são horas de chegar? Você faz ideia de o quanto está envergonhando a nossa família? 

Assim que ele falou, respirei fundo procurando pelas palavras em minha mente e assim que movi meus lábios para responder, fui interrompida pela voz de Linda, que não poupou tempo com o seu teatro infeliz. 

—Papai, a Ivy está completamente enlouquecida. Primeiro ela enfrenta o namorado dela inventando que ele estava com outra e depois ela nos agride! - Disse ela com um tom manhoso, mostrando um curativo maior do que o corte que havia no braço dela na noite anterior. 

Eu sorri desacreditada e quando ameacei falar, mais uma vez ela se intrometeu, fazendo-se de vítima. 

—Como o senhor pode aceitar algo tão desonroso? - Disse ela indo até o nosso pai, cochichando algo no ouvido dele, enquanto seus olhos fixavam nos meus, com um olhar de superioridade. 

—JÁ CHEGA! - Gritou meu pai, me encarando enfurecido. 

—Pai, eu posso explicar! - Falei recebendo um tapa no rosto. Desses que não queimava só o lugar, mas também a alma. 

Meus olhos marejaram e eu alisei o lugar, enquanto o ouvia gritar. 

—Você é uma vergonha para a nossa família. Como pôde dormir com outro homem estando comprometida? Pegue suas coisas e saia da minha casa.

A dor no meu peito era insuportável, mas o pior de tudo era a sensação de ser rejeitada pelo meu próprio pai. Eu sabia que não havia mais espaço para mim ali. 

Desde que minha mãe morreu e meu pai se casou de novo sou tratada com indiferença, vendo todo o favoritismo ir para Linda. Desde roupas até a comida da casa, nada tinha um espaço para mim.

A minha vida era essa, tive que abandonar meus estudos e começar a trabalhar em vários empregos para conseguir me manter e ajudar a minha avó que mora no campo, sem nenhum apoio de quem eu mais precisava. - Meu pai.

E agora, eu estava me sentindo completamente abandonada!

Antes de eu me retirasse, pude notar o olhar satisfeito da minha madrasta e também de Linda. - Elas conseguiram o que tanto queriam! 

Com apenas umas roupas na mala, caminhava pelas ruas sem direção, tudo parecia em caos.

Mãe, o que devo fazer para continuar a viver? Estava totalmente desamparada.

E quando tudo parecia perdido, meu telefone tocou. Era Amanda, uma amiga de longa data, que havia conseguido uma chance em uma grande empresa.

Imediatamente sequei meu choro e atendi a ligação.

— Ivy! Eu encontrei algo para você. Uma vaga na Müller & Co. Você tem que ir para a seleção da vaga! É a sua chance!

Müller & Co. Era uma das empresas mais renomadas do país e também a empresa dos meus sonhos. 

Meu coração está apertado. A chamada família só quer me afastar, e no final, são apenas os amigos que me ajudam.

Respirei fundo e peguei a minha mala, seguindo para o lugar.  

Assim que cheguei na porta da empresa, olhei para cima admirando o quão grande e bem estruturado era o lugar. Os andares quase tocavam o arranha céu de tão alto que era. Seus vidros espelhados e escuros, deixava uma certa elegância dentre todos os prédios comerciais que haviam ali. 

—Müller & Co! - Li em voz alta o Backlight de identificação e então, sorri passando pelas enormes portas automáticas. 

Caminhei até a recepção, vendo uma mulher sorrir forçado para mim, mostrando um semblante de superioridade. 

—Em que posso ajudá-la querida? - Perguntou ela, mostrando uma leve expressão de nojo. 

Eu respirei fundo e me aproximei, ainda carregando a minha mala, enquanto notava vários olhares sobre mim. 

—Sou Ivy Hunter e estou aqui para a vaga de assistente comercial. 

—Assistente comercial? - Repetiu a mulher me olhando de baixo a cima com um semblante desdenhoso, soltando uma gargalhada em seguida. —Desculpa querida, você não se encaixa a essa vaga. Peço que se retire! 

Assim que ela falou, fiquei completamente em choque. 

—Há placas anunciando sobre a empresa estar recrutando. Por que não posso participar? - Indaguei indignada a vendo soltar mais um riso. 

—Estamos mesmo precisando, mas olhe para você, com essa roupa casual e uma sandália de feira. Peço que se retire para não termos...- Antes que ela terminasse de falar, vi que a expressão de seu rosto logo mudou. 

Assim que me virei para sessar minha curiosidade, um homem bonito, forte e imponente se aproximou, mostrando um olhar sério e penetrante. 

Ele passou por mim, deixando o rastro de seu delicioso perfume amadeirado pelo caminho,  parando seus passos em frente a mulher que piscou algumas vezes desacreditada. Mas por que esse perfume parece tão familiar?

—Senhor Müller...- Chamou ela com uma voz baixa. 

—Senhorita Thunder...- Disse ele, encarando fixamente o crachá da mulher, voltando com os olhos para os dela. —É completamente desrespeitoso julgar as pessoas pelas suas vestes. Como sabe de seu potencial apenas pelas roupas que usam? Eu nunca tolerei esse tipo de comportamento nas minhas empresas. Espero que de desculpe devidamente e a coloque na lista para participar da seleção. 

—Sim senhor! - Disse a mulher, mostrando-se arrependida pelo seu tom de voz fraco e sua cabeça baixa. 

Aquilo foi surpreendente! Ninguém nunca me ousou defender daquela forma. E por mais que seu jeito de andar e suas vestes mostrasse uma figura imponente, confesso que aquela atitude me fez o olhar de outra forma. - Ele era a perfeição em forma de Homem! 

E antes que eu pensasse que havia acabado, ele respirou fundo e estendeu a mão para ela, fazendo-a olhar para ele com confusão. 

—Dei-me sua identificação. Você não merece continuar fazendo parte dessa empresa!

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